American Horror Story Coven - The Aftermath escrita por AHSfan


Capítulo 16
Ferida e Infeliz


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem e tenham uma boa leitura :)



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O silêncio é ensurdecedor. Minha respiração está acelerada então ponho uma mão sobre minha boca para impedir-me de arfar. Não consigo ver nem um palmo a minha frente, é como se estivesse cega de novo. Pânico me invade e domina, fazendo com que eu me arraste para longe do último local onde vi Lili ter o braço quebrado pelos poderes de Ana.

Ana! Minha amiga mais recente, uma pessoa doce, gentil e tímida. Era ela a responsável pelos males que assolavam a academia. Era Ana o tempo todo. Fecho os olhos com força desejando que tudo não passe de um sonho, que a qualquer momento eu possa acordar e perceber que imaginei tudo. Quero acreditar que despertarei e verei Catherine, Elena e Ana me esperando pra tomar café da manhã, que faremos graça de nós mesmas e depois iremos jogar vôlei, para então ter mais uma sessão chata de terapia em grupo. Entretanto sei que isso não vai acontecer e a voz de Ana apenas confirma minha infeliz certeza.

Onde vocês estão se escondendo garotas? – A voz divertida dela tem um tom de escárnio ao fundo. Escuto os passos lentos dela vindo em minha direção e tento me afastar mais um pouco, porém acabo batendo na perna de uma das camas. Amaldiçoo-me mentalmente por ser desastrada mesmo em um momento tão crucial como esse. Alguns segundos se passam em que nada acontece.

Peguei você! – Ana sussurra ao pé do meu ouvido e imediatamente levanto-me, esbarrando no guarda roupa de alguém.

Ana, pare com isso, por favor! – Imploro a escuridão diante de meus olhos.

Ana, pare com isso, por favor! – Ela me imita com um tom zombeteiro. Aos meus pés escuto uma respiração apressada que assumo pertencer a Lili. Então me recordo do isqueiro no meu bolso e arrisco acende-lo, para enxergar algo. O isqueiro está em minhas mãos trêmulas e ergo-o a altura do meu rosto.

Quando consigo acendê-lo finalmente, Ana está parada de frente pra mim e seus olhos são amarelos e doentios assim como o olhar do demônio em meus sonhos. Tenho uma vontade absurda de gritar, mas consigo manter os lábios apertados em uma linha fina.

– Vocês querem saber o que é um dia na vida de Ana Kin? – Ana pergunta olhando de Lili para mim. – Um dia na vida da única bruxa que não tem poderes?!

– Ana... – Lili fala entrecortadamente – Por favor, não nos machuque! – Lili chora.

Eu fui machucada todos esses anos! Deixei minha vida na China porque Lili o prodígio da família veio pra Academia de Bruxas! - Cada palavra dita por Ana transforma-se em um osso quebrado no corpo de Lili que grita sem parar.

Ninguém nunca me perguntou se eu queria estar aqui! – Ana ergue Lili do piso apenas olhando pra ela enquanto Lili geme agonizante. Essa é minha deixa para correr em direção a porta e tentar sair, mas quando ponho a mão no que deveria ser a maçaneta, outra mão gélida já está lá.

– Pensando em sair, senhorita Jennifer? – Tomo um susto tão grande com a aparição repentina de Ana, segurando a porta, que deixo o isqueiro cair de minha outra mão. Estou no auge da escuridão total mais uma vez e posso sentir meu coração martelando em meu peito, prestes a explodir.

Minhas pernas são enfraquecidas e meu corpo tomba em um alto estrondo quando caio de rosto no chão. Tento puxar o ar para os meus pulmões, mas antes que consiga, meu tronco é subitamente erguido pelos poderes de Ana.

– Eu nunca quis te ferir, Jennifer. Meu amigo pediu para você e o seu caçador fugirem, mas vocês realmente não me deram ouvidos. – Um poderoso raio ilumina a janela, permitindo-me vê-la. Ana balança a cabeça algumas vezes e algo como humanidade surge no meio de várias emoções, mas é rápido demais para que eu tenha certeza.

– Ana, por favor... – Tento continuar a falar, mas minha mão é lentamente perfurada por algum tipo de objeto. Um grito sofrido escapa de meus lábios e por um minuto tenho certeza que morrerei junto com Lili.

– Sangue mágico é o melhor alimento para meu amigo. – Sinto a mão gélida de Ana tocar minha mão e então outra... Garra, com escamas, arranha a pele do meu braço, indo do ombro até chegar ao bracelete que Alexei me deu. Fecho meus olhos com força e sei que perdi uma das minhas melhores amigas.

É então que Ana exclama um palavrão e se afasta de mim, deixando meu corpo desabar. Abro meus olhos e Lili está a meu lado arfando desesperadamente. As luzes do quarto voltam a funcionar quase imediatamente, apesar de ficarem piscando.

– O que eu fiz?! – Ana olha de mim para Lili como se nos enxergar assim fosse algo inédito. Observo seu olhar confuso enquanto ela fala:

Eu sinto muito... Eu não sei mais o que é real. – Então a expressão de Ana muda de arrependida para aterrorizada. - Pare de me perturbar, eu não quero machuca-las! – Ana vocifera gesticulando para ninguém em particular.

– Ana? – Lili pergunta rangendo os dentes. – Ana, por favor, você é mais forte que isso. Pare de nos atacar!

Ana derrama uma única lágrima do olho direito.

Eu... Não... Consigo! – Ela se ajoelha e então põe as mãos no chão. As luzes piscam uma vez e quando ascendem vejo-a cuspindo uma grande quantidade de sangue no chão. Levanto-me com dificuldades e avanço para a porta que continua fechada. Bato uma, três, cinco vezes na porta, gritando por ajuda, porém sem obter resposta.

O barulho do vômito de sangue vindo de Ana cessa repentinamente. Quando me viro ela está abrindo a boca e sons de ossos sendo deslocados podem ser ouvidos. Lili grita e está com o corpo todo trêmulo, ela chora como nunca imaginei ser possível. Aos poucos, algo como dedos, dedos humanos saem da boca de Ana. Uma, duas, três mãos escapam da boca dela que agoniza em dor e desejo nunca ter visto nada disso, nunca ter posto os pés nessa academia, nunca ter nascido bruxa e principalmente nunca ter existido em primeiro lugar.

As mãos se põem pra fora do rosto de Ana e a face asquerosa do demônio que vi em meus sonhos aparece, de cabeça pra baixo. Um sorriso em estado de putrefação surge no rosto do demônio e é isso que me leva ao limite.

Meus poderes escapam de meus dedos e dessa vez, tenho certeza que o chão da mansão está tremendo. Tremendo não, rachando.

Aponto minha mão para Ana que geme em uníssono com o demônio e ambos parecem experimentar a dor que meus poderes causam. E mais que isso, posso sentir cada articulação do corpo do demônio de Ana curvar-se diante da minha habilidade. É quase como se fazer isso fosse o certo a fazer.

– Você... Jen...ni...fer, é importante. Nós não somos tão diferentes assim. Nossos poderes vêm do mesmo lugar. – O demônio diz com sua voz inumana. – Não deveríamos nos enfrentar quando podemos conquistar juntos.

Uma pequena explosão acontece atrás de mim e as luzes se apagam novamente. Sinto meus ossos vibrando enquanto farpas de algo atingem minhas costas violentamente, fazendo com que me ajoelhe de aflição. Meus músculos se retesam diante da dor e eu agonizo. A única luz que existe agora vem da janela e, portanto da lua. Vejo com dificuldades que Lili olha para a porta surpresa e seu rosto parece ganhar cor novamente. Em meio a tudo isso, o demônio não está em lugar algum que meus olhos alcancem.

– Onde está esse demônio filho da ...?! – O sotaque europeu forte na voz de Alexei entrega sua identidade. Ele atira com a espingarda em alguns dos guarda-roupas no quarto e embaixo de algumas camas também.

– Ela fugiu! Maldição! - Ele xinga exaltado.

– Jennifer! – O tom de voz preocupado de Catherine é o que motiva a continuar respirando – Meu Deus, o que aconteceu aqui?!

Catherine, Elena e as gêmeas de cabelo prateado entram no quarto, ou no que restou dele. O piso está rachado dos quatro lados do cômodo e as rachaduras convergem até mim. As camas e os guarda-roupas estão despedaçados pelos tiros de Alexei, sem contar no sangue espalhado pelo local e a janela quebrada, pela qual a luz da lua entra.

– Ajudem... Lili... Primeiro. – Consigo falar entrecortadamente. Então as gêmeas correm tentando levanta-la, mas é um esforço inútil, pois suas duas pernas estão quebradas. Ela escorrega em si mesma e seu rosto é uma confusão de maquiagem borrada e lágrimas. Enquanto isso, Elena pega seu isqueiro no piso, ascende um cigarro e fuma-o em um ritmo frenético.

– Vamos para a enfermaria. – Elena comanda.

Escuto alguém balbuciando algo. Então percebo que essa pessoa sou eu. Estou repetindo a palavra “Ana” sem parar. Balanço a cabeça algumas vezes, tentando clarear meus pensamentos e finalmente consigo organizar uma frase que faça sentido.

– É Ana... Ela está possuída. – Digo sentindo meu corpo desfalecer.

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Abro os olhos sob uma forte luz artificial e pisco algumas vezes para identificar onde estou. É a enfermaria, percebo. O teto está rachado e o som suave da chuva do lado de fora da janela me informa que as últimas horas da minha vida foram reais. A possessão de Ana, o riso de escárnio do demônio, a expressão torturada de Lili e a carga de magia que lancei. Uma lágrima fria flui do meu olho esquerdo, para então uma enxurrada de lágrimas escorrerem. Tudo que desejo agora é ir pra casa. Largar a mansão, negar a bruxaria, fugir daqui e de mim se possível. Meu choro baixinho logo se torna um lamento de grandes proporções. Tento levantar-me, mas uma dor de cabeça surge, como se alguém estivesse batendo um martelo repetidamente em meu crânio.

– Ei, calma aí, Jennifer. – A suavidade no tom de Alexei me surpreende. Ele me observa cautelosamente e se aproxima da borda do leito em que estou.

– Onde... Está todo mundo? – Minha voz é um sussurro doloroso.

– Porque você não deita mais um pouco? – Ele toca em meus ombros e empurra-me gentilmente na maca.

– Alexei... – Um soluço estrangulado escapa de meus lábios. – Alexei, onde está todo mundo?

– Você fez uso do bracelete que te dei. – Ele sorri quase carinhosamente agora, apesar do riso não chegar aos olhos.

– Era da minha mãe. Uma das únicas coisas que me resta dela. Você já viu a inscrição que tem por dentro? – Ele ergue meu fino pulso e vira o bracelete do outro lado. Em letras bem pequenas, numa caligrafia arcaica está escrito:

“Se ando em meio à tribulação, tu me refazes a vida; estendes a mão contra a ira dos meus inimigos; a tua destra me salva. Salmos138: 7”

É aí que meu coração de parte. Despedaça-se em pequenos fragmentos e eu volto a chorar, lamentar e lacrimejar. Não ligo de ser uma chorona na frente de Alexei e não poderia importar-me menos com a fraqueza que ele vê exposta em mim, mas para justificar minha reação digo:

– Meu pai, sempre... Lia esse versículo pra mim.

Alexei ergue as sobrancelhas, mas permanece em silêncio por alguns minutos.

– Ele faleceu? – Alexei pergunta depois de algum tempo.

– Quando eu tinha quatro anos. Foi um ano bem ruim. Minha visão e audição deterioraram tanto que ao final daquele ano fiquei cega e surda.

– Eu sinto muito. – A voz dele exibe um tom impassível, mas seu olhar é compreensivo.

– Obrigada. – Enxugo minhas lágrimas sentindo uma reconfortante paz instalar-se em mim, mesmo em meio a todo esse caos que me encontro.

– Suas amigas estão lá fora e Lilia está repousando neste leito. – Alexei retira a divisória de pano que separa minha maca da de Lili. Ela tem uma expressão serena no rosto e respira com tranquilidade. Fico um pouco mais aliviada de ver que ela está bem, porém uma imagem de Ana sofrendo surge em minha consciência.

– Porque você está nos ajudando? – A pergunta foge de minha boca rápido demais. Alexei reflete um pouco e responde:

– Minha missão como caçador quando me mudei pra cá era de observar a organização de vocês, seu dia-a-dia, sua militarização e suas habilidades... Mas que merda, não sei nem porque estou contando isso... – Ele faz uma expressão confusa. – O coven de vocês aniquilou a ordem de caçadores dos Estados Unidos. Eles desapareceram como se nunca tivessem existido... E a nossa ordem da Europa enviou-nos em missão de observação para as diferentes sedes do coven nos EUA. – O olhar de Alexei perde-se em algum tipo de lembrança.

– Na Europa, a ordem é extremamente rigorosa quanto a qualquer forma de vida que não seja essencialmente humana. Fui treinado desde muito jovem para caçar bruxas, demônios, praticantes de vodoo, entre outras anomalias. – Ele pigarreia e tem a decência de abaixar o olhar. – Em poucas palavras, ainda somos inimigos declarados, mas não tenho ordens para eliminá-las por enquanto. Porém um demônio como este que foi invocado é um tipo 5 na escala de periculosidade e deve ser eliminado, portanto pode-se dizer que estamos unidos por um... Inimigo em comum. Agora, não me pergunte mais nada caso contrario narrarei toda minha vida pra ti.

Um riso espalha-se por meu rosto e consigo enfim sentar-me na maca.

– Você não é tão desprovido de humanidade quanto parece, Alexei. – Eu brinco e posso jurar que ele fica envergonhado por um rápido segundo.

– Pff, só porque sei o seu nome não quer dizer que te acho bonita. – Ele retruca ajudando-me a levantar da cama. – Na... Não que você seja feia.

Antes que eu tenha a chance de refletir sobre a declaração de Alexei escuto a voz de Lili, ainda aguda apesar de tudo.

– Jennifer? Você está... Aí? – Ela tosse e então clama por mim novamente.

– Estou, Lili. Como você se sente? – Pergunto caminhando na direção dela.

O olhar de Lili está tenebroso e repleto de dor. Ela parece saudável fisicamente, mas a energia que a rodeia é trágica.

– Você tem que... Prometer-me... – Ela segura meu pulso com força e puxa-me pra perto. – Você tem que salvar Ana! – Lili sussurra em meu ouvido.


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Notas finais do capítulo

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