Estrada da Morte escrita por BailarinaDePorcelana


Capítulo 1
Cat


Notas iniciais do capítulo

Primeiro capitulo, ansiosa aqui!
Espero que gostem e que continuem a acompanhar a fic depois disso!
Primeira personagem: Catleen "Cat" Forward.



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Cat

A água quente caia em suas costas deixando rastros de arrepios. Finalmente tinha tempo para relaxar. Depois de deixar Jessie e Kade na escola, tinha ligado o rádio em seu quarto e colocado o chuveiro numa das temperaturas mais quentes. Na empresa imobiliária em que trabalhava era tão difícil conseguir um dia de folga quanto um emprego lá dentro. O único lado ruim era que Tony não estava com ela. Sempre tentava fazer seus dias de folga coincidirem com os dele, mas dessa vez não deu certo, e logo pela manhã, antes do sol nascer, ele acenava para ela do carro a caminho do outro lado do país para um evento da empresa em que trabalhava.

Com um suspiro, fechou os olhos e deixou a água encharcar os cabelos compridos e sentiu-os grudar nas costas e nas bochechas. Isso normalmente a irritava com as cócegas, mas estava no seu raro dia de folga. Nada iria estragar seu momento. Nem mesmo os braços que surgiram de repente em torno do seu corpo, que a fez gritar, e a risada alta tão conhecida por ela que ecoou pelo banheiro.

- Mas que droga, Anthony! - praguejou, sentindo o coração acelerado - Você quase me matou de susto!

- Não fique assim, Cat. Você sabe como amo quando fica brava. - falou em tom brincalhão com um olhar malicioso, e Cat não deixou isso passar, mas ainda estava brava com ele.

- Não devia estar a caminho da Califórnia?

- O caminho para a Califórnia está interditado pela polícia, e mandaram todos de volta para casa. - falou, assumindo o jeito sério que tinha naturalmente - Foi estranho. Mas a empresa falou que estão tendo esse problema por todo o país, então cancelaram as atividades até tudo ser resolvido.

A mulher suspirou e abraçou o marido, enquanto a água ainda caía sobre os dois, e encaixou o rosto na curva de seu pescoço sentindo o perfume que a fazia pensar no mar.

- Como entrou aqui sem eu perceber? - Cat perguntou com os olhos fechados, adorando sentir a mão de Anthony passeando por suas costas nuas.

- Não devia deixar o rádio muito alto. - ele sussurrou a resposta, dando um beijo em seu pescoço - Você fica muito dispersa.

- As suas mãos também fazem isso. Talvez eu não devesse deixar também.

- Ah, mas você está em séria desvantagem.

- Se você tirasse sua roupa também, estaríamos empatados. - retrucou puxando a gola desabotoada e completamente encharcada de sua blusa social, e olhando nos olhos de Tony não pode deixar de pensar no quanto seu marido era sexy. Muito sexy, completou com um sorriso travesso.

Sem hesitação, o homem tirou a camisa e beijou Cat de um modo que a fazia se sentir em um universo paralelo, onde só existia os dois e seus lábios se tocando e movimentado de um jeito doce e quente, enquanto as mãos exploravam seu corpo de uma maneira insana. Mas esse momento acabou - para a frustração de Cat - com Tony se afastando dela, a satisfação estampada no rosto.

- Fiz reserva para daqui duas horas no Del Posto. - acariciou o rosto da esposa - Acho melhor irmos nos arrumar se quisermos chegar a tempo, porque do jeito que você demora…

A mulher ignorou a ultima parte e o olhou desconfiada mas não pode deixar de sorrir. Sentia que tinha algo mais ali, já que sabia desde sempre que ele odiava esses lugares.

- Pensei que odiasse esse “restaurantes granfinos que fazem você se sentir mal por não ser tão legal como eles”. - tentou imitar a voz do marido.

- Eu posso aguentar um gerente metido durante duas horas por você.

- Ai que amor. - Cat fez uma voz melosa ao extremo, que julgou ser irritante o bastante.

Tony bufou, desaprovador, arrancando risos da esposa. Ela sabia como ele odiava coisas desse tipo, mas adorava deixá-lo irritado.

- Não acha que já está velha demais para esse tipo de coisa? - deu um sorriso zombeteiro, que retrucava a atitude de Cat.

- Hey hey hey! Você é cinco anos mais velho que eu. - resmungou com a cara fechada, e foi a vez do marido rir. Ela odiava quando “insinuavam” que já estava ficando velha. Tinha só trinta e sete anos!

- Ok, vovozinha, vá se arrumar logo. - Tony riu mais uma vez e saiu antes que o tapa de Cat o acertasse.

A mulher se apressou no banho, no fundo triste por não poder continuar de onde pararam - o beijo estava bom demais para ser interrompido, e tinha certeza que não ficaria só nisso -, mas com um pouco de força de vontade e depois de se imaginar no restaurante que tanto adorava com seu marido, logo terminou de se lavar.

Saiu do banheiro enrolada numa toalha e passou a examinar suas roupas, procurando uma que combinasse com o momento. Acabou escolhendo um vestido azul solto e saltos baixos pretos, num visual que a fazia parecer bem mais jovem.

Depois de Anthony tê-la chamado três vezes dizendo que estavam atrasados, Cat finalmente terminou sua trança e desceu as escadas o mais rápido que podia, encontrando o marido parado perto da porta usando jeans, camisa social e um blazer. Mas o mais belo de tudo, Cat pensou, era o sorriso torto e provocador que ele tinha nos lábios.

- Uau. - foi tudo o que ele disse.

- Uau. - ela repetiu parando na frente dele e o olhando de cima a baixo.

- Bem, vamos lá. - Tony colocou o braço da mulher no seu - Mas se algum engraçadinho ficar olhando para as suas pernas, não respondo por mim.

- Ah, então minhas pernas são bonitas?

- Conte quantos idiotas ficam encarando elas e terá a resposta.

Cat riu baixo, se sentindo leve como nunca. Adorava os dias de folga, e como tiravam toda a tensão de seus ombros. Ás vezes se arrependia de não ter escutado a mãe quando sugeriu que largasse o emprego depois que Kade nasceu, mas não queria ficar encostada na época, como uma dona de casa. E ainda não queria.

Foi com Tony para a garagem e, depois que este abriu a porta do carro completamente galanteador, ela entrou e se acomodou no banco enquanto o marido dava a volta para entrar no carro também. Incontáveis minutos depois, passados com muita conversa e momentos de silêncio agradável, finalmente chegaram ao conhecido restaurante no Del Posto, um lugar de aparência simples se visto de fora, mas que por dentro era elegante e refinado. A decoração era toda feita em tons nudes e vermelho, grandes e pesadas cortinas cobriam as janelas impedindo que a luz do dia entrasse, e a iluminação deixava um perfeito clima romântico. Sempre que entrava ali, Cat se sentia num dos filmes antigos de romance que amava.

Estava tão absorta em analisar o lugar que não percebeu quando o maître chegou nem quando os pediu para seguí-lo. Só acordou de seu sonho quando o marido pegou sua mão e a puxou delicadamente, com um sorriso cumplice de quem sabia exatamente em que Cat estava pensando, e isso a perturbava. A única qualidade que via em si própria era a capacidade de camuflar seus sentimentos, pensamentos e reações, e Tony sabia exatamente como quebrar o muro que construía com tanto cuidado pra conseguir isso. Fazia anos que se conformara com isso e parara de fazê-lo perto dele, mas sua fragilidade diante do marido ainda a perturbava.

A mesa que estava reservada para eles era bem no segundo andar, logo depois de uma ornamentada escada e no canto entre duas paredes, mantendo vista para todo o restaurante que, por ser a hora do almoço, tinha sempre alguém novo passando pela porta. Cat não pôde impedir sua mente de viajar enquanto o marido puxava a cadeira para que ela se sentasse.

- A última vez que viemos nesse restaurante foi quando contei que estava grávida da Kade. - falou sorrindo enquanto examinava a toalha de mesa - Dá pra acreditar que já faz seis anos?

Tony se sentou á frente de Cat completamente sem expressão, olhando para algum lugar que só ele enxergava.

- Verdade... Que tal voltarmos para aquele dia?

- O que? Como assim?

- Bem, podemos ter outro filho e você me traz aqui para contar que está grávida.

- Ah, claro... Será um momento maravilhoso. Bem, poderíamos tentar fazerr um, não é? - Cat o olhou maliciosa e ergueu uma sobrancelha questionadora.

- Céus, tirou o dia hoje para me provocar, Catleen?

Anthony abriu o cardápio e escondeu o sorriso atrás dele.

- Você começou a brincadeira quando entrou no banheiro... Eu só estou continuando. - ela retrucou passando o pé pela extensão da perna do marido.

- Bem, podemos terminar isso depois…

A mulher deu uma piscadela e se concentrou na escolha da comida.

Como Anthony havia previsto, o almoço durou duas horas com o gerente indo de tempos em tempos para saber se estavam sendo bem atendidos, o que irritou até mesmo a inabalável paciência de Cat.

Quando terminaram, foram caminhando lentamente para o carro, na intenção de buscar Kade na escola. Era difícil terem um tempo de verdade para passar com as filhas. Então, quando a garota viu os pais esperando do lado de fora da escola, saiu correndo e Cat sentiu um aperto no coração por saber que a filha se sentia sozinha. Kade só tinha seis anos, não devia passar tanto tempo sem os pais. Ela precisava deles.

Depois seguiram para a escola de Jessie. Cat sabia que isso iria irritar a filha - ela estava numa fase em que qualquer ligação com os pais perto dos amigos é o pior desastre do mundo -, mas já estava na hora de Jessie superar isso. E foi dito e feito. Ao ver os pais e a irmã parados no estacionamento da escola, a garota fechou o sorriso que compartilhava com os amigos, se despediu e saiu desfilando até o carro.

- É sério, porque estão aqui?

Cat revirou os olhos e balançou a cabeça em reprovação, mas preferiu não responder. Não dava certo discutir com a filha, ela sempre tinha uma réplica para qualquer coisa que os pais dissessem.

No caminho para casa - depois que Jessie já tinha parado de reclamar e já tinham conseguido sair do engarrafamento que parou todas as ruas de Nova York -, pararam num McDonalds para tomar soverte e logo tomaram o caminho de volta para casa, enfrentando novamente a enorme quantidade de carros que parava o trânsito.

- Nova York precisa de ruas mais largas. Todo dia é a mesma coisa. - Tony reclamou passando uma mão pelo cabelo.

Nesse momento, sirenes foram ouvidas e os carros foram arredando como podiam para os carros de polícia passarem. Anthony manobrou o carro para a direita para dar espaço, e Cat conseguiu contar onze carros de polícia, três motos e duas ambulâncias.

- Meu Deus - falou se levantando um pouco no banco para observar a quantidade de viaturas mais á frente - Pra quê isso tudo?

- Deve ser algum acidente por ai, ou coisa parecida. - o homem falou, mas sua expressão revelava que não acreditava muito nisso.

Depois de quase uma hora, finalmente conseguiram chegar em casa. Enquanto as filhas faziam os deveres da escola (na verdade, Kade só tinha que desenhar alguma coisa sobre o que era a família para ela), Cat assistia ao noticiário abraçada ao marido. Era o de sempre: ações, valor do dólar, principais notícias de Nova York (a maioria sobre mortes) e notícias rápidas sobre o mundo, inclusive uma atualizando as pessoas sobre um problema com epidemia na Rússia.

Mas Cat não estava prestando atenção. Estava mais ocupada pensando no que faria com Anthony quando as filhas fossem dormir. Ele ainda lhe devia por tê-la assustado mais cedo.

- Mamãe, acabei meu desenho. - Kade apareceu no alto da escada esfregando os olhinhos cansados.

- Então guarde tudo e escove os dentes. Já, já subo para ler um história.

Cat se soltou do abraço do marido, lhe deu um beijo na bochecha e subiu. Sabia que a filha demoraria para arrumar tudo, então aproveitou para tirar o vestido que usava e colocar uma roupa mais confortável - um shorts jeans e uma camiseta vermelha de mangas compridas e decote em V - e prendeu o cabelo no alto da cabeça.

- Pronta para a hora da história? - parou na porta do quarto de Kade, que terminava de vestir o pijama.

- Sim, mamãe. - respondeu subindo na cama - Lê o livro da princesa de novo?

- Todos os seus livros são das princesas, Kay - Cat riu - Escolha um.

A garota demorou um tempo para responder.

- A Pequena Sereia.

Cat pegou o livro na estante e se sentou na cama de frente para a filha. Começou a ler, e via os olhos da menina presos no ar, imaginando cada acontecimento. Até que as luzes da casa começaram a piscar freneticamente e de repente se apagarem.

- Kade, fique quietinha aqui que vou ver o que aconteceu. - Cat se levantou, deixando o livro na cama.

- Mamãe, eu ‘tô com medo. Não quero ficar sozinha.

Com um suspiro, ela pegou a filha no colo para que não caísse ou se machucasse no escuro, e a menina apertou os braços em volta de seu pescoço e deitou a cabeça em seu ombro.

Caminhou cuidadosamente pelo corredor passando mentalmente a planta da casa até encontrar a escada. Desceu segurando o corrimão e tateando o caminho com o pé.

- Anthony? - chamou quando chegou aos pés da escada - Está aqui?

- Estou aqui fora. - ouviu a voz dele da porta de entrada, que de tempo em tempo era iluminada por uma luz branca - Você precisa ver isso.

Cat seguiu até lá, segurando Kade contra si se sentindo assustada. Estava acontecendo alguma coisa, tinha certeza. Todos os ossos de seu corpo gritavam que algo estava errado. Ao chegar na porta, encontrou vários helicópteros passando pelo céu com luzes muito fortes varrendo as ruas, o som das hélices abafado pelas sirenes que soavam ao longe e os gritos. No fim da rua, uma luz amarelada iluminada várias pessoas com baldes e mangueiras e o desespero á flor da pele. Um carro estava pegando fogo.

- O que está acontecendo? - perguntou assustada, a voz décimos acima do normal, virando para evitar que Kadie visse aquilo tudo.

- Eu não sei, mas um pouco antes da energia cair anunciar um comunicado do governador. Deve ser algo sério. - Anthony balançou a cabeça irritado.

- Onde a Jessie está?

- No quarto. Pedi para ela ficar lá, só por precaução.

- E ela obedeceu? - Cat perguntou incrédula.

- Sim.

- Então o problema é só comigo mesmo. - balançou a cabeça irritada.

- Vamos entrar. - o homem falou, a guiando para dentro da casa - Vou tentar ajudar aquelas pessoas.

Cat sorriu diante do gesto generoso do marido nessa situação e o beijou rapidamente antes dele sair de casa.

Quase uma hora depois, as sirenes espalhadas pela rua - e também pela cidade - começaram a soar. Kadie acordou assustada nos braços da mãe, que estava tensa sentada no sofá, tentando se controlar pela filha que tinha nos braços. Tentou não entrar em pânico antes de saber o que estava acontecendo.

E descobriu, um minuto depois, quando Anthony entrou correndo na casa, sua camisa com manchas de fuligem e o cabelo desarrumado. Os olhos estavam insanos.

- Vá chamar Jessie. - falou arfante e autoritário - Agora.

- O que está acontecendo? - perguntou a mulher aflita, se levantando depressa.

- Um ataque. - respondeu rapidamente, sendo seguido por Cat, indo para a cozinha, pegando uma caixa e colocando tudo o que coubesse ali.

- De quem?

Anthony parou por um segundo colocando a caixa no balcão, permanecendo de costas para a esposa, e apoiando as mãos ali como se fosse desmoronar a qualquer momento, até suas costas se retesarem ao ouvir batidas fortes na porta, apressadas, desesperadas.

- Pessoas mortas. - foi a única coisa que falou antes de pegar uma faca de dentro de uma das gavetas.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Preciso melhorar? Algum erro?
Espero que tenham gostado e que acompanhem a história!
Beijos e até a próxima ♥



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