Duda's POV - 05 de janeiro de 2016.

Eu não conseguia acreditar na minha sorte. Iria passar 6 meses em Liverpool na companhia de meus dois melhores amigos e realizar o meu maior sonho. Parecia impossível, à uma semana atrás, que hoje eu estaria na cidade natal de meus ídolos. Fora uma luta cansativa e dolorosa, mas juntos nós conseguimos vencê-la.

Tivemos a ideia de ir morar na Inglaterra por um tempo quando Paul McCartney anunciou que iria "se aposentar" da música. Ele dissera que terminaria onde tudo começou: faria seu último show em Liverpool. Foi horrível saber disso, principalmente para mim; a carreira de Paul me ajudara mais do que eu poderia expressar. Ringo abandonara a música a quase um ano atrás, e eu perdera seu show de despedida porque minha mãe não quisera me deixar ir até Londres - segundo ela, eu era nova demais. Porém, eu não podia deixar o mesmo acontecer com o show de Paul. Suas letras mudaram minha vida, e eu tinha de agradecê-lo.

Carol e Leo também disseram que não perderiam este show. Começamos, então, a pensar em um jeito de irmos. A primeira ideia, é claro, foi ir na semana do show e voltar quando este acabasse. Mas eu não concordei.

"Liverpool vai estar uma loucura. Me recuso a ir tarde demais; preciso ir muito antes, porque eu quero estar na primeira fileira e provavelmente terei que ficar acampada um tempão na fila do show. Além do mais, gente, precisamos ir na casa da Mimi e em tantos outros lugares de lá, temos que ter mais tempo!".

"Tá, Eduarda, mas não podemos pagar um mês de hotel, né?", respondeu Carol.

"Mas e se não ficássemos em um hotel?", opinou Leo, com um sorriso no rosto. "Escutem, e se alugássemos uma casa lá e arrumássemos emprego? Iríamos poder nos manter lá, e além do mais teremos tempo de virar Liverpool de cabeça para baixo se quisermos."

Eu seria capaz de beijá-lo. A ideia era genial. Precisaríamos convencer nossos pais, e seria extremamente difícil, principalmente pra mim. Leo e Carol eram irmãos por parte de pai, e Leo era maior de idade, poderia cuidar da irmã, além do pai dele ser super liberal; minha mãe era super-protetora e nunca me dava liberdade. Outra coisa que precisaríamos era de visto, passaporte, documentos, a papelada toda, além do fato que estaríamos indo ilegalmente e seria quase impossível achar emprego nestas condições. Mas daríamos um jeito, pois era nosso sonho e iríamos realizá-lo.

Depois de muito falar com minha mãe, a convenci que poderia dar certo, usando Leo de argumento; ele já havia viajado sozinho, era responsável e maior de idade. Além do mais, eles tinham uma prima de segundo grau que morava em Londres e nos ajudaria. As despesas do aluguel iriam ser divididas e era tudo o que nossos pais iam nos pagar; teríamos que nos virar por lá. Mary, a prima deles, encontrara emprego para Leo em uma loja de discos e para mim e para Carol em um restaurante, como garçonetes.

Tudo parecia perfeito até o momento de tirar o visto; ele fora negado. Eu entrei em desespero. Passei quase duas semanas em São Paulo com minha mãe e tudo parecia estar destrinchando. O show do Paul seria em março de 2016, dia 10, e nós iríamos para Liverpool em janeiro. Na época, era dezembro de 2015. Eu tinha realmente me desesperado e pensei que não ia conseguir. Porém, no último momento e depois de várias tentativas, o visto foi aprovado. Eu quase morri de felicidade. Me lembro de que quando falei pra a Carol e pro Leo que tinha conseguido, eles me abraçaram e choraram de emoção. "Vamos ver o Paul! Vamos ir na casa do John!". A gente mal acreditava. Nossos pais fizeram uma festa de despedida pra nós e eu me sentia a pessoa mais feliz do mundo.