Eu fiquei em estado de choque por um bom tempo, só encarando a carta, a letrinha miúda e redonda de Pipper, é com certeza foi ela que escreveu.

Larguei o papel em cima do banco do carona, estava tocando What doesn't kill you do Jake Bugg, esfreguei os olhos com força rezando para que tudo fosse um sonho, mas não! Aquela era a minha realidade, fui traído pela minha melhor amiga de um jeito horrível! A maioria das pessoas estaria odiando ela, jurando vingança, cortando qualquer relação, mas eu não consigo, não com Pipps.

Eram sete da manhã, liguei o carro e saí da garagem, não sabia para onde ir só estava seguindo extintos, peguei a interestadual, dirigi até onde Peter tinha parado mais cedo e desci do carro.Lembro que eu Pipper e os garotos vivíamos vindo aqui de bicicleta, era o pedacinho da Califórnia aqui no interior, deserto rochoso, com sol bem forte e vento forte. Acho que daí que veio a paixão maluca dela pela Califórnia, eu consegui rir com isso, respirei fundo e por segundos consegui esquecer tudo.Depois de ficar encarando o céu entrei no carro, precisava tomar uma atitude.O que fazer? Olhei o painel do carro e estava quase sem gasolina, um posto, tem um mais adiante.

***

Enchi pela metade, olhei os lados e vi minha perdição, um bar. Não me critique, sei que beber pra esquecer não é exatamente uma atitude para resolver as coisas, mas é o que eu tenho agora. Sentei no bar, com a estúpida sensação de estar em um filme de pistoleiros, esperando meu maior inimigo entrar pela porta e me desafiar para um duelo, pois é mesmo com a vida acabando tenho essas epifanias idiotas:

–Me vê um whisky, puro mesmo!

–Whisky? Identidade?-o bartender perguntou

Mostrei relutante, sério que eu ainda tenho cara de adolescente mesmo?

–Pega aqui! Hm...Está tudo bem?

–Claro que não né Billy! Quantos clientes seus que pediram whisky puro estavam felizes?-um velho falou se sentando do meu lado.

–Fique quieto Dave! Se ele está mal você está piorando!

–Não! Ele está certo, devo estar muito mal mesmo.-Falei soltando uma risada seca

–Então criança o que aconteceu?- Dave se inclinou para me ouvir

–É complicado! Foi uma... Uma amiga!

–Ah criança nada é tão complicado assim! Ouça o velho Dave aqui, tudo tem solução, principalmente essas tais desilusões amorosas de hoje em dia.

–É o que você acha!-resmunguei

–Você precisa aprender a ouvir...-ele começou

E foi assim que Dave me alugou por uma hora me contando a história de Margaret o amor da sua vida, uma dose após a outra no final Dave se inclinou em minha direção e balbuciou:

–Criança, você tem muito a aprender! Mas vou te dar a dica dourada da vida porque eu gostei de você. É assim, quando der ruim você bebe, bebe e bebe, então vai pra um canto e chora tudo!

–Mas como que isso resolve o problema?-perguntei-Não resolve, mas ajuda bastante, porque no final o importante de tudo é estar bem consigo mesmo.Dá uma soneca e depois vai lá e resolve...-ele sussurrou e adormeceu

–Obrigado Dave, talvez eu volte! Adeus Billy-eu me despedi e fui para o carro.

Liguei o rádio, botei o cd de Pipps e peguei a estrada. Pensei em Dave, tão estranho e sábio ou maluco! Mas maluquice é um tipo de inteligência que o mundo não compreende então com inveja e ignorância rotulam como algo ruim, pelo menos é o que meu pai dizia.

Comecei a chorar, estava demorando, a tristeza, a culpa que eu estava sentindo pois afinal, mesmo de maneira indireta, é tudo minha culpa, o alto teor de álcool no sangue e a música, que era Ride da Lana del rey, me entorpeciam, minha mão estava ficando cada vez mais pesada, meus pés estavam formigando e a visão estava fraca, olhei para o lado e juro que vi meu pai me encarando sorrindo olhei para frente e vi um borrão preto e isso foi a última coisa que vi antes de sentir o impacto.