Imutável escrita por Segunda Estrela


Capítulo 17
Capítulo 17


Notas iniciais do capítulo

Meu deus, será? Não pode ser. Eu estou postando um capítulo novo? O que deu em mim?!! Eu fiquei louca por acaso?
Alguém aí ainda tem clima pra Jelsa? Eu decidi terminar essa coisa, tava me matando olhar pra essa fic incompleta.



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Pisquei algumas vezes. O rapaz na minha frente mantinha seu semblante alegre. Depois franzi as sobrancelhas, me esforçando para externar minha confusão e incredulidade.

– Então, acredita em mim? – Ele dizia isso com um sorriso espalhafatoso de dentes brilhantes como flocos de neve.

Meu primeiro pensamento foi reprimi-lo por contar mentiras tão absurdas. Mas depois olhei para minha sacada e lembrei do milagre que presenciara. Em outro tempo, eu não teria pensado duas vezes, mas ainda mantinha a euforia da liberdade recém adquirida. E esse sentimento, tão recente, me fazia olhar para o mundo com novos olhos. Bom, me fazia querer tentar.

Analisei sua aparência. Ele tinha uma tez rebelde, cabelos brancos como a neve jogados para todos os lados. Um corpo esguio e talvez mais pálido do que o meu. Sua imagem, me lembrava, de certa forma, os espíritos e fadas dos antigos contos da mamãe. E seus olhos, brilhavam com a intensidade das grandes tempestades de neve.

Senti um desejo súbito e ilógico de acreditar nele. Acreditar na estranha história sobre guardiões e pesadelos. Parecia absurdo e fantasioso, mas todos os bons sonhos não eram assim?

E havia outra parte de mim, que repetia insistentemente, apesar de meu tremendo esforço para ignorá-la, que o que eu mais desejava era acreditar que aquele homem poderia me salvar. E essa pequena voz que anuviava um julgamento claro.

– Por que fez tudo isso por mim? – Era, sem dúvida, meu maior questionamento. O que levava uma pessoa a brigar com seus amigos por alguém que não conhecia?

Ele suspirou fundo, passando a mão pela nuca com um sorriso desconfortável.

– Eu vi uma garotinha que precisava de ajuda e vim. Eu faria isso por qualquer um. – No entanto, não senti tanta convicção em sua voz. – Mas agora não importa, porque você pode me ver. Eu queria te perguntar tantas coisas. Desde que eu te vi, minha cabeça fica borbulhando, esperando o momento que eu vou poder falar com você.

Eu percebi seu entusiasmo, e aquela mesma parte chata de antes se sentia alegre por poder trazer um pouquinho de felicidade para aquele estranho.

– Você é sempre assim? – Perguntei com um sorriso.

Ele me encarou por alguns segundos, com uma expressão que só podia ser admiração. Mas não, não teria motivos para ele admirar uma garota medrosa.

– Normalmente eu sou mais charmoso.

Levantei uma sobrancelha, não podia evitar que meu divertimento aparecesse.

– Mas me diga, senhor Jack Frost, não vê que eu estou livre? Finalmente, eu posso ser eu mesma. Do que vai me salvar?

Ele engoliu em seco antes de continuar.

– Além do espírito sádico atrás de você, acho que sabe que não vai poder viver aqui para sempre.

Eu olhei para baixo, com profunda tristeza. Entendia o que ele queria dizer. Depois vislumbrei cada detalhe e cada pedaço do meu belo castelo de gelo. Uma prisão magnífica, mas uma prisão, sem dúvida. E eu era meu próprio carcereiro. Cada entalhe, cada adorno e cada parede eram preenchidos com a minha alma. A maior impressão que o mundo jamais ganharia de mim. Ele era completamente “Eu”. E talvez esse fosse o problema, era cheio de “Eu”, e não poderia haver forma mais solitária de se viver.

Lancei um sorriso triste para o sol ao longe, enquanto eu o via despontar, preguiçosamente, no horizonte.

Onde estaria Anna? Será que comemorava por que finalmente poderia viver sua vida? Será que estava feliz ou sentia minha falta?

– Você não precisa mais ficar sozinha. Eu vou estar aqui pra você. – Ele se aproximou automaticamente, com um sorriso confiante. O rapaz então pareceu subitamente desconfortável. – Eh, bem, sua irmã também vai estar e todas as outras pessoas do reino. Todos nós, tipo uma família com muita gente que não é parente de verdade. – Assim que terminou de dizer isso, se recriminou com um belo tapa na testa.

Abafei o riso com uma das mãos. Eu desejava desesperadamente acreditar nele. Não era meu costume, nunca me deixava encantar por quem quer que fosse. Mas havia algo nele que me fascinava completamente. Talvez fosse algum tipo de encanto que todos os guardiões possuíssem.

Então me lembrei dos perigos que estavam naquilo que ele falava e não pude evitar mais uma onda de tristeza.

– Mas eu não posso voltar. Eles nunca estariam seguros comigo por perto.

– Isso não é verdade! – Ele se exaltou de forma que dei um passo para trás. Ele enrubesceu, mas não recuou antes de continuar. - Você não precisa ter medo de si mesma. Os seus poderes são um dom, podem encantar e podem proteger quem você ama. Não precisa ser assim, só precisa confiar em si mesma.

– O que aconteceu com Anna? No seu tempo, ela ficava bem?

Eu o vi hesitar e uma tempestade se formar naqueles olhos azuis. Demorou uns segundos antes que ele continuasse.

– Ela continuou toda o resto da vida no castelo. Mas mesmo que tenha tido marido e filhos, ela nunca foi verdadeiramente feliz. Por que ela sempre sentiu sua falta.

Uma exclamação de pesar escapou pelos meus lábios. Não podia ser verdade, mesmo depois de tudo que eu fizera, ela ainda se importava comigo. Ela ainda me amava. Lágrimas brilharam nos meus olhos e notei que Jack Frost se aproximou com uma expressão preocupada.

– Se não pode voltar por você mesma, pode fazer isso por ela?

Eu não queria estar sozinha, não importava quantas vezes eu me impusesse isso. Pelo menos uma vez, meu desejo egoísta poderia fazer o bem a alguém?

– Eu não quero estar sozinha. Não importa o quanto eu repita, eu não quero.

Só quero viver uma vida simples, rodeada de pessoas que me amem. Quero viver sem ter medo de machucar ninguém. – Disse tudo isso com certa comoção. Como foi grande o alívio de desabafar aquilo. – Você vai me ajudar?

Ele me olhou com firmeza, e senti mais intensidade em seus olhos azuis como joias do que em qualquer um durante toda a minha vida. E pela primeira vez, reparei no quanto eles eram vivos e cheios de energia. E eram também os olhos mais bonitos que já tinha visto.

– Eu vou fazer qualquer coisa por você.

Ainda era estranho ouvir um desconhecido fazer promessas tão prontamente e com tanta convicção sobre minha felicidade. Mas ainda era, de certa forma, reconfortante.

Ele se aproximou com passos lentos e receosos. Vi a incerteza dançar nitidamente nos seus olhos, mas mesmo ela não o impediu de dar vários outros passos na minha direção.

– O que está fazendo? – Perguntei, minha desconfiança aumentando a cada segundo.

– Eu só queria fazer uma coisa. – E dizendo isso ele esticou sua mão a centímetros do meu rosto, muito lentamente.

Eu senti meu corpo enrijecer e ele hesitar.

– Eu só... Ah, desculpe. Eu não costumo tocar em ninguém, então...

– Tudo bem. – Eu não sabia que parte minha estava sendo tão impulsiva, mas não pude deixar de me desesperar um pouco por dentro. – Vá em frente, tem a minha permissão. – Mesmo agora era difícil ignorar a autoridade na minha voz, eu estava muito acostumada com ela.

E seus olhos, ao invés de faiscarem de animação como sempre, assumiram um tom sério. Ele esticou sua mão mais uma vez e podia jurar que ele tremia um pouco.

Não sabia se deveria deixar que ele se aproximasse tanto de mim, mas o que me impediu de me arrepender da minha decisão foi o tom de sua voz. Soou tão triste e solitária, pude desmascará-la através da sua aparente felicidade, porque era do mesmo jeito que eu falava o tempo todo. Ele devia estar tão sozinho quanto eu. Não poder ser visto por ninguém no mundo, eu conseguia imaginar o quanto era doloroso. E pela primeira vez, senti que podia ajudá-lo em alguma coisa.

Então seus dedos frios roçaram levemente pelo meu rosto. Um tremor percorreu minha espinha. Fechei meus olhos enquanto sentia todo meu corpo enrijecer. Ele passou seus dedos pela minha bochecha com demasiada delicadeza, quase como se tivesse medo de me tocar. Mas seu carinho de certa forma era caloroso. Eu nunca havia sido tocada daquela forma, se sim, já esquecera há muito tempo. Então, eu me deixei relaxar um pouco. No fundo, eu queria sentir o conforto de alguém sem medo de machucá-lo.

Ele ainda parecia hesitante, mas então colocou sua palma em volta do meu rosto. Mesmo que sua mão fosse fria, ela não me incomodava. Era até, de um jeito estranho, eletrizante.

Suspirei fundo e percebi que ele fazia o mesmo. Então sua mão se afastou. Quando abri os olhos, ele estava a apenas alguns centímetros do meu rosto. O choque me impediu de recuar. Ou então foram seus olhos, que estavam penetrantes e anuviados como o mar em tormenta. Naquela distância, podia ver cada contorno do seu rosto. Seus lábios finos, fios rebeldes e sobrancelhas desalinhadas.

Ele então pareceu se dar conta do que estava fazendo. Se afastou com uma expressão assustada. Percebi que seus olhos ganhavam um tom incrivelmente inocente quando se surpreendia.

– Eu sinto muito. – Disse ele, ainda abalado com a própria ousadia.

Não soube como reagir inicialmente.

– Não tem.. Problema. – Disse sem convicção e com a voz hesitante.

Ele notou meu desconforto. Então deslizou suavemente pelo salão, parecendo estar tentando se distrair.

– Esse castelo é impressionante. – Disse ele a meia voz.

Ele deslizou mais algumas vezes antes de se voltar para mim.

– O que acha de tentar?

– Tentar o que?

Ele moveu suas mãos rapidamente e meus sapatos ganharam lâminas de patinação.

– Vamos lá, eu sei que gosta disso. Eu vi nas suas memórias.

Ruborizei, não gostava da ideia de alguém como ele conhecer tão intimamente a minha vida e meus gostos.

– Isso foi há muito tempo.

Mal me dei conta do que tinha dito e vi uma bola de neve vir voando na minha direção, só consegui levantar as mãos e proteger meu rosto. A água gelada escorreu pelos meus dedos e vestido.

– Ora, seu... – E mesmo dizendo isso, senti um sorriso traiçoeiro brotar no canto dos meus lábios. – Saiba que você pode ter muito mais experiência, mas seu truque é amador.

Girei minhas mãos em uma bela sincronia e criei uma gigante bola de neve acima da minha cabeça. Eu o vi rir e correr. Lancei-a mesmo assim, acertando em cheio suas costas. Ele caiu no chão sem nem mesmo se proteger.

Eu dei uma risada descomedida, repleta daquele estranho sentimento tão espontâneo. Senti meu coração borbulhar cheio de júbilo, leve como uma plena. Não me lembrava da última vez que tinha rido assim, provavelmente quando ainda era criança e podia brincar com Anna. Explorei aquele sentimento, aproveitando cada segundo que podia daquela felicidade.

Foi então que me virei para Jack, que ainda estava no chão. Ele me olhava deslumbrado, com uma expressão de encanto que me deixou constrangida. Seus olhos brilhavam de uma forma que parecia que eu o havia enfeitiçado.

– O que foi? – Perguntei, sem coragem de retribuir seu sorriso.

– Eu não sei. – E isso o fez rir de novo.

Ele voou rapidamente até chegar perto de mim e segurar minha mão.

– Agora vamos, eu sei que você é boa em patinar.

Então ele segurou minhas duas mãos nas suas e me guiou levemente pelo salão. Deslizei com graça, enquanto eu o deixava me levar aonde quer que fosse. Demos giros e rodopios , fazendo diversos desenhos no gelo. Naquele momento, eu não sentia nenhuma das preocupações, nenhum dos medos que me sempre me afligiram. Eu estava completamente em paz.

Então paramos por um segundo, percebi que ele ainda segurava as minhas mãos, mas não parecia disposto a soltá-las.

– Eu acho que eu preciso te contar uma coisa. Porque eu fiz tudo isso por você, eu não fui totalmente sincero. Mas pra falar a verdade, nem eu sabia bem o motivo. Só que, agora, acho que eu sei. Talvez me ache estranho porque mal me conhece. – Ele parecia nervoso e vez ou outra se embolou com as palavras, mas eu não podia deixar de achar divertido.

– O que está querendo dizer Jack?

Mas eu não ouviria sua resposta, porque toda a lateral do castelo foi quebrada com um estrondo. Eu vi pedaços de gelo voarem a toda velocidade e Jack ficar na minha frente para me proteger. Não entendia o que estava acontecendo até o momento em que ouvi uma voz sombria que ecoava como a noite.


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Notas finais do capítulo

Eu não sei como ficou a formatação do capítulo, tô postando do celular. Eu imagino que deva ser um choque pros remanescentes que acompanhavam.



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