You Only Live Once escrita por Vero Almeida


Capítulo 6
Eu te odeio, não me deixe.


Notas iniciais do capítulo

Voltei! Mais um capítulo novinho pra vocês *o*
Tem umas duas frases nesse capítulo com o linguajar bem baixo mesmo, me desculpem as pessoas que não gostam, são eles que adoram falar besteiras, não eu u.u Mas enfim, me desculpem de qualquer jeito.

Esse capítulo é todinho dedicado à Thays Marques, só por que ela tem sido extremamente linda, comentou, favoritou, recomendou e eu estou mais motivada que nunca *o* Obrigada, pela milésima vez sz

Divirtam-se!



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PDV da Marie

– Mãe... – O vestiário da aula de balé era o último lugar onde eu esperava vê-la em uma segunda feira. Quer dizer, ela teve o fim de semana inteiro, porque vir hoje? No entanto, ali estava ela com seus longos e cacheados fios loiros, e aqueles olhos amendoados afiados como uma faca. Adoro ter herdado os cachos de minha mãe, mas, cá entre nós, sou infinitamente grata por ter puxado os olhos de meu pai. Pela cor também, confesso, mas principalmente pelo aspecto gentil, acolhedor. Sempre preferi enfrentar as orbes azuis de meu pai do que as amêndoas torturantes de minha mãe. – O que a senhora faz aqui, mãe? E suas aulas?

Minha mãe dá aulas de Balé Clássico, e leva sua vocação muito a sério. Com ela eu aprendi a amar a dança em geral, mas principalmente o Balé. Nunca a vi perder um único compromisso que fosse relacionado a isso, nem mesmo nos meus aniversários, ou quando adoecia. Não que esteja me queixando, ela sempre foi uma boa mãe, só um tanto severa demais nesse quesito.

– É exatamente o motivo que me trouxe aqui, as minhas aulas. – Disse, no mesmo tom frio e cortante de sempre. Observei-a remexer em sua bolsa excessivamente grande, e tirar de lá uma pequena balança portátil e uma fita métrica, e então subitamente entendi do que se tratava a visita. – Não pude vir esse fim de semana pois uma de minhas melhores alunas teve que repor as aulas... Mas reajustei minhas aulas de hoje, não pense que vai se livrar da avaliação.

A avaliação. Rotina na minha vida desde meus cinco anos de idade. A única coisa mais importante pra minha mãe do que suas aulas, era o sonho de fazer de mim uma bailarina famosa. Se dependesse dela, teríamos voltado para a frança e eu seria educada nas melhores escolas de Balé do mundo, em Paris. Mas graças a Deus meu pai tinha um emprego estável aqui, bom demais para ser dispensado por um capricho.

Eu ainda não tinha arrumado um jeito de dizer a ela que o curso de artes cênicas não era meu plano B, e sim minha prioridade. Tenho certeza que quando o fizer, a reação dela vai ser pior que o apocalipse. Aceitou que eu fizesse o curso principalmente pela extensa grade de dança presente, mas ainda torcia o nariz diante do assunto esporadicamente

– Mãe, minha aula começa em cinco minutos...

– Vamos, tire os sapatos. Quanto mais enrolar, mais vai se atrasar. – Abaixou-se para colocar a balança no chão, suspirei, desamarrando minhas sapatilhas de ponta pensando em todo o tempo que levaria para colocá-las de volta depois. – Suba!

E assim o fiz. Subi na bendita balança, de costas para o marcador como sempre fazíamos.

O silêncio se instalou no vestiário por uns segundos, duas meninas passaram correndo sem se manifestar, rumo ao salão para a aula.

– O que tanto você comeu para conseguir engordar três quilos, Marie? – Sua voz soou arrastada, cansada, e o peso em suas palavras era tão evidente que quase podia senti-los migrando para as minhas costas. Fechei os olhos, amaldiçoando os excessos cometidos nas férias.

– Eu vou perdê-los. – Prometi, rapidamente. – Vou perdê-los em um mês, você vai ver.

– Vai perder cinco. – Decretou, bufando hora ou outra. Eu tinha a deixado nervosa. – Nem preciso mais tirar suas medidas, não é mesmo? Se engordou três quilos, menores é que não vão estar.

– Mas, eu estou dentro do meu peso, mã..

– Dentro do peso de uma garota comum! – Me interrompeu, exaltando a voz. – Você não é comum, é uma bailarina. Preste bem atenção porque se eu tiver que repetir, as coisas vão ficar ruins para você... Você tem um mês para perder 5 kilos, e quando for te avaliar, quero suas medidas iguais ou menores à anterior. Ou pode esquecer essa besteira de curso de teatro.

Eu não podia acreditar no que estava ouvindo, não mesmo. Era tão... Injusto. Eu estava de férias poxa! E mesmo assim me controlei, dei meu melhor, disse não para várias coisas. Obviamente não foram “nãos” o suficiente.

Tentei manter meu queixo erguido e minha dignidade intacta enquanto minha mãe recolhia toda a sua parafernália e colocava de volta na bolsa. Nem ao menos se despediu quando saiu, e seus passos duros soaram em meus ouvidos durante todo o trajeto à saída do vestiário.

Suspirei, secando uma lágrima solitária que teimou em cair, e rumando para a primeira aula do semestre, com as sapatilhas em mãos.

_/_/_

PDV do Ryan

– E com essa tacada, eu acabo com você. - Me debrucei sobre a mesa de bilhar, encarando Noah com a minha melhor cara de poker. Ele estava jogado no sofá do salão de jogos, pouco se importando com a minha tacada ou com o resultado daquele jogo. E claro, não “ouvia” porcaria nenhuma do que eu dizia, já que mal olhava pra mim. Mirei na bola branca, e taquei. Observei a branca bater na bolinha, e a bolinha cair na caçapa.

– É, ganhei de novo. - Eu disse, mas ele não parecia muito interessado. - Claro que se a bola tivesse cabelo loiro e olhos azuis, talvez ela fosse digna de um pouco da sua atenção.

Peguei um daqueles giz de passar no taco e joguei na cara dele. Ele sobressaltou-se e finalmente olhou pra mim.

– Qual o B.O.?- Peguntei, tacando outro giz nele. - Você passou o jogo inteiro com a cabeça na lua.

– Marie não está interessada no Adam. - Ele começou. - Ele é um amigo de infância, ela tava tentando fazer ciume pra alguém. Eu acho que não quero saber quem, mas meu cérebro fica me atormentando.

Revirei os olhos. Deus, dai-me paciência. Se não tiver paciência, manda uma granada mesmo.

– Ah Noah, vai dar meia hora de cu na esquina. Até aquela garota cega que fica dando em cima de você na sala de espera da psicóloga (Deficientes não natos são obrigados a passar por acompanhamento psicológico por aqui, Noah detesta isso.) já percebeu que cai baba da boca daquela garota quando você passa. – Ele manteve seus olhos atentos aos movimentos dos meus lábios, apesar do sorriso debochado e incrédulo. - A coisa mais rara que existe é a gente gostar de alguém e ser correspondido. Você não devia deixar isso passar. Vou falar pela ultima vez: Se não disser a Marie como se sente, alguém vai fazer isso antes de você. E aí não adianta reclamar da sua falta de sorte.

Dei de ombros, voltando minha atenção novamente para o bilhar, aquele imbecil era um caso perdido, mas pareceu ponderar sobre o que eu tinha dito.

– Vai mais uma partida? - Perguntei a ele.

– Eu aceito o desafio. - Uma voz veio da direção da porta, e apesar de ser uma voz conhecida, não era Noah. - Espero que tenha treinado bastante, já estou cansado de ganhar de você.

– Joseph! - Me virei, surpreso. - Hey, bom te ver! Mas o que você ta fazendo aqui?

– Stella foi suspensa. - Ele suspirou. - Vim buscá-la, mas ela se recusa a vir comigo, ligou pros pais e disse que só vai se vierem buscá-la.

– Ela foi suspensa?! - Levei involuntariamente minha mão à nuca. - Cara, ela vai me deixar louco, de verdade. Ainda vai me enlouquecer.

– Bom... – Noah pegou seu taco de bilhar jogado ao lado do sofá e o pendurou de volta no “guarda tacos”. – Eu vou arrumar as coisas pra aula mais tarde. Te vejo depois, cara.

Acenei pra ele em resposta.

–Eu fiquei sabendo que vocês não estão mais juntos... – Joe sorriu fracamente, com os olhos no chão. - E aí garoto, o que aconteceu?

Suspirei, me sentando em cima da mesa de bilhar.

– Eu cansei. - Os olhos castanho-escuros de Joe me fitavam, atentos, uma das mãos pousada pesadamente na enorme barriga. - Ela não me ama, quer um imbecil pra tirá-la da seca e livrá-la das merdas que ela faz. - Mantive-me em silêncio por cerca de 5 segundos, Joseph nada disse. - Ela mal me leva em consideração. Tudo o que eu peço, ela faz exatamente o contrário.

Ele acenou afirmativamente, sorrindo compreensivo.

– Ela é difícil. - Começou, encostando-se na mesa também. - Mas já era assim quando você a conheceu. Cresceu assim.

– Eu sei... E eu acho incrível o jeito como ela encara a vida, esse jeito despreocupado e livre. Me apaixonei por isso, e continuo amando isso. Mas eu quero ser namorado dela, não pai, entende? Eu quero ser considerado, só isso.

– Ryan... - Ele suspirou novamente. - Stella é a filha única de um dos casais mais ricos daqui. Os pais dela mantém um casamento de fachada desde que ela se conhece por gente. Ela cresceu vendo-os casados teoricamente, mas na prática, eles mal se viam, e quando se viam metade da casa ia abaixo. Nenhum dos dois dedicou a ela um ato significativo de afeto, e ela nunca ficou com nenhum cara por mais de uma semana, você foi o primeiro. Amor é uma coisa nova pra ela. Ela ama você, do unico jeito que sabe amar, e tudo o que sabe sobre amor, ela aprendeu com você.

Ele dizia essas palavras como se elas fossem novidade pra mim. E mesmo sabendo de cada um dos fatos citados, de certa forma, eram mesmo. Quando eu pensava nisso, e eu pensava bastante, eu tinha vontade de esconder a Stella do mundo e protegê-la de tudo. Mas quando eu lembrava de todas as vezes que ela me ignorou, me fez de idiota, me feriu, me perguntava que raio de amor era esse que ela dizia sentir. De certa forma essas palavras me levaram a ver essas situações de um jeito diferente.

Ensinaram-na que ela podia ter tudo o que queria, porque era rica. Tudo, menos o tempo de mamãe e papai, porque eles tinham que ganhar mais dinheiro para sustentar esse ciclo vicioso.

– Eu sei que é egoísta de minha parte, filho. - Ele continuou, interrompendo minha reflexão interna. - Mas eu tenho que te pedir que não a deixe sozinha.

– Eu não vou. - Respondi, de pronto. - Não poderia mesmo que quisesse. Posso não estar mais com ela, mas tenho que cuidar dela. É mais forte que eu.

– Eu agradeço, garoto. - Ele sorriu, dando tapas no meu ombro. - Acho que preciso ir atrás dela... Ela tinha dito qualquer coisa sobre voltar à sala da coordenadora...

– Não, deixa que eu vou. - As palavras saíram da minha boca antes que eu pudesse me dar conta. - Acho que nós merecemos uma conversa. Pelo menos isso. Isso se ela quiser conversar.

Ele concordou comigo, então eu desci da mesa e me despedi dele, rumo à sala da Ana. Deus, eu ia me arrepender disso.

_/_/_

PVD do Adam

– Hey, você não larga esse telefone! Tem um irmão com saudade aqui! – Ralhei com ela, entre risos, tentando não tirar os olhos da estrada. – Algo que eu deva saber? Devo comprar uma espingarda?

Olhei-a de rabo de olho, mantendo o tom brincalhão.

– Talvez... – Ela murmurou, corando violentamente. Conheço Lyla como a palma da minha mão, me atrevo a dizer que a conheço melhor que qualquer outra pessoa, incluindo nossos pais. E não precisava de mais do que seu rosto extremamente vermelho para confirmar minhas teorias. Ela está saindo com alguém. Sorri com o pensamento, balançando a cabeça negativamente. – Mas ok, você tem razão. Eu vim ver minha família, e meu tempo é todo seu.

Jogou seu celular dentro da bolsa para comprovar o que disse.

– Comece me dizendo por que aquele louco te bateu.

– Nem vem, eu quero saber tudo sobre esse cara aí. – Era difícil controlar o impulso de olhar para ela, eu quase podia visualizar seus olhos se revirando enquanto o vermelho de suas bochechas se transformava em roxo.

– Adam... Porque ele te bateu? – Insistiu, não se dando por vencida.

– Não é realmente nada de mais! – Comecei. – Marie tem uma queda por ele, e eu queria ajudá-la. E bom, eu meio que a beijei no meio da...

– VOCÊ BEIJOU MARIE? – Gritou, antes que eu tivesse chance sequer de terminar a frase. – Ai meu DEUS eu sempre achei que vocês fossem ficar juntos! Tão grudados desde criança... Mas hey, e aquela sua namoradinha? Você me falava sobre ela nas cartas...

– Hey, para, não pira. – As palavras saíam de minha boca entre risos, será que ela percebia a insanidade que estava dizendo? Eu e Marie? Nunca aconteceria. – Marie é tão minha irmã quanto você. O negócio é que ele deve ter pensado que eu a larguei para ficar com você. – Fiz uma careta involuntariamente. - E pelo visto você não escutou a parte que eu disse que queria ajudá-la com o carinha lá...?

– Ah, sonhar não custa nada ok? Eu sempre sonhei em ver a Hermione Granger com o Draco Malfoy, e ninguém me recrimina por isso!

– Você shippa uns casais estranhos... – Fiz outra careta, dessa vez voluntariamente. – Então... Você ia me dizer quem era o tal cara com quem tanto conversa.

– Não antes de me contar sobre a namorada.

– Você está desconversando, Lyla!

Deus, eu quase tinha me esquecido como era conversar pessoalmente com ela. Os dois praticamente gritando, falando alto, rindo feito loucos. Os quarenta minutos entre o campus e a nossa casa estavam passando mais rápido do que eu gostaria, e logo eu teria que voltar pra aula. Reduzi um pouco a velocidade, tentando prolongar o tempo que me restava.

Ela se manteve quieta, de braços cruzados e sobrancelha arqueada. Era a maneira dela de dizer “Só digo se você disser primeiro”. O problema é que eu não sabia o que dizer sobre isso.

– Eu terminei com ela há cerca de um mês. – Disse, dando de ombros.

– Há cerca de um mês, e você fala assim tão despreocupadamente?

Suspirei longamente, e mantive o silêncio por um tempo, esperando que ela mudasse de assunto. A verdade é essa: Não teve um motivo, nada foi feito ou dito, nada causou isso. Eu só não sentia por ela aquele sentimento que os autores literários descrevem tão fervorosamente. Namoramos por um ano, e me perdoem o linguajar, mas eu nunca tive vontade de lhe tirar a roupa, ou algo do tipo. Sei lá, como aspirante a escritor, gosto de enxergar as coisas com um sentido poético. Eu quero pra mim um amor completo, com carinho, cumplicidade e apoio, mas também com desejo e paixão. E isso não acontecia com ela.

Na verdade, o que me assusta é que nunca aconteceu com ninguém.

– Só não estava dando certo.

Lyla acenou afirmativamente, sacando finalmente que eu não queria falar sobre isso.

– Então fez bem em dispensar, deixar espaço para algo que vai dar certo. – Apertou minha perna de leve, como um incentivo. Sorri para ela.

E então no segundo seguinte ela recomeçou a tagarelar. Sobre a viagem, os estudos, o carinha com quem ela sai, e também outros com quem tinha saído antes. Mais uma das coisas que eu amo em Lyla, ela sabe tornar um ambiente agradável, não importa o que houver.

Talvez eu devesse mesmo comprar uma espingarda na volta.

_/_/_

PDV do Ryan

Atravessei os corredores com as frases de Joseph ecoando em minha cabeça. Não que eu nunca tivesse pensado nisso, eu estive na casa da Stella inúmeras vezes, conheci os pais retardados dela e fui testemunha do quão doentes eles são. E entendia, é claro, que a personalidade dela era resultado disso. Mas nunca tinha pensado realmente na parte daquela conversa que dizia respeito a mim. Nunca me ocorreu que ela podia me amar e mesmo assim não saber demonstrar.

Sinceramente, ainda não acreditava muito nessa possibilidade. Eu até acredito que ela goste de mim, que tenha atração, paixão, mas não amor. O amor não é egoísta. Eu nunca fui egoísta. Mas agora, lembrando de todo o nosso namoro, eu percebia que só quem cedeu fui eu.

Ainda assim, nós tínhamos uma história, uma história longa. Eu sentia que devia a ela uma conversa.

Procurei-a no escritório da Ana, ela não estava, e nem havia passado por lá.

Dei de ombros, seguindo pelo corredor para chegar ao quarto de Stella. O quarto em frente ao escritório está vazio. Semestre passado tinha uma garota ali, Jennifer. Ela era meio estranha e nunca estava onde todos os outros estavam. Eu tentei conversar com ela, juro que tentei, mas ela não gostava da aproximação alheia, acabou alugando uma quitinete próxima ao campus.

O quarto de Stella é logo atrás, segunda porta à esquerda. Na terceira porta ficam Alícia e Marie.

Quando cheguei à porta do quarto dela, encontrei-a sentada no chão ao lado da cama , com uma garrafa de cerveja na mão e umas três vazias ao lado. Suas roupas estavam amassadas, e eram as mesmas da noite anterior. Senti um aperto enorme no peito. Eu a tinha jogado naquela fonte, e dito coisas horríveis, e agora tudo o que eu queria era poder desfazer isso.

– Stella... Você não acha que tá cedo pra isso? - Entrei no quarto, e me aproximei, tirando a cerveja da mão dela.

Ela levantou os olhos em minha direção e revirou-os.

– Você não tem mais nada a ver comigo, não tem que se preocupar com isso. - Tentou tomar a garrafa de volta, eu a afastei ainda mais.

– Não tenho, mas não consigo evitar. Vai, levanta, toma um banho quente e tira essa roupa. - Pedi.

– Sai daqui cara, me deixa em paz, qual é a sua? - Ela se levantara, e elevara o tom de voz, caminhando a passos duros na minha direção.

– Hey, calma aí! - Levei as mãos ao alto em sinal de rendição, não estava ali pra brigar. Deus, porque diabos tudo tinha sempre que acabar em briga? - Eu vim conversar com você. Será que você pode me dar 10 minutos de trégua? Dois anos de namoro valem isso, não valem?

– Eu não to com cabeça pra conversar agora... Eu tenho que arrumar minhas coisas, Joe está me esperando. Me deixa em paz.

– Você não vai voltar pra aquela casa, Stella. Não quer, e não precisa fazer isso. - Me aproximei dela, quase instintivamente, pousando minhas mãos em seus ombros. Ela rapidamente tirou-as de lá, recuando.

– Eu vou sim, não porque quero, mas porque não tenho opção. - Seu tom de voz era insolente, mas pelo menos ela parara de gritar. - E qualquer coisa é melhor do que esse inferno. Caralho Ryan, me deixa em paz!

– Você tem outra opção. - Comecei, ignorando as ultimas palavras dela. - Pode ir pra minha casa. Sabe que não teria problema nenhum pro meu pai.

Ela ficou em silêncio por um tempo.

– Porque está fazendo isso? - Perguntou, desconfiada.

– Porque eu conheço você. Vai enlouquecer naquela casa.

Ela ficou quieta, levou as mãos a cintura pensativamente.

– Não sei... Que foi que deu em você? Um surto de bondade?

– Stella, as vezes eu tenho vontade de te esganar, você é egocêntrica,mesquinha, e fere as pessoas sem o menor remorso. Mas também é divertida, impulsiva, e admiravelmente livre, ainda que do jeito errado. Não me interessa se estamos juntos ou separados, se você me quer por perto ou não, eu vou cuidar de você ainda que não queira. Você vai arrumar suas coisas e eu vou te levar pra minha casa. E não vai discutir comigo, porque independente da raiva que possa estar sentindo agora, sabe que qualquer coisa é melhor do que ir pra sua casa.

Ela me encarou por uns segundos, irritada, obviamente. Então se aproximou de mim vagarosamente, a passos pesados, deixando seu rosto muito perto do meu.

– Eu vou pra sua casa. - Sua voz era carregada de desprezo. - Vou porque não me resta mesmo muita escolha. Mas não quero você me rondando, não preciso que cuide de mim, e essa é a ultima vez que eu aceito sua ajuda.

Acenei afirmativamente, sem recuar nem um passo. Se era assim que ela queria, assim seria. Eu tinha dado a ela mais uma oportunidade de conversar, e resolver. E mais uma vez ela tinha jogado isso diretamente no lixo. Essa fora a ultima vez.

– Te levo lá daqui há meia hora. - Virei as costas e saí, puto da vida pra variar.

_/_/_

PDV da Stella

Levei cerca de 15 minutos para socar algumas de minhas roupas dentro de uma mochila. Literalmente socar. A raiva que eu sentia daquele projeto de guitarrista estava quase me levando a loucura. Joe estava lá comigo, sentado confortavelmente em minha cama e censurando toda a minha “delicadeza” com as roupas. E claro, minha “delicadeza” com o Ryan. Três palavras descrevem o que eu penso nesse momento: Puta que pariu. Era só o que faltava.

– Ele saiu daquele salão disposto a conversar com você, menina! Você pelo menos deixou ele falar? - Revirei os olhos. Vamos lá Stella, se for rude com ele, vai se arrepender. Você sabe disso garota. Tentei ignorá-lo, já que não existia um botão de “mude” ainda, teria que me virar sozinha mesmo.

Já estávamos lá fora, na varanda, esperando o imbecil do Ryan aparecer para acabarmos logo com isso, e Joe continuava insistindo no mesmo assunto que eu já evitara milhares de vezes. Não queria falar sobre isso, não queria pensar nisso.Resolvi terminar o assunto. - Joe... Eu sei que você gosta dele... Mas acabou ok? Quanto mais cedo aceitar isso, melhor. - A ultima parte soou um pouco mais grossa do que eu gostaria, mas minha paciência tinha ido pro saco cara, minha vida nunca girou em torno de ninguém, e ultimamente tudo era Ryan, Ryan, Ryan. Caralho.

Ele acenou afirmativamente

– Garotos como ele não surgem com tanta facilidade menina... Pensa bem no que vai fazer.

Suspirei.

– Pode ficar tranqüilo... – Passei os braços em torno dele, dando um beijo estalado em sua bochecha. – Eu me garanto sozinha.

Ele me olhou de rabo de olho claramente discordando de mim, mas não fez mais nenhum comentário. Eu sei que é injusto deixá-lo preocupado, sei também que ele merecia saber de todos os detalhes minuciosos da minha vida, por ser a única pessoa que realmente se importa. Mas eu não gosto disso. Não gosto de dar satisfações, não curto receber conselhos, e acho que é por isso que sempre o mantive afastado dos detalhes sórdidos da minha vida. E por incrível que pareça eu realmente morro de remorso por isso.

Me mantive abraçada a Joe enquanto esperávamos o volvo azul marinho aparecer para me levar pra casa. Sim, a casa do Ryan é mais minha casa do que minha própria casa. O pai dele é a pessoa mais incrível que eu já tive a oportunidade de conhecer, e os dois tornavam aquele lugar um refúgio sagrado pra mim. Porra, seria tão difícil perder isso...

Me lembro como se fosse ontem daquelas férias... Eram as primeiras de Ryan na faculdade, nós saíamos a pouco mais de 3 meses. Naquela época eu já me sentia da mesma maneira como me sinto hoje: Dividida entre não querer de jeito nenhum amar a ele, nem a ninguém, e já estar inegavelmente apaixonada por ele. A diferença é que naquela época nada era tão intenso... Era só o começo ainda. Além disso, naquela época eu achava que tinha o controle da situação, e um dia simplesmente cansaria dele e o mandaria pastar.

Quem diria que aconteceria exatamente o contrário?

“ - Uaau, Isso é incrível! – Era a primeira vez que eu ia à casa dele. Tinha ficado MUITO relutante no começo, mas ele jurou que tinha algo ali que eu ia gostar de ver, e realmente tinha razão. Estávamos no porão, era razoavelmente grande e mais rico que minha casa inteira (que é bem grande e confortável, devo dizer). Sempre soube que a família de Ryan tinha dinheiro, mas nunca tive idéia do quanto. As paredes eram revestidas de um papel de parede fofinho, algo parecido com camurça vermelho escuro, e o chão era de madeira. Uma madeira tão brilhantemente limpa que chegava a machucar os olhos.

Mas o que eu mais gostava eram as duas vitrines, uma do lado direito, e uma do lado esquerdo. Enormes, ocupavam praticamente a parede inteira. O que tinha nelas? Prêmios, muitos prêmios, de todos os tipos e tamanhos. Discos de ouro, de platina, de diamante, da puta que pariu, prêmios simbólicos, prêmios importantes, prêmios por participação, todos exibiam o nome da banda "The Heartbreakers" (N/A: Ignorem a falta de criatividade, eu sou péssima com nomes. Perdoem também se essa banda já existir, sinceramente eu nunca ouvi falar) em detalhe prateado, dourado, entre outras cores... E no meio, preso numa redoma de vidro à sete chaves, o mais legal de todos.

– Oh meu Deus, é um Grammy de verdade??? – Em dois ou três passos eu já estava lá, de cara com a redoma, quase encostando meu nariz nela. – Eu posso tocar nele?

Ryan se aproximou também, vagarosamente. Muito devagar pra minha ansiedade.

– Eles ganharam mais alguns desses, não foram muitos, mas pelo curto tempo de duração da banda, é impressionante. Esse é o único que ficou com o meu pai. – Observei-o tocar um painel ao lado da redoma, e ela se abriu imediatamente. – Se ele souber que deixei alguém tocar nisso, me mata, então bico calado.

– Eu prometo! – E então peguei o prêmio em minha mão. Senti seu peso, examinei cada pedacinho dele, e me lembro até hoje da sensação. – Uau...

– Você ainda vai ganhar o seu. – Sorriu pra mim, um sorriso de lado perigosamente irresistível.

– Não acredito que nunca pensou em me contar que seu pai era Larry Stevens! – Esmurrei seu ombro, brincando. – Porra, o cara foi um ícone!

– Ele É um ícone. Você vai ver. – Meus olhos brilharam só de pensar na possibilidade de vez esse cara esbanjar seu talento na minha frente. – Só não faz mais parte dos palcos, mas você não tem noção do tanto de coisa que ele ainda faz por trás das câmeras.

– Como vocês conseguem? – Eu mal podia conter minha curiosidade. – Quer dizer, a banda foi o maior sucesso da Inglaterra por dois anos, e chegou a rodar o mundo uma vez. Como conseguem se esconder?

– Bom, ele engordou bastante. – Brincou, passando o braço em torno do meu ombro, apoiei minha cabeça em seu peito. Alguma coisa se revirou no meu estômago quando senti a pele dele contra a minha, mas reprimi isso o máximo que eu pude. Droga, precisava barrar isso. – E as pessoas conhecem Larry Stevens, ninguém presta muita atenção em Charles Dawson.

– Não é um nome muito roqueiro mesmo. – Observei, fazendo uma careta. Nesses casos nome artístico é tudo. - Se fosse meu pai, eu o exibiria para todo mundo.

Ele riu. Senti seu peito vibrar sob minha cabeça.

– Sei disso. Mas eu prefiro que as pessoas gostem dele pelos motivos certos. E quero conseguir meu espaço na música pelo meu talento, sem a ajuda dele.

– Justo! – Ergui minha cabeça pra ele, ainda com a cabeça em seu peito. Ele abaixou seus olhos em minha direção.

Afastei-me, ainda com o Grammy em mãos, caminhando em direção à redoma. Coloquei-o na mesma posição em que o encontrei, e apertei o botão vermelho no painel ao lado para trancá-lo novamente.

Olhei para Ryan, todo sexy com os dois primeiros botões de sua camisa branca abertos. Mordi meu lábio inferior. – Sabe que dia é hoje?

– Hm, sábado? – Ele ergueu os braços em minha direção, estendi minha mão para ele, só pra senti-lo me puxar pra perto. Se deixou cair em um sofá logo atrás, e eu conseqüentemente caí em seu colo, logo seus braços estavam em torno da minha cintura, e os meus em torno de seu pescoço.

– Também... – Mordisquei-lhe o queixo, em seguida o pescoço, seguindo o caminho até o lóbulo da orelha oscilando entre mordidas e beijos. – Mas principalmente, hoje é o dia mundial do sexo.

Ele emitiu um som estranho, qualquer coisa entre um grunido e uma risada, e meu sorriso se alargou. Poucas coisas me agradavam mais do que provocar.

– Já tivemos muitos dias mundiais do sexo em três meses, tem alguma coisa errada com o seu calendário. – Brincou, suas mãos acariciavam e arranhavam minhas costas de leve por debaixo da blusa, seus lábios foram ao meu pescoço

– Assim que é bom. Dia mundial do sexo todos os dias! – Me ajeitei em seu colo, passando minhas duas pernas em torno de sua cintura e beijando-lhe a boca de um jeito nada calmo, nem tampouco gentil. Era um beijo urgente, quase feroz, nossas línguas se atacavam como dois leões que lutam por território. E Deus, a sensação era tão boa que eu mal podia me conter.

Rasguei-lhe a camisa, tinha urgência demais para desabotoar botão por botão. Minhas unhas deslizaram pelo seu peitoral. Antes que pudesse me dar conta, suas mãos já tinham deixado minha cintura e deslizavam por cima da minha calça legging, apertando minas coxas, depois minha bunda.

Eu quase não tinha mais noção de tempo e espaço quando o senti me segurar firme pelas pernas e se levantar. Apertei-as firmemente em volta da cintura dele e então quando me dei por mim, estávamos fora do porão, mais precisamente na sala.

Era a primeira vez que ia na casa dele, e estávamos nos agarrando loucamente na sala. Na sala de Larry Stevens. Se fosse qualquer outra pessoa eu estaria pouco me fodendo, mas esse cara tinha que gostar de mim!

– Ryan... – Era difícil me concentrar em dizer qualquer coisa com as mãos dele apertando minha bunda e sua língua e dentes passeando por meu pescoço e colo. Minha regata larga do nirvana estava quase caindo por minha cintura, o sutiã ainda o atrapalhava um pouco. – Seu pai...

As palavras saíam de minha boca misturadas com minha respiração ofegante e suspiros mais profundos.

– No trabalho... – Sussurrou, com a voz já rouca e arrastada. Ah, eu amava essa voz no meu ouvido.

Nos agarramos ( e muito mais, mas deixa em off), por quase todos os cômodos daquela casa. O caminho do quarto nunca me pareceu tão longe.

– Stella! Hey, ta viajando?

Balancei a cabeça negativamente e só então tomei consciência da proximidade de Ryan, agora subindo os degraus da varanda. Sequei rapidamente uma lágrima que teimou em cair de meus olhos, as sobrancelhas dele arquearam.

– Você ta chorando? – Apertou um pouco o passo em minha direção, mas me apressei em erguer a mão, sinalizando para que se afastasse.

– Eu? Pirou? Caiu delineador no meu olho quando eu estava me maquiando. Claro que você não tem noção do quanto arde isso. Dói pra caralho. – Ele não pareceu muito convencido, mas não me interessava, contanto que não viesse me encher o saco. – Vamos logo.

Abracei Joe uma última vez, dando-lhe um beijo na bochecha. (Eu sei, blah, muito sentimentalismo. Mas ele merece.)

– Se meus pais te encherem por ter me deixado com Ryan, manda eles me chuparem. – Os olhos de Joe se arregalaram, e ele pigarreou. Revirei os olhos. – Ok, manda me ligarem.

Acenou afirmativamente, agora em sinal de aprovação.

– Não se preocupe comigo. – Disse, seus olhos gentis sorriam para mim, assim como sua boca. – Cuide de você, minha menina.

– Eu vou, prometo. – Apertei-lhe o ombro carinhosamente, sorrindo fracamente para ele.

Ryan colocou minha mala no carro sem dizer uma só palavra, e então partimos.


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Notas finais do capítulo

E aí, curtiram? Ficou bom? Falem comigo ;D
Beijos, até o próximo



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