O Garoto da Última Casa escrita por Bruna Ribeiro


Capítulo 30
Capítulo 29


Notas iniciais do capítulo

Olá, como vão?
Então, para as pessoas que estão ''Droga, essa história não vai acabar nunca''
Vai acabar, mas quando é uma coisa que não posso determinar. A história é assim mesmo, longa.
Beijos e boa leitura.



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CAPÍTULO 29 - APENAS TALVEZ.

Acordei com a luz da manhã, que entrava clandestinamente pela minha janela, incomodando meus olhos.

Olhei em volta e percebi que estava em meu quarto. Alguém deveria ter me carregado até ali, provavelmente Olaf.

Resolvi deixar minhas especulações para depois, já que estava faminta. Mas minha fome não se resumia apenas a comida, eu também estava faminta por respostas.

...

–Alexizinha, que bom que acordou, garota! - exclamou Jade, assim que entrei na cozinha. Jade parecia radiante, com seu vestido amarelo e com seu sorriso branco. Tomava café, enquanto lia uma revista, que depois percebi se tratar de arqueologia - Dormiu bem?

–Sim, eu acho - eu menti. As perguntas na minha cabeça pareciam não querer me dar um sossego, até mesmo na hora de dormir. Por que eu não havia sonhado naquela noite? A Horda não queria falar comigo? Sarah não queria? Até mesmo Olívia? - Onde está Olaf?

Ela parou de tomar seu café e me olhou de lado. Senti pena em seu olhar, mas me recusei a acreditar nessa hipótese.

–Ele ainda está chateado - ela respondeu, mesmo não sendo essa a pergunta. Acho que ela conseguia perceber muito bem meu olhar. - Olha, eu nunca vi ele desse jeito.

–Eu sei que falei o que não deveria, mas acho que não é para tanto. Já até me desculpei.

–Senta ai, Alexis - fiz o que ela pediu - Olaf é alguém em que você pode confiar, pode contar tudo, ele não julga, ele defende. Se você fala algo sobre ele, algo ruim, ele procura esquecer. Ele sempre me fala que odeia ter que se preocupar com coisas assim, então perdoa. Eu sei que no fundo ele perdoou você, pelo que disse, mas ele ainda esta muito chateado.

–Mas por quê?

–Alexis, ele ama você, ama muito, eu sei - disse simplesmente. Eu sei que já deveria esperar algo assim, mas ainda estava surpresa. Olaf me ama e eu o destruí. - Quando você disse que ele nunca fez falta em sua vida, ele se sentiu mal, se sentiu como um ser substituível. Ele me disse uma história uma vez, que me fez ficar muito impressionada. Sabia que quando você era um bebezinho e chorava a noite...

–Era Olaf que me fazia parar, não meu pai - conclui seu pensamento sem perceber.

–Ele falou isso a você?

Me lembrei que havia falado demais.

–Sim, foi ele - Não, não foi, mas não vou dizer mais nada.

–Viu? - ela colocou um pouco de suco em um copo e me ofereceu. Eu aceitei. - Agora que ele é seu responsável legal, sempre acha que está fazendo algo errado, algo que precisa ser melhorado. Mas Olaf é perfeito, ele não entende, e com esse briga de vocês ele ficou ainda mais paranoico.

–Você gosta dele, não é? - falei sem vergonha.

–Claro, ele é um grande amigo.

–Talvez até algo mais - continuei provocando, enquanto bebericava meu suco.

–Talvez... Ei, não pense besteiras - ela queria parecer raivosa, mas acabou rindo - Está tão na cara?

–Acho que já ouvi isso antes - pensei comigo mesma, em voz alta.

–O que disse?

–Que vocês dois são uma comédia.

–O que quer dizer?

–Que ele também gosta de você, Jade, mas também é medroso quanto a isso.

–Alexis, não.

–Jade, sim - rebati - Por que não tentam se entender?

–Porque quando se trata do amor, tudo é imprevisível. Você se apaixona pela pessoa errada, por alguém que esbarrou na rua, alguém que mal conhece. Ele sem duvida não gosta de mim.

–Pessoa são tão idiotas - comentei entre suspiros - Jade, vá atrás dele.

–Alexis!

–Vá.

–Tudo bem, eu vou - sorri com minha pequena vitória. Aquilo não me parecia grade coisa, mas pelo menos fiz algo que não machucasse Olaf. - Mas só depois que você se entender com ele.

–Quê?

–Vá se entender com seu tio - ela me disse e eu sorri torto.

–Nesse caso, não é tão simples - falei cabisbaixa - Ele não quer se entender comigo.

–Tinha que ver o olhar que ele lançou para você assim que te carregou até seu quarto, ontem - ela comentou - Foi um olhar paterno, quase de um pai mesmo. Ele te ama Alexis, ele quer mais que tudo se entender com você, só que é teimoso. Não perca essa relação.

–Tudo bem - levantei da mesa, decidida - Uma última coisa?

–Fale.

–Ontem, você e Olaf foram trabalhar, não é?

–Primeiro dia trabalhando, foi excelente, garota.

–Deixou Olaf alguma vez sozinho? - a pergunta me aterrorizava, mas eu precisava perguntar.

–Não, trabalhamos juntos o tempo inteiro.

–Nem um segundo?

–Nem um... Calma ai - ela levantou a mão, como se me pedisse para esperar - Nos separamos em uma hora, apenas. Eu tive que ir na prefeitura pedir autorização para o trabalho na cidade e Olaf me disse que ia encontrar uns amigos.

–Quando?

–De tarde - ela respondeu. Droga. Droga. Droga - Por quê?

–Achei que tivesse visto ele em um lugar.

–Acho que talvez seja ele sim.

–Não, não era.

–Ei, ei, ei. Você disse que achou que viu ele, Alexis? - concordei - Você saiu de casa?

Se existisse um concurso para garotas que falam demais, eu provavelmente o ganharia.

–Até mais, Jade, vou me resolver com Olaf - bebi rápido mais um pouco do meu suco e sai sem deixar ela falar alguma coisa. - Ah, um segundo - voltei para a cozinha novamente, assustando Jade - onde ele está?

–Conversando com Georgia, ela é bem sábia e conhece bastante sobre essa cidade, sabe? - com suas palavras, eu chamei um táxi e segui para a biblioteca.

...

Entrei na biblioteca e o sino soou.

Vi Olaf de longe, conversando animadamente com Georgia. Ele se virou, provavelmente para ver quem havia entrado na biblioteca, e nossos olhares se encontraram por um instante. Eu não consegui saber se aquele era um bom momento para falar com ele, já que ele desviou seu olhar rapidamente.

Cheguei perto dos dois.

–Então, acho que é isso, Georgia - ele falava - Ajudou bastante.

–Venha me visitar com mais frequência, Olaf - ela disse a ele - Estou com saudade do garotinho que você era.

–Não sou mais tão promissor assim - ele falou entre risos. E então se virou para ir embora. Nos esbarramos e ele pigarreou - Licença.

–Olaf, quero falar com você - disse. Tanto Georgia, quanto Olaf me encararam.

–Já estamos nos falando, Alexis - ele rebateu, frio - Continuamos essa adorável conversa em casa.

Ele apressou o passo e mal notei que ele já havia saído do lugar.

–Confio nele, sei que esse garoto não está contra essa cidade - Georgia limpava alguns livros, em um prateleira ao lado do balcão. Parecia nem se importar comigo ali, mas eu sabia que estava tentando me ajudar - Vá logo falar com ele, menina.

Então eu me apressei.

Praticamente corri entre as prateleiras e cheguei rápido a rua. Olaf dobrava a esquina e eu o segui.

Estava quase lá, quando escutei outra voz vindo daquela direção.

Me escondi atrás da parede, sem entrar na rua efetivamente. Olaf falava com as duas Aberrações da tarde passada e não parecia se importar com suas aparências terríveis e nem em ser visto com os dois.

''Eu confio em você, Olaf, eu confio'' falava em minha cabeça '' Mostre que estou certa, mostre que todos que confiam em você estão''

–Foi o que vocês falaram - Olaf disse, parecia entediado - Ela falou tanta coisa e ao mesmo tempo nada. Enrolou e enrolou.

–Eu disse, Olaf, eu disse - o mais baixo das Aberrações tomou a palavra. Se não me engano esse deveria ser Chuck. - Aquela lá quer encobrir pistas.

–Mas para quê? - meu tio perguntou.

–Conhece outras pessoas que pagam melhor - Chuck falou simplesmente - Mas e sobre...?

–Tudo o que sei é que precisamos matar a Híbrida - meu tio disse e eu estremeci. ''Não, Olaf, não'' - É o que temos que fazer. Enquanto ela estiver respirando, nossa vingança morre. Precisamos acabar com a esperança, antes que ela acabe com a gente - ele deu de ombros - Era o quê... - eu não ouvi o resto, sai correndo.

Provavelmente, eu só enxergo que erro em tantas coisas depois que as sofro. Não consigo pensar em consequências na hora que devem ser pensadas. Acho que não sou a única.

Corri pela rua, com os olhos marejados, e então não olhei na hora.

Um carro, vindo de algum lugar, apareceu na minha frente e me atropelou.

A força do impacto foi dolorosa, muito dolorosa.

Eu rolei pela rua, sentindo os arranhões se formando a medida que isso ia acontecendo. Senti minha cabeça girar e meu coração acelerar. Eu queria me mexer, mas era uma dor ardente demais quando tentava.

O carro preto que havia me atropelado, foi embora sem parar para me ajudar. E eu tentei memorizar sua placa.

Me virei de barriga para cima e olhei para o céu, em busca de consolo. Eu queria chorar, porque tudo doía; eu queria chorar, porque tinha medo de morrer; eu queria chorar, porque eu queria salvar alguma coisa na minha vida e eu nem mesmo conseguia me salvar.

Minha respiração se tornou irregular e meu olhos queriam se fechar. Por mais que eu tentasse me manter atenta, eles queriam me fazer dormir. Talvez nesse sonho, o qual estava prestes a sonhar, não houvesse ninguém para conversar sobre coisas estranhas comigo. Talvez eu apenas ficasse lá, sem ninguém, e principalmente, para sempre.

Fechei meu olhos e tentei repetir a placa mais uma vez na minha cabeça.

E então, não lembro de mais nada. Eu apenas me lembro do escuro.

Apaguei cercada de incertezas.

''Eu estaria bem quando acordasse? Eu iria acordar?''

Talvez sim, mas talvez não.

Apenas talvez.


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Notas finais do capítulo

Oi, você, isso mesmo, você. O que achou?



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