A Turma M escrita por Jhlia


Capítulo 6
Capítulo VI - O início do filme para Ângelo


Notas iniciais do capítulo

Um pouco mais de Denise e Ângelo para vocês :3
E obrigada pelos lindos comentários! Espero que gostem!



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Durante a aula de Educação física o professor colocou todos da turma na quadra para jogarem futebol. As meninas se opuseram à ideia. Não lhes agradava o fato de terem de jogar com os meninos. Diziam que eles as excluíam do jogo. Porém percebendo que elas não possuíam outra alternativa, aceitaram.

— Passa pra mim, Cascão! Passa pra mim! Droga! Porque não passou pra mim?!

— Desculpa aí Xaveco! Não tinha ouvido.

— Ah, vai se ferrar cara!

A bola corria frenética de um pé ao outro. Ia e vinha na quadra sendo perseguida por cerca de vinte jovens. Os meninos faziam dribles e conduziam a bola com uma facilidade enorme. As meninas ficavam nas laterais e evitavam a zona do gol temendo os lances potentes que eram feitos em direção à rede. Algumas, mais destemidas, tentavam participar do jogo, mas não eram oferecidas a elas muitas oportunidades.

De fora da área, o professor Átila lançava um olhar imponente aos jogadores. Ele primava os belos lances, mas não se importava muito com o trabalho de equipe, ignorando muitas vezes atitudes individualistas por parte de seus alunos. E com isso perdia um pouco da compaixão deles, principalmente das meninas que sempre criticavam o seu método de ensino. “Ele é um louco egoísta. Duvido que tenha namorada!” Denise sempre repetia.

A gota d’água foi o dia em que durante a corrida de aquecimento, que o professor sempre mandava os seus alunos fazerem antes das aulas, ordenou que eles corressem dez minutos sem parar. Foi o caos. Os garotos, enérgicos no início, já cuspiam os pulmões no fim assim como as meninas. Alguns alunos sentaram no chão quente de concreto em sinal de protesto contra a ordem. Depois da tortura, no mesmo dia, a turma foi em direção à coordenação reclamar do ocorrido. A coordenadora disse que iria conversar com o professor Átila e pedir-lhe mais moderação nos treinos. Depois o assunto não foi mais comentado. Suspeitam que ela tenha feito o prometido por que, desde então, são apenas cinco minutos de corrida sem parar.

Titi, vendo a área lateral esquerda livre, avançou com a bola e a chutou fazendo com que esta fizesse o seu trajeto como um foguete em direção ao gol. Cebola se atirou em direção dela mas não foi rápido o bastante para a apanhar.

— Chupa essa! — Titi disse batendo as suas mãos contra as do Jeremias.

O professor Átila apitou o fim do jogo e disse que a aula já havia terminado. Os meninos lamentaram e as meninas correram para o banheiro para beber água.

— Idiotas! Uma coisa é um jogo em educação física, outra é um torneio mundial! — Denise protestou indignada.

— Se estamos na escola é para aprender a jogar, e não ficar se exibindo. — Apoiou Marina.

— Não sei por que ficam jogando a bola com tanta força… Quase acertaram a Magali! — Disse Mônica enquanto lavava o rosto. — E o professor nem diz nada…

— Ele é um tonto, isso sim! — Denise terminou de arrumar o cabelo e saiu.

Um silêncio tomou conta do banheiro. Mônica o quebrou.

— Coitado do Xaveco… — Ela disse enquanto deixava escapar um leve sorriso. — Vai levar tanta ovada!

— Por isso que eu nunca venho no meu aniversário!

— Nem eu, Magá! — Marina desprendia o cabelo. — Deus que me livre de chegar em casa cheirando a ovo podre.

— Titi trouxe até farinha!

— Não gosto disso… Jogar ovo? Não me parece ser uma demonstração de “amizade”.

— Eh... tudo em nome da zoeira.

Ao saírem da escola, xaveco colocou a mochila em cima da cabeça e correu e direção ao ponto de ônibus, mas, como se fosse um íman, foi atingido por dezenas de ovos. A tentativa de fuga desesperada só fez com que a sua mochila também sofresse as consequências. Os tiros vinham de todos os lados e seria impossível determinar os culpados - ainda mais com gema em cima dos seus olhos. Até farinha foi atirada. Porém desse ato sabemos o culpado: Titi.

Marina, Aninha e Magali desviaram o olhar da cena humilhante e seguiram dobrando a esquina à esquerda indo para o “crime”. Era assim que era chamado uma pequena loja de doces que ficava a cerca de quarenta metros de distância do Colégio Augusto Limoeiro.

— E cadê a Mônica? — Marina perguntou à Magali.

— Foi no jornal. Hoje foi o último dia antes de ela começar ajudar no projeto da biblioteca. Só vai poder voltar a trabalhar no jornal daqui a algumas semanas.

Ah.

— E é hoje o tal “encontro”? — Perguntou aninha com um leve sorriso no rosto.

— É hoje sim. Ela não tá muito animada não, pra falar a verdade. Cês sabem que ela não é dessas coisas...

— Eu também não curto muito. — Aninha fez uma careta. — Gosto quando é mais simples, sabe? Sem esse negócio de tentar impressionar.

— Pois eu amo um encontro. Já o Franja não curte muito...

— Eu adoro quando as coisas vão se desenvolvendo, sabe? E não quando conhecemos a pessoa em um único dia e já vamos beijando logo.

— Aliás, e essa história de “Quim”?

— Quim, quem? — Magali fingiu desconhecer e Marina riu.

— Não se finja de desentendida, Dona Magali. Mônica me mandou uma mensagem, durante a madrugada aliás, me dizendo que o seu colega é um “pão” de pessoa.

Magali riu desconcertada.

— Que trocadilho de Praça é Nossa, esse viu Marina! — As três riram.

— Ele é gato, não é? Conta pra gente, vai. — Marina pressionou.

— Tá, tá. Ele é bonito, mas eu nem ligo pra esse negócio de beleza.

— Eu sei, mas ele além de bonito é inteligente, não é?

— ... e fofo, mas eu não vou nem pensar nisso. Não vou ficar me martirizando com um garoto que pode muito bem ter namorada.

Ihh. Você joga essa garota, ó... — Marina fez um gesto com a mão como se jogasse algo longe — ...fora. — Magali e Aninha ,riram.

— Só você Mari...

Elas chegaram na loja pequenina repleta de potes de vidro entupidos de balas, chicletes e pirulitos coloridos. Pegaram uns saquinhos, os encheram e pagaram saindo depois da loja.

— Mas fora isso, tudo normal, né Magali? — Aninha falou enquanto mordiscava um ursinho de gummi.

— Aham, o seu Gioachino é muito simpático.

— ...igual ao filho! — Marina insinuou.

⇠ △ ⇢

A campainha da casa de Ângelo tocou e a dona Helô foi atender a porta. Era Tânia, a do segundo andar. Ela trazia apenas o molho de chaves na mão que chacoalhava à medida que gesticulava. Ângelo, que jogava video game ouvia desatentamente a conversa.

— Oi Dona Helô! — Tânia disse enquanto cumprimentava com beijinhos a cumadre. — Menina, tu soube? Temos um vizinho novo!

— Não brinca, menina! E quem é?

— Um tal de... Ai! Como é? Ah! Renato. É, Renato o nome dele. Menina, moço bonito e educado... Só vendo.

— Jura? Ai que bom!

— Eu fui lá, né. Cumprimentar ele. Um amor... É estudante de sei lá o que! Acho que história. Não é desses moleques, sabe?

— Sei, sei. Bem, vou fazer então um bolo pra ele como boas-vindas.

— Pois faça isso mesmo! — Tânia olhou em volta. — Bom eu tenho que ir. Tenho que fazer o lanche das crianças. Vim só te dar as boas novas.

— Que isso, menina! E obrigada. Qualquer coisa dá uma passadinha aqui mais tarde! Traz os meninos pra brincar.

— Pois eu vou trazer então. Até mais, Helô!

— Até, Tânia!

Dona Helô fechou a porta e ajeitou o avental.

— Hum... Bolo de abacaxi, é isso! Todo mundo adora bolo de abacaxi. — Helô disse enquanto encarava a geladeira.

⇠ △ ⇢

Denise subiu as escadas rapidamente e entrou em casa. Ela estava silenciosa. Na havia ninguém, nem sua mãe, Sandra. “Ela nunca está em casa” lamentou ela. Abriu as cortinas deixando o sol iluminar a sala: Um sofá preto de corte reto, uma mesinha de centro de vidro e um enorme tapete felpudo bege que ia do sofá até a estante que acomodava a televisão fina. Em todas mesas e estantes haviam enfeites que a sua mãe trouxera das suas várias viagens com o Fábio, o seu padrasto. Eles namoravam havia três anos, mas Denise não conseguia ainda de desvincular a impressão de intruso que associava a ele. Sua mãe o conheceu em uma viagem quando foi viajar para a capital. “Amor à primeira vista” ela dizia. Fábio era cinco anos mais jovem que a sua mãe e não tinha um emprego estável. Vivia de pequenos trabalhos que arranjava como fotógrafo. Sua mãe já tentou conseguir um emprego para ele em uma revista, mas ele recusou: “Eu quero conseguir isso sozinho”. Desde então é a sua mãe que sustentava a casa trabalhando como chefe de um Spa no centro da cidade.

O pai da Denise abandonou a sua mãe quando ela engravidou. Eles nunca se casaram e Denise nunca o conheceu. Depois de ter engravidado, Sandra teve de se virar sozinha para sustentar a ela e ao bebê (Denise). Alguns meses depois de ter conhecido Fábio, ela descobriu estar grávida novamente, mas de um menino: Hugo. Fábio insistiu então que eles se casassem, ainda que contra a vontade dos pais dela, e ela realizou o sonho. Aliás, em teoria, já que se casaram no cartório e às pressas, pois na semana seguinte Fábio iria viajar a trabalho.

O tempo foi passando e a sua mãe foi perdendo um pouco da felicidade e da vitalidade que lhe restavam. Olheiras apareceram acompanhadas de rugas. Tornou-se rancorosa e mal-humorada. Sempre estava ocupada e impaciente. Já não era a mesma mulher. E isso se refletia no relacionamento dela com Fábio. As brigas se tornaram recorrentes. E seus avós, Denise já não via havia muito tempo.

Denise, que antes era uma garota doce e meiga, foi se fechando e murchando como uma flor diante do cenário que presenciava diariamente: Uma família sem amor. Preferia ficar na rua à toa a ter de voltar para casa.

Ela jogou a mochila no canto do quarto, trancou a porta e se jogou na cama. Tudo que ela mais queria agora era dormir. Dormir e nunca mais ter de acordar.

⇠ △ ⇢

— Ângelo. Ângelo. — Dona Helô entrou no quarto do filho. — Oi, meu bem.

Ângelo estava no computador e olhava para a mãe.

— Será que podia levar o bolo pro nosso vizinho?

— Hum... Ok. Eu levo. — Ele levantou-se com pesar. — Cadê?

— Tá em cima do balcão. Escuta, diz que ele é muito bem-vindo, e qualquer coisa é só ele bater aqui. Eu vou dá uma passada na casa da Beatriz depois. Beijo. — Ela beijou a testa do Ângelo.

Ele pegou a travessa de inox coberto com papel filme, guardou a chave e o celular no bolso e saiu. Da janela do corredor via-se o céu escuro e a lua branca iluminando timidamente a copa das árvores no pátio.

Ele subiu dois lances de escada e tocou a campainha do apartamento do final do corredor. Um moço de cabelos cacheados castanho claro e olhos cor de mel abriu a porta.

— Olá...

— Ah. Olá! Renato, não é?

— Sim.

— Olá, sou Ângelo. Bem, a minha mãe fez este bolo — Ele estendeu os braços com a travessa — para te dar as boas-vindas.

— Ahh! Entra. — Ele se afastou da porta e Ângelo entrou.

O apartamento era constituído por uma sala separada da cozinha por um balcão e à direita havia uma porta para uma suíte, aparentemente. Todas as paredes eram brancas e na sala várias caixas estavam empilhadas, as únicas coisas que já estavam desembaladas era um sofá preto, uma Tv que estava no chão e uma estante alta que ia até o teto e que estava repleto de DVDs.

— Nossa... Você gosta de filme mesmo. — Ângelo disse colocando a travessa sobre o balcão.

Âh? Ah! isso... sim. Adoro filmes e coleciono todos que assisto. — Ele disse sorrindo. — Assiste muitos fimes?

— Não tantos quanto gostaria...

— Bem, se quiser eu posso te emprestar alguns.

— Pode ser...

Renato foi em direção à estante.

— Gosta de que tipo? — Ele disse enquanto retirava e analisava alguns DVDs e os devolvia.

— Eu assisto de tudo praticamente. Escolhe um que você goste...

Renato pareceu pensativo. Então ele pegou na penúltima prateleira de baixo para cima um DVD com uma capa meio acinzentada.

— Aqui. — Renato o entregou a Ângelo que leu o título.

—”A.I. - Inteligência Artificial”. Já ouvi falar muito bem desse filme.

— É um ótimo filme. É um dos meus favoritos. Acho que vai gostar.

— Muito obrigada, Renato.

— Por nada... É...

— ...Ângelo.

— Ângelo. É, isso. — Renato sorriu.

— Bom... Eu tenho que ir. Espero que goste do bolo de abacaxi. E obrigada pelo DVD.

— Eu que agradeço. — Ele acompanhou Ângelo até a porta.

— Até.

— Até.


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Notas finais do capítulo

Coitada da Denise, numa casa daquelas...
Ahh, fiquei até com vontade de ir no "crime", aliás, e esse tal de Renato, hein?
Comentem e me digam o que estão achando da história!
Até o próximo cap XD



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