Eu, definitivamente, não tenho uma vida tão legal assim.

Eu sou apenas um aluno de ensino médio que mora sozinho.

Por que eu moro sozinho? Eu não me sou bem com as pessoas, assim que eu criei um pouco de responsabilidade meus pais compraram um apartamento pra eu e ficaram só com o meu irmão-adotivo, Azin.

Eles já tinham adotado ele quando eu tinha uns cinco anos, e Azin tem a mesma idade que eu.

Azin é o filho favorito deles, eu não me importo, afinal, eles preferem que eu fique na minha e me dão tudo que eu quiser para eu não falar nem uma palavra, eu prefiro assim também.

Não é nada contra minha voz, mas nada que sai da minha boca presta... Sou grosso com as pessoas naturalmente, sem querer arranjo brigas e sou bom em luta, fora o permanente mal-humor.

Graças a isso eu não tenho amigos, eu poderia chamar meu iPod de melhor amigo... Não tem nem um momento que eu não esteja ouvindo música.

Sim, a escola felizmente me conhece então eu posso ficar com os fones na aula, melhor com do que sem.

Não há inveja de outros alunos, só dos novos... Todos sabem que é melhor eu com fones do que sem.

E os que não sabem, acabam arranjando briga.

Mesmo eu ouvindo música nas aulas, consigo nota alta nas provas.

Fazendo provas é o único momento que estou sem meus fones já que nem eu nem ninguém fala, só o fiscal dando instruções e é proibido celulares e outros aparelhos.

Eu nem lembro mais como é minha voz, alguns acham que eu sou mudo... Melhor assim.

Para piorar minha pessoa, as músicas que eu ouço não tem nada a ver comigo.

A cantora era uma garota de uns quinze anos que cantava sobre amor, amizade e essas coisas.

Meio irônico eu ouvir isso.

Infelizmente a carreira dela acabou em pouco tempo, hoje, depois de dois anos que ela era famosa, ninguém mais sabe onde ela está.

Talvez ela seja a única pessoa com quem eu trocaria uma palavra sem ser grosseiro, só iria falar 'você é incrível'.

E assim eu vivo, num mundo aos sons de uma garota que nem existe mais... Mas é o meu mundo, meus fones, minha música.

Esse mundo é exclusivamente meu, ninguém mais ouve músicas dela, muito menos adolescentes do ensino médio.

Eu perderia a fama que tenho de 'ninguém te desafiar' se vissem as músicas que ouço, mas ninguém é louco o suficiente para tirar meus fones.

Mesmo sendo músicas repetitivas, eu não me enjoo delas. São as únicas que me confortam.

Bom, eu vivo num mundo mesmo estando em outro. Agora qual mundo eu estou e qual eu vivo? Não sei responder... Eu falaria que vivo no mundo dos meus fones, mas muitos diriam que é ao contrário.

É, eu nunca estou desconectado de qualquer um dos dois mundos.

Quase nunca...

Andando pela escada da escola, totalmente em meu mundo, acabei por trombar em uma garota de cabelos rosa e meu iPod caiu desconectando-se do fone.

Ela caiu, eu cai, mas eu estava me preocupando mais com o iPod.

A garota pegou meu iPod antes de mim, e acabou por olhar minha lista de música.

Naquele momento senti que minha vida iria acabar ali mesmo, sei que não iria, mas seria melhor de acabasse.

Ela deu uma risada quando viu as musicas, que por alguma razão não me soou como zoação.

Me levantei e ela me devolveu o iPod, antes de eu colocar os fones novamente ela disse:

—Sou a Amy, e você?

A olhei direito, era familiar até no nome.

—Sou o Jin. —respondi tentando não ser grosso, parece que eu ainda sei falar.

Coloquei os fones e antes mesmo de dar play na música olhei a capa do álbum, uma garota de cabelo rosa que parecia muito com a que trombou comigo, fui ver o nome da artista para ter certeza que não estava ficando louco, apesar de já saber. Era, ou melhor, é Amy.

Ela havia subido e eu fui atrás dela sem nem dar play na música, um pouco mais atrás dela perguntei:

—Você é a Amy? —apontei para o iPod, acho que ela entendeu já que respondeu com um sorriso.

A artista que eu tanto escutava, na minha frente.

—Você é incrível! —consegui não ser nem um pouco grosso.

Falei mais palavras do que eu imaginava com ela.

Ela respondeu com um sorriso.

Quem diria que eu iria conhecê-la?

Acabei por deixar meu mundo dos fones de ouvido de lado. Eu tentava a ajudar já que era aluna nova e eu tinha eterna gratidão a cantora das musicas que tanto me confortava.

Ainda não me dou bem com outras pessoas, fora a Amy. Ela guardou o segredo das minhas músicas já que também guardei o segredo do passado dela, por algum motivo não queria ser lembrada.

Meu mundo não cresceu tanto assim, ainda eram apenas músicas... Só que agora eu não precisava tanto assim do fone, ela é minha música.