Bravado escrita por Ledger m


Capítulo 1
único




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bravado;

I'm thinking glory
Lick my lips, toss my hair
And send a smile over
And the story's brand new
That I can take it from here

;;

Tocou o tecido languido com a ponta dos dedos, sonhadoramente.

Sorriso estonteante para a beleza do vestido cobrindo sua pele. O vento gracioso da noite lhe dá arrepios de prazer, e sua pele brilha sobre a cor púrpura da textura. Tudo ao seu redor representa algo de bom, as luzes dançando, azul, rosa, amarela, verde, misturando-se sobre o teto, chão e paredes, como um arco-íris reluzente, música conectando-a com a melhor parte do seu ser, aquela que deixa as notas entrarem por seu ouvido para ser carrega, ter os pés tirados do chão e apenas ser ao som de um ritmo. Risos, beijos molhados, o roçar dos corpos, felicidade, deliciosos, bebida deslumbrante.

Não consegue lembrar-se da sensação de não sorrir, parece-lhe estranho pensar em um tempo em que não o fazia. Para sua surpresa, seu sorriso poderia ser ainda mais largo e sincero. Talvez tenha o sentido antes de tudo, pois o sangue corre mais doce e rápido em suas veias antes mesmo dele aparecer em sua frente. Ainda tão distante. Ela consegue reconhecê-lo pelo modo como ele põe a mão dentro dos bolsos. Ele não parece nervoso – ele nunca parece nervoso. Ele é daqueles que sabem o que dizer e quando dizer, ele usa óculos mesmo quando não necessário e ri de tudo que ela fala. Ele ainda sim, porém, apenas olha para a pista de dança analiticamente, olhos sonhadores como os dela, que combinam, que caçam estrelas.

Ele obviamente procura por ela. E ela quer que ele ache-a. Para tanto, põe-se em movimento. Passa por entre pessoas (ela tem vontade de parar e olhá-los, analisar seus sorrisos e seus ritmos alucinantes, saber o que lhes dá prazer). A música, sua batida é seu guia, e ela ri ao atravessar a pista de dança, já tão desesperada para vê-lo de perto e arrastá-lo pelas mãos para se juntar a ela. Ele não gosta de dançar tanto quando ela, ele prefere observá-la dançar, dissera uma vez, ao seu ouvido numa noite inesquecível.

Quando está perto suficiente, ele finalmente mostra o seu melhor sorriso ao destacá-la meio ao caos. Ele rapidamente marcha ao seu encontro, e ele não dança ao som da música como ela, ele ignora o barulho para tê-la mais depressa.

Ela beijara aqueles lábios há menos de três horas, tinha certeza, em seu quarto sobre cobertas e promessas de amor, mas é como se fosse beijá-lo pela primeira vez, naquela noite de baile. Seu amor está, então, perto de vez, e ela joga os braços moles de amor oxigenado sobre os ombros dele, enquanto ele leva as mãos para suas costas descobertas, a ponta dos dedos quente sobre a pele fina lhe faz fechar os olhos. A escuridão por debaixo das pálpebras a deixa mais atenta, ela consegue sentir os fios de cabelo enrolados roçarem contra seu pescoço, a respiração rápida dele sobre sua clavícula, as mãos tocarem a extensão de suas costas, sabidas, e mesmo acostumadas, ele ainda a segura com medo de perdê-la, como se fosse desaparecer como fumaça.

Levanta o queixo dele com as mãos para beijá-lo, e tudo se encaixa, parece ser a primeira vez, é tão bom quanto, mas agora é ainda melhor, pois ela já beijara aqueles lábios incontável vezes - uma vez beijou-lhe para cada estrela contada no céu. É molhado e necessitado de uma forma que só os apaixonados conseguem, lento, faminto, línguas e sussurros entre o espaço que sobra.

Ela imaginou que já o amava muito antes, quando o observava no fim da sala de aula, desligado ao mundo exterior, sem preocupações. Ele sempre tão superior, intelectual demais para a se enturmar com os seres humanos, principalmente aquelas que jogam vôlei. Ela pensou que ele talvez tivesse uma lista de pessoas para se ter desprezo mímico e sutil, como só ele com aquela superioridade cabida conseguiriam ter. Talvez ela tivesse o amado muito mais quando se tornou parceira de laboratório dele. A última mesa. No começo eles não conversam, mal se olham nos olhos.

Ela, porém, não se contém ao inclinar-se, aulas depois, um pouco demais, e suas pernas tocam por debaixo da madeira. Eles não se movem a aula toda.

“Porque você não me beija aqui?” ela pergunta meses depois, o olha desafiadora, querendo tirá-lo daquela calma e solidez aparente.

Ela sente satisfação ao saber que é a única que o vê corar, gemer, rir até seus olhos se comprimirem. Ele é de fato dela agora, mas ninguém sabe disso, e ela está cansada. Cansada de ter que esperá-lo no banheiro feminino do segundo andar para poder tocá-lo, beijos roubados em segredo e no escuro de algum canto do prédio escolar. Ele não fala muito sobre os próprios sentimentos, ele não admite gostar da jogadora de vôlei.

“Não,” ele retruca, ele sorri levemente, e o carinho com que ele a encara é quase demais.

“Porque você não diz logo que quer me beijar aqui, para todo mundo ver?”

“Porque eu não quero,” ele dá de ombros como se de fato fosse exatamente isso que ele quer.

Ela gargalha. Aproxima-se dele, vê que ele também a desafia. Não desgruda os olhos do dele ao ir quebrando os centímetros entre eles. Ela está tão perto, e para, e sorri. Ele não parece se incomodar, apenas molha os próprios lábios, perdido encarando os dela. É ele quem faz o último movimento e fecha o espaço entre eles. É simples, encostar de lábios firmes.

Ninguém parece notá-los no fundo. “Você me ama,” é o que ela diz, encostando suas testas.

E ele não nega.

Naquele exato, ela imaginou que o amava completamente. Por isso o sentimento de tê-lo em seus braços naquela noite é embriagante, porque ela sente que está mais apaixonada. Ela o ama tanto. Pensa se daqui a três anos, seu amor cresceria ainda mais ao ponto de fê-la explodir como um balão.

“Eu quero você para sempre,” ele parece cantar em seu ouvido.

Ao seu redor, tudo não passa de um borrão: com ele sempre fora assim, quando ele fazia sentir-se sozinha no mundo, mas nunca solitária, como se ela fosse o mundo dele daquele dia em diante. Era como estar em baixo d’água, a música torna-se fraca e barulho de fundo, a leveza do corpo e os movimentos em câmera lenta. Ele toca no cabelo loiro emoldurando seu rosto e ela sorri como uma criança, inclinando-se ao toque como um gato atrás de carinho.

“Eu sabia que você estaria linda,” diz docemente, baixinho.

Ela quer rir do jeito dele, ainda tão estranhamente reservado entre outros; ela está tão acostumado a tê-lo entregue.

“Dança comigo,” pede ela.

Ele balança a cabeça, os cachos acompanhando o movimento. “Licinha,” o nome soa como um aviso derrotado.

Ele nem queria ir ao baile. Ela o convidara uma noite no pátio da escola, à noite depois de um jogo de futebol. “Vem comigo ao baile”. Ele riu dela zombeteiro.

“De jeito nenhum.”

Ele sempre tinha que manter sua postura, e ela sempre queria puxá-lo para mais perto de si.

“Por que não?”

Ele rolou os olhos. “Eu não vou dançar. Pode esquecer.”

Tão cheio de si ele, ela sempre ria com leveza dos jeitos dele. Apaixonada demais até para irritar-se com a persistência dele em manter aparências.

“Você vai comigo, e vamos dançar a noite toda e você vai amar.” Ela dissera, e ela dizia com tanta convicção sempre, que ele sentia um frio na barriga.

Ele a olhou de olhos cerrados, depois arqueou uma sobrancelha. Não iria negar isso a ela, ele sabia, e ele queria ir, o que também sabia. Passou um braço sobre os ombros dela, beijou-lhe o topo da cabeça.

“Você é engraçada quando quer alguma coisa, parece uma criança,” brinca, segurando-a mais contra si. Ela tenta desvincular-se dele apenas porque, mas ele aperta a ponta de seu nariz e planta mais um beijo amoroso em sua orelha.

Ele dança com ela por horas, querendo amá-la e deixá-la feliz o tanto quanto pudesse. Ela dança ora desastrosamente, jogando as mãos para o alto, pulando, ora colado contra ele, balançando o quadril e murmurando a música. Ela ama música tanto que às vezes ele sente ciúmes da ligação.

“Vem comigo lá fora,” pede ele, segurando o rosto bonito entre suas mãos.

“Sim,” ela diz, com confiança e direta, suave.

Dedos entrelaçados, ele a conduz para longe da multidão. O mundo vai ficando cada vez menor para ele, longe e insignificante. Atingem a grama do lado de fora. Ela logo tira os sapatos de salto alto do pé, sente o verde entre os dedos como alguém que o faz pela primeira vez, e ele a fita, fascinado com sua personalidade. Ela é tudo, ele pensa. Ela é tudo mais do que ele jamais pensou em ser. Inalcançável.

“Eu amo você,” diz para ele, e o silêncio é apenas cúmplice. A luz da lua também; branca, banhando-a, ele pode ver a áurea ao redor dela, tão chamativa e quente. Ele é dela e ela é tudo.

Ela caminha sobre a grama dizendo as maiores bobagens que ele já ouviu, em como ela quer voar, que ela inveja os balões e a liberdade voadora deles, e coisas que o faz ter borboletas no estômago, do modo mais patético que um ser humano pode ter. “Eu quero me casar com você.”

Tudo que ela lhe diz em sua confiança glorificada, não lhe parece uma promessa, um desejo, é apenas uma questão de tempo.

Ele não costumava acreditar. Ele não sabe ainda se acostumou a amar livremente, dizer livremente como ela. Nos braços dela, entretanto, ele sente que pode ser qualquer coisa. Que ele pode desbravar o mundo.

E quando ele diz exatamente isso a ela, de forma inesperada e poética como só ele poderia, ela responde como só ela poderia.

“Haverá sempre um mundo para nós, um mundo em que os sonhos são nossos, e cada beijo será um novo começo.”

Ela virou-se, rodando seu vestido como nuvens e estrelas. Perdeu-se nela, em devaneios de um sonho, enquanto pensava nas felicidades de suas próximas pós-madrugadas ao lado da dona de seus pensamentos libertadores.

end


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