Fiquei pensando naquele beijo o resto da tarde. Me sentia a pior namorada do mundo. Tudo bem que foi ele que me beijou, mas eu correspondi. Não posso dizer que foi um beijo ruim, que eu senti nojo. Eu gostei do beijo, se fosse em outras ocasiões, até poderia rolar algo. Mas agora eu tenho um namorado, que amo como nunca amei ninguém antes.

Eu resolvi que iria contar tudo para o Daniel, talvez assim amenizaria a minha culpa. Contei primeiro pra Karolina, que ficou chocada.

– Como assim você beijou o gatinho do Luciano?

– É, aconteceu. Mas isso não mudou em nada o meu sentimento pelo Dani. Eu amo ele Karol, mas eu errei feio né?

– Essas coisas acontecem, principalmente com meninas lindas como você. Não é melhor esquecer o que aconteceu? Contar pro Daniel pode ser uma péssima ideia.

– Eu sempre contei tudo pra ele, sempre fomos confidentes e se acontecesse com ele, eu tenho certeza que ele me contaria.

– Se é o que você acha certo, conta. Espero que fique tudo bem.

Luciano tinha ido embora logo após o beijo. Anoiteceu, fechei a lanchonete e fui a pé pro hotel. Mudaríamos pro apartamento amanhã. Estava caminhando ouvindo Selena Gomez e me deparo com Carmen toda pensativa.

– Carmen?!

– Oi Maria Joaquina, tá voltando do emprego?

– Sim. E você? Tava em que mundo mulher?

– Nem me fale. Eu tô muito confusa.

– Confusa com o quê?

– É o Jaime. Ele não quer nada sério e eu quero namorar sabe.

– É bem do Jaime mesmo, mas então impõe suas condições. Se ele gosta mesmo de você, vai aceitar.

– Esse é o problema Maria Joaquina. E se ele não gostar de verdade de mim?

– Aí você desencana. Você é linda, muito gente boa e não vai faltar pretendentes. – chegamos ao hotel.

– Chegamos, vamos nos arrumar que a turma vai naquele barzinho, de novo.

– Vocês gostaram mesmo daquele bar hein?! Eu nem sei se vou, tenho umas coisas pra fazer.

– Então tá, até mais Maria Joaquina.

Eu estava decidida em contar tudo pro Daniel, mas ele já estava no bar quando eu cheguei. Decidi ir até lá. Tomei um banho e me arrumei. Fui com o pessoal e vi amor por todo o canto. Mário e Alícia trocavam carinhos, Jaime e Carmen selinhos, Davi olhava fixamente pra Isabela. Valéria conversava com Jorge e eu ficava sozinha com meus pensamentos.

Chegamos lá e sentamos em duas mesas. Jaime, Carmen, Mário e Alícia ficaram em uma. Valéria, Jorge e eu sentamos em outra. Davi e Isabela ficaram no balcão.

Valéria e Jorge não paravam de conversar, mas nem me interessei em saber sobre o que era. Os dois haviam ficado mais próximos e eu suspeitava de que estava rolando algo.

Olhei ao redor do bar procurando Daniel e me deparei com duas meninas dando em cima dele. O pior era que o safado estava com um sorriso no rosto.

– Com licença meninas, eu posso roubar esse rapazinho por alguns minutos? - disse tentando disfarçar a raiva.

– Só não demora muito. - respondeu uma delas.

Olhei pra ele que estava olhava pro chão.

– Eu não sabia que você viria. Como foi o dia?

– Esse é o seu trabalho? Ficar ouvindo essas vadias te elogiarem?

– Como se você não fosse paquerada, não é?

– Tá, não quero falar sobre isso agora. Abomino o ciúmes e não vou ter uma crise agora. Preciso falar algo importante com você.

– Agora não dá, eu tô trabalhando.

– Então continua com seu trabalho e quando tiver um tempo pra mim, a gente conversa.

Voltei para a mesa e Valéria me perguntou o que eu tinha. Eu apenas bufei e pedi um copo de bebida. Quando eu já tinha bebido muito, Valéria pediu para que eu parasse. Eu ainda tinha a consciência de tudo.

Davi e Isabela estavam dançando em um espaço pequeno, já que o bar em si era pequeno. Eles se beijavam de vez em quando e isso incomodava a Valéria. Mas ela ficava na dela e continuava a conversar com Jorge. Alícia subiu em cima da mesa e começou uma espécie de strip-tease para o Mário. Jaime e Carmen trocavam selinhos. Daniel continuava sendo paquerado por umas piranhas. Cirilo veio até mim ao perceber que eu tinha ficado num grande vácuo.

– Você tá bem Maria Joaquina?

– Não mesmo.

– Deu pra ver pela sua aparência, quer que eu chame um táxi pra te levar pro hotel?

– Eu preciso falar com o Daniel.

– Okay.

Estava sem nada pra fazer então entrei na conversa do Jorge com a Valéria, que falavam de como era o emprego e as pessoas que eles conheceram. Eles perguntaram como era lá no meu emprego e eu contei da Karolina, da Claúdia, a gerente a mal humorada, e contei também do Luciano, mas cortei a parte do beijo.

Eram 00:30 e o bar ia fechar. Todos voltaram pro hotel, menos eu, que estava esperando Daniel sair. Ele saiu, mas para a minha surpresa não estava sozinho. Ele estava com aquelas duas vadias.

– Daniel, vamos pro hotel. - disse me alterando.

– Eu não vou, eu vou com elas, me deixa. - ele não estava nada bem, parecia ter bebido muito.

Pensei em leva-lo comigo pro hotel, mas meu orgulho era maior. Vê-lo com aquelas garotas, eu senti como uma afronta.

– Vai lá então. - eu disse com as lágrimas já caindo em meu rosto.

Voltei a pé para o hotel. Enquanto caminhava, um carro parou e um homem, fumando um cigarro, me ofereceu carona. Eu recusei e ele começou a me perseguir com o carro. Corri o máximo que pude e consegui despistá-lo, entrando em um beco. Cheguei no hotel e fui direto pra cama, dormindo em meio ao choro.

Acordei com o despertador que tocava uma música calma. Eu lembrava de tudo, não tinha bebido tanto igual da outra vez, mas gostaria que tivesse. Fiz o mesmo de sempre, tomei banho e fui tomar o café da manhã. Minha cabeça doía um pouco. Daniel ainda não havia voltado. Estava saindo do hotel quando o avistei.