Eu me sentei ao lado dele e o abracei "Eu sei que dói. Desabafar é bom às vezes" eu disse tentando confortá-lo.
O pai do Art faleceu quando tínhamos 7 anos. Ele estava viajando e os dois se falavam todos os dias por telefone. Eu me lembro como se fosse ontem do Art me contando todo animado sobre o que o pai dele estava fazendo na viagem e sobre a promessa de que os dois iriam lá juntos da próxima vez. No dia de sua volta, Art e tia Carla estavam esperando-o no aeroporto, até que receberam uma notícia terrível. O avião onde ele estava havia caído no mar. Art e sua mãe ficaram super abalados. Até eu fiquei, afinal o tio Lucas era uma boa pessoa. Art sempre vem para cá quando está com saudades do pai. Nós ficamos aqui por um tempo, às vezes até mesmo sem dizer nada, apenas pensando.
"Ei, lembra do dia que ajudamos nossos pais a construir esta casinha?" eu disse ao Art tentando distraí-lo dos pensamentos ruins.
Ele levantou a cabeça, enxugou as lágrimas e sorriu um pouco "Lembro. Foi muito legal. Eu lembro que meu pai ficava me pedindo as ferramentas e eu me sentia o máximo ajudando" ele riu um pouco com a lembrança.
"E quando a casinha ficou pronta, mas 5 minutos depois caiu e tivemos que começar tudo de novo" eu disse e nós dois rimos.
"Obrigado" Art agradeceu.
"Pelo quê?" perguntei confusa.
"Por tudo. Por me fazer rir quando estou triste, por me ajudar nas matérias, por ser minha companheira e a melhor amiga que alguém pode desejar" ele explicou sorrindo para mim. Aw, ele é um fofo! Apesar de eu não gostar muito quando ele diz 'amiga', continua fofo!
"Você também é o melhor amigo que alguém pode desejar" eu disse abraçando-o mais forte.
"Eu te amo" ele disse retribuindo o abraço.
"Eu também te amo" falei sorrindo. Não fique surpreso, nós sempre dizemos isso. É um amor de verdade, mas não exatamente o tipo de amor que eu queria que fosse.
"É melhor nós irmos, a Laura tá lá sozinha" Art disse se desfazendo do abraço. Ah, fala sério! Até quando só estamos nós dois juntos, essa praga consegue atrapalhar!
"Tudo bem, vamos" nos levantamos, descemos da casinha e entramos em casa. Ok, essa é a cena mais HILÁRIA que eu já vi na minha vida!
"Me devolve isso, seu bicho cheio de pulgas!" a praga gritou enquanto corria atrás de Thor que estava com a 'bolsa super fashion da Louis Vuitton' na boca. Tenho que admitir, não deu pra segurar o riso.
"Deixa que eu cuido disso." eu disse ainda rindo um pouco e comecei a por em prática os truques que Thor aprende desde filhote, pois eu e Art passávamos o dia ensinando a ele "Thor! Senta!" falei determinada. Ele parou de correr e sentou no chão "Solta" mandei, fazendo-o soltar a bolsa. Ainda bem que não está rasgada, senão alguém aqui ia dar um escândalo. Peguei o 'precioso' objeto e devolvi à praga.
"Ai, você tá bem? Calma, a mamãe tá aqui, o monstro malvado não vai mais te fazer mal, calma." ela disse enquanto acariciava a bolsa. Um 'obrigada' de vez em quando não faz mal a ninguém, né? Sou só eu ou você também está com uma vontade enorme de jogar essa porcaria de bolsa de volta para Thor, só para ele estraçalhar esse troço de vez? "Arthurzinho, minha mãe ligou e disse que já está chegando pra buscar a gente" a praga disse, depois de passar um tempo acariciando a bolsa.
"Tá bem, vou pegar nossas coisas" Art falou e foi até a mesa para pegar os livros. Eu fiquei esperando um tempinho para ver se Laura largava o celular e ia ajudar o namorado a carregar as coisas, mas, a quem estou querendo enganar? Lógico que ela não ia fazer isso, então eu mesma fui ajudá-lo.
"Quer uma mãozinha?" perguntei a ele assim que cheguei perto da mesa.
"Sim, por favor" ele pediu. Peguei metade dos livros e Art pegou o resto. Colocamos em um canto da mesa e eu peguei a bandeja de pizza para colocar na pia. Quando acabamos de arrumar a mesa ouvimos uma buzina.
"Minha mãe chegou!" a praga disse e foi logo correndo para fora da casa, sem nem se preocupar em pegar os próprios livros.
"Abraço de despedida?" Art perguntou abrindo os braços. Eu ri da fofura dele e o abracei "Até mais" ele se despediu.
"Até" eu disse e ele me deu um beijo no topo da cabeça. Alguém pause o tempo, por favor. Quero ficar assim para sempre.
"Vamos, Arthurzinho!" a praga gritou de fora da casa. Com isso, Art se separou do abraço. É, tudo que é bom dura pouco.
"Tchau, Beca" ele disse pegando os livros e indo até a porta.
"Tchau, Art" depois que ele saiu, fechei a porta e olhei para a sala lembrando do dia de hoje. Acabou que a praga não aprendeu foi nada! É impossível tentar ensinar qualquer coisa para aquela garota! Tenho quase certeza de que na prova de história ela vai dizer que Clóvis foi um estilista que frequentava a loja Francos. Mas, o que eu posso fazer? Eu tentei, não foi?

Continua