O Garoto da Última Casa escrita por Bruna Ribeiro


Capítulo 41
Capítulo 40


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo é especial, além de ter a parte que vocês viram no prólogo, ele é o maior capítulo que eu escrevi até agora.
Obrigada a todos pelos maravilhosos comentários e eu irei responder cada um.
Ah, eu também postei hoje minha outra história, se vocês gostarem dela também, podem me dizer, vou adorar saber.
Outra coisa, eu criei, como disse, o grupo.
O link é esse https://www.facebook.com/groups/1516046808631861/?fref=ts
Adoraria encontrá-los lá.



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CAPÍTULO 40 - QUEM? WILLIAM?

Eu realmente queria dizer que a cena de William, naquela noite, foi apenas passageira e que seu senso de humor e sua razão voltaram ao normal. Mas eu estaria mentindo.

William, cada dia que passava, se aproximava de Jessica e se afastava de nós. Quando falava algo, era frio e distante. Embora, Ashley tentasse desfaçar, estava claro que com a aproximação de seu aniversário, William mudava de uma forma incomum. Eu sabia que era possível, porque eu via.

Os encontros que nos organizávamos para encontrar qualquer solução aceitável, aumentaram significativamente e Olaf começou a reclamar disso. Na verdade, Olaf começou a reclamar de tudo naqueles dias. Ele e Jade mal se falavam e Olaf nem parecia mais o mesmo. Isso não foi nada agradável. Tudo o que eu queria era rir com meu tio depois de um dia sem grandes resultados para a cidade, mas Olaf estava sempre ocupado em seu quarto. Isso foi como uma aviso da escuridão. Se nem Olaf conseguia rir, quem poderia?

Meus dias se resumiram a escola e ao Livro e embora eu começasse a achar que era tudo perda de tempo, eu continuava firmemente lendo as páginas amareladas e escrevendo cada palavra. William não ajudava e tampouco Jessica. Tanto eu como os outros, sabíamos que a Maldição já estava em sua alma. Aquele não era o William-palavras-afiadas, era só um garoto preso dentro de um cadeia, da qual ninguém tinha a chave. A não ser eu. Meu sangue, para ser mais exata.

Eu nunca me preocupei muito com o tempo, mas parecia que os dias estavam passando muito mais rápido que o normal. Uma vez perguntei a Ashley se existia um feitiço para controlar o tempo desse jeito e ela apenas riu, dizendo ‘’Quem me dera ’’.

A verdade é que todos estávamos assustados e as fichas começavam a cair aos poucos. Não havia outro feitiço, quem queríamos enganar? A nossa sanidade? A nossa esperança? Nós mesmos?

Eu estava cansada de procurar por algo que não existia e ainda mais com a solução em nossa frente. Jessica tinha razão, era isso que significava ser a Híbrida da Maldição. Sarah queria um sacrifício e teria um, de qualquer jeito. Seria William ou eu. Na verdade, seria William, a cidade e as pessoas de um lado contra apenas eu do outro. Acho que eu estava realmente sendo egoísta. Talvez levar apenas minha vontade de viver em consideração não havia sido o certo. Afinal, todos ali queriam viver.

Mas mesmo com tantas justificativas, eu ainda não tinha a coragem para dizer ‘’Hey, eu aceito, peguem meu sangue’’.

Quando Georgia, uma vez, comentou que o feitiço só poderia ocorrer na Lua Minguante e que precisava de outras coisas básicas como ervas e sementes, eu percebi o que já deveria. Ninguém realmente acreditava que havia uma outra solução para aquela confusão e talvez, só talvez desejassem que eu acabasse com isso logo.

Quando a véspera do aniversário do Hãnsel chegou, infelizmente, todos estavam cabisbaixos e tristes. Até mesmo Henry, que adorava jogar indiretas sobre sua declaração á mim, permaneceu calado. William estava diferente, mas sabíamos que talvez no dia seguinte ele ficasse irreconhecível.

É difícil dizer sobre o que eu estudei naquele dia, porque eu não me lembro de quase nada, apenas lembro de borrões sem significado algum. Eu realmente estava sem reação. Tudo na minha vida, havia me levado até aquele momento. Todos os esbarrões, todas conversas, todos os desastres, me levaram aquele dia sombrio.

Eu nunca havia visto a cidade daquele jeito e até a chuva, que ameaçava cair o tempo inteiro, se manteve longe de Owens.

Quando eu finalmente cheguei em casa, apenas Olaf estava sentado no sofá, com um refrigerante em mãos e trocando os canais da televisão, sem realmente se interessar por algum.

–Daqui a algumas horas, eu vou ter que ir para a casa de Ashley – eu avisei, passando por ele.

–Mais uma vez – ele comentou, sem me olhar.

–Disse para eu fazer amizades e é o que estou tentando.

–Estou vendo – e bebeu um gole de sua bebida, enquanto avaliava um canal sobre cobras criadas em cativeiro.

Eu suspirei.

Ter aquela conversa com Olaf não me ajudaria em nada e eu realmente não queria discutir, não naquele dia.

–Onde está, Jade? – perguntei – Ela poderia me emprestar aquele casaco dela? Acho que pode chover.

–Não faço ideia onde ela possa estar.

–Ela não está aqui?

–Não – ele bebeu mais um pouco de seu refrigerante – Ela disse algo sobre eu ser infantil e saiu.

–Mas ela vai voltar, não vai?

–Espero que não.

–Olaf! – eu disse, enquanto me aconchegava ao seu lado – Eu sinto muito.

–Acho que eu não tenho sorte com mulheres, sabe. Nunca mesmo.

Eu olhei em sua direção, sem realmente conseguir falar algo.

–Vovó disse que você apaixonou perdidamente, uma vez – eu falei finalmente a ele. A verdade era que vovó nunca havia dito nada, mas eu queria ouvir ele falar de Olívia. Mesmo ainda me mantendo com um pé atrás, eu era filha de Olaf e estava começando a gostar disso. Talvez eu devesse falar para ele, em breve. Talvez pudéssemos recomeçar de uma outra maneira, eu não sabia.

–Sua avó disse? Ela odiava Olívia, me admira que tenha comentado.

–Olívia? – perguntei, apenas para não parecer que sabia demais.

–Foi por quem eu me apaixonei – ele respondeu – Ela realmente era uma garota incrível. Era tão doce e gentil, mas ao mesmo tempo muito reservada e cheia de segredos. Eu gostava disso, gostava mesmo. Ela e eu começamos a andar juntos na escola, mas ela não me deixava acompanha-la até sua casa. E eu pensava ‘’Ela vende drogas’’, porque não havia motivos para eu não poder ir. Ai um dia, ela deixou eu ir. E percebe que não vendia drogas, o que foi bem legal. Acho que o problema era a família dela, na verdade. A mãe e a irmã. Elas me olhavam como se eu fosse um inseto, pronto para ser pisado.

–Sabe mais coisas sobre elas?

–Não muito, apenas que elas tinham um gosto estranho para decoração. Era tudo tão escuro, na casa. Mas isso não fez com que eu me afastasse de Olívia, pelo contrário, eu queria tirá-la daquele mundo em que ela estava presa. Seu pai, Alexis, me achava um babaca por isso e eu nunca entendi o porquê, sendo que ele deveria sentir o mesmo, já que tinha acabado de se casar com sua mãe. Mas quando eu achei que Olívia e eu poderíamos finalmente terminar juntos, ela sumiu de repente.

–Sumiu? – eu me lembrava das palavras da minha avó sobre isso, na carta, mas continuei com meu jogo.

–Sumiu e eu nunca mais a vi – ele respondeu – Encontraram seu corpo em algum lugar na floresta.

As palavras de Olaf pareciam querer esconder que, apesar de tudo, ele ainda sentia algo por Olívia. Talvez o ‘’até que a morte nos separe’’ deveria ser mudado algum dia. Não era totalmente verdade, Olaf mostrava isso. Talvez nem a morte separe algo forte o suficiente, para mudar uma vida.

–Eu sinto muito, Olaf.

–Não se preocupe, eu não sofri tanto – mentiu, mas eu fingi que acreditei – Depois de um tempo, você apareceu e eu tive que ser obrigado a ajudar a família a cuidar de uma criança que não parava quieta. Eu falava ‘’Hey, Alexis, fique sentadinha ai’’ e encontrava você, alguns segundos depois, perseguindo um gatinho da nossa vizinha.

Eu ri com aquilo. Mesmo Olaf estando triste, ele ainda era Olaf bem lá no fundo, de alguma maneira. E eu sabia que ele ficaria bem no final. Mas primeiro eu precisava dar um final para ele. Eu precisava garantir que ele teria uma chance. Infelizmente, se eu fizesse isso, não estaria ao seu lado para vê-lo o concretizar.

–E Jade? – perguntei.

–Achei que poderia ser uma nova chance, mas eu sou um Miller.

–E o que isso tem a ver?

–Não temos sorte nem em damas.

Ri mais uma vez.

Como Olaf conseguia ter razão e me fazer rir ao mesmo tempo?

–Preciso começar a me arrumar – eu disse – Ashley precisa de mim.

–Tudo bem.

Mesmo que um desejo incontrolável de me sentar ao lado do meu tio e ficar ali, me atingisse, eu apenas subi para meu quarto.

Olaf, assim como Ashley, precisava de mim.

E infelizmente, não era uma boa hora.

Quando a abri a porta do meu pequeno cômodo, eu estranhei. Parecia tudo tão diferente do que sempre foi. Tudo era estranho para mim, até mesmo o sentimento de que talvez tudo aquilo tivesse que ter um fim, um dia.

Coloquei algumas coisas em uma mochila e procurei pelo meu tênis branco. O encontrei debaixo da minha cama, o que foi uma droga. O tênis estava tão afastado da beirada, que eu tive me arrastar no chão para pegá-lo.

Quando levantei vitoriosa pela conquista do calçado, eu deixei meu tênis cair mais uma vez.

A imagem de um senhor, ao mesmo tempo ranzinza e poderoso, me deixou completamente sem reação.

–Como? – apenas disse para o sr Avery em minha frente.

Ele revirou os olhos.

–Você pode ver Olívia, certo? Então, pode me ver. Por que surpresa, garota? Estou tão bem vestido.

Não havia diferença nenhuma em sua roupa, mas não comentei isso.

–Por que esta aqui? Eu não entendo, só posso vê-lo em meus sonhos.

–Só pode ver a Horda, em seus sonhos. – ele corrigiu – É difícil falar com você com todo mundo junto, por isso usamos seus sonhos, mas agora não temos tempo para esperar você dormir. E, ultimamente, você tem nos bloqueado.

–Eu tenho?

–Sim, você tem – ele respondeu – Não conseguimos nos comunicar de nenhuma maneira.

–Como fiz isso?

–Se você não sabe, imagine eu.

–Olaf pode vê-lo?

–O depressivo lá embaixo, só pode me ver se eu quiser. E eu não quero.

–Por que depressivo? Olaf, está bem.

–Ele esta comendo uma torta e assistindo um canal sobre cobras. Se isso não é depressivo, eu não sei o que é.

–Certo, o que está fazendo aqui?

–Queria saber se você sabe sobre a solução da Maldição, como você tem nos bloqueado, não estamos acompanhando tudo em sua vida com muita clareza, apenas fleches rápidos.

–Vocês sabem sobre a solução para a Maldição?

–Sabemos – ele respondeu hesitante e eu sabia que o Avery não deveria ter falado aquilo para mim.

–Desde quando?

–Muito antes de conhecer você.

–Sabiam esse tempo todo? – coloquei alguns fios de meus cabelos para trás de minha orelha, enquanto o olhava raivosa – Sabiam que eu precisava morrer?

–Nosso plano, no começo, era prepara-la para esse dia.

–Como me preparar?

–Fazê-la aceitar seu destino.

–Você quer dizer me fazer aceitar a morte? – disse ainda mais furiosa. Estava claro. Como eu fui idiota?

–Não estamos brincando de bonecas aqui, Alexandra. Estamos batalhando. Quando descobrimos essa solução, não vou negar, foi uma glória. Apenas uma morte, salvaria a cidade de várias. Então, nos aproximamos.

–Por que eu tenho a impressão que tudo o que me envolve são mentiras?

–Só que conhecemos você, conhecemos sua alma, podemos fazer isso, sabia? – ele ignorou minhas palavras – Desistimos desse plano absurdo imediatamente.

–Não, não.

–Alexis, ainda acreditamos que você possa salvar essa cidade, ainda acreditamos que tem força para isso.

–Até você?

–É uma honra, eu sei.

–O que eu faço?

–Use o poder que nasceu junto com você. Eu sei que sabe muito bem que algo forte pulsa em você, ai dentro, apenas querendo sair. Faça algo para que ele saia!

–Qual meu poder?

–Não posso contar, isso poderia mudar o destino e não podemos fazer algo assim. Quero que tente, Alexis, quero que tente como nunca.

–Estou tentando.

–E, antes de ir, queria dizer que sei sobre Jessica.

Eu não falei nada, apenas fiquei encarando sua forma, quase transparente em minha frente. Parecia uma sombra e não uma pessoa mesmo.

–Não sei porque ela foi a atingida pela Maldição, mas quero que a salve.

–Eu? Como faço isso?

–William esta começando a se afeiçoar a Jessica, mas sabemos que o verdadeiro Hãnsel, tem uma queda por uma certa garota irritando e curiosa.

–O quê? Quem?

–Você, meu Deus, você – ele coçou os olhos e me encarou novamente – É só deduzir.

–Não é verdade.

–Apenas faça algo.

–Tudo bem, eu tentarei.

–Só, bem, só não morra. – então, aos poucos, eu estava sozinha no quarto novamente.

...

William e Jessica haviam saído para algum lugar, enquanto nos continuávamos a procurar por qualquer solução.

Quando eles finalmente chagaram, eu percebi que era hora de botar um plano que eu havia formulado, alguns minutos atrás, em prática. A única pessoa que sabia o plano era Ashley, quem prometeu me ajudar.

–Hey, Jessica, venha aqui – Ashley chamou a garota, que com relutância, se afastou de William. Quando Jessica chegou perto o suficiente, ela continuou – Que tal nos ajudar, um pouco? Sei que quer muito que essa Maldição acabe, então que tal provar? Venha, sente-se e me ajude com algumas traduções.

–E eu vou subir, já disse que não ficarei gastando meu tempo com coisas que não chegarão a lugar algum. – o Hãnsel, sem esperar qualquer comentário, subiu as escadas apressadamente.

–William! – Jessica gritou – Subo em alguns minutos!

Eu pensei que William não havia escutado, mas quando ele gritou ‘’Tudo bem’’, eu percebi que estava errada.

Animadamente, Jessica começou a ler alguns livros e eu me levantei. Henry olhou em minha direção, mas se manteve quieto.

–Ashley, Miranda fez um bolo de cenoura?

–Soube que sim – Ashley era péssima em fingir e não acreditei quando todos pareceram não ligar para aquela conversa.

–Acho que vou pegar um pouco. Quer também?

–Sim – ela respondeu e eu neguei com a cabeça disfarçadamente – Quer dizer, não, estou bem, obrigada.

–Tudo bem então.

Quando eu cheguei na cozinha, passei direto e dobrei em alguns corredores, subi uma escada pequena, logo depois uma grande e finalmente, parei em frente ao quarto de William.

A porta estava entreaberta e eu o vi sentando em uma cadeira, escrevendo alguma coisa em um papel pressionado em sua perna.

Abri a porta de uma vez só, antes que perdesse a coragem.

–Nossa, quando disse que era alguns minutos, não achei que fosse literalmente – ele falou, sem levantar seus olhos em minha direção, pensando se tratar de Jessica. – Ashley, vai te matar.

–Não sou Jessica – disse e ele me olhou no mesmo instante. Seus olhos me avaliaram por um momento e então ele colocou o papel ao lado.

–O que quer, Miller? Pode ser direta, por favor. Jessica chegará a qualquer momento, estou esperando por ela.

–Quero falar com você.

–Certamente isso me pegou de surpresa. Como eu poderia esperar que quisesse falar comigo, entrando em meu quarto, não é?

–É sério, William.

–Estou sério, Miller, muito sério.

–Amanhã é seu aniversário...

–Vivas para mim. Então, era só isso?

–E eu preciso falar uma coisa com você, antes de amanhã. – continuei – Antes que eu me perca com as palavras.

–O quê? – ele se levantou, devagar, de sua cadeira e cruzou os braços, rente ao corpo.

–Tudo o que me disseram sobre você, desde quando cheguei em Owens, me levaram a isso. Eu achei que você só era alguém que gostava de irritar e eu ignorei. Mas você é inteligente e tem sempre uma resposta para tudo na ponta da língua, o que é legal, porque eu gosto de desafios. Você era um alerta de perigo ambulante e eu me mantive no mesmo lugar mesmo assim. Eu realmente queria me afastar, mas eu achei que não deveria. E, não, não é apenas por eu ser a Híbrida. – dei alguns passos em sua direção e ele continuou parado em seu lugar – Eu sei que amanhã sua sanidade pode desaparecer completamente, mas que queria que soubesse – me aproximei ainda mais, deixando apenas alguns centímetros de diferença entre nossos corpos. Ele já não estava mais com os braços em sua frente – queria que soubesse, que, bem, eu gosto de você. Por mais que eu queira ignorá-lo, meus pensamentos variam entre você e as idiotices que fala.

William cerrou seus olhos em minha direção, mas não teve nenhuma reação, nem mesmo comentou nada. Então, com nervosismo, eu tomei a iniciativa pela primeira vez.

Grudei meus lábios com calma nos dele e esperei que William também fizesse alguma coisa. Depois de alguns segundos, ele finalmente me segurou pela cintura e me puxou para mais perto. Segurei em seus ombros fortemente e ele aumentou a força do beijo. Era quase desesperado, como uma despedida, como um adeus. Ele me empurrou para trás, sem parar de me beijar e eu senti a parede em minhas costas. Sua boca era macia e convidativa e eu quase nem conseguia controlar meus próprios pensamentos. Quem eu estava querendo enganar? Henry, não era o certo para mim, porque não existia certos, existia apenas errados e nesse quesito William ganhava de todos.

William era o errado para mim e por isso ele poderia ser perfeito.

Mas quando eu achei que realmente acreditava nisso, ele parou o beijo. Ainda sem se afastar de mim e com os olhos fechados, ele sussurrou:

–Pode chamar Jessica para mim, por favor? Vamos sair. Algo precisa ser feito e eu preciso que seja logo.

Sem esperar mais nada de sua parte, eu desci, desci furiosa cada degrau daquelas escadas e fui falar com Ashley na cozinha, sem nem olhar para Jessica. Eu não acreditava, não acreditava que depois de me beijar ele tinha chamado por Jessica! Isso era absurdo!

Depois de contar cada detalhe a Ashley, bem, não todos, voltamos para junto dos outros. A minha ‘’sorte’’ era que William e Jessica tinham acabado de sair e eu não teria que passar nenhuma tensão com os dois no mesmo cômodo.

Eu estava tão indignada que quase nem traduzi os textos do Livro e Georgia decidiu me dar um tempo. Mas eu não estava bem e quando, horas depois, o casalzinho perfeito voltou, eu me levantei e pedi para ir embora. Ashley concordou e disse que o resto do grupo poderiam fazer o mesmo. Passei reto por todos e nem me despedi de ninguém. E para piorar meu dia, percebi que tinha passado da hora marcada por Olaf. Deixei para lá, depois falaria com ele.

O resumo da verdade, era que eu me sentia humilhada de uma forma indescritível e percebi que realmente não adiantava o que fizesse, no final tudo sempre daria errado.

Afinal, eu era uma Miller e os Miller não tem sorte nem em um jogo de damas.

...

Olaf me deixaria de castigo para sempre.

Segundo meu relógio, já era meia-noite. Agora era oficial, um inferno maior ainda, começaria. E para piorar tudo, Olaf também era suspeito. Só que eu sabia que ele era inocente ou talvez acreditasse apenas.

Passei a tarde e a noite toda naquela casa e, mesmo achando coisas relevantes, não era uma grande vitória. Tudo que eu sabia era arriscado, mas o que poderia fazer? Estava mais enrolada nessa história do que se quer, a garotinha curiosa recém chegada em Owens que fui alguns meses atrás, poderia imaginar.

Minha vida estava realmente complicada, no entanto Olaf não sabia disso - até onde eu sabia ou achava - e eu não iria contar jamais.

Agora aqui estava eu, parada em frente a minha casa tentando inventar uma desculpa convincente e que me livrasse de um possível castigo.

Tomei coragem e entrei.

A casa estava silenciosa e estranhamente escura. ''Deve estar dormindo'' foi meu primeiro pensamento. No entanto, eu sabia que Olaf não dormiria até eu chegar, então, que droga estava acontecendo?

Talvez ele estivesse me esperando no escuro e quando, finalmente, eu ligasse a luz, ele apareceria e me daria um sermão como só ele consegue. Aqueles tipos de sermões que você sabe que não irá respeitar.

Sorri com aquele pensamento. Mas o sorriso se desfez quando eu liguei a luz e não o encontrei.

''Ele deve estar dormindo'' repetia para mim mesma.

Mas por que eu não conseguia acreditar nisso?

Alguma coisa estava estranha naquela casa. Era tão perceptível que acho que chegava muito perto de ser palpável.

–Olaf me desculpe, não queria ter chegado tão atrasada. Foi o trânsito - disse em voz alta. O trânsito, sério? Em Owens? - Quer dizer, não foi o trânsito, eu apenas estava na casa de Ashley ainda, resolvendo coisas de garotas. - parei no meio da sala, de frente para o sofá mas ninguém falou nada.

Escutei um gemido vindo da cozinha e a curiosidade falou mais alto que o medo. O que não era novidade.

Caminhei devagar para a cozinha, enquanto o gemido ficava mais alto. Um, dois, três, quatro, cinco, seis passos até chegar naquele cômodo e ver uma das piores cenas da minha vida. Me desculpe, a pior.

Tudo estava bagunçado, mostrando que ali tinha sido um tipo de palco para uma briga. Olaf estava deitado no chão, com uma faca enterrada em um dos lados da barriga e sangrava como nunca vi antes.

Ele gemeu de novo e percebi que estava vivo.

–Olaf! - gritei exasperada e fui para seu lado.

Ele queria falar alguma coisa, mas apenas gemeu de novo.

–Olaf? O que aconteceu? Por que esta me ligando a essa hora? Achei que estivéssemos brigados - era a voz de Jade e vinha do celular, que só agora, percebi se encontrar em uma das mãos de Olaf. O peguei

–Alô? Jade?

–Ah, querida - ela suspirou contra o aparelho - Foi você que me ligou? Achei que fosse Olaf. Ele não entende que estamos brigados e um casal que está brigado não conversa com frequência.

–Jade...

–Ele não entende, mesmo eu falando várias vezes.

–Jade, Olaf...

–É um crianção? Pode apostar.

–Jade, meu tio está sangrando aqui na minha frente - gritei - Ele levou uma facada, pode me ajudar, por favor? - falei o ''por favor'' com ironia. Ela não conseguia parar de falar só um minuto?

–Meu Deus, o que houve?

–Não sei, o encontrei assim. Chame uma ambulância e venha rápido.

–Estou a caminho. - e desligou.

Olhei para meu tio e o abracei.

–Não faz muito tempo que eu te achei, idiota - soltei mais seu corpo, com medo de machucá-lo ainda mais - Não me deixe agora, eu imploro. Você também não. Não vou aguentar. - chorei. Não tinha me permitido chorar, mas chorei. Chorei por medo de perdê-lo. Chorei por amá-lo. Chorei por tudo o que estava acontecendo .Chorei pelo idiota que eu ajudava, mesmo sem merecer. Chorei por mim.

Olaf gemeu de novo e abriu com dificuldade os olhos.

–Olaf?! - eu sorri - Você ficará bem, prometo. - ele estava respirando mais rápido agora, como se quisesse todo o oxigênio do mundo - Eu te amo tio, não me deixe. - pedi e ele me olhou surpreso. Normal, eu ficaria também, depois de ouvir um ''Eu te amo'' sair de minha boca, mesmo quase morrendo.

Ele soltou mais um de seus gemidos e me olhou com expectativa, depois sussurrou algo que não entendi.

Mais sangue continuava a sair dele e agora de sua cabeça também, no entanto parecia apenas que ele tinha batido com força.

– Não entendi o que disse Olaf, mas fique quieto - mandei - A ambulância está a caminho. Você vai ficar bem.

Ele era teimoso e falou de novo. Só que dessa vez, eu escutei.

–Wi...William - foi o que ele disse antes de desmaiar para uma escuridão, da qual eu não sabia se voltaria.

E quanto á mim? A raiva conseguia ser maior que a tristeza, naquele minuto. Ele me deve uma explicação. William, me deve.


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Notas finais do capítulo

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