Derek Donnis: Entre Mistérios escrita por Wolfkytoki


Capítulo 10
Decepção




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Derek

O dia mais esperado da semana inteira havia chegado: quarta-feira. Eu iria, então, até o Conselho Místico falar sobre o caso. Tinha apenas uma prova, mas isso bastaria para que Julius e o resto dos Juízes ficassem satisfeitos, além de toda a comunidade mística. Estava contente por achar minha primeira prova. Se não fossem meus instintos e olhos aguçados de lobisomem, nunca teria visto aqueles papéis. Eram pequenos detalhes importantes que os humanos nunca conseguiriam ver. E, agora pensando sobre isso, o que será que o novo diretor estava achando sobre tais documentos? Eles estavam em seu escritório, o que queria dizer que eles eram importantes.

Julius não havia comentado, mas a polícia dos humanos já tentara investigar a morte de Jeffrey. Claro, não conseguiram evidências ou sequer pistas, portanto, já tinham desistido do caso. Humanos nunca resolveriam esse problema. Nem sequer sabiam que o ex-diretor não era humano. Obviamente, o Conselho estava entrando em ação, comigo atuando no caso.

Uma coisa me incomodava. Tinham pichado no muro do Conselho: "Jeffrey está morto. E vocês serão os próximos". O que isso tinha a ver com as supostas negociações de encomenda? Nada se encaixava, por enquanto. Eu estava interessado em achar um culpado e parar com toda essa história da ineficiência do Conselho. Se eles se dessem mal, haveria uma desordem no mundo místico, o que era algo que ninguém queria.

Já faz uns anos que os vampiros estão tentando controlar a política no meio místico. Obviamente, seus esforços sempre foram em vão. O Conselho sempre os repreende. A história do surgimento dessa instituição é tão velha quanto os Tempos Antigos.

Há muito, muito tempo mesmo, não havia ordem, nem regras para as criaturas mágicas que habitavam a Terra. Vampiros, lobisomens, fadas e outros seres sempre brigavam, basicamente por motivos antagônicos: Lobos e vampiros não se gostavam. Essas duas raças até hoje não se dão bem. Isso sempre se deu por causa da competição entre eles, para saber que é melhor, mais ágil, etc. E além disso, os lobos criticavam como os vampiros se alimentavam dos indefesos humanos: bebiam seu sangue. E os vampiros contradiziam que os lobos matavam muitos humanos, caçando-os e também se alimentando de sua carne. Os seres humanos eram vistos como frágeis e indefesos, então todas as criaturas os matavam e desrespeitavam. Os lobos diziam que eram "amigos" dos humanos, mas isso nunca aconteceu.

Concluindo, explodiam brigas e mais brigas em todos os continentes, além da invasão de terras por outras raças: as criaturas se apossavam de terras, como por exemplo, os lobos. Mas aí vinham vampiros ou fadas e invadiam tais territórios, causando mais lutas e derramamento de sangue. Com tudo isso, houve uma época em que ocorreu a primeira guerra entre as criaturas; foi decisivamente a mais sangrenta e violenta que já tivemos em toda a História.

Havia dois lados: Lobos e fadas versus Vampiros e Trolls. Existiam mais raças, mas essas estavam na minoria e preferiam se manter longe das brigas. Esses lados iniciaram uma guerra bem no centro da Europa. Ela durou anos, e quando terminou, as raças estavam destroçadas: Um número enorme havia morrido de ambos os lados, e a Europa estava quase que por inteira destruída.

No meio do caos, os que restaram decidiram criar ordem e melhorar a situação. Surgiu, então, a primeira política entre as criaturas, uma instituição chamada Conselho Místico. No começo, ela era formada por membros de todas as raças, e estava com conflitos internos. Depois de um tempo, ela foi se ajustando e criando leis para manter a paz nos continentes. Ela foi crescendo e agrupando mais membros, se atualizando. E ela está presente até hoje. É a construção mais antiga da cidade. Atualmente, os membros são lobos, vampiros ou fadas, que são as três raças dominantes entre as criaturas místicas.

Sobre os humanos, o Conselho decidiu usar a magia de bruxas e fadas para manipular suas mentes, fazendo-os esquecer da existência de criaturas. Assim, colocaram uma névoa que não os permitia enxergar as coisas místicas, separando os humanos das raças mágicas. E desse jeito, surgiu o Mundo Humano e o Mundo Místico. Era necessário uma separação para criar ordem no mundo.

Estava pensando em tudo isso enquanto chegava ao Conselho. Tanta história numa só construção. Quando cheguei e entrei, Julius já me esperava. Sentei-me numa ampla mesa de mármore com ele e outros Juízes. Todos queriam saber sobre meu progresso na investigação.

–Boa tarde, Derek. Achou alguma coisa?

Peguei os documentos do meu bolso e entreguei-os a Julius. Ele leu e passou para os outros na mesa. Então, ele virou o rosto para mim.

–Humm. Encomendas? Isso é estranho. Jeffrey nunca mencionou nenhum tipo de troca em nenhum momento de sua vida.

–Talvez fosse um segredo. Ele poderia não querer que soubessem. - Eu disse.

Julius coçou o queixo, pensativo. Sussurrou com seus companheiros, mas minha audição apurada de lobo não funcionou. Os Juízes sabiam conversar sem que ninguém os ouvisse. Era uma magia.

–Certo. Você descobriu com quem ele fazia tais trocas?

–Não. Pretendo descobrir.

Ele me olhou por um tempo, como se esperasse por mais alguma coisa. Me mexi inquieto na cadeira. Ele voltou a sussurrar com os colegas, ainda me olhando e esperando por algo. Fitei a mesa, incômodo. Então, ele parou de falar e me perguntou:

–Só isso? Encomendas?

Eu o encarei. Como assim "só isso"? Ele só podia estar brincando.

–É... Essa é minha primeira prova. Não aconteceu nada no colégio que fosse valer a pena. Achei os documentos no escritório no novo diretor.

Um dos Juízes passou a me encarar. Ele era um lobisomem, sentia o cheiro. Ficou com olhos dourados. Lobos ficavam com esses olhos quando estavam com emoções fortes, como raiva, pânico, ódio. Aparentemente, ele estava irritado.

Julius franziu o cenho e falou, com uma voz firme e medonha:

–Como assim é sua primeira prova? Você só achou isso em duas semanas?

Mordi o lábio. Estava ficando irritado. Quando ele falava assim, era porque não estava satisfeito.

–Sim, senhor. Foram semanas difíceis.

De repente, seus olhos mudaram da cor castanha para vermelha. Olhos de um vampiro irritado. Ele estava de frente para mim, mas rapidamente, com a agilidade de um vampiro, se aproximou. Agora, em questão de segundos estava ao meu lado. Lobos e vampiros eram habilidosos nisso.

–Eu lhei dei duas semanas, Derek, duas semanas. Você só encontrou um simples papel com informações incompletas?! Estamos quase em uma crise, Derek. Não estamos brincando!

Ele berrava isso. Os outros mantiveram-se imóveis, assistindo a cena. Eu o encarei, agora com medo. Julius tinha a reputação de bravo e castigador. Era um vampiro de 1600 anos.

Ele me surpreendeu, agarrando a gola de minha camisa e aproximando seu rosto do meu. Nunca o vi tão irritado. Seus olhos vermelhos pareciam um mar de sangue derramado.

O que você ficou fazendo nessa escola? Procurando pistas é que não foi. Como você ousa vir aqui com esta simples pista? Não te contratei para ficar brincando e curtindo o mundo humano. Eu...

Ele se interrompeu. Cheirou o ar, ficando mais zangado ainda.

–Tem cheiro de... Não acredito, Derek. Uma garota o deixou fraco. Então você nem sequer foi atrás de pistas, foi?! Só ficou uma... Humana?!

Nesse momento, meu medo passou a ser irritação. Ele sentiu o cheiro dela em mim. Mas como ele podia dizer que não estava me dedicando ao caso?! Fiquei bravo, e sem conseguir me controlar, rosnei fortemente para ele. Provavelmente meus olhos estavam dourados. Senti meus caninos formigarem, crescendo.

Julius ficou louco. Ele me soltou, mas antes que pudesse prever, me deu... um tapa. Bem no rosto. Caí sentado no chão do Conselho, com o rosto formigando. Já prevendo o que iria acontecer, coloquei as mãos na minha face, tentando me defender. Estava indefeso perto dele e de tantos Juízes. Esperando levar outra surra, apenas ouvi as palavras firmes de Julius:

–Nunca, jamais ouse rosnar e mostrar suas presas para mim, Derek Donnis. Isso não é um jogo. Espero que tenha aprendido a lição. Tenha respeito com uma autoridade. Quero ver melhores resultados na próxima semana, sem falta. Se não, pode dizer adeus ao Conselho e iniciar uma guerra.

Ele me encarou uma última vez e voltou ao seu lugar. Ainda no chão, cuspi um pouco de sangue. O soco dele fora muito forte e doía. Rapidamente, me levantei e olhei os Juízes. Julius mostrou suas presas vampirescas para mim, e eu me controlei para não responder igual. Querendo logo acabar com tudo, me curvei disse:

–Perdão... Senhor. Até semana que vem.

Falar doía demais. Saí da maldita instituição e fui para casa, preocupado mais que nunca. Minha bochecha direita latejava.

Foram raras as vezes que Julius tentou me ensinar uma lição. Esse acontecimento só mostrava que o Conselho estava realmente sob pressão, por todas as raças místicas. Era bem sério, e não queriam um lobinho como eu para atrapalhar ainda mais. Queriam que eu fosse rápido e limpar a barra deles. As coisas não estavam bem, estavam piores.

Eu deveria me concentrar e terminar logo com caso. O Conselho não admitia preguiça, estavam quase numa guerra. Precisava ser cauteloso. Mais que o normal. O mundo místico estava instável. Não poderia me dar o luxo de ficar andando pela escola e fazendo amigos. Precisava agir. Ao anoitecer, dormi com a cabeça cheia de preocupações.


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Notas finais do capítulo

Se estão gostando, por favor comentem ;)



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