Angels escrita por Lady Macbeth


Capítulo 1
3




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Angels

A garota de cabelos negros entrou no quarto de hospital. E aqui é o meio dessa história.

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Ela arrastou uma cadeira e se sentou, observando o rapaz que dormia delicadamente em sua frente. Seus cabelos castanhos haviam crescido, os fios estavam abaixo do ombro. A pele que sempre fora bronzeada estava desgastada. Os olhos verdes estavam fechados e sua boca era tampada pelo tubo respiratório. E com essa visão que doeu no fundo de sua alma, seu monólogo começava.

– Eu tentei colocar na minha na minha cabeça que eu só estava me sentindo obrigada a vir te ver. Eu tentei com todas as forças acreditar que no que eu pensava era a verdade, que eu viria apenas porque minha consciência ficaria pesada. E não porque você é você, não porque eu estou infeliz e nem porque eu precisava ver seu rosto mais uma vez. Tentei de todas as maneiras, decorando frases e frases até entrar na minha cabeça. Só que veio na minha cabeça aquele seu modo sarcástico de falar, e aquela voz até que um pouco rouca dizendo: Repita isso até você mesma acreditar, quando eu disse que te odiava. Como você me odeia. Como você me acha meticulosamente anormal. Eu estava construindo algo sólido, algo que era bem provável que não se desmancharia: o meu orgulho. Era igual uma criança começando a andar, com um passo de cada vez e pernas vacilantes. Estava tudo bem com a barreira que eu estava fazendo em torno de mim! Estava tudo bem... Imitando o seu jeito de ser. Fingindo que a sua vida não era importante pra mim, fingindo que você estando em coma ou não, você não iria fazer a menor diferença. Mas eu não consegui acompanhar direito como tudo desmoronou quando o meu orgulho foi estraçalhado em pedaços. Eu não consegui diferenciar a realidade do imaginário, não consegui assumir isso que chamam de sentimento. Porque aquelas palavras que eu quero tanto te dizer estão aqui, entaladas da minha garganta. E eu sei muito bem que você não vai conseguir me ouvir. Isso, de certa forma, me alivia. Eu não vou ter que encarar os seus olhos verdes me observando de maneira reprovadora. Não vou ter que ouvir você sendo estúpido e arrogante. Não vou ter que me segurar para não te dar um tapa quando você me ignorar. Não vou ter que sentir vontade de chorar quando nossos olhares se cruzam, e institivamente cada um entrar em posição defensiva. Porque essa sempre foi a minha relação com você. E eu sei que você odiaria que eu usasse a palavra nós, porque nós não existe. Porque você me manteve a distância muito bem para que eu não pudesse penetrar aí dentro de você. Você se protegeu bem, quanto a mim... Fiquei a deriva, observando eu mesma me afundar na areia movediça que era esse sentimento. Eu sei que eu nunca falaria isso para você, eu sei que eu nunca reuniria coragem pra colocar para fora tudo o que eu sinto. Já pesquisei sobre isso, e quanto mais você esconde uma paixão, maior ela fica. Não que você não soubesse que era paixão, não que você fizesse algo pra mudar isso. Você só não queria que eu te perturbasse, que eu parasse de falar com você porque eu era realmente anormal, em suas próprias palavras. Mas... Você está em coma por causa de uma idiotice que você fez. E eu posso vir aqui, segurar a sua mão e controlar as lágrimas que querem sair pelo meus olhos enquanto eu te vejo dormindo tão suavemente e dizer o quanto eu gosto de você. Posso vir aqui, sussurrar no seu ouvido a minha história e minhas dores para que você poaa perceber que eu sou tão humana como você. Que eu sou de carne e que vou morrer um dia igual você. Que eu também tenho passado, e que eu não sou só aquilo que você vê por fora, porque na verdade você nunca me quis ver por dentro. Você nunca parou pra pensar no que realmente tem aqui por dentro, porque essa sua arrogância é o que te protege do mundo que vivemos. Porque essa sua barreira contra pessoas humanistas só te faz ficar sozinho como você gosta. Não que eu odeie a solidão. Não que eu não adore ter que ficar sozinha em um canto, pensando em qual infortunada as pessoas podem ser. Eu não sou infortunada. A minha única inquietação é a pessoa que eu estou segurando a mão agora. E ela é tão quente que nem parece que você não me ouve. A face que você tem agora nem parece que você está dormindo já faz mais de dois meses. E eu levei dois meses para que eu criasse coragem e assumisse o meu sentimento. Pra que eu assumisse que sim, você é você, e eu gosto do jeito que você é. Porque sim, eu estou infeliz, e essa infelicidade bate não só quando eu fico sozinha, e sim toda agora. Todo minuto. Toda vez que eu vejo as mesmas pessoas e não encontro você lá. E porque eu não quero que seja a ultima vez que eu veja o seu rosto, eu não quero não poder vê-lo. Eu não quero que você fique nessa cama por vinte, trinta, quarenta anos, sozinho como se você não existisse. Como se você só tivesse existido em minha mente como uma doce lembrança do que é essa dor de alguém te odiar. E eu quero acreditar friamente que eu só estou aqui, me confessando pras as paredes e para os seus ouvidos que não me escutam, para que eu possa te esquecer. Para que eu tenha algo lá dentro de mim que acredita que você pode me ouvir de alguma maneira e que você sabe, sabe tudo o que eu sinto. Mas isso é só o meu egoísmo, certo? Porque toda vez que você me olha com os seus olhos verdes refletindo o nojo, eu tenho vontade de gritar até que todas as minhas cordas vocais se rompam. Porque sim, eu queria gritar com você, te perguntando o que foi que eu te fiz pra esse ódio ser tão intenso. Jogando na sua cara o quão estúpido e cego você pode ser. Mas... Eu não posso mais fazer isso. Você não acorda.

As últimas palavras massacraram o seu peito. Apertou mais forte a mão e debruçou sobre seu braço, molhando a pele quente com suas lágrimas infortunas. Chorou por muito tempo, chorou tanto como se fosse desidratar. Tocando aquele braço que apesar de não se mexer, estava quente. Alguém bateu na porta e viu uma enfermeira que lhe sorria amavelmente como se tentasse arrancar a dor que a garota sentia.

– É a sua primeira vez visitando ele? – Ela disse entrando e checando os equipamentos para ver se estava tudo certo.

– Sim... – A garota disse em um sussurro, levantando de cabeça baixa e colocando a cadeira no lugar.

– Venha vê-lo mais, algumas pessoas que estão aqui precisam muito disso. – A enfermeira disse com aquele sorriso amável. A garota levantou a cabeça e as lágrimas voltaram a escorrer por sua face pálida.

– Sim! – Enfim, sorriu.


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