Sonic Tales escrita por Alice


Capítulo 1
Estopim


Notas iniciais do capítulo

"Não importa quanto tempo passe ou quantas vezes eu morra..."

"...Eu prometo nunca esquecer aquela promessa."


Nota: Capítulo reescrito 2020



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“Você já desejou com todas as forças que o tempo parasse?

“Já.”

“Alguma vez já desejou voltar atrás para corrigir algum erro ou para evitar algum dilema?”

“Sim. Mais do que tudo desejei isso. Para poder ter impedido aquela tragédia...”

“Conseguiu?”

“Não...”

”Pois bem, você está diante de uma nova oportunidade. Uma nova oportunidade de viver e uma nova oportunidade de impedir outro desastre. Enquanto não conseguir, este ciclo se repetirá, e repetirá, e repetirá, e repetirá...”

“Por quanto tempo?”

“Para sempre... Ou melhor, para sempre se nenhum dos lados vencer.”

***

Sonic estava arfando de cansaço após uma árdua luta que parecia perdida para ele. O ouriço, derrotado e ferido, teve seus movimentos restritos por correntes que emanavam uma energia negativa de cor púrpura.

Com a visão meio turva e embaçada, tanto pela tontura quanto pelas lágrimas que ele fazia muito esforço para não derramar, ele olhou em volta. Aquele maldito salão de cortinas carmesim e o piso xadrez alternando entre o branco e o preto era o perfeito cenário de um verdadeiro filme de terror. Ah, antes fosse! A dor e angústia do jovem ouriço diziam bem o contrário. Através das janelas grandes daquele salão piscou uma luz e em seguida um trovão ressoou, era uma noite tempestuosa e sombria...

— Q-quando foi que a situação saiu do controle? — murmurou Sonic para si mesmo tentando se lembrar de como chegaram naquele ponto.

— Ora, meu jovem, você provavelmente não estaria nesta situação se não tivesse se envolvido com esse caso. Já ouviu falar no ditado que diz: “A curiosidade matou o gato”? Pois bem, agora você sabe o porquê — respondeu prontamente o homem que estava escondido por baixo de um capuz negro adornado de detalhes dourados, parecia o líder do grupo, pois seu capuz era mais elaborado que os dos outros membros, que também vestiam um, porém mais simples como se fosse um uniforme. — Eu deixei bem claro que ninguém nos impediria, devia ter se afastado enquanto era tempo, meu caro — emendou caminhando calmamente até um grupo de quatro indivíduos encapuzados, dos quais dois seguravam pelos braços uma figura menor, que parecia quase desfalecida.

A dor de Sonic aumentou ainda mais quando se lembrou do motivo de estar lá. Ele ergueu seus olhos cor de esmeralda para a pequena figura que também estava encapuzada e sentiu bem quando ela o olhou de volta diretamente nos olhos depois de paulatinamente erguer sua cabeça. Pela dificuldade para respirar, de como tremia e o punhal que estava encravado perto de seu coração, ela estava mais ferida do que o próprio ouriço. Após ver tal cena infeliz a única coisa que Sonic conseguia sentir em relação a si mesmo naquele momento era uma: Decepção.

Decepção por não conseguir fazer nada. Por não ter conseguido cumprir a sua promessa.
O líder removeu o punhal de sua vítima que logo em seguida caiu no chão. Apesar da hemorragia que ela estava tento, ainda possuía forças para se erguer.

— Eu não lhe concedi permissão para se levantar! — o líder pisou com força nas costas dela levando ela até o chão e a impedindo de se mover.

— Eu já disse para pararem! — gritou Sonic forçando ao máximo suas cordas vocais enquanto tentava selvagemente se libertar daquelas correntes que não paravam de desferir mais cortes nele conforme ele se mexia.

— Ele está muito agressivo! — protestou o indivíduo que estava tendo muitas dificuldades para conter Sonic. — Andem logo! Me ajudem aqui! — exigiu enquanto mais três foram correndo para ajudá-lo.

A indignação de Sonic o deu forças o suficiente para se libertar das correntes antes dos três virem ajudar seu carcereiro e correr cheio de fúria em direção ao líder fechando seu punho firmemente pronto para aplicar um golpe no rosto coberto de seu oponente.

Mas antes que Sonic pudesse atingi-lo, o homem cruzou os braços a sua frente repelindo o golpe e em seguida revidou com um chute violento bem no meio do estômago do ouriço, que voou para alguns metros de distância.

Sonic, ainda teimoso, tentou se levantar novamente, mas aquele que antes o mantinha acorrentado tornou a segurá-lo pelas corrente com a ajuda de mais três assim garantindo a imobilização do ouriço.

— Francamente, não me faça desperdiçar minha magia com um mortal idiota como você! — asseverou o líder olhando para o punhal para se certificar de que não havia perdido muito do sangue no punhal.

A pequena figura encapuzada tentou mais uma vez se levantar do chão, apesar de estar fraca, impotente e agora sangrando, demonstrava teimosia em acatar as ordens deles. Infelizmente a medida que tentava se levantar, mais sentia a sola da bota de seu agressor pressionar suas costas.

— Como eu dizia, esse jovem rapaz tem um dom surpreendente em relação às Esmeraldas do Caos, é claro que ele será útil. — O líder ergueu o punhal ensanguentado. — Assim que completarmos o ritual! — exclamou em tom vitorioso.

— O que quiser que eu faça, eu jamais farei! — Sonic afirmou convicto, ele não podia se mover, mas ainda conseguia ao menos falar.

— Não estou te perguntando, garoto impertinente, se não quiser ficar como ela, é bom me obedecer.

— Nunca!

— Observei que você não parece zelar muito por sua vida, mas será que você não zelaria por esta vida? — O líder, sem piedade, não hesitou em usar ainda mais força para prensar sua refém contra chão com o seu pé ao ponto dela mal conseguir respirar.

— Pare com isso! Ela não tem nada a ver com isso!

— Não meu caro, muito pelo contrário, você não tem nada a ver com isso!

— S-So-Sonic... Fuja enquanto pode... Salve seus amigos... Não existe mais esperança para mim...

— Fique quieta, ele não irá para lugar algum.

— Fique quieto! — gritou o primeiro carcereiro de Sonic, irritado com a persistência incessante de seu prisioneiro. — Tem certeza que ele é útil? Parece só um infeliz ordinário para mim.

— Ele é sim, porém o que farei é um segredo, não posso entregar meu planos como aquele velho estúpido faz, não é mesmo, Sonic the Hedgehog?

Sonic não conseguia acreditar, ele realmente fora derrotado? Não havia nada que pudesse fazer? Em que momento ele falhara? E sua promessa?

Tails, Amy, Cream, Knuckles, todos, me perdoem — Sonic se desculpou mentalmente. — Eu falhei...

— Agora seja um bom garoto e me conte onde se encontra a última Esmeralda do Caos — ordenou o líder.

— Nunca — Sonic replico sem pensar duas vezes.

Eles ainda precisavam das Esmeraldas do Caos... Será que ainda havia alguma esperança? Sonic realmente se daria por vencido?

— Ainda insiste, rapazinho tolo? Você não me deixa outra escolha, terei de fazer do modo difícil então — afirmou o líder que impaciente convocou um báculo negro de aproximadamente 2 metros, asas metálica no topo e uma esfera púrpura entre as asas. — Umbra Perpetua! — bradou com autoridade enquanto a esfera no topo de seu artefato era envolvida por uma densa sombra escura fazendo diversos objetos do salão começarem a se agitar. O líder então apontou o báculo para Sonic. — Tem certeza de sua decisão?

Apesar de Sonic não conseguir ver o olhar daquele homem, podia sentir claramente o olhar sádico por trás daquele par de olhos que agora brilhavam de roxo.

— Não! Não! Não! Sonic! Deixe ele ir! — a pequena figura implorou se agitando de desespero por baixo daquele pé que a pisoteou mais uma vez.

— Já disse para calar essa boca! — reprovou agitando o báculo direcionando o golpe em Sonic. — Espero que esteja vendo bem isso, caro Chapeleiro, este pobre indivíduo está nesta situação por sua causa também. — comentou brevemente fazendo Sonic notar a presença de um outro ser que estava preso naquele salão, parecia tão alto quanto os outros e estava envolto por correntes que pareciam ainda mais poderosas que aquelas que encarceravam Sonic. — Agora, jovenzinho, receba o seu castigo! — ordenou disparando na direção de Sonic.

Antes que Sonic pudesse pensar em como se defender, um ruidoso estrondo tomou conta de todo o local.

Quando Sonic se deu conta do som de explosão ele despertou se encontrando no chão ao lado de sua cama.

— O-o que foi isso? — perguntou Sonic ainda com sua respiração ofegante e seu psicológico fortemente afetado devido a tudo que viu.

Outro som estrondoso arrancou Sonic de seus pensamentos que ainda tentavam assimilar o que estava acontecendo e direcionou sua atenção para o que estava ocorrendo do lado de fora.

— O que está acontecendo? — Sonic olhou pela janela, porém não viu nada anormal. — Que estranho...
A vista a sua frente estava pacífica. Por ainda ser muito cedo nem mesmo os vizinhos estavam caminhando pela rua, quase ninguém costumava sair naquela hora da manhã.

Sonic contemplou por alguns instantes a alvorada. Era definitivamente um cenário totalmente diferente do que viu naquele sonho.

— O que será que foi aquilo? — questionou Sonic consigo mesmo. Nunca em toda sua vida se sentiu tão afetado com um pesadelo.

Sonic permaneceu por mais alguns minutos observando a calmaria da rua. Visto que não viu e tampouco escutou mais nada se viu no direito de se preparar para iniciar um novo dia, a começar por ir ao banheiro lavar o rosto.

Aquele sonho perturbou bastante sua paz de espírito, normalmente não tinha sonhos tão assustadores, era sempre algo em torno de suas aventuras derrotando Dr. Eggman.

Após lavar o rosto olhou para si mesmo no reflexo do espelho, ele parecia melhor do que antes. Seu plano agora era comer algo e fazer sua corrida matinal.

— Aquilo era um sonho? Parecia tão real... — se perguntou Sonic, enquanto pegava um pão de fôrma. — Quem era aquela pessoa? — se questihou, pensando naquele ser ferido. — Será que... morreu?

Antes que Sonic pudesse refletir sobre aquilo, mais um som estrondoso de explosão chamou a atenção de Sonic, porém agora parecia mais perto e desta vez era possível ouvir os gritos dos civis de sua vizinhança.

— O que está acontecendo? — Sonic correu para a janela e se inclinou sobre o parapeito colocando a cabeça para fora.

Não sossegaria até se certificar de que todos estivessem a salvo.

Estavam lá meia dúzia de civis apavorados correndo de alguém que Sonic conhecia bem.

— Eggman — mencionou Sonic. — Parece que o cara não aprendeu a lição que dei nele da última vez. — completou antes de colocar o pão de fôrma na boca e pular através da janela para fora.

— Ohohohohoho! — Eggman soltou sua risada típica. — Que bela manhã para pegar alguns reféns! — Eggman conduzia seu Eggmobile de um lado para o outro. O veículo era equipado com um par de garras gigantes semelhantes a pinças, uma segurava um recipiente gigante vazio e a outra tentava pegar os civis.

— Tão cedo e já tá enchendo o saco? — comentou entediado o ouriço após engolir o pão e avançar em direção ao doutor com um Spin Dash. — Aí! Você não aprendeu nada desde a última surra que eu te dei?

— Ai, sua peste! Minha invenção! — queixou-se o homem retomando o equilíbrio do veículo. — É você outra vez?

— Em pessoa! — Sonic fez uma rápida reverência antes de avançar com um soco desta vez.

— Não pense que só porque você virou o Hiper Chato da última vez que eu vou desistir, aquilo não passou de um golpe de sorte!

— Sorte? — repetiu Sonic se esquivando da garra que Eggman tentou usar para atingi-lo. — Tá mais pra incompetência sua!

— Ora, seu... — Antes de Eggman disparar um míssil completamente revoltado com a afirmação do ouriço uma série de pequenos mísseis foram disparados contra Eggman.

— Deixe as pessoas em paz! — gritou Tails pilotando o icônico biplano vermelho batizado de “Tornado”.

— Ora, ora, se não é aquele pirralho que não desgruda de você — debochou Eggman se referindo a Tails.

— É bom não subestimar esse “pirralho” — avisou Sonic fazendo aspas com as mãos enquanto corria rapidamente de um lado para o outro se esquivando dos golpes do doutor que ficava cada vez mais irritado, prendendo a atenção dele e dando tempo dos civis restantes de se salvarem.

Apesar da pouca idade de Tails o menino se mostrava muito habilidoso com o manuseio de veículos aéreos e possuía uma excepcional pontaria.

— Por Caos! O que está acontecendo por aqui? — uma voz enraivecida e acompanhada de uma forte pisoteada no asfalto exigiu saber.

Sonic conhecia bem aquela voz autoritária, se tratava de outra vizinha e amiga sua.

— E aí, Amy? Veio se juntar a festa? — perguntou Sonic sabendo o que a garota fazia ali.

E pela reação assustada do doutor, ele também sabia.

— Ora, então é você que estava arrumando o maior barraco logo cedo? — Amy convocou seu martelo batizado de Piko Piko Hammer, franzindo a testa enquanto suas bochechas inchavam e ficavam vermelhas de tanta raiva. — Vai pagar por me acordar desse jeito! — Amy avançou na direção de Eggman, que assustado, tentava dar partida em seu Eggmobile. Mas Amy foi mais rápida e atirarou seu martelo no veículo do doutor, fazendo o mesmo saiu em disparada em direção ao céu.

Sonic entendia bem Amy naquele momento. Também fora acordado de forma abrupta, tão abrupta quanto terminou aquela batalha naquela manhã. Era de fato muito cedo, tanto que diversos civis estavam ainda trajados com seus pijamas, incluindo a própria Amy.

— Que barulho é esse tão cedo? — perguntou uma jovem coelha carregando seu Chao adormecido no colo.

— Foi mal, Cream, o Eggman atacou de repente — respondeu Tails pousando o biplano. — Engraçado, não faz muito tempo desde a última vez que derrotamos ele.

— Pois é, não é a toa que o Eggman veio aqui com uma bugiganga aleatória — Sonic emendou. — Talvez porque estava sem inspiração depois que derrubamos o último Death Egg dele! — acrescentou, rindo num tom de deboche.

— Não daria tempo dele vir com um plano tão elaborado em tão pouco tempo. De qualquer forma, acho que vamos ter um pouco de sossego ainda.

— Bom, já que estamos aqui e quem se livrou do Eggman fui eu, que tal você sair comigo dessa vez? — Amy direcionou seu olhar para Sonic.

Sonic engoliu em seco, não fazia muito tempo desde que se conheceram, mas se tinha uma coisa que ele sabia bem sobre ela, era sobre o interesse amoroso que ela tinha nele. Não eram amigos de longa data, mas Sonic já gostava bastante da menina, embora não de forma romântica e a considerava uma das suas melhores amigas, queria que ela fosse feliz encontrando a felicidade nela mesma em vez dele.

— Quem sabe mais tarde — respondeu Sonic, improvisando uma resposta. Não que não tivesse interesse em sair para passear com a amiga, muito pelo contrário, mas enquanto a chance de fazê-la de desiludir existir, não poderia se dar ao luxo de enganá-la, a última coisa que queria, era vê-la chorar, menos ainda por sua culpa. — Além disso não é hoje que você tem aquele piquenique com a Cream?

— Ah, é verdade! — Amy bateu na própria testa, Sonic tinha razão, ela prometera já fazia algum tempo para Cream que as duas sairiam juntas. — Bem Sonic, você escapou, mas só desta vez! — Ela apontou para Sonic, que riu, um pouco nervoso.

— Não quer que marquemos o piquenique para outro dia? — perguntou Cream um pouco preocupada, caminhando ao lado da amiga.

— O quê? Que nada! Eu posso convencer o Sonic a sair comigo qualquer dia! — exclamou Amy, confiante.

Amy era uma menina bastante forte, física e emocionalmente para sua idade, principalmente depois que fora sequestrada por Metal Sonic decidiu que se tornaria cada dia mais forte para que isso não voltasse a acontecer e para que pudesse conquistar o coração do ouriço azul, e não estaria disposta a desistir tão facilmente.

— Sempre tem uma próxima. — Sonic acenou para a amiga. — Tenham um bom piquenique!

— Tá! — as duas meninas responderam em tom animado.

— Até mais! — Tails também acenou.

— Tenham um bom dia! — Cream acenou de volta antes das duas entrarem na casa da coelhinha.

Sonic olhou em volta, estava tudo calmo naquele momento, os vizinhos já não estavam mais assustados, a calma brisa matutina acariciou os espinhos do ouriço que balançaram suavemente ao vento.

— Você não achou o ataque do Eggman meio estranho? — indagou Tails chamando o atenção de deu melhor amigo.

— Você acha?

— Um pouco.

— Hum... — Sonic levou sua mão até o queixo pensando um pouco.

Eggman sempre foi um sujeito bastante excêntrico, sua mente era brilhante e sua persistência muito grande, eram ótimas características, mas infelizmente eram utilizadas para fazer mal aos outros. Até onde Sonic sabia, o objetivo do doutor era criar um império batizado com o apelido que Sonic dera para ele: ”Eggman Empire”. Para que isso fosse possível Eggman construía diversas hordas de robôs que normalmente tinham como fonte de energia os animais silvestres da região para que as hordas atacassem os habitantes e os escravizassem. Inclusive, foi assim que Sonic acabou por conhecer todos os seus amigos mais próximos, de alguma forma ou outra, todos alguma vez estavam em apuros por causa de Eggman.

Por alguma razão, naquela manhã Eggman demonstrou interesse em sequestrar vários dos vizinhos de sua cidade em vez dos animaizinhos indefesos, como faria apenas com os equipamentos que possuía. Haveria algum motivo? E se Eggman realmente queria pegar pelo menos um civil por que não veio mais preparado? Tails tinha razão, de fato havia algo estranho.

— O que quer que o Eggman faça, vamos derrotá-lo, como sempre! — disse por fim o ouriço otimista.

— Tem razão! — Sorriu Tails sendo contagiado pelo otimismo do amigo.

— O que acha de apostarmos uma corrida até Green Hill? — sugeriu Sonic se aquecendo.

— Você é mais rápido do que eu, não vai ter graça! — Tails retrucou rindo enquanto dava uma cutucada no braço de seu amigo. Uma das coisas que mais fascinava Tails no ouriço era sua velocidade além de seu enorme senso de justiça, coragem e boa índole.

— Relaxa, irmão! Vou pegar leve com você só para deixar as coisas mais emocionantes! — Sonic se agachou animado pronto para sair em disparada. — Pronto?

— Ok! — Tails assentiu com a cabeça começando a girar o seu par de caudas. Diferente de outras raposas como Tails, ele era o único que possuía duas caudas. Sonic sempre lhe dizia que era o que o tornava único e que devia se orgulhar de tê-las, pois com suas caudas Tails tinha até o privilégio de voar, mesmo que não por muito tempo. Assim como Tails admirava Sonic por sua velocidade e heroísmo, Sonic admirava Tails por sua aptidão única de voar e principalmente por sua bondade genialidade. Eram como irmãos um para o outro.

— Um — contou Sonic —, dois, três...

— Go! — Tails saiu em disparada enquanto ria sem parar imaginando a cara que Sonic fazia naquele momento.

— Tails! Não vale! — protestou o ouriço saindo em disparada atrás de Tails também rindo. — Seu danadinho! Você queimou a largada!

— Não queimei, não! Você contou até três! — Tails replicou voltando seus olhos para Sonic por um breve momento.

— Mas tinha de ser eu a anunciar quando ir! — Sonic alcançou Tails permanecendo lado a lado com o amigo.

— Você não disse nada sobre isso! — argumentou confiante enquanto avançava a toda velocidade.

— É, me pegou dessa vez! — Sonic avançou atrás de Tails.

Ambos percorreram toda a Emerald Town e assim que saíram dela pegaram o trajeto que levaria diretamente a Green Hill. Ambos conheciam bem a região de tantas vezes que passaram por lá, seja por causa dos planos do cientista louco ou por qualquer outro motivo. Mas por mais que passem pelo mesmos lugares com frequência, eles sempre estavam muito bonitos e não havia como se entediar com cenários tão estonteantes.

Toda aquela emoção, aqueles cenários belíssimos, a corrida que apostava com seu amigo, o fizeram se esquecer daquele pesadelo sombrio, triste e assustador. Sua vida cotidiana era muito divertida e colorida quando Eggman não estava por perto e o jovem ouriço fazia sempre o possível para ver as coisas com o maior otimismo possível.

Mas por um breve instante, Sonic teve a nítida impressão de ouvir uma melodia...

Não era uma melodia qualquer, parecia ser tocada em uma espécie de caixa de música e o que mais lhe chamou a atenção era a familiaridade que sentiu ao ouvi-la.

Sonic sentiu uma estranha necessidade de frear e descobrir da onde ela vinha.

Tails notou a ausência do amigo e quando voltou-se para trás o viu a alguns metros olhando fixamente para dentro de uma floresta.

— Sonic? O que foi? — perguntou Tails um pouco preocupado. Olhou para a mesma direção de Sonic na tentativa de ver o que fez Sonic parar. Mas tudo o que viu era uma floresta densa que se estendia infinitamente para dentro até não ser mais possível ver de tão escuro que era ali. — Viu alguma coisa estranha?

— Está escutando isso? — Sonic perguntou fazendo uma concha com sua mão e colocando-a atrás do ouvindo.

— Escutando o quê? — Tails fez o mesmo com sua mão, no entanto não escutou nada.
— Uma melodia...

— No meio de Mystic Ruins? — Tails franziu a testa. — Não estou escutando nada, nem mesmo o som dos pássaros para falar a verdade.

Agora que Tails havia mencionado, Sonic notou que de fato nem mesmo os pássaros estavam a cantarolar suas melodias matutinas.

— Será que eles estão em apuros? — Sonic perguntou mais alarmado.

— Não sei, acha que deveríamos dar uma olhada?

— É melhor... — Sonic anuiu antes de escutar a melodia subitamente parar. — A melodia! — O ouriço se atirou floresta adentro apressadamente.

— Sonic! Espera! Não me deixa aqui sozinho! — Tails saiu correndo atrás de Sonic antes que o perdesse de vista por entre o labirinto de árvore. — E que melodia é essa que você tá falando?

— E se essa pessoa também estiver em perigo? Temos que verificar! — justificou Sonic não parando de correr. Por algum motivo sentia muita ansiedade em descobrir de onde vinha aquela melodia.

Os dois enfim pararam de correr quando chegaram em uma área mais aberta da floresta.

— N-não parece que houve um ataque por aqui. — Tails se apoiou em uma árvore recuperando o fôlego.

— Não... Não mesmo... — Sonic, ainda meio ofegante, olhou em volta.

Tudo parecia normal.

— Será que o Knuckles sabe de alguma coisa? — Tails ergueu os olhos para o céu, onde se encontrava uma ilha flutuante conhecida como Angel Island.

Sonic conheceu Knuckles recentemente. O equidna guardião não simpatizara com Sonic e Tails quando se conheceram. Dr. Eggman tinha interesse em tomar a joia que o guardião protegia, a joia responsável em manter a ilha flutuante estável nos céus e para pegá-la, precisou conquistar a confiança de Knuckles além de acusar Sonic e Tails de serem larápios, pois a dupla estava indo para a ilha para impedir Eggman. Infelizmente Sonic e Tails chegaram um pouco tarde e Knuckles já acreditava que eles estavam lá para furtar a joia.

Apesar de terem se entendido no final das contas, Knuckles se mostrava bastante paranóico e preferia manter todos longe da Esmeralda Mestre assim não gostando de receber visitas na ilha.

— Aquele guardião é meio paranoico, não acho que ele esteja muito afim bater um papo — Sonic disse um pouco pensativo.

Subitamente a melodia começou a tocar novamente arrancando Sonic de suas reflexões.

— É ela de novo! — exclamou o ouriço olhando em volta com urgência.

— Ela quem? — Tails quis saber se recuperando do susto que levou pela exclamação do amigo.

— A melodia!

Tails estava realmente curioso para saber que melodia era aquela mas não conseguia ouvir nada por mais atento que ficasse.

— Vou dar uma olhada por cima da floresta para ver se encontro alguma pista — avisou a raposa antes de girar suas causas e levantar voo.

— E aí? Tá vendo alguma coisa? — Sonic quis saber um pouco ansioso.

— Nada aparentemente. — Olhando por cima da floresta nada parecia realmente anormal, estava tudo calmo na verdade.

Calmo até demais...

Sonic caminhou em volta do local na tentativa de descobrir o porquê dos pássaros estarem tão silenciosos e de onde vinha aquela estranha melodia quando de repente a mesma cessou novamente.

— Mas o que está acontecendo por aqui? — questionou o ouriço confuso.

Perdido em meio a seus pensamentos, Sonic repentinamente voltou para a realidade quando o solo por baixo dele cedeu o fazendo cair em um buraco profundo.

— Sonic! — Tails, assustado, voou o mais rápido que pôde atrás de Sonic. Pousando ao seu lado, a raposa virou o amigo para ele. — Sonic, você está bem? — perguntou Tails sacudindo Sonic, que parecia inconsciente, pelos ombros.

Sonic abriu os olhos paulatinamente sentindo os arranhões na cabeça arderem por causa da pancada. Quando olhou para Tails, deu de cara com a expressão assustada de seu amigo.

— Calma, Tails, foi só uma queda — disse Sonic para apaziguar o amigo enquanto se sentava e massageava o local da pancada.

— Tem certeza? Consegue se levantar? Não quebrou nada? — Tails disparou uma série de perguntas estendendo a mão para Sonic o ajudando a ficar em pé.

— Sim, não se preocupe! — Sonic fez o possível para se equilibrar embora a tontura ainda o atrapalhasse. — Onde estamos?

Tails olhou para cima, parecia que estavam em um lugar a 7 metros ou mais de profundidade, olhando em volta observou uma estrutura de tijolos como parede em torno de todo o local cortinas rasgadas em um tom marrom desgastado e o que parecia serem janelas sem vidros tinham sua vista para uma caverna, embaixo de cada janela havia cacos de vidro espalhados pelo chão. Já o piso estava completamente empoeirado.

— Que lugar é esse? — indagou Tails estupefato.

— Não sabia que existia uma construção no subsolo de Mystic Ruins — Sonic caminhou um pouco pelo local. — Acho que caí pelo telhado, parece que é um local bastante antigo... — Sonic se agachou passando os dedos pelo chão. A poeira se espalhou pelo ar e Sonic acabou por inalar uma parte da poeira o que lhe provocou um espirro.

— Esse lugar está imundo, não é mesmo? — comentou Tails.

— Sim, muito. — concordou o ouriço se recuperando do espirro enquanto terminava de revelar o piso escondido por baixo daquele tapete de poeira. Era familiar...

Um piso xadrez alternando entre o preto e o branco.

Sonic sentiu o coração acelerar, foi impossível não lembrar do pesadelo perturbador que teve, era o mesmo tipo de piso que tinha no salão do pesadelo.

— Esse piso...

— Disse alguma coisa? — Tails, que estava analisando os cacos de vidro e as cortinas, voltou seus olhos para Sonic que estava meio atônito.

— O quê? Ah, não é nada! — Sonic sorriu disfarçando sua preocupação e sacudiu a cabeça voltando a realidade.

Por alguma razão um simples pesadelo conseguiu perturbá-lo de tal modo como Eggman jamais conseguiu fazer. Aquele pesadelo conseguiu lhe causar uma sensação ruim, fazer seu peito pesar, fazê-lo ter um mau pressentimento sobre algo que nenhuma parte racional de seu ser conseguia compreender o que era... Tudo aquilo era estranho, inclusive aquela melodia que de alguma forma o levou até aquele local...

Melodia que começou a tocar mais uma vez.

— Dá pra ouvir mais claramente daqui — Sonic voltou-se para a direção do som.

— O quê? Aquela melodia? — Tails tentou adivinhar presumindo qual seria a resposta.

— Sim. — confirmou Sonic seguindo a melodia.

Tails seguiu Sonic e ambos correram pelo salão, seguiram por alguns sinuosos corredores escuros até chegarem em uma pequena torre mais isolada do resto da construção subterrânea.

Estava tão escuro que Tails teve que ligar uma pequena lanterna que estava com ele para continuarem enxergando.

Subitamente a música parou novamente, como se alguém brincasse abrindo e fechando uma caixinha de música.

— Ok, isso já está ficando irritante — resmungou o ouriço apreensivo.

— A tal música parou de novo?

— Sim. Assim fica difícil!

— Mas sabe pelo menos de onde vinha? — Naquela altura até Tails estava curioso demais para darem a volta e saírem dali.

Eles andaram mais um pouco até encontrarem uma enorme porta dupla marrom escura de aspecto rústico adornada de texturas em relevo envelhecido por causa do tempo.

— Acho que é por aqui — disse o ouriço se pondo em frente a entrada.

— Estranho, a arquitetura desse lugar não é típica da região — comentou Tails. — Ainda mais para estar em Mystic Ruins, você não acha?

— É verdade, mas nada é mais bizarro do que esse lugar estar embaixo da terra — Sonic segurou com firmeza as maçanetas da porta dupla e as puxou com força, porém como a porta era pesada e muito antiga foi difícil abri-la o que provocou rangidos demorados.

— Esse lugar de jeito nenhum foi construído nessa região — Tails concluiu em um tom mais alto devido aos ruídos que cessaram apenas quando Sonic conseguiu abrir as portas por completo tornando o cômodo completamente visível.

Aparentava ser um quarto muito velho, tinha uma aparência rústica bem como todo o resto da construção, o chão era xadrez que alternava entre o branco e o preto, assim como o salão onde Sonic caiu. As cortinas a frente deles eram púrpura e a direita havia uma cama com dossel que tinha como principal esquema de cores o vermelho e o preto e na barra branca do cobertor que estava perfeitamente alinhado sobre o colchão, havia um padrão de quatro naipes: espadas, copas, paus e ouros, indo nesta ordem até contornarem todo o cobertor.

Tudo era bem desgastado por ali.

— Parece um quarto — observou Tails. — Um quarto muito velho.

— Sim — Sonic concordou dando uma volta pelo quarto. — Engraçado, tenho a impressão de ter visto esse lugar em algum lugar.

— É mesmo? Quartos assim só se faziam na era vitoriana ou antes.

— Olha essas bonecas... — Sonic olhou meio desconfortável para uma fileira de bonecas de porcelana dispostas no parapeito da enorme janela.

Eram bonecas de aparência pomposa com seus vestidos cheios de babados, a pele pálida, bochechas rosadas bem como seus lábios sorridentes e cabelos muito cacheados louros ou castanhos dependendo da boneca. Seus olhos emoldurados em cílios negros espessos e íris em sua maioria azul ou verde pareciam fixar seus olhares vazios diretamente em Sonic e cena se tornava ainda mais perturbadora quando se notava que algumas das bonecas estavam sem um dos olhos devido a sua velhice.

— Eu hein, quem ia querer dormir num lugar com esse? — questionou o ouriço para si mesmo.

— Sonic — chamou Tails fazendo o amigo voltar sua atenção para ele. — O que estamos procurando exatamente?

— Sei lá, acho que o som vinha de uma caixinha de música, não tenho certeza.

— Caixa de música, é? — Tails apontou a lanterna para cima da cama.

A luz da lanterna alcançou a mesa de cabeceira que estava a esquerda da cama e algo sobre ela pareceu ter cintilado por um breve instante chamando a atenção de Sonic.

— Tails, pode apontar a lanterna ali? — Sonic apontou o dedo para o objeto sobre o móvel.

— Parece um relógio de bolso — disse Tails quando apontou a lanterna para o objeto.

— Será que ainda funciona? — Sonic, pegou o pequeno relógio e o abriu, os ponteiros dourados do relógio se encontravam estagnados, mas especificamente às quatro horas, cinquenta e nove minutos e quarenta segundos.

— Parece que está quebrado.

— De quem seria? — Na tentativa de fazer o relógio funcionar, o ouriço girou a pequena manivela que se situava entre o topo do relógio e as minúsculas correntes douradas ativando um mecanismo no interior do relógio que começou a tocar uma melodia.

A mesma melodia que o atraiu para aquele lugar.

— É ela, aquela músi- — Sonic espantado voltando-se para o lado.

Mas Tails não estava lá.

— Tails? — chamou Sonic pelo amigo.

Porém não houve resposta.

Sonic olhou em volta, mas não encontrou o amigo em lugar algum. Em vez disso algo um tanto incomum chamou sua atenção.

— Eu estou no mesmo lugar? — perguntou-se Sonic pasmo.

O quarto mudou completamente de aspecto. Era exatamente o mesmo cômodo, o mesmo chão, as mesmas cortinas, a mesma cama, as mesmas bonecas estranhas... Porém tudo parecia novo, como se acabara de ser construído.

— O que raios é isso? — Sonic deu uma volta pelo quarto para ter certeza de que não estava tendo algum tipo de alucinação. — Tails! Ei, Tails, cadê você! — chamou Sonic num tom mais alto. — Você tem que ver isso!

Após o seu chamado, um cantarolar de pássaros preencheu o ambiente fazendo Sonic voltar-se para a janela e notar uma luz passando pela fresta que as cortinas formavam.

Sonic correu até a janela e separou as cortinas abruptamente fazendo a luz preencher o quarto. A visão sensibilizada do ouriço protestou em forma de dor obrigado o jovem a proteger seus olhos com as mãos. Após piscar algumas vezes, não demorou muito até a névoa sumir de seu campo de visão.

— Minha nossa... — exclamou Sonic estupefato com a vista. Havia um terreno relativamente grande coberto pela grama verde e algumas árvores que ocupavam o local do lado de fora.

Tudo que Sonic conseguia fazer naquele momento era tentar compreender como ocorreu aquela repentina mudança de vista. Não estavam no subsolo? O quarto não estava quase caindo aos pedaços? E onde estava Tails?

Por um segundo, Sonic teve a nítida impressão de estar sendo observado.

E esta impressão se transformou em certeza quando ouviu o sútil ruído de passos que pareciam ter cuidado em andar.

— Tails? — chamou Sonic pelo amigo na esperança de que fosse ele.

— Tails não chegou ainda — informou uma voz feminina que não lhe parecia familiar no primeiro instante.

— Quem es- — Sonic tentou questionar se voltando para trás, mas antes que o fizesse sentiu ser engolfado por trás por um abraço para sua completa surpresa.

— Você está aqui! — exclamou a voz entusiasmada.

Sonic permaneceu alguns segundos pasmado tentando assimilar o que estava acontecendo, não lhe pareceu uma situação perigosa, na verdade embora fosse bizarro, Sonic sentiu um estranho sentimento de nostalgia antes de recobrar os movimentos e tentar rapidamente apalpar o braço que estava envolto em seu pescoço, mas este se transformou em uma névoa enegrecida fazendo o ouriço ficar ainda mas abismado.

— O que... — Sonic virou-se para trás se deparando com o que pareceu o restante da névoa esvanecida. — O que foi isso?

Sonic permaneceu alguns segundos em silêncio a espera de algum sinal de vida, ou outra bizarrice, mas nada aconteceu.

O que não necessariamente tinha um bom significado para Sonic.

De repente o chão começou a tremer.

— Oh, isso não deve ser uma coisa boa! — afirmou o ouriço tentando se equilibrar em meio a todo aquele tremor.

Para piorar a situação, começaram a surgir rupturas por todo o piso que não tardaram em se alastraram pelas paredes até se espalharem rapidamente por todo o teto.

Quando Sonic finalmente conseguiu se colocar em pé novamente, se deu conta que todo o local estava completamente rachado, curiosamente o vão através da janela também se encontrava no mesmo estado como se a paisagem fosse uma superfície sólida.

Por fim, em um estrondo ensurdecedor, que obrigou o ouriço a proteger os ouvidos, o local se rompeu como um espelho tridimensional espalhando estilhaços para todos os lados.

No novo cenário, Sonic percebeu que estava cercado em um infindável manto de escuridão. Olhou em volta na esperança de encontrar algum ponto de luz, alguma saída, mas para o seu desgosto não havia nada além de escuridão e estilhaços retratando pedaços do cenário anterior... Além das bonecas de porcelana que agora pareciam vivas, olhando fixamente para o ouriço com um sorriso maligno enfeitando seus rosto.

— Ele está aqui! Ele está aqui! — exclamaram elas, confirmando as suspeitas de Sonic a respeito delas.

Mas algo ao longe chamou sua atenção ainda mais.

Sonic vislumbrou uma fumaça negra paulatinamente formando uma figura amorfa, pela silhueta parecia uma figura humana, mas nada além da sua silhueta confirmava isso.

— Finalmente a brincadeira acabou, Sonic — exclamou uma voz distorcida, embora não fosse clara era possível perceber perfeitamente o perigo naquele tom. — Não precisamos mais brincar de esconde-esconde! — acrescentou em tom irônico.
— Quem é você? — inquiriu Sonic acionando seu estado de vigilância máxima. — Como sabe meu nome?

Nas profundezas de meu ser

Velhas memórias que nunca vou esquecer

Aquele trágico acontecimento

Que caiu no esquecimento

A voz parecia vir de várias direções em forma de canto que Sonic, com muita dificuldade, conseguiu perceber que possuía a mesma melodia que vinha do relógio de bolso.

O que era meu, tentaram roubar

No abismo, queriam me jogar

Pelas feridas que em mim desferiram

As rosas sangue choraram

A dimensão escura onde Sonic se encontrava parecia sofrer uma espécie de distorção a medida de a voz continuava a cantar tendo como acompanhamento risadas cada vez mais alta e estridentes daquelas bonecas.

No âmago preenchido de escuridão

Na mas completa solidão

Por “esse dia” esperar eu jurei

Enfim agora eu me vingarei

Esta última parte, a voz parecia ter sussurrado rente ao ouvido de Sonic que ainda sentiu um delicado toque de um par de mãos gélidas em seus ombros e com um forte calafrio como alerta, Sonic virou-se para trás para ser capaz de se defender.

Mas não havia ninguém ali...

Por algum motivo aquilo soava mais como uma ameaça do que de fato uma canção.

— Apareça seja quem for, agora! — ordenou Sonic suprimindo todo o seu medo firmando a voz o máximo que podia.

O oponente quase invisível reagiu mais rápido do que Sonic podia ter esperado o agarrando pelo pescoço enquanto afundavam cada vez mais naquele breu.

— M-me... solta! — exigiu o ouriço fazendo o máximo de esforço para impedir o inimigo de asfixiá-lo. Apesar da criatura ser relativamente magra e pequena não sendo mais que uma cabeça mais alta do que Sonic, ela era muito mais forte do que ele.

— O que foi, Sonic? Eu te assusto? — indagou a criatura em tom sádico e rindo caprichosamente. — Eu vou te assustar o quanto eu quiser!

Sonic fechou o punho e tentou aplicar um soco onde acreditava ser o rosto do seu oponente, mas este foi rápido o bastante para segurar seu punho a tempo.

— A dor — disse a criatura empurrando o braço do ouriço para trás com força causando desconforto em seu ombro. —, o medo — acrescentou enquanto um par de círculos pálidos surgiam no rosto da criatura como se fossem seus olhos e abaixo um enorme sorriso branco se abriu de uma orelha a outra —, a solidão... Tudo isso vou ensinar a você! Você experimentará cada uma destas sensações antes de eu finalmente descer a Espada do Silêncio em você!

As bonecas de porcelana agora com um aspecto monstruoso vieram na direção deles fechando todas as rotas de escapatória. Sonic sabia que não tinha para onde ir e que sua velocidade era completamente inútil naquele momento.

Antes com pudesse pensar em uma maneira de se salvar, a criatura ordenou que o ouriço morresse em forma de urro enquanto tentava desferir um golpe mortal nele com o que parecia com uma espada.

— Sonic! — Tails gritou o nome do ouriço o sacudindo pelo ombro.

— O que... — Sonic sentiu como se uma intensa descarga elétrica tivesse passado por todo o seu corpo. Olhando em volta para se orientar, percebeu que ainda estava naquele quarto velho, as bonecas continuavam imóveis e Tails estava lá, bem do seu lado segurando seu ombro.

— Você está bem? Parece que viu um fantasma! — indagou Tails preocupado.

— E-eu adormeci? — Sonic perguntou muito confuso.

— Não, mas você parecia distraído. Tem alguma coisa errada?

— Não... — respondeu Sonic ainda desorientado.

Aquela visão parecia tão real... Ainda sentia seu pescoço e ombro doerem, como se de fato tivesse sido atacado por aquela criatura. Estava muito confuso e não queria envolver Tails em tudo aquilo naquele momento.

— Já que descobrimos de onde vinha a melodia podemos voltar — sugeriu Sonic com pressa para sair dali.

— Ok... — concordou o amigo um pouco confuso. Sonic era o que mais queria descobrir de onde vinha aquela melodia, era estranho ele querer ir embora tão rápido. — Vai levar o relógio?

— Quero descobrir mais sobre esse relógio. Você me ajuda?

— Claro!

Juntos, Sonic e Tails voltaram ao salão onde Sonic caíra e Tails levantou voo para ajudar Sonic a voltar para a superfície.

O ar fresco de Mystic Ruins invadiu os pulmões do dois amigos, aquele era com certeza um lugar mais refrescante do que o subterrâneo.

Alguns Flikies passaram animados por eles.

— Pelo jeito eles estão bem — Tails sorriu acenando para os passarinhos esboçando uma expressão de alívio em seu rosto.

— Ainda bem, por um momento pensei que fosse o Eggman aprontando algo de novo.

— Aposto como ele deve estar voando até agora! — brincou Tails, rindo.

— Há! Aposto que ele não vai esquecer tão cedo a pancada que levou da Amy! — acrescentou Sonic rindo também.

Mesmo os dois rindo e conversando por todo o trajeto de volta para Emerald Town, no fundo Sonic ainda estava preocupado com o que aconteceu. Por que os pássaros se calaram? Que construção era aquela no subsolo de Mystic Ruins? Que relógio de bolso era aquele? E por que viu tudo aquilo? Aquela pessoa que desapareceu em forma de névoa... A criatura que tentou matá-lo...

Perguntas que não tinham respostas naquele momento.


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Notas finais do capítulo

No próximo capítulo:

Sonhos estranhos continuam a dar os sinais do início do novo impasse. Uma Esmeralda é roubada por uma gatuna. Os civis podem estar em apuros.

"Subconsciente"



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