Adorável Estranha escrita por Jacqueline Sampaio


Capítulo 2
Fora do comum


Notas iniciais do capítulo

Música: McFLY – I’ve got you



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-... Então meu amor eu só estarei ai em Osaka daqui a cinco dias.

 

-Não tem problema Shizuka. Passe o tempo que for necessário em Tóquio. Bom trabalho ai.

 

-Bom trabalho para você também Zero. Ligarei mais tarde. Beijos. Eu amo você. Estou com saudades.

 

-Eu também. Até mais. –Desligo o celular. Entro em meu carro, um Camaro vermelho. Acabo de falar com minha noiva, Shizuka Hiou, editora de uma grande revista de moda. Estamos noivos há seis meses, namorados desde os meus dezessete anos. Shizuka é mais velha, um ano apenas, mas possui a mentalidade incrivelmente avançada. Por isso estou com ela, eu não suportaria alguém infantil. Moramos juntos, mas Shizuka, desde que foi promovida, passa uma semana por mês aqui e o restante em qualquer lugar do Japão... Não que eu me importe. Não sei ao certo por que estou com Shizuka, a principio achei que seria pelo prazer que me proporcionava na cama e por ter uma mentalidade séria, mas com o tempo percebi que não sabia o porquê de estar com ela.

Tentei terminar o relacionamento duas vezes. Na primeira Shizuka tomou remédios para dormir e teve de passar por uma lavagem estomacal; na segunda Shizuka cortou os pulsos. Em outras palavras: eu estou com ela porque sei que quando eu largá-la ela fará alguma bobagem.

 

Cheguei cedo a escola, em minha pasta os testes que iria passar para minhas quatro turmas. Verdadeiramente eu só ligava para uma turma, a primeira do dia. Aquela onde encontraria a aluna de nome Yuuki. Eu queria saber até onde ela chegaria. Resolver os exercícios ontem do livro de matemática não me impressionaram.

 

...

 

-Bom dia. –Entrei e notei que todos da turma estavam em seus lugares, silenciosos e olhando fixamente para o livro de matemática. Sorri satisfeito em saber que havia causado esse medo. –Teremos teste surpresa sobre o capitulo da aula passada. Quem for pego sequer olhando para o lado sairá e... Terá muita sorte se não for reprovado. –Todos empalideceram. Todos menos uma pessoa. Ah! Lá estava ela! Yuuki Kuran. Ela olhava uma folha de papel e rabiscava preguiçosamente a mesma. Eu peguei os testes e entreguei uma certa quantidade para cada aluno sentado na frente, ordenei para que passassem para trás. Não com ela. Eu peguei um dos testes e fiz questão de entregar em sua mesa.

 

-Bom dia professor Kiryuu! –Ela falou quando notou que estava na sua frente. Eu nada disse. Seu sorriso conseguiu desmontar a ironia que utilizaria. Apenas estendi a folha que ela prontamente pegou e rumei para minha mesa.

 

-Vocês têm quarenta e cinco minutos para terminar esse teste composto por cinco questões. Quem terminar antes do tempo proposto pode sair da sala. As notas serão importantes para a avaliação individual de cada aluno. –Eu não mencionei que mesmo aqueles que assistiram a minha aula e revisaram o capitulo um como pedi acertariam no máximo duas questões. Eu não queria presenciar suicídio coletivo.

 

Vinte minutos foi o tempo que Yuuki veio até minha mesa. Talvez venha para perguntar algo sobre o teste ou para entregar o mesmo em branco, eu pensei. Não foi nada disso. Ela veio risonha, a mochila nas costas, e estendeu o teste.

 

-Então eu terei que sair, né professor? –Peguei o teste de suas mãos.

 

-Sim. Espere lá fora até o final da aula. –Disse friamente sem fita-la. Yuuki saiu sendo olhada por todos os alunos. Eu peguei o seu teste e decidi corrigi-lo. Eu esperei esperançosamente que houvesse algo de errado no teste, mas nada encontrei. Ela havia acertado todas as cinco questões, algo que nem mesmo os calouros do meu curso de licenciatura em matemática conseguiriam. Sinceramente eu fiquei frustrado. Ou aquela garota conseguira as respostas das questões ou ela era super dotada. De uma coisa eu estava certo: ela era uma incógnita.

 

...

 

Bebericava café na sala dos professores. Foi rápido corrigir os testes de minhas quatro turmas, pouquíssimas pessoas acertaram mais de uma questão. O máximo que consegui foi um garoto que acertou duas questões e meia. Já era tarde, devia ser umas seis horas, as turmas já haviam ido. Segurei o único teste que me impressionou, o teste da aluna de nome Yuuki. Uma incógnita a garota. Uma incógnita que iria decifrar. Não que eu tivesse algum tipo de interesse por ela, seria apenas diversão. Coloquei os testes na minha pasta cor caramelo, joguei o copo descartável com resto de café na lixeira e segui para a saída.

 

Segui para meu caro, mas estaquei. Yuuki estava deitada, aparentemente dormindo, embaixo da grande arvore que a vi anteriormente. A única arvore do jardim ao lado da escola. Eu caminhei silenciosamente para lá, aparentemente a garota havia dormido lá.

 

-Hei. –Eu me abaixei e a sacudi. Ela não reagiu. –Hei garota! –Ela pareceu despertar, deixou cair o livro que estava em suas mãos.

 

-Nossa! Acho que dormi. –Ela me olhou e sorriu. Nossa proximidade junto com o seu sorriso conseguiu me ruborizar, eu me afastei. Yuuki levantou-se, pegou sua mochila xadrez de tecido, e rumou para o portão.

 

-Até amanhã professor. –Ela disse antes de desaparecer. Eu olhei para o chão, havia um livro lá. O peguei e sorri. Ela lia a obra “O príncipe” de Maquiavel. Agora eu entendia o seu jogo, ela queria ganhar minha simpatia através do amor e não do temor. Fui para casa.

 


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