A Faísca: 70° Jogos Vorazes - Interativa escrita por Tiago Pereira


Capítulo 5
Capítulo 5 - Distrito Sete - Parte 1


Notas iniciais do capítulo

Desculpe a demora... estudos e etc. Chegou a vez da Flury! :D



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Flury Risevaard

Crava o machado, derruba o pinheiro, extrai a lenha. Este é basicamente o meu trabalho aqui no Distrito 7. Sempre foi uma vida agitada, cansativa, sem dúvidas. Enquanto não extraio lenha, estudo, embora minha atenção não esteja muito voltada para a escola.

Minha vida não poderia ser pior, quer dizer, ela nunca foi um jardim de rosas. Antigamente eu morava com meus pais, Levinne e Goulart. Também tinha um irmão mais velho, Jones e um primo, Holliver. Estes últimos eram o centro das atenções, não tenho dúvidas, já eu era invisível.

Levando em consideração os fatos que ocorreram na minha vida, ser invisível era uma virtude, sério. Na escola, tinha uma amiga minha, Nelli, uma garota muito linda, com seus olhos cor de carvalho e cabelos negros. Sem falar que é muito educada. Mesmo que as vezes, seus modos me irritem, mas eu sempre mantenho a calma. Paciência, é, é uma de minhas qualidades.

Nelli tinha um irmão... Ah, como ele era lindo, tão lindo quanto Nelli. Bem, fomos apresentados e numa simples troca de olhares eu sabia que ele era meu verdadeiro amor. Quer dizer, eu pensava assim.

Foi um momento da minha vida muito excitante, pois eu tive uma verdadeira companhia. Nelli, ele e eu saíamos juntos, depois da escola. Eu tinha de trabalhar, mas eu não me importava muito com isso na época. Eu sei que era errado, mas fazia de tudo para ficar com ele.

Péssima escolha. Pouco antes dos dezesseis anos, apareci em casa com uma notícia muito... bombástica.

– Pai, mãe... - disse com o corpo tremendo - eu estou grávida.

E essa foi como um machado na lenha. Certeiro, e a árvore caiu. Meu pai gritava tanto comigo que ele chegou a ficar da cor de beterraba, minha mãe chorava e meu irmão e primo, zombavam de mim. Eu queria muito que um deles fosse para os Jogos Vorazes.

Era um absurdo para eles, engravidar antes do casamento. Eu não discordo. Como punição, fui expulsa de casa. Obrigada a conviver com o frio e a solidão. Dormi por entre os pinheiros, no lado norte. O que me restou foi uma pequena bolsa com roupas, minha dignidade e minha filha que remexia dentro de mim, conforme o tempo passava. Alguns dias depois de comer raspa dos cascos das árvores, bebendo o pouco da água que achava fui até a casa da minha tia pedir moradia.

Tia Haven e tio Berry eram parentes da minha mãe. Eu expliquei o que aconteceu e eles concordaram. A primeira coisa que fiz foi tomar um banho na água quente dentro da banheira esculpida por tio Berry. Depois, minha tia me vestiu e penteou meus cabelos ruivos enquanto observava meu reflexo no espelho. Minha pele mais pálida do que nunca, meu corpo havia afunilado e meus olhos verdes brilhantes eram mera lembrança da minha mãe. Afinal, herdei-os dela.

A partir deste dia, deixei de ser uma adolescente boba e me tornei uma mulher. Claro que nunca mais vi o meu namorado, agora um fugitivo dos meus pais. Apenas Nelli, na escola. Meus pais, irmão e primo, apenas uma vez na última Colheita.

Nove meses depois, pari minha filha, dei o nome de Celli - homenagem a Nelli, que nunca me abandonou. E hoje esta é minha vida, depois de tantos transtornos, ela agora está normalizada.

A noite chega, o cansaço também. Tio Berry dorme sob um pinheiro. Para um homem de quarenta anos, ele extraiu bastante lenha. Já eu fiz mais do que ele, mas não importa.

Caminho até ele e cutuco seu traseiro com o dedão do pé. Ele remexe e abre os olhos.

– Tio, vamos embora - digo.

– Já acabou, queridinha? - ele pergunta. Eu assenti.

Reunimos nossos materiais e caminhos pelo Distrito 7. A praça está sendo decorada, amanhã é o dia da Colheita. Oh, que droga, penso. Meu nome está lá mais de quarenta vezes, graças a minha idade - este é meu último ano -, e ás tésseras.

Tudo bem, tudo pela minha filha, para que ela cresça bem. Eu sei que não serei escolhida, tem outras pessoas com nome posto várias vezes. Meu estômago embrulha só de pensar em ir para os Jogos, deixar minha filha... espero apenas que "a sorte esteja a meu favor".

Chegando ao nosso chalé, tia Haven prepara o jantar enquanto Celli gira sob suas pernas gorduchas de bebê.

– Chegamos - anuncio, com um sorriso.

– Que bom, que bom Bem na hora do jantar - diz tia Haven.

O cheiro é de ensopado de Castor. Um fato é que o gosto é melhor do que o cheiro.

– Onde arranjou o castor? - pergunta tio Berry.

– Sabe como é, amanhã é a Colheita e...

– Não vamos pensar nisso - interrompo tia Haven - preciso tomar banho.

Estalo um beijo em Celli e subo para o banheiro, enchendo de água quente a banheira esculpida por nosso tio.

Lavo os cabelos ruivos, as unhas e todo o corpo. Depois puxo as primeiras roupas da gaveta, e vou ao espelho. Me sentia tão diferente agora. Minha família que costumava ter sardas, como eu, não está mais aqui. Só a tia Haven que tem cabelos vermelho, pois é irmã de minha mãe. Já tio Berry mal tem cabelo, e o que tem é grisalho.

Desço para brincar com Celli, e o jantar é servido. Conversamos, rimos... é um clima bem descontraído para amenizar a Colheita. É ótimo isso.

Meus tios, depois do jantar, vão se deitar. E eu tenho que fazer Celli dormir. A cama é para um, mas eu coloco a bebê do meu lado. Bastaram duas cantigas e uma história para ela dormir. Enquanto eu sei que o sono demorará a chegar.

Depois de horas em claro, consigo dormir. Uma noite conturbada de vários pesadelos. Quando abro os olhos, já estou a par que hoje é dia da Colheita. Mas eu não estou pronta para ser selecionada aos Jogos Vorazes.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, irei anunciar uma "surpresa" pra vocês hoje.



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