Voltei para casa sozinho, não estava afim de ver ninguem, fui ouvindo música o caminho todo e meu music player era interrompido a cada 2 minutos com uma nova chamada que era sempre ignorada. Em casa eu fiz a minha rotina usual, mas dessa vez não durmi só fiquei olhando pro teto pensando em como esse ano começou uma merda, teve uma súbita melhorada e agora voltou a merda, Ah que vida de merda!

Minha perna usualmente começava a formigar, o que me fazia andar pelo quarto, mas dessa vez eu parei para olhar pela janela que fica em frente ao quarto de Gabriel e adivinha, lá estava ele, mostrando os seus discos para Pipper, que aliás tem um gosto musical muito diferente do nosso, ele saiu do quarto então Pipper se dirigiu até a janela e fechou as cortinas, não acho que ela tenha me visto, mas fiquei preocupado com o que ela planeja fazer com Gabe, pensei ir até lá e acabar com a festa deles, porém preferi ficar aqui quieto na minha.

***

Dormi demais, já estava escuro e eu não tinha feito o dever de Sociologia e provávelmente não irei dormir tão cedo hoje. Se não fosse a minha mãe batendo na porta eu teria dormido muito mais:

–Entra logo mãe!

–Mãe? Ainda não cheguei nessa fase.-era Pipper e logo atrás dela (como de costume) Gabriel.

–Viemos ver como você estava, sabe, você nos largou no colégio.-ele falou.

–Hm então vocês me esperaram bastante no colégio por que só vieram agora.

Então eu lancei um olhar incriminador a Gabriel, mas acho que ele nem percebeu:

–Enfim eu vim logo porquepassei mal.

–Você está resfriado e meio pálido, já tomou alguma coisa?- ela perguntou botando a palma da mão na minha testa.

Balancei a cabeça negativamente e Gabriel levantou dizendo que ia pegar algum remédio com a minha mãe:

–Felipe, eu não sei quem é essa garota que você está protegendo, mas quando eu souber quem é ela vai sofrer um bocado.

–Oi?

–Essa garota que o Gabe gosta! Que você está proregendo! Tanto faz, hoje ele passou o dia todo se esquivando de mim, mas avisa ela que eu estou aqui e sou perigosa!-ela apertou os olhos ameaçadoramente.

–Tanto faz Pipper isso não é problema meu!-dei os ombros.

Falado isso Gabriel chegou, e eu pensei 'Ótimo estou em uma guerrinha com a minha amiga de longa data e eu sei o quanto ela é perigosa e que ela não tem medo de descer até os mais baixos níveis para conseguir o que quer.'

***

Eles foram embora faz um tempo, minha mãe dormiu logo depois da novela, fui até o jardim e vi uma luz na casa da árvore, fiquei com medo claro, catei meu taco de basebol e subi na árvore, estava escuro e eu não reconheci quem era:

–Pra que isso cara?

–Peter? Ai caramba pensei que fosse um serial killer ou sei lá!

–Sim cara eu estive te observando a meses e estou aqui para te matar.- ele falou e nós rimos juntos.

– Sério, o que foi que aconteceu?- perguntei segurando o riso.

–Dormi demais de tarde e estou sem sono! Ah abre a garagem, vamos mecher no Chevy agora!

–Oi, o quê?

–Sou um animal noturno Felipe, não queria te falar isso, mas eu sou o Batman!

Eu caí na gargalhada, me aproximei dele e senti cheiro de vodka:

–Você bebeu!

–Sim mas já faz um tempo, bebi café antes de vir pra cá e já estou 80% sóbrio.

–80%?

–Tá uns 60% , seu mala!

Rimos e fomos andando até minha garagem, na frente dela tinha uma caixa de papelão que Peter afirmou ter trazido de casa, estava pesada, mas ele carregou para perto do carro sem problemas.

–Ta dã!-ele cantou abrindo a caixa- olhe só um motor stroker 383!

Fiquei pasmo, me perguntando onde ele arranjou aquela raridade!

–Peguei do carro do meu avô!Ele deixou, era um ford 350 de 1967.

–Ah e você acha que nós conseguiremos colocar o motor de um ford em uma caminhonete chevete que é 3 anos mais velha que ele?

–Só sei que eu não trouxe isso até aqui pra nada!Eu não ri estava concentrado demais sobre como eu ia colocar aquela coisa no Chevy.

–Vamos lá Felipe, não desista sem tentar! Por mim!- ele fez um bico então eu sorri.

–Tá bom, vamos tentar.

***

Começamos o trabalho às 21:30 e só acabamos ás 02:00 da manhã:

–Faça ás honras Felipinho.- ele disse e eu dei partida no carro, ah o som, aquele som de motor fez eu descobrir como Frank sinatra se sentia nos seus anos dourados.

–Vamos dar uma volta no quarteirão!-eu falei saindo da garagem.

Peter mecheu no rádio até achar uma rádio descente estava tocando Young Folks na versão cover dos the kooks, o vento batia no meu rosto e eu me sentia vivo, de um jeito que eu não me sentia a muito tempo desde que meu pai morreu que foi quando o Chevy pifou de vez.Parei na frente da casa de Peter e desliguei o motor:

–Agora é só dar um trato na carcaça e tá pronto.- ele falou.

–É, nós somos bons nisso, deviamos abrir a oficina do Felipe e do Peter!

–Prefiro Peter e Felipe!

–Não esse fica estranho!

– Tá que tal uma mistura de nomes. Hm... oficina do PeLipe, ah que estranho!Que tal oficina do FeliTer?

–FeliTer gostei desse!Meu nome continua em primeiro.

–Verdade! Ainda iremos discutir isso mocinho!-ele desceu do carro e saiu correndo para pegar embalo e pular a cerca de sua casa.

Eu segui para minha casa, parei o carro, tranquei tudo, cobri minha mãe na sala e decidi dormir ali mesmo no carpete macio da sala perto dela.