Memórias - Interativa escrita por Cassiela Collins


Capítulo 14
Rangers, Quero ser Arqueira


Notas iniciais do capítulo

'Taí, Avicii. Descobri como apresentar meu dom ;)



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Faz três dias que queimei meu tornozelo.

A cada dia, há uma Prova, mas até agora não perdemos ninguém.

Não que isso me deixe mais feliz. Eu posso não conhecer ninguém das outras Casas, me sinto mal por eles. Há pessoas lá que simplesmente desapareceram, e não fazemos a menor ideia do que aconteceu com eles, embora nossas suspeitas aumentem cada vez mais.

Estou deitada na minha cama, por cima das cobertas. No móvel com as gavetas, haviam varias variações da roupa que usei em minha Prova, com poucas diferenças: havia uma de calça curta, uma de manga longa, uma de saia longa, uma de saia não tão longa – que descartei imediatamente – uma de calça não tão justa, uma de ombros de fora, uma de ombros caídos...

As Provas parecem penetrar cada vez mais em meus pensamentos, dominando-os. Ao todo, há – havia – 10 Jogadores de cada Casa. Há 7 Casas, e todas as Provas parecem ser em dupla. Serão 34 jogos ao todo. Trinta e quatro dias. Mais de um mês.

Não sei se fico feliz por isso – grande parte de nós demorará a perder um Jogo – ou se fico nervosa – acho que, se tiver que esperar um mês para sair daqui, vou enlouquecer.

Mas nem sempre meus pensamentos estão ocupados apenas com os Jogos. Afinal, tenho pelo menos 23 horas livres no dia, com uma mesa de treinamento avançado em tecnologia de ponta e vários livros, papéis e canetas. Deve ser cerca de 2 horas da tarde; não tenho como saber ao certo, pois não há relógios disponíveis para nós o tempo todo. Acabei de almoçar com os meus colegas.

Até comemos tecnologia. Literalmente. Nossas comidas vêm de um pequeno aparelho no canto dos nossos quartos, e estou quase certa de que a comida é programada.

Você pede o que quiser, e, de repente, ali está. Não pode ser comida de verdade, pode?

Estou deitada em minha cama, lendo, quando ouço o barulho da porta deslizando.

– Hey – Mitchel me cumprimenta. Ele entra em meu quarto, e Sam o segue. – Como está o tornozelo?

Há mais ou menos duas horas passei novamente a pomada que os dois irmãos, Jenn e Jeff – os garotos que me ajudaram no fim da minha Prova – me deram. Ela é milagrosa, acho que daqui a pouco estou completamente curada.

No primeiro dia, passei nervoso por causa do ferimento. Uma substância branca nojenta – as minhas células mortas, acho – cobriu toda a sua superfície, e a cada movimento que eu fazia, uma parte dessa camada de tecido nojento se soltava um pouco. Com a pontinha pendurada, a minha maior ânsia foi de arrancar o toda a substância. Por fim, peguei aleatoriamente uma das roupas disponíveis para mim, enrolei e dobrei até que formasse uma faixa e apertei meu ferimento, cobrindo-o por inteiro.

Agora, havia só uma fina casca, dura e que não me tentava a arrancá-la fora; era fina demais para isso.

– Está bom. Logo já não haverá mais nada a não ser a marca de que isso um dia esteve aí. – respondo. Não sei por que, mas às vezes eu acabo falando algo um pouco mais complicado do que o normal, que, nesse caso, acho que seria ‘bom. Logo vai ficar só uma marquinha’.

– O que você está lendo agora? – Sam indaga, ansiosa. – Já acabou de ler Os Três Mosqueteiros?

Na minha estante, os livros parecem ser escolhidos à dedo para mim. O Hobbit – meus filmes favoritos, embora não sejam iguais ao livro. É o único filme que posso dizer com convicção que é melhor do que o livro, mas isso não faz do livro pior. O Código Élfico – eu sempre achei o Astarte muito fofo. Os Três Mosqueteiros – de longe, meu livro preferido. Em casa, tenho uma tradução fiel da versão original de Alexandre Dumas, a qual já li 19 vezes no período de 25 dias, e acabei de completar 20 vezes, uma semana depois. Rangers, a Dos Arqueiros – Halt é um personagem que ainda pretendo desvendar. É misterioso, rabugento, sério, resmungão, mandão, exigente, detalhista, perfeccionista, bravo e é o meu personagem preferido de toda a saga; eu o amo, admiro e se tivesse que escolher alguém para ser meu Mestre eu escolheria ele. How? Why? I don’t know. Só o que sei é que ele é perfeito.

– Estou lendo Rangers 8 – respondo, animada. – Estou na parte que O Horace teve que lutar com o grandalhão, o Will acabou de humilhar o genovês no arco-e-flecha e o Halt quase infartou. Ele é muito fofo, daquele jeito peculiar dele.

Quando eu digo que algo ou alguém é fofo, muita gente deve pensar em bichos de olhos dilatados, mas o Halt não é assim. Ele é fofo de um jeito que é impossível de descrever.

– ‘Halt balançou a cabeça e desabou no banco. A tensão de presenciar seus dois jovens preferidos arriscarem a vida em uma tarde tinha sido quase demais’. Rangers, A Ordem dos Arqueiros; Reis de Clonmel. – digo, em meu tom de citações.

Às vezes, respondo perguntas ou faço comentários repetindo trechos de filmes ou livros. Quando faço isso, adoto um tom de voz diferenciado, dependendo do livro, do trecho e de quem o fala. Chamo isso de ‘citações’.

Deixo o livro de lado e me sento. Embora eu já não precise de ajuda, ela e Mitchel me ajudam a me levantar.

Nossa amizade me lembra Horace, Will e Gilan. Eu me enquadro em Gilan. Acho que Samantha poderia ser Will, e Mitchel se parece com Horace, tímido e protetor.

Eu sempre quis ter uma aventura. Agora, meu sonho é ainda mais definido.

Quero viver as aventuras que li, com meus dois novos...

Não tenho tempo de terminar o pensamento. De repente, já não estamos onde estávamos há apenas um instante.

Caio sentada em grama fofa e terra macia. Já não estamos mais no meu quarto.

Estamos em uma floresta.


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