Páginas Esquecidas escrita por Napalm


Capítulo 11
Fuga do Coliseu


Notas iniciais do capítulo

Vamos lá! Novo capítulo. :D



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– Então, – O locutor anunciou, com aquele mesmo drama desnecessário. – Que comece a segunda luta de hoje!

– Vou quebrar seus ossos. – O gigantesco oponente rosnou para Felicia.

A garota esperou que Trazo avançasse. E foi o que ele fez, subitamente, o gigante disparou em direção a garota com uma velocidade inacreditável. Além dos passos largos, ele era muito mais veloz que o outro oponente. Antes que Felicia pudesse reagir, ela foi lançada metros de distância de onde estava pelo encontrão de Trazo. A multidão deixou um “uuh” escapar. A garota se levantava do chão.

– Parece que a garota não esperava que Trazo fosse tão ágil. – O lutador ao meu lado comentou. – Trazo é o verdadeiro campeão desse lugar. Hoje não tem pra ninguém, o prêmio já está garantido.

– Você fala demais. – Eu disse.

– Calma, minha cara! – Ele respondeu rindo.

Trazo avançava veloz novamente contra Felicia. Ela começou a correr em direção ao oponente também. Assim que se aproximou, a garota se deslizou por entre as pernas de Trazo antes que ele se sucedesse na tentativa de atacá-la e, com as adagas, desferiu um corte em cada uma das canelas do gigante. Ele caiu de joelhos. A multidão olhava estática e atenta.

– Essa daí fez seu dever de casa. É sabido que para vencer esses caras grandes, deve-se atacar a base: suas pernas. – O mesmo lutador ao meu lado comentou. – Mas não vai ser suficiente.

– Será que Trazo está bem? – O locutor perguntou.

Felicia aguardava em prontidão às costas do oponente, esperando que ele desse o pedido de rendição. Mas a única coisa que saiu de sua boca foi uma risada tenebrosa. Ele se levantou como se nada tivesse acontecido e se virou para encarar a lutadora.

– Você vê essas milhares de cicatrizes que tenho em todo o corpo? – Ele começou. – Espadas me cortaram. Flechas me perfuraram. Até tiros eu já aguentei. Acha mesmo que suas adagas iriam me fazer algum dano?

A plateia ovacionava e parecia cada vez mais satisfeita de terem pago pelos seus assentos.

Felicia subitamente atirou uma das adagas contra a face de Trazo. O gigante colocou a mão na frente a tempo para bloquear e a lâmina cravou-lhe a pele. Ele, sem parar de rir, retirou a adaga das costas da mão e quebrou com os dedos, jogando seus pedaços no chão.

Esse cara não é humano.

A garota parecia ceder ao pavor aos poucos. Alcançou a terceira adaga e se armou novamente com duas lâminas. Trazo, avançou com seus passos pesados e antes que Felicia conseguisse se distanciar ou fazer uma evasiva, ele segurou a garota com os braços, levantando-a do chão e a espremendo contra si. Ela começou a gritar.

– Não! – Eu deixei escapar, preocupada. Mas a garota violentamente acertou o queixo do gigante com a testa e, aproveitando que ele relaxara seu abraço, libertou-se com um dos seus e cravou uma das adagas no pulso de Trazo. Mesmo assim ele não a largou. Trazo a jogou para cima, segurou as pernas da garota ainda no ar e a golpeou agressivamente contra o chão.

Houve um momento de silêncio no Coliseu.

Felicia permaneceu imóvel, deitada de bruços com o rosto enterrado no chão. Sangue saia da sua cabeça.

– Você tem que dizer que desiste. – Trazo falou, impiedoso. A garota não se movia, tampouco emitia sons. Ele se aproximou do corpo caído e segurou a cabeça dela com uma das mãos, grande o suficiente para caber o crânio inteiro em sua palma.

E então, ele puxou a cabeça dela para cima e afundou de volta contra o chão.

O coliseu vibrava com a cena. Trazo continuava a repetir o ato agressivamente.

– Ela está inconsciente! – Eu clamei. – Se ele continuar com isso, vai matá-la!

O lutador ao meu lado simplesmente levantou os ombros.

– Ninguém vai fazer nada?! – Perguntei, incrédula.

– Ela tem que desistir…

Inspirei fundo e expirei.

– Eu espero que vocês todos morram.

E dizendo isso, corri para a arena.

Quando Trazo se preparava para golpear a cabeça de Felicia no chão outra vez, o surpreendi acertando seu braço com a espada. Ele recuou alguns passos, largando a garota.

– Parece que uma lutadora invadiu a arena! – O locutor anunciou.

Eu segurava a espada ensaguentada e o escudo, olhando para o monstro a minha frente, sem saber de onde eu havia retirado aquela coragem ou que havia cometido uma tremenda burrice.

– Essa luta já terminou! – Eu indaguei.

Trazo riu.

– Alguém a leve para a enfermaria! – Eu gritei, procurando ao redor por alguém que me atendesse.

Os homens que trabalhavam ali olhavam para Trazo, como se pedissem permissão para retirar Felicia da arena. Ele pareceu conceder e então eles subiram e levaram a garota para a entrada por onde Abadin havia saído no fim da outra luta.

– Não demorem. – O gigante disse aos homens. – Logo essa daqui vai precisar de curativo também. Ou de uma cova.

– A participante, adentrando a arena, se fez automaticamente voluntária para a terceira luta! – O locutor anunciou. A plateia vibrava. – Por favor, corajosa guerreira. Diga seu nome e se apresente à plateia!

Eu não teria a menor chance de vencer Trazo, mas a adrenalina em mim não me deixou entrar em desespero. Eu agora desejava aquela luta…

“Niele, não!” Uma voz conhecida soou na minha cabeça. Mas não havia sido ninguém que estivesse ali perto que havia dito aquilo. Talvez fosse minha consciência tentando me parar. Mas eu estava decidida. Falei em alto e bom som:

– Meu nome é Niele Maltie...!

E então eu vi o garoto de vestes negras na ponta da arena, olhando para mim com repreensão. Ele simplesmente andou até mim.

– Outro invasor? – O locutor bradou. – O que está acontecendo? Por favor, decidam-se. O Coliseu tem regras!

– Desista. – Emmet me disse.

– O que você está fazendo?

– Você acabou de botar tudo a perder.

– O quê?

Ele parecia se segurar para não me acertar com um soco.

– Você disse seu nome para toda a plateia. Em menos de um minuto a Corporação estará aqui.

Olhei pra ele desesperada.

– Eu não pretendia… – Comecei.

– Desista da luta e fuja daqui.

– Ninguém vai escapar da batalha! – Trazo gritou. Com passos pesados, ele começou a se aproximar de nós.

– Desista, Niele! Agora! – Emmet me intimidou.

– Eu desisto! – Eu gritei involuntariamente.

Houve uma vaia conjunta pela plateia, decepcionada com minha suposta covardia.

– Não! – Trazo gritou e avançou contra mim.

– Corra. – Emmet me alertou.

– E você?

– Vou limpar o que você sujou.

E antes que Trazo me alcançasse, Emmet o acertou com um soco na barriga, fazendo o gigante ser lançado para onde havia saído. Pude sentir que todo mundo ali ficou pasmo.

Que força descomunal!

Os capangas de Targo já estavam entrando na arena para resolver a bagunça, mas depois do golpe de Emmet, eles se retesaram e resolveram ficar aonde estavam.

– Eu sou Emmet Valaanis. – Emmet disse logo em seguida, para que o Coliseu inteiro ouvisse. – E serei voluntário para esta luta.

A plateia vibrava, gritando como loucos viciados em violência.

– Niele! – Emmet bradou, apontando para um nível mais alto do Coliseu, mais especificamente o nível de entrada, onde alguns guardas do Outro Continente emergiam com suas armas empunhadas. – Vá logo!

Consenti e me virei. Corri para fora do local, passando pela multidão de lutadores que me olhavam curiosos. Um dos guardas da Grande Cidade apareceu em meu caminho. Apontou a arma contra mim e rapidamente tomei a curva a esquerda, que dava numa escada que eu tinha esperanças que me levasse a uma saída alternativa. Assim que alcancei o fim da escada, Reeve me esperava escondido na mureta que circundava a escadaria e me avisou para que se escondesse ali. Quando o guarda surgiu das escadas, Reeve subita e valentemente o golpeou com um pedaço de madeira no rosto. Aproveitei que ele havia ficado desnorteado para empurrá-lo escada abaixo. O guarda rolou até o fim da escaria e despojou-se no chão inconsciente.

– Reeve, temos que pegar a chave.

– Fergo e Jess estão cuidando disso. – Ele me falou, respirando com dificuldade – Temos que correr para a lancha. Eles vão nos encontrar lá.

Balancei a cabeça afirmativamente.

– Um minuto, espere aqui.

Reeve desceu as escadas e apanhou a metralhadora que o guarda trazia consigo. Voltou correndo pelos degraus.

– Eles vão vir lá por baixo. Venha por aqui.

Reeve então me conduziu por mais um lance de escadas. Um dos guardas nos avistou do local aonde estávamos indo e começou a atirar contra nós. Desviamos pelo corredor e continuamos a correr o máximo que podíamos.

– Conhece esse caminho?

– Não, mas espero que tenha saída.

Felizmente alcançamos uma escada metálica presa a parede que dava numa abertura no teto. Eu subi na frente, jogando a espada e o escudo no chão para me mover mais agilmente. Aquela armadura ainda me atrasava, mas não daria tempo de retirá-la. Então subi pelos degraus e pude ouvir Reeve atirando contra alguém lá embaixo. Ele subiu em seguida.

– Não o acertei. Melhor corrermos.

Consenti e disparamos juntos para fora da saleta que estávamos, que parecia ser algum tipo de depósito. A porta de saída, contudo, estava trancada.

– Está lacrada por fora.

Subitamente, ela se abriu. Jess nos esperava do outro lado, com a tábua de madeira que travava a porta na mão.

– Como sabia que estávamos aqui? – Perguntei com gratidão, a abraçando.

– Eu não sabia, só ia usar esse pedaço de madeira como arma.

– Cadê o Fergo?

– Foi pro camarote do Targo pegar a chave. Ele me mandou cuidar da retaguarda, mas apareceram vários guardas do nada! Eu gritei pra ele que a coisa tinha ficado feia e ele me mandou fugir!

– Temos que ajudá-lo. – Eu falei.

– Por aqui! – Jess disse, disparando em nossa frente. Seguimo-a até o fim do corredor e viramos a direita. Corremos por uns trinta segundos um longo caminho, quando nos deparamos com vários guardas da Grande Cidade caídos. O local também estava todo inundado com gás.

Então, Fergo surgiu da fumaça, encapuzado completamente por sua túnica.

– Estou com a chave! – Ele anunciou. Protejam-se do gás e corram o máximo que puder!

Ele saiu correndo em nossa frente e então pusemo-nos a segui-lo. Passamos pela entrada da gruta e chegamos ao cais, enfim. Era possível ouvir passos, dezenas de passos, vindo logo atrás.

– Fergo, ligue a lancha! O tempo está acabando.

– Não será possível. – Ele respondeu. Eu o olhei sem entender.

Fergo retirou uma pistola de sua túnica e atirou contra Reeve. O sangue do garoto espirrou em mim enquanto ele desabava no chão. Jess soltou um grito. Por um instante, fiquei estática. Aterrorizada.

– Não! – Eu gritei e corri em socorro de Reeve. Segurei sua cabeça em meu colo.

– Reeve! Reeve!

Ele não me respondia.

Ele não respirava.

Antes que eu pudesse ter outra reação, Fergo atirou contra Jessica também. Ela caiu de joelhos, sangrando pela barriga onde o projétil a perfurara e desabou com o rosto no chão.

– Não! – Foi o que eu pude e consegui gritar. – Não! Não!

Isso é um sonho. Por favor, diga que é um sonho.

Fergo apontava a pistola agora contra mim.

Eu o encarei.

Um segundo pareceu uma eternidade enquanto nos olhávamos.

No próximo segundo, pulei em direção a metralhadora que Reeve havia trazido consigo, conseguindo desviar do tiro de Fergo.

Quando alcancei a arma e me virei contra o garoto, ele já havia me acertado ao colo. Senti meu sangue escorrer para dentro de minhas vestes.

E tudo se escureceu.


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