Tales of Arendelle escrita por Gerda Andersen


Capítulo 1
Capítulo 1: Anna e a Estatua de Gelo




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A primeira vez que Anna viu a escultura de gelo foi por acidente.

Ela tinha apenas seis anos, mas, como a única herdeira para o trono de Arendelle e a preciosa filha do Rei e da Rainha, a princesinha já estudava intensamente, sem sequer poder sair do castelo. Se tivesse puxado minimamente para seus quietos e anti-sociais pais, ela não teria se importado, mas Anna era hiperativa e animada, por essa mesma razão, sonhava com o mundo lá fora, não com o sempre frio castelo. Depois de fugir de seu chato tutor de etiqueta, a mesma tinha corrido o mais rápido e descido as escadas para a parte mais profunda e escura do castelo, sabendo que quase ninguém ia lá.

Estava muito frio, na verdade, ela sabia que era a parte mais fria do castelo, mas Anna não se incomodava, afinal, ela sempre dava abraços em sua mãe e morava em Arendelle, afinal. Sendo o frio o menor de seus problemas, sua curiosidade era o maior. Parecia que ninguém respondia a suas perguntas! E elas eram muito boas, mas nem seus tutores pareciam querer responder. Como quando ela perguntou para seus pais como eles se apaixonaram: eles apenas ficaram com uma sombra estranha em seus olhos e recuaram, se retirando cedo do jantar. Ou como quando ela perguntou o motivo de nunca fazerem negócios com Weselton, mesmo eles os implorando todo o tempo com as cartas.

Anna, não prestando atenção a sua frente e sempre a desajeitada, bateu de cara em uma porta que ela não tinha percebido. O impacto foi forte, por causa de seus passos duros pela raiva e seus pequenos pulos a cada passo. Ela bateu a testa na porta e caiu no chão, batendo a cabeça no piso duro de cimento. A menina piscou seus olhos castanhos, algo que foi passado por seu pai, algumas vezes, encarando a entrada a sua frente.

A porta era diferente da maioria das do castelo. As outras portas eram sempre brancas e elegantes, com desenhos em azul, alguns roxos e, certamente, vários azul-esverdeados. A própria porta de seu quarto era cor creme com desenhos de flocos de neve azul Alice. Mas essa não, ela era feita de madeira, mas não pintada, por isso continuou com um caloroso tom de marrom-chocolate. Os desenhos eram muito diferentes, também. Desenhos de flores, folhas em vários tons de verde decoravam a porta, trazendo um sentimento de verão e primavera em um reino de inverno.

A menina com cabelos de morango (mais um mistério para ela! Ambos seus pais tinha cabelo loiros, mas os de sua mãe eram platina e os de seu pai eram mel. Sempre que ela os perguntava de onde veio a cor de seus cabelos, sua mãe fazia uma careta triste e seu pai respondia que vinha de uma parente de sua mãe, por isso, até ela tinha o tato de não tocar mais no assunto com eles) hesitou em abrir a maçaneta, que estava extremamente fria, como a do quarto de sua mãe sempre estava. Mas, no final, ela abriu.

Foi como se ela tivesse saído em uma tempestade com apenas seu vestidinho verde e roxo. O vento que saiu do quarto era muito frio, sendo que ela teve vontade de correr para debaixo das cobertas de seu quarto com sete canecas de chocolate quente (chocolate!), mas se conteve. Anna deu alguns passos no quarto, o chão era tão frio que podia sentir isso por seus sapatos e suas meias. A porta com certeza engana, ela pensou, se abraçando. Assim que prestou atenção no quarto, ela se esqueceu do que tinha para reclamar.

O quarto era completamente coberto por gelo e neve. As paredes estavam cobertas por colunas de gelo, assim como o que parecia ser uma bela flora de gelo no chão, que estava coberta por neve recém-caída, que vinha da nuvem branca que cobria o teto, como algodão. A sala estava cheia de bonecos de neve, cada um com tamanhos e formas diversos. Com certeza tudo isso era trabalho de sua mãe, que sempre esbanjava os poderes quando o povo pedia.

Mas, o que mais lhe admirava era a estatua que estava no meio de tudo, rodeada de bonecos de neve. Era uma menina, muito, muito linda mesmo, que não podia ter mais de dezoito ou dezenove anos, feita com o gelo mais puro e azul que ela já havia visto em toda sua vida. Ela estava em uma posição como se estivesse se defendendo de algo, com um de seus braços estirados a sua frente e o outro para trás, apesar de estarem em posição vertical, com seus cotovelos um pouco dobrados. Ela usava o que parecia ser uma nova versão de um antigo vestido escandinavo, com uma capa e um chalé por cima. Seu cabelo de gelo estava em duas tranças, que caiam por seus ombros e seus olhos estavam com uma expressão obvia de medo e preocupação, com seus lábios entreabertos.

Antes que percebesse o que ela estava fazendo, estava perto da escultura, tocando em seus detalhes. Ela já havia visto sua mãe fazer esculturas de gelo antes apenas balançando suas mãos, mas essa era assustadoramente real. Anna não chegava sequer a cintura da mulher de gelo, mas podia tocar em sua saia e, apenas por um lampejo de momento. Visualizou como ela seria se estivesse viva, com sua saia rodopiando pelo vento e seus lábio entreabertos formando um sorriso gentil, suas bochechas com sarda coradas.

Anna deu um passo para trás, se perguntando de onde viera essa visão e o porquê de ela acelerar tanto seu coração, como se fosse algo certo. A loira deu mais alguns passos desajeitados e caiu no chão, percebendo o quanto a estatua de gelo ficava mais intimidadora e triste olhando de baixo. A princesa de Arendelle engoliu um soluço, se arrastando pela neve que derretia em seu vestido e a deixava com frio. Não se importava, de repente, a dor em seu peito por ver a escultura de gelo era grande demais, como querer algo que não podia ter.

A menina deu um pulo e correu o mais rápido que pode para sair de lá, ignorando as lágrimas que escorriam por seu rosto, tremendo pela água gelada, antes neve, que cobria seu vestido. Então, quando Gerda, a serviçal principal de sua mãe a achou na escada, chorando e tremendo uma hora depois, ela não resistiu.

A segunda vez que Anna viu a escultura de gelo foi depois de ver sua mãe chorar.

As duas tinham se desentendido várias vezes durante os últimos cinco anos, desde que, logo depois de ver a escultura realista no quarto escondido, Anna decidiu usar seu cabelo loiro-morango em duas tranças, ao invés de apenas uma para imitar sua mãe. A Rainha parecia sempre estar mais infeliz quando olhava para única filha e seu pai, o Rei, também parecia triste. Na verdade, todos os serventes mais antigos pareciam melancólicos quando olhavam para ela, suas tranças loiro-morango e seu vestido verde. A situação entre elas pareciam ficar cada vez mais tensa, principalmente quando a menina pedia para sua mãe ir brincar na neve com ela ou a ajudar a andar de bicicleta ou qualquer coisa que uma criança normal pediria.

Anna se lembrava muito bem de como sua mãe finalmente desabou na frente dela. Era um dia ocupado para todos, menos para ela, é claro. Sua mãe iria trabalhar em alguns acordos de exportação e seu pai iria para uma longa reunião com o conselho. Os dois lhe explicaram isso no almoço, enquanto o boneco de neve falante que sua mãe havia feito e que estava vivo desde que Anna nasceu ou até antes, Olaf, falava sem parar por um minuto, logo voltando ao seu divertido passatempo de irritar seu pai (“Eu já disse que meu nome não é Sven!” Seu pai, Kristoff, sempre reclamava). Então, sua mãe havia sugerido que ela tentasse praticar mais sua pintura com o kit de tintas que sua prima de segundo grau que tinha a mesma idade de sua mãe, Rapunzel, havia lhe dado de presente de aniversário de dez anos.

– É uma boa idéia, mãe. – Anna sorriu, se levantando da mesa.

Por um tempo, a princesa passou um tempo apenas sentada em sua cadeira, olhando uma tela branca sem o mínimo de inspiração. Só teve uma idéia, uma idéia perfeita, depois que passou um tempo olhando para a neve que caía do lado de fora do castelo. Assim que percebeu, ela pegou o azul e começou a pintar.

Assim que terminou, Anna se sentiu orgulhosa. A menina que estava na pintura era linda, tão linda quanto sua mãe e, Anna tinha que admitir, muito parecida com ela mesma. A menina estava ajoelhada na neve branca, construindo o que parecia ser um Olaf inanimado. Sua longa saia azul estava coberta de neve, seus braços colados junto ao seu abdômen que estava abraçado pelo corpete preto com desenhos floridos. Sua capa roxa estava caída para trás, suas mãos com luvas azuis estavam ajeitando a cabeça de Olaf. Seus cabelos loiro-morango estavam presos em duas tranças e seu rosto rosado estava coberto por sardas. Ela realmente se parecia com a princesa, mas, seus olhos eram de uma azul cristalino, mais profundo que os de sua mãe e que lembravam Anna de um oceano.

Levou um tempo, até que ela percebeu que era exatamente como ela imaginou a escultura que gelo que não via há cinco anos.

– Anna, eu queria... – Sua mãe entrou no quarto, seu vestido azul-claro e com mangas que iam até seu pulso brilhava na luz, provavelmente pois era coberto por uma fina camada de neve. Seus cabelos estavam presos em sua trança francesa de sempre que caíam por seu ombro esquerdo. Ela olhou para a pintura que sua filha havia feito e parou de falar.

Foi um silêncio aterrorizante, até que um grito ainda mais aterrorizante cortou o silêncio. Um grito que vinha de sua mãe. A rainha caiu que joelhos no chão e a princesa imediatamente correu ao seu lado, enquanto ela soluçava e chorava descontroladamente.

– Elsa! Anna! – Seu pai entrou de repente, provavelmente tendo ouvido os gritos de sua esposa. – O que hou...

Seus olhos castanhos se fixaram na pintura de Anna e ele pareceu entender algo. Lentamente, pegou sua mãe em seu colo e lhe deu um olhar duro. Anna deu um passo para trás, seu pai nunca tinha olhado para ela desse modo.

– Anna, de onde você tirou essa idéia? Quem te falou sobre isso? – Sua voz era rígida, enquanto ele segurava sua mãe, que ainda estava chorando.

– Eu... Eu não... – Anna sentiu como se sua voz estivesse presa em sua garganta. O quarto parecia menor, o ar mais pesado. Ela não agüentava mais.

Saiu correndo do quarto.

A princesa de olhos castanhos correu o tanto que podia, tropeçando na saia de seu vestido e as vezes nos próprios pés, ignorando a chuva de olhos preocupados que a seguiam pela castelo. Mas não estavam preocupados com ela, Anna, estavam preocupados com a Princesa Anna de Arendelle, herdeira do trono de Rainha Elsa e Rei Kristoff. Mas, com as lágrimas que desciam por seu rosto (“Não tão diferentes das de sua mãe” Sua mente traidora sussurrou). Anna só parou de correr quando chegou nas partes mais profundas e escuras do porão, sabia que ninguém iria lhe procurar lá.

Anna deslizou pela parede em que estava encostada, deixando o frio a consumir e os pelos de seu corpo se arrepiarem com a temperatura baixa. A imagem do rosto da minha mãe coberto por lágrimas, assim como o barulho de seus soluços ecoando em minha mente, fizeram-me sentir como se meus pulmões estivessem sendo cheios por petróleo. Quando finalmente enxugou todas as lágrimas de seu rosto, conseguiu focar a visão, antes embaçada por líquido salgado, na porta a sua frente. Ela lhe parecia familiar, calorosa, com seus desenhos de flores e cores de um verão que nunca chegou em Arendelle...

A princesa herdeira sentiu como se tivesse sido atingida por um balde de água escaldante depois de sair de uma tempestade de neve. Seu choque era tão grande quanto um próprio choque térmico. Era a porta com desenhos calorosos, mas com um interior congelado. Era onde estava a estatua de gelo azul que vira última vez, a estatua da pessoa mais linda que ela já havia visto, competindo com sua mãe. A menina com cabelos loiro-morango se levantou calmamente, o mais calmamente que podia.

(Claro, ignorando os tremores que corriam por seu corpo. Medo? Alívio? Ela não tinha certeza)

Ela virou a maçaneta, abrindo a porta vagarosamente, engolindo várias vezes o seco em sua garganta e o estranho nervosismo. O quarto estava como da última vez: neve branca cobrindo espalhada pelo chão como talco, flocos de neve caindo em seu cabelo loiro-morango e sobre seu rosto com sardas, bonecos de neve alinhados na estatua de gelo azul, que brilhava no quarto escuro e sem janelas. De repente, Anna sentiu como se estivesse invadindo algo em seu próprio castelo.

– Hum, oi, eu de novo. – Anna murmurou, fazendo uma cortesia desajeitada para a escultura, que, claro, ficou parada. – Desculpe estar te interrompendo, não que você se importe... Quer dizer, eu espero que você não se importe... Mas você é uma escultura, não se você se importe com isso também... É, você se importa ?

A escultura não respondeu. Mas é claro que não, Anna pensou, mas no fundo, estava um pouco decepcionada, afinal, ela era tão realística. A princesa se aproximou um pouco mais da escultura, suas sapatilhas fazendo pegadas na neve. A loira notou que o quarto estava menos escuro, com um único raio de sol entrando pelo meio das cortinas azuis. A luz dourada atingia a escultura, fazendo o gelo azulado reluzir um belo brilho dourado, que passava por todo o corpo da Dama de Gelo.

– É isso, vou te chamar de Dama de Gelo! – Anna exclamou animada, mas logo seu rosto adotou um olhar preocupado. – Que dizer, se não se importar, é claro. – A estatua, claro, não lhe respondeu, então a princesa voltou a admirá-la. – Você está tão linda... Não que não esteja sempre linda, mas hoje você está cheia de beleza! Quer dizer, não cheia, mas mais bonita...

Mesma sabendo que a escultura não poderia lhe responder e rir de suas ações, a loira corou. Ela tocou os prendedores em formato de corações que mantinham sua capa de gelo “no lugar” e ficou surpresa, o frio de seu corpo de gelo era até reconfortante, mas ela não devia ter ficado surpresa, afinal, era quase igual ao toque de sua mãe. Sua mãe...

– Sabe, Dama de Gelo, hoje eu vi minha mãe chorar... – Anna murmurou para a escultura, encostando sua cabeça no peito dela. – Foi a primeira vez, sabia? Minha mãe nunca foi de chorar! Ela é sempre tão calma, tão séria e... E... Eu fiz ela chorar hoje. – A princesa afundou sua cabeça no vestido da Dama do Gelo, sentindo lágrimas quentes escorrendo por seu rosto. – Eu não queria ter feito aquilo! Eu a amo muito... Muito mesmo... Mas eu não sei porque ela está sempre tão triste, porque ela não gosta que eu trance meu cabelo... Porque ela não gosta da pintura que eu fiz de você, Dama do Gelo.

A loira passou muito tempo chorando e soluçando contra a estatua. Talvez minutos. Talvez horas. Mas ela não se importava, pois, no final, a Dama do Gelo continuou quieta, mesmo quando Anna usou a manga de seu vestido verde e roxo para limpar seu nariz cheio de catarro, algo nem um pouco “princesal”. Sinceramente, ela estava contente por ter falado com a escultura, ela era uma ótima ouvinte.

A menina nunca teve alguém para simplesmente ouvi-la. Tinha Olaf, mas ele tinha uma boca grande demais e falava mais do que ouvia. Tinha Sven, mas, bem, ele era Sven. E era, claro, uma rena. Tinha seu pai, ele era tão anti-social que ele só dava conselhos estranhos que as vezes nem faziam o mínimo sentido. Tinham Kai e Gerda, mas eles era servos e tinham muitas coisas para fazer, por isso ela nunca tentou os incomodar com seus problemas. Claro, também tinha sua mãe. Sua doce, gentil, educada, sofisticada e perfeita mãe, cuja perfeição fazia com que Anna tivesse medo de fazer qualquer coisa que a deixasse envergonhada de a ter como sua filha. Por isso, ela estava muito feliz com a Dama de Gelo.

– Er, bem, obrigada por me ouvir... Hum... – Hesitante, Anna ficou na ponta dos pés e deu um beijo na superfície lisa de gelo que era a bochecha da Dama de Gelo. Seus lábios já estavam azuis quando ela se afastou. – Sérios, obrigado, er, obrigada, mesmo. – A loira começou a tropeçar para trás, logo chegando na ponta. Virando a maçaneta, ela olhou para traz. – Obrigada, Dama de Gelo.

E foi embora.

A terceira vez que Anna viu a escultura de gelo foi em seu aniversario de dezoito anos.

Mesmo tendo adorado sua tarde com a Dama de Gelo sete anos em seu passado, ela sabia que qualquer coisa relacionada a mesma deixaria seus pais tristes, por isso ela se afastou o máximo que podia, com seu coração pesado. Ela parou de pintar, vendo que, desde o quadro da Dama de Gelo que não era mais gelo, sua mãe abominava suas pinturas.

(E, claro, deu um jeito de sumir com aquela)

Por isso ela se concentrou nas coisas que precisaria para quando se tornasse a Rainha de Arendelle. Suas aulas de etiqueta (no que ela era horrível), em suas aulas de dança (onde ela era terrível) e em suas aulas de gramática (onde ela era horrorível). Claro, só assumiria o trono com vinte e um anos, uma lei em Arendelle, mas já queria aprender para ser uma ótima rainha para seu reino, assim como seus pais eram. Sendo assim, em seu aniversario de dezoito anos, o rei e a rainha de Arendelle decidiram convidar pessoas de outros reinos, para que sua filha se socializasse um pouco mais.

Por isso, assim que ela acordou no dia de seu aniversario, Anna praticamente pulou da cama, para se aprontar. Seu vestido era lindo e em vários tons de verde: claro, escuro, floresta e esmeralda, assim como tinha belos desenhos em sua saia com suas belas camadas. Seu corpete verde escuro estava ligado a duas mangas que caiam sobre seus ombros, que estavam cobertos por uma bela capa verde um lindo laço abaixo de seu pescoço. Gerde, que havia a ajudado a se vestir, lhe lançou um olhar melancólico antes de ir até a porta do quarto.

– Vossa Majestade, vossa mãe, mencionou que queria arrumar seu cabelo, Princesa Anna. – A serva murmurou, antes de sair.

Quando a Rainha Elsa chegou no quarto, foi atingida foi um lance de nostalgia ao ver uma menina com cabelos loiro-morango sentada em um banco com seus cabelos soltos, pulando como pipoca em seu assento. Logo, a loira-platina penteou os cabelos de sua filha, que observava no espelho o cuidado de sua mãe a fazer suas tranças e prende-las no topo de sua cabeça como um belo coque e com uma fita verde.

– Você está tão linda, Anna. – Sua mãe falou, seus olhos azuis (o mesmo azul da cor do gelo que formava a Dama do Gelo, Anna notou) estavam embaçados e opacos. – Sempre foi muito linda. É uma pena que eu não estive no seu primeiro aniversario de dezoito anos... – O tom de voz da rainha do gelo estava vago, como se fosse uma sombra de sua voz de verdade, no meio de um nevoeiro.

– Primeiro aniversario? – Anna murmurou, não entendendo o que sua mãe estava falando.

– Sim, Kai e Gerda me falaram que você estava linda... Com suas tranças loiro-morango, comendo chocolate, mas tinha algo diferente... Seus olhos, eles eram um verde-mar tão lindos... Agora são âmbares... Como? – Ela acariciou o rosto da menina com suas mãos geladas, seus olhos ainda enevoados. – Eu não estava presente, não é, Anna? Sinto muito, minha irmãzinha querida...

– Mamãe? – O tom da voz de Anna não passou de um gemido baixo, mas assim que Elsa ouviu a palavra “mamãe”, seus olhos ficaram mais focados. – Você está bem?

– Sim, minha filha. – A Rainha falou, seus olhos agora melancólicos e sua pose rígida. – Eu tenho que ir supervisionar os preparativos.

– Mas, mãe...

– Apenas, se apresse, filha. – Seu tom frio foi a última coisa que a princesa ouviu antes da mãe sair do quarto.

Anna passou um tempo simplesmente olhando para a porta, sem saber o que fazer. Finalmente, decidiu que iria pelo menos observar o portão se abrir. Um som musical vinha do lado de fora, ela percebeu, como se várias pessoas estivesse cantando uma mesma música. A princesa de dezoito anos colocou seu ouvido na porta, para escutar melhor.

“Vai ter gente de verdade, eu vou até estranhar.” Alguém, com uma voz água cantou.

“Mas como eu estou pronta pra mudar!” Outra pessoa, com uma voz mais aveludada cantarolou.

Por uma vez na eternidade, essas luzes vão brilhar!

Por uma vez na eternidade, a noite inteira vou dançar!

Não sei se é emoção ou são gases, mas assim é bem melhor...

Por uma vez na eternidade... Eu não vou estar só...

Várias vozes cantarolaram a última parte e Anna se apressou, abrindo a porta avidamente, seguindo o som da cantoria e da música.

“Vou ter uma noite de gala e tal. Em um vestido especial!” Uma voz baixa cantou.

“Com graça e muita sofisticação!” Outra voz, mais alta, também cantou.

“Então de repente eu vejo alguém, esperto e bonito, ali tão bem! Me encher de chocolate é tentação!” As duas vozes cantaram juntas.

“Então os risos e conversas! Bem do jeito que sonhei. Nada como a vida que levei...” Uma voz gentil cantarolou.

Por uma vez na eternidade, há magia e diversão!

Por uma vez na eternidade, vou estender a minha mão!

E eu sei que é muita loucura por romance suspirar!

Mas por uma vez na eternidade, ao menos vou tentar.

Anna, finalmente, havia chegado perto o bastante para ver que eram algumas servas que cantavam e cantarolavam aquela maravilhosa canção animadora. Assim que a viram, ficaram com expressões melancólicas e ficaram caladas. A princesa ficou as observando por mais um tempo, até que desistiu e foi para o pátio de pedra na frente do castelo, cantarolando o ritmo da canção em sua cabeça. Será que ela poderia...?

“Se é só hoje seja então.” Ela ouviu outra serva murmurar e cantarolar, como se tivesse se lembrado de algo.

“A espera é uma aflição!” Cantou outra depois de um tempo.

“O Portão...” Outra cantou, assim que o portão se abriu e Anna foi na direção do mesmo.

Por uma vez na eternidade!

Anna continuou a canção, inventado a letra do que sentia no momento.

Eu consigo enxergar!

Um mundo para explorar!

A loira dançou entre as pessoas, alguns dos nobres mais velhos a olhando como se estivessem vendo um fantasma, mas ela não se importou, dançando em direção da cidade.

Achar alguém prá conversar!

A princesa acenou para algumas crianças, rodopiando no meio de algumas que a olharam com admiração.

Eu que amanhã vai terminar

Por isso vou me esforçar!

Ela desceu algumas escadas de pedra que agora davam para mar de gelo azulados, no que ela pulou com destreza, depois de anos patinando no gelo dentro de seu próprio castelo.

Por uma chance em uma eternidade!

Ela mudou um pouco a letra enquanto rodopiava na água congelada em direção a neve.

Por uma chance em uma eternidade!

Ela deu um salto no gelo, chegando na borda onde se encontraria com a neve branca.

Eu vou me aventurar!

Assim que ela cantou a última parte, pulou na neve branca a sua frente, onde escorregou e se apoiou na coisa mais próxima dela: uma pessoa. Os dois caíram e rolaram no chão, sendo que o garoto (ela assumiu que era um, a partir do físico) provavelmente bateu a cabeça no cãs de madeira congelado, a partir do sim que ele fez.

– Eu sinto muito! – Anna exclamou, se levantando o mais rápido que podia.

– Tudo bem, eu também sou muito desastrado. – Uma voz masculina baixa e tímida falou e a princesa finalmente encarou o rapaz em quem esbarrou.

Ele tinha cabelos negros que estavam cortados curtos, com pele um pouco alva. Era alto, não tanto quanto seu pai, mas alto, mas com pernas e braços magros e esguios. Ele usava uma roupa que a fazia ter certeza que ele era da realeza, em tons de azul e branco. Seus olhos eram de um verde claro que estavam com um olhar apologético, com um rosto bonitos e bochechas coradas. Ele estavam com sua mão em sua cabeça, onde um calo enorme estava se formando.

– Me desculpe, me deixe te ajudar. – Anna lançou sua mão para frente, mas tudo o que conseguiu foi dar um semi-soco no olho direito do rapaz. – Eu sinto muito.

– Como eu disse antes, tudo bem. – O rapaz falou se levantando, um pouco tremulo. – Eu sou Christian, das Ilhas do Sul. E quem seria a senhorita que é tão bonita que um dos meus olhos está até latejando? – Ele brincou com a última parte.

– Eu sou a princesa Anna de Arendelle. – Ela disse com bochechas coradas, fazendo cortesia.

– Oh, desculpe, eu acho que nosso primeiro encontro não foi o melhor, né? – Ele disse se curvando um pouco, mas ainda segurando o olho direito, que provavelmente já estava roxo.

– Primeiro... Encontro? – Ela questionou, sabendo que poderia ter um outro significado.

– Não, quer dizer, como nos conhecemos, tipo, aqui e agora, não um encontro. Não que eu não queira ter um encontro com você, você é linda e parece ser legal1 Eu... – Christian corou violentamente. – Ah, eu não consigo nem fala com uma garota legal! Burro! Burro! – Com as últimas duas palavras direcionadas a ele, o rapaz tentou bater em sua testa, mas acabou batendo com seu punho fechado o outro olho. – Ah, meu olho direito.

– Você está bem? – Anna questionou o garoto que agora segurava ambos os olhos. – Vem, eu te levo pra tratar esse olhos. – A princesa guiou o garoto, o puxando pelo braço. – Então, veio para o meu aniversario?

– É, foi uma surpresa Arendelle convidar alguém das Ilhas do Sul para cá, mas fico feliz que seja pro seu aniversario, você é muito gentil... – O moreno falou, não conseguindo ver com as mãos cobrindo os dois olhos.

– Fico feliz que você veio também.

Anna encarou os convidados, sendo que estava parada no salão de baile com seus pais ao seu lado, enquanto todos começavam a dançar. Ela finalmente encontrou Christian com o olhos, seus olhos estavam roxos e segurava um saco de gelo no calo em sua cabeça, mas parecia contente e acenava para ela. A princesas sorriu e acenou de volta, indo me sua direção, depois de pedir licença para o pai.

– Oi, Christian! – Ela acenou para o rapaz avidamente, com um largo sorriso em seu rosto.

– Oi, Anna. – Eles haviam dispensado as formalidades logo após ela ter dado uma cotovelada em sua barriga enquanto tentava pegar o gelo. Sim, essas eram lindas circunstancias para se fazer bons amigos.

– Então, na vai me convidar para dançar? – Anna questionou com um sorriso brincalhão.

– Ok, mas os pés que irão sofrer são os seus. – Christian riu, dando oferecendo uma mãe para a princesa loira.

Aconteceu que Christian estava errado: ambos sofreram, sendo que seus parceiros continuavam pisando em seus pés sem querer e sem piedade. Mas, Anna tinha que admitir, era a coisa mais divertida que tinha feito desde sempre e ele era o primeiro amigo que ela havia feito em toda a sua vida..

– Vem! – Ela disse o puxando em direção de seus pais, que estavam conversando com a Rainha Rapunzel e o Rei Eugene. – Quero te apresentar aos meus pais.

– Por que? – Christian questionou, seus olhos esverdeados brilhando em confusão.

– Porque você é meu amigo, bobinho, mais alguma pergunta idiota? – O rapaz corou e esfregou a parte de trás de seu pescoço, negando com sua cabeça. Ela o levou pelo salão de baile até que chegou na frente de seus pais, logo quando Rapunzel e Eugene já estavam indo.

– Mãe, pai! – Anna falou, fazendo uma cortesia para ambos, que não pareceram notar. Estavam encarando Christian, que parecia estar extremamente desconfortável. – Esse é Christian, das Ilhas do Sul.

– É um prazer conhecê-los, vossas majestades. – Ele se curvou.

– Entendo... –Rainha Elsa falou, encarando o garoto com um olhar duro. – Suponho que vieram aqui para pedir a benção para o seu... Casamento.

– Casamento, Vossa Majestade? – Christian piscou algumas vezes, claramente confuso como Anna. – Mas, só nós conhecemos hoje.

– Obrigada pela indireta, mãe, ótima maneira de dizer que eu estou encalhada. – Anna cruzou os braços, fazendo bico.

– Oh, então não era isso... – Sua mãe murmurou baixo e tomou um olhar apologético. – Sinto muito, Christian, é uma honra o conhecer.

– O que aconteceu com seus olhos? – Rei Kristoff, sempre o delicado, perguntou.

– Eu conheci a Anna. – Os pais as princesa ambos pareceram ter entendido e assentiram, sorrisos brincando em seus rostos.

– Então, Christian, veio com alguém? – Elsa perguntou gentilmente, feliz por sua filha ter um novo amigo.

– Sim, eu vim com meu pai, ele já esteve aqui antes.

– Já? – Kristoff perguntou. – Quem seria seu pai?

– Deixem-me refrescar suas memórias. – Uma voz aveludada veio do lado deles e Anna se virou para ver um homem de cabelos vermelhos que se parecia muito com Christian. – Príncipe Hans, das Ilhas do Sul

– Hans... ? – Rainha Elsa murmurou, seu rosto adotando uma expressão de puro ódio. – O que você está fazendo aqui?

– Vim representar as Ilhas do Sul, é claro. – Os olhos de Hans, da mesma cor dos de Christian, se viraram para ela. Mas era estranho, eles não eram inocentes e tímidos como os de seu filho, mas frios e calculistas. Então, seus olhos se viraram para Anna. – Eu quase acreditei que essa era a princesa Anna, a verdadeira, Rainha Elsa.

– Eu sou a Princesa Anna. – A menina com cabelos loiro-morango falou, mas Hans a ignorou.

– Mas eu sei que Anna ainda deve estar congelada, como você a congelou, Elsa. – Anna viu sua mãe ficar parada e rígida e a expressão de raiva no rosto de Kristoff. – Não me digam, guardaram a estatua de gelo que ela é agora?

Depois disso, foi como se Anna tivesse uma epifania.

Estatua de Gelo.

Dama de Gelo.

Princesa Anna. Sua... Tia.

Dama de Gelo era a Princesa Anna.

A loira deu um pulo, correndo do salão de bailes, sendo seguida por Christian, que estava preocupado com ela, enquanto seus pais, chocados, permaneceram no lugar. Ela desceu escadas, correu por quartos até achar a porta clorosa de antes abrir depressa, Anna entrou desesperadamente, ignorando as perguntas do ofegante Christian. Ela se pendurou na Estatua de Gelo. Em sua tia.

– Tia? Tia, por favor? – Ela começou a soluçar. – Tia Anna! Me desculpe, eu não sabia quem você era... Mas a mamãe e o papai sabiam... Por favor acorda, eu os machuquei tanto... Por favor, acorda...

Mas ela não acordou.

A Princesa Anna de Arendelle, irmã da Rainha Elsa de Arendelle, nunca acordaria e seria, para sempre, uma estatua de gelo puro, criada pela própria irmã.


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