Uma vida provavelmente boa escrita por Mirea Lowanee


Capítulo 4
Capítulo 4 - Não sei como seguir na vida depois de hoje...


Notas iniciais do capítulo

Se preparem colegas, pois a coisa vai ficar quente! HUAEEAH

#JuhSanna



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Eu simplesmente não acreditava que estava vendo aquilo. Ilusões às vezes acontecem só por que queremos não é? Espero que não seja apenas um mito, pois queria muito que aquilo fosse uma ilusão, um pesadelo, eu cheguei a me beliscar para ver se era verdade – ou talvez pensado em me beliscar, sinceramente, não sentia um único músculo do corpo, na verdade, nem sabia como continuava em pé. E inteira.

Toda aquela mescla de laranja, vermelho e amarelo estava irradiando meus olhos de um modo que eu sentia que todo meu corpo queimava junto com as labaredas que dançavam dentro do hospital. Como todos lá dentro. Eu estava tonta, mas do mesmo jeito, não cambaleava ou, até mesmo, desmaiava. Estava dura como uma madeira, e naquele momento, sem alma. Uma criatura perdida no meio de tanta destruição. Não sei como Mat estava naquela hora, não sei nem como lembrei que ele estava ali, mas imaginava que ele estava tão atônito e aflito quanto eu. Senti por alguns segundos minha vida passar diante dos meus olhos...

Depois senti o pânico entrar nas minhas veias e subir pela minha espinha. Comecei a correr com todo o fôlego que consegui reunir em direção ao quase extinto hospital, ouvindo Mat gritar alguma coisa, provavelmente me mandando voltar e me chamando de maluca, mas não tinha como voltar, eram chances ínfimas, mas não impossíveis. Não era possível que... Não! Eu vou encontrá-los vivos!

Entrei pela metade da porta do hospital. Aquele cenário era totalmente horrível. O hospital não estava totalmente em chamas, mas havia pontos que a passagem já não era mais uma opção, escombros por alguns lados, e até tetos desabaram. Cambaleei pelos corredores, vendo pessoas correndo a minha direção, que traziam outras pessoas resgatadas do prédio. Um chegou a tentar me levar, mas eu resisti e comecei a correr, quando finalmente achei a escada, quase inteira, e subi numa transição entre estar acordado e desmaiando, devido a toda aquela fumaça que eu tinha inalado dentro do edifício. Lembro-me de uma aula de Biologia que o professor disse que essa fumaça, se muito inalada pode chegar a trazer alucinações. Essa lembrança não ajudou nem um pouco no meu pânico.

Estava tentando ir mais pela intuição quando subi e finalmente vejo a porta do quarto de meu pai, e estava somente a alguns passos de mim. Saio quase correndo, porque não é recomendável ficar muito tempo no mesmo lugar, em um hospital em chamas... Só não corria mais, por quê minha respiração já não era mais a mesma. Quando chego à porta e a abro vejo uma imagem assustadora, parecida com cenas de filmes de drama forte ou até terror, que esperava não ver tão cedo assim...

Dois corpos quase pretos, um pouco carbonizados em algumas partes do corpo, as partes que não estavam pretas possuíam queimaduras profundas e doloridas. Mesmo no meio das chamas e do calor emanado pelo ambiente, pareciam frios, e infelizmente, sem vida. Estavam abraçados, e eu sabia muito bem quem eles eram. Estava no quarto certo. O sorriso de minha mãe era o único visível, pois parece que destroços flamejantes caíram ao rosto de meu pai. Não resisti, e sorri para a minha mãe, mesmo defronte à aquela cena doentia. No último segundo de vida ela sorriu, sabendo que mesmo morrendo, estava feliz ao lado do homem que sempre amou, e eu sei que meu pai também sorriu. Estavam colados um ao outro como se não houvesse mais opção, sabiam o que aconteceria, e de fato não há mais, aquele último abraço selou-os, por toda a eternidade, uma cena que nunca irei esquecer,... Senti uma lágrima descendo, depois várias, e percebi que não podia fazer absolutamente nada, e que eu já estava ficando tonta... Era como se um pedaço de mim estivesse deitado naquela cama, e o outro pedaço, abraçado junto ao que estava na cama. Quando eu saísse daquele lugar, seria como perder as pernas. Não conseguia acreditar até agora no que via.

Ainda fraca e muito tonta, entrei lá e peguei o único bem que parecia inteiro em minha mãe, o cordão que ela sempre usava, com uma foto minha e outra de meu pai, que comprou quando eu nasci. Meu pai tinha um igual, que também havia comprado quando eu nasci, com uma foto minha e da minha mãe, peguei-o também, na esperança de poder levar minhas pernas comigo, ou, os pedaços das minhas almas que foram estraçalhados. Vou levar essa lembrança para sempre, quem dera fosse boa... Havia rosas na mesa de cabeceira, preferidas de meu pai, nós até tínhamos uma roseira no quintal da frente de casa, e estavam ao lado da cama. Com certeza minha mãe as trouxe, e com certeza, eram lá de casa, e, com certeza, isso deixa tudo pior. Não aguentei, e por impulso, passei por um pedaço de parede caído, quando será que esse negócio caiu? Fui direto para a cabeceira e peguei duas rosas e uma coloquei no meio deles, dos meus pais, onde algum tempo atrás deveriam estar suas mãos carinhosas e entrelaçadas. A outra levei junto de mim, mais uma lembrança querida e dolorosa.

Com muito esforço, sai do quarto praticamente tateando as paredes para não cair no chão, quando um bombeiro veio correndo até minha direção e me carregou até o lado de fora do hospital. Agradeci pela ajuda, mas preferi não ir com a ambulância, eu disse que estava bem, e felizmente, o bombeiro não quis discutir. Vi-me, sem perceber, ir de encontro com Mat, com uma mistura de expressões que não me preocupei em decifrar, só sei que uma delas era preocupação extrema. Olhei para o rosto dele, provavelmente de modo inexpressivo, e não sei como consegui, mas disse:

–Vou pra casa, não me siga, por favor, quero ficar sozinha.

O vi olhando nos meus olhos e senti a preocupação extrema que ele sentia por mim sendo explanada com aquele olhar, presumo que ele tenha entendido o que aconteceu, mas, outra vez, não quis decifrar seus pensamentos. Não estava a fim de falar com ninguém, ou simplesmente estar do lado de alguém. Eu queria ficar do lado das únicas pessoas que me importavam naquele momento, mas elas se foram. Tinha que arrumar meus pensamentos. Sozinha.

Fui a pé para casa, e quando passo pelas roseiras, minha vontade foi de desabar em seus espinhos para aliviar a minha dor, e chorar até que não restassem mais lágrimas. Quando entro percebo a casa totalmente vazia, e esse vazio entra no meu coração, nos meus caquinhos de alma que catei no hospital, como se estivesse faltando algo, e de fato estava. Por quê? Por quê? A pergunta vinha e voltava à minha mente, uma pergunta teimosa e curiosa, a qual eu nunca vou ter uma resposta.

Subi as escadas, fui para minha cama e me deitei. Acho que seria a primeira vez na minha vida na qual eu recusaria até a minha cama. Ela já não parecia tão confortável. Tentei pensar no que faria a seguir, mas a única coisa que aparecia era aquela imagem dos meus pais... Olhei as minhas mãos, e percebi que eu estava inteiramente suja, e com alguns arranhões. A preocupação dos outros não era de menos. Olhei para o que tinha nas minhas mãos e abracei aqueles cordões e a rosa. Seria meu último abraço caloroso com eles. Mas de repente me veio à cabeça: quem em sua sã consciência implodiria um hospital?

Não sei como seguir na vida depois de hoje...


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Notas finais do capítulo

Então... Não fiquem com raiva de mim por causa disto, porque a história não vai ser triste não!!
Obrigada quem leu *-*

Continua...


#JuhSanna



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