Apenas um olhar escrita por Eubha


Capítulo 115
Capítulo 115:


Notas iniciais do capítulo

Estive bastante sumida daqui devido a falta de tempo, por isso deixei as atualizações de lado. Sinto muito por ter feito todos esperarem, sei que é chato essa espera toda, por isso peço desculpas pelo descaso, mas está aí mais um capítulo.. Muito obrigada a todos!!!!



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Continuação...

O olhar estupefato que Ben lançava para Anita dizia tudo, ele não sabia o que fazer, perdida em encará-lo a garota também não tomava a atitude de se pronunciar.

– O Ronaldo, creio que ele não esteja, acho que eu posso ir embora. – o hondurenho os fala severo, pensando em abortar a procura pelo pai de Ben, a essa altura também talvez nem lembrasse mais o que queria com o homem, tamanha era seu jeito pasmo com a cena inesperada que contemplou.

– Hernandez, eu posso explicar. – impulsivo e percebendo que tinha que tomar alguma atitude Ben tenta argumentar.

– Será mesmo que pode Ben. – Hernandez retruca com ironia, não escondendo que não estava nem um pouco satisfeito, nunca imaginou que veria um dia o garoto que tanto conhecia tomando tal atitude, para ele, a única coisa clara, era que tanto Anita quanto Benjamim, faziam seu filho mais novo de idiota, e além do constrangimento pela cena, não pareciam a mais incomodados com isso.

– Nem tudo é o que parece. – Anita se intromete decidida a não deixar o homem condená-los sem ouvir a verdade... A verdade que ela lutava para disfarçar a todos durante um bom tempo que ela já nem tinha noção exata de quanto era.

– Claro, você não beijava o Ben, Anita é isso. – hostil o latino joga indireta. – Não pensei, não imaginei na verdade, que logo você seria capaz disso com o Tony, ele sempre fala tão bem de você desde sempre, garante que você não é igual às outras meninas, que não é leviana com teus sentimentos, pelo que eu vi... – acusa o padrasto de Ben, e mesmo sabendo que a situação não era bem aquela, Anita não conseguiu ficar imune ao constrangimento que sentiu.

– Hernandez eu... – perdida e confusa Anita não soube como se defender, talvez o veredito fosse aquele mesmo, ela já estava sendo condenada como culpada.

– Não fala assim com ela, eu não admitir, você não vai falar assim dela, eu não vou deixar. – Ben indignado com o que ouvia, só soube sentir raiva do jeito cheio de si do latino. – Você não sabe de nada, a história não é essa. – tentou argumentar ele, no momento que se posta um pouco à frente da garota.

– O que eu sei é o que eu vi Ben. – Hernandez teima em dar razão para suas certezas.

– O Antônio não é quem você pensa, e por mais triste que isso soe essa é a verdade, você não conhece o Antônio. – taxativo Ben procura argumentar.

– Tem razão Ben, eu não conheço ninguém mesmo, achava que conhecia você, mas agora presencio você aos beijos com a namorada, noiva do teu irmão. – ofendido Hernandez rebate a altura, sem acreditar no que ouvia, e julgando totalmente absurdo Ben acaba lançando um sorriso de pura ironia ao homem, enquanto Anita mal respira diante do que acontecia. – O Tony sempre detestou traição. – alega ele.

– Porque ele trai os outros, sem culpa alguma, porque usa todo mundo. – Ben o interrompe com ria. - Pois que se dane o Antônio tá bom. – Ben sem paciência ruborizou. – Eu não vou negar, eu tava beijando a Anita sim, só que ao contrário, ele não é a noiva do Antônio, ela ainda é a garota que eu amo. – declara ele, cansado de mentiras.

– Eu não entendo. – discursa Hernandez atônito.

– Para de defender o Antônio Hernandez, deixa ele quebrar a cara, deixa ele responder pelas burradas que faz, ele se intrometeu na minha vida, ele infernizou meu namoro com a Anita, como se não bastasse uma primeira, fez isso uma segunda vez. – acusou Ben, disposto a trazê-lo para a realidade que ele desconhecia ou simplesmente ignorava porque queria. – Quem será mesmo que roubou a namorada de quem aqui, porque há não muito tempo atrás a Anita namorava comigo, você compra os devaneios do Antônio, você tá ficando pior que ele. – Ben não o poupa, estava cansado de ouvir de todos os lados os julgamentos tortos que recebia sempre, por sua relação com a garota, talvez há muito tempo havia tido seu limite, mais só agora parecia ter consciência e forças para atropelar quem fosse, que viesse com falsas certezas para cima de si.

– Eu vou embora, não tenho que escutar nada. – o homem se confunde e sem saber no que acreditar resolve ir embora.

– Não Hernandez espera, eu ainda... – sem ser ouvido, Ben somente o viu saindo pela porta.

– Isso não podia ter acontecido Ben, ele não vai acreditar na gente. – Anita lamenta, ao temer o que aconteceria.

– Eu vou falar com ele, fica tranquila tá. – afirmou Ben, sem desistir de contar a verdade ao padrasto. Assustada e sem saber o que podia vir a acontecer, Anita só o viu sair atrás do hondurenho.

– Hernandez, espera... - Por favor. – Ben corria pela rua tentando alcançar o homem que não cedia, apenas continuando a andar apressado. – Espera, você tem que me ouvir. – argumenta ela sôfrego, o alcançando.

– Eu não... – Eu não vejo... – relutou Hernandez, mal sabendo como se expressar.

– Não, a gente tem que conversar, você precisa me ouvir. – insistente o rapaz alegou.

– Ok. - perdido no “mar” de pensamentos sem nexo que passavam por sua cabeça o hondurenho acabou cedendo.

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– Bom eu realmente não sei por onde começar, é tudo muito confuso. – confessa Ben, sentado de frente para o padrasto no quartinho de Omar, que parecia ser o único lugar calmo no momento para que os dois pudessem se falar sem serem interrompidos.

– Pois fale, não insistiu tanto comigo. – o latino respondeu não muito cordial, não via como Ben poderia se justificar pela atitude que o viu tomando, também ajudado por Anita, decisão cuja ele julgou que seria muito dolorosa e injusta com Antônio que não merecia.

Antes de falar qualquer coisa, a respeito do assunto confuso que começaria com o homem, Ben se viu apenas suspirando profundo e cansado de toda situação. – Eu... – O que você viu, foi o que você viu. – iniciou ele nervosamente. – Eu estava beijando a Anita, nós dois estávamos, a gente se ama. – Ben não tenta contornar o que já era óbvio.

– Ah sim. – Hernandez não conteve um sorriso com ironia. – Então me explique uma coisa, porque terminaram, porque a Anita se aproximou do Tony, o iludiu com essa história de noivado, porque pra ele é sério, muito... – Já pra ela. – acusou o homem inconformado com a forma que Anita e Ben faziam seu filho mais novo de idiota.

– Porque ela foi obrigada por ele, não é possível que você não perceba realmente, que pessoa é o Antônio. – alterando o tom de voz Ben não esconde sua revolta, com toda ingenuidade do padrasto. – Ela não queria terminar comigo, foi tudo um plano do Antônio, com passes muito bem arquitetados. – despejou o rapaz sem se conter.

– Como? – Como? – Hernandez não consegue acreditar.

– Sendo Hernandez, o Antônio nunca desistiu de ter a Anita perto dele, com um objeto, um troféu que provava que ele tinha me vencido, ele achava que tinha conseguido com aquele inferno que ele causou por conta do vídeo, só que ele se enganou, nós dois voltamos, só que nem mesmo assim ele desistiu, ao contrário teve muito tempo pra pensar no que faria, ele tá chantageando a Anita, alegando que se ela se aproximar de mim, ele vai me matar ou sei lá. – contou o garoto visivelmente perturbado.

– Isso só pode ser uma brincadeira, não é possível, como que, eu não creio. – Hernandez fica tenso e perplexo. – O Antônio é meu filho, eu o viu crescer, ele é só um menino, que passou por muitas coisas difíceis, ficou com receio da vida, se isolou, mas isso. – o homem fala arrasado e descrente.

– Me desculpa por ter que estar te dizendo isso tudo, mas você precisa enxergar a verdade, não dá mais... – Ben se sente penalizado, mas não vê outra alternativa, Hernandez precisa acordar. – Esse Palhares, quem é ele, porque pai do Antônio a gente sabe que não é, você sabe o que ele faz pra cima e pra baixo com esse cara. – ele pergunta direto.

– Não, mais, eu sei que era difícil o Tony saber que era o verdadeiro pai, mas quem sabe ele, hoje em dia, o mundo é tão diferente, do que era há 17 anos trás quando a Sheilla teve ele. – o latino reluta absurdamente confuso.

– Hernandez essa cara é um bandido, e tudo me leva a crer que o Antônio sabe que ele não é pai dele, é um jogo mutuo onde os dois se usam pra terem o que eles querem. – Ben discursa taxativo. – Se você contar o que você viu pro Antônio, eu não vou ter opção e nem ele. – afirmou ele tomado por apreensão.

– Como você está me pedindo o que? – Que eu deixe você e a Anita o enganar, ele é meu filho Ben, eu estaria o traindo também. – Hernandez rebate sem saber o que fazer. – Você diz que... – A Anita terminou com você porque o Antônio exigiu, então vocês dois nunca terminaram de fato, ela mentiu pra ele desde sempre, o noivado isso... – o homem cobra uma explicação.

– Não, a gente terminou sim, mais eu não iria me convencer que da noite pro dia, ela tinha resolvido se afastar de mim, antes disso ele já tinha ficado mandando umas cartas anônimas pra Anita, ameaçando. – Ben esclarece. – Só que eu não achei tudo muito estranho, aí ela acabou contando toda a verdade, a gente tem se visto muito pouco só que eu nunca me afastei dela, mais o Antônio não sabe, mas se você contar... – diz o garoto impaciente.

– Ai você quer, que eu compactue com isso. – retrucou ele de forma sarcástica.

– Não, você tem razão, você pode contar, a escolha é tua afinal não é, se bobear também você vai ter que plantar uma dúvida muito maior do que um simples beijo, na cabeça maluca do Antônio. – Ben fica sem se controlar. – Mais como eu te disse eu não vou ter outra opção, eu não vou deixar o Antônio enlouquecer a Anita, como ele está tentando fazer, aliás, pela segunda vez não é. – esbraveja Ben, enquanto o homem só lhe encara atento. – Eu amo a Anita, com a minha vida, eu faria qualquer coisa pra proteger ela, e se o Antônio se diz sem nenhum escrúpulo, que ninguém importa pra ele, ele pode descobrir que eu também não tenho nenhum, eu não vou deixar ele fazer mal pra ela. – garantiu ele categórico.

– Você está querendo me convencer de que o Antônio é alguém mau caráter, sem a menor compaixão por ninguém. – Hernandez apenas vê tudo que ouviu ali ecoando em sua mente.

– Eu estou te dizendo com todas as letras, porque é a verdade. – reafirmou Ben procurando se manter tranquilo, mas se sentia sem conseguir.

– Eu não vou falar nada, por enquanto eu nem consigo digerir isso tudo, quem dera... – Contar seja lá o que for. – pronunciou o latino se erguendo sem rumo.

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– Pai será que a gente pode falar, acho que eu preciso falar com alguém antes que... – Ben abordou Ronaldo no balcão, que cuidava do restaurante.

– Antes que o que garoto, Ben que cara é essa. – Ronaldo o encarou soltando os papéis que lia sob o tampo do balcão, só conseguindo entender que o garoto estava bastante aflito.

– Acho que eu fiz besteira e agora eu não sei o que vai acontecer, porque também eu não to aguentando mais isso tudo. – revelou ele impacientemente.

– Ah você acha somente. – Ronaldo ironiza impaciente, já temendo o que ouviria. – O que aconteceu de novo agora, posso saber. – mesmo sem querer ele se preocupa.

– O Hernandez, me viu beijando a Anita. – desabafou ele.

– Beijando, como beijando? – Ronaldo de tão nervoso parece necessitar de uma confirmação para entender.

– Beijando pai, o pior é que eu não sei se ele não vai acabar mesmo falando pro Antônio, ele não consegue enxergar quem é o Antônio de verdade. – Ben rebate, com sua mente sobrecarregada com tanta aflição.

– Vocês dois, não podiam ter deixado isso acontecer, aliás, eu nem imagina que vocês não tinham se separado de fato. – se preocupa Ronaldo em meio a bronca.

– Também isso não interessa agora, a verdade é que eu não aguento mais minha vida desse jeito. – Ben acaba revoltado. – Minha vontade mesmo é ir lá e contar, eu mesmo pro Antônio. – afirma ele um tanto transtornado.

– Pois isso também não resolve nada Ben. – Ronaldo retruca incomodado.

– E o que resolve então, porque eu já não sei. – Ben afirmou com o olhar cabisbaixo, o jeito desolado fica evidente.

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– Oi o Omar me deixou esperar aqui. – Anita explicou apreensiva, quando viu Ben entrar pela porta. – Você sumiu. – ela indagou, mas o garoto apenas continuou a se deslocar calado.

– É eu, tive que dar uma volta pra esfriar minha cabeça, se é que eu consegui. – respondeu ele ainda tenso.

– Eu imaginei. – ela retrucou em misto de estresse e ansiedade.

– Se você veio aqui saber se o Hernandez. – interrompeu Ben ao supor. Sua mente parecia estar exausta para dialogar sobre o assunto, e tudo era pior, ao pensar que a única preocupação e medo de Anita, era que Antônio soubesse de toda verdade, e não o fato de que os dois pareciam não ter mais poder de decisão a respeito de suas próprias vidas, e em como se afastavam cada vez mais e mais...

– Não, eu não seria tão insensível assim, de achar que disso depende a minha vida. – diz Anita sem disfarçar o tom de ofensa. - Acho que eu cansei disso tudo. – profere ela bastante agoniada. Mesmo medrosa, também não parecia disposta a disfarçar mais nada.

– Ai eu pra falar a verdade, acho que faz tempo. – o garoto retrucou, sentindo que o desconforto que sentiu após a queda no bosque, poderia ser mais sério do que pensou no momento, quando levou a mão nas costas novamente, ao fitar a garota perdida em pé a sua frente.

– Que foi. – ela indaga ao ver que tinha algo a mais lhe incomodando.

– Nada não, acho que eu me subestimei só isso. – Ben afirmou sem dar muita importância.

– Você se machucou de novo, por minha causa. – penalizada e com o sentimento de culpa lhe corroendo por dentro e nem sabendo qual era o outro sentimento que lhe dominava e lhe aterrorizava tanto, Anita sentou a cama sem saber que rumo percorrer, horas antes havia prometido a si mesma e a Ben, que não esmoreceria diante de tudo, mas mais uma vez algo inesperado a atropelou, e ela se via completamente incapaz, apenas tendo que lidar com a dor da perda e da saudade que sentia, apenas sabendo que no fundo estava perdendo e magoando a única pessoa que lutaria por ela independente de todo resto, que não a julgaria, .

­ - Olha é... – ele sentou ao lado dela também perdido. – Calma, por favor. – suplica, como uma última tentativa de fazer Anita desistir em ficar remoendo seus devaneios e anseios, até constatar mais uma vez que não teria mais forças pra nada. - E desespero não vai resolver também. – disse Ben em um tom amargo.

– É, não muda. – angustiada Anita suspira, sem olhar para ele. – O Hernandez vai dedurar a gente, ele acha... – Eu, que eu, o Antônio. – confusa ela profere. – To traindo o Antônio. – O que? – O monstro sou eu agora, não dá pra aguentar, tá dando muita raiva. – ela diz impaciente em meio ao desabafo.

– Eu sei. – mesmo sem querer Ben concorda. – Mais você não pode pensar no Hernandez agora, talvez em ninguém, mas sim em você. – ele alega a encarando de forma firme, Anita tinha que parar, esquecer aquilo, e não era dizendo a ela que tudo um dia acabaria e dá melhor forma possível que Ben conseguiria tal façanha, quase inoperável , já que a garota resistia em lhe escutar, e apenas se obstinava em parar Antônio, esquecendo-se de si e de sua segurança.

– Eu não queria discutir isso, não hoje. – Anita murmura em suplica, exausta de ver as discussões dos dois terminarem sempre da mesma forma, sempre com mais magoas de que quando começaram.

– Talvez com o dia de hoje, seja o melhor mesmo não é. – Ben cede, entre um meio sorriso até irônico, devido a tudo que os atormentava. Anita o fita apenas com a expressão amena, apenas não sabendo mais o que pensar ou arquitetar, nenhuma hipótese que ela tivesse naquele momento se aproximaria da realidade, não sabia o que Hernandez faria com as informações que obteve, não sabia a quem ele contaria, se é que já não tinha o feito.

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– Eu não deixei jantar pra você, não avisou que vinha pra casa. – Vera diz ainda da cozinha, segurando um copo em mãos quando vê o ranger da porta de casa se abrindo e Anita entrando por ela.

– Deixa, não é importante mesmo. – responde Anita levantando o olhar para ela, já que até então nem tinha se dado por conta que havia entrado pela porta de casa realmente, vinha pela rua completamente distraída e anestesiada em pensar em seus dilemas, que nem havia percebido nada a sua volta, depois que fez hora na praia para matar as horas de tempo que sobraram, depois que visitou o quartinho de Omar naquele tarde. – Tá tudo bem. – afirmou ela, continuando a encarar a mãe dessa vez com atenção, procurando qualquer resquício na fisionomia da mulher que realmente demostrasse que Vera acreditava naquilo. Anita às vezes até aparecia acreditar, até porque mesmo que ela esperneasse, gritasse, fizesse tão bem o papel de vitima ali ou na frente de todos, entretanto nem mesmo assim algum dos moradores da casa realmente parariam para cogitar que era mesmo verdade, todos estavam sempre tão envolvidos com suas vidas.

– Eu espero mesmo que esteja minha filha, ultimamente eu não tenho entendido tuas atitudes, primeiro você termina com o Ben... – Vera inicia.

– E o que mãe? – Anita a corta imediatamente. – Não se dá ao trabalho de pensar nisso, afinal, não foi isso, e não era e é assim que você sempre pensou, melhor agora do que depois... – Então não perde teu tempo procurando demostrar pra mim uma tristeza que não existe pra você, eu acredito até que você tenha feito promessa, implorado pra isso acontecer um dia. – Anita falou a desafiando, o olhar de rancor da garota, apenas deixou Vera desconcertada e sem saber argumentar. – Mais não importa também, como eu disse tá tudo bem. – Anita repetiu, rumando a escada.

– Oh Anita que bom, você chegou já tava ficando preocupado. – Ronaldo a interceptou no topo da escada.

– Desculpa, eu sei que eu devia de ter dado noticias, mais não aconteceu nada de mais, eu só fui andar um pouco, respirar ou sei lá. – justificou ela, se punindo por ter deixado Ronaldo angustiado. – Eu vou dormir, to com sono. – afirmou ela passando por Ronaldo.

– Não vai comer nada Anita, agora não vejo mais você se alimentar. – Vera a repreendeu séria.

– Comi na rua, boa noite pras vocês. – pronunciou ela se esquivando, antes de virar as costas para subir os degraus.

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O dia amanheceu ensolarado no Grajaú, Anita fugiu da confusão que sempre rolava no café em família e foi bastante cedo para o colégio, apanhando os corredores do local ainda desertos, Julia e Serguei ainda demoraram a chegarem.

– Que bom que você veio pra aula amiga. – Julia comemorava em ver a garota logo que chegou a sala de aula.

– Não muito, isso aqui tava muito tedioso sem você. – Serguei garantiu, esticando o braço e lhe puxando para um abraço.

– Hum entendi, quer dizer que meus amigos engajados e sociáveis, sentiram minha falta legal. – Anita brincou deixando seus anseios de lado para implicar com os amigos. – Uma hora eu tinha que vir não é... – alegou ela, mas ficando em dúvida no instante anterior quando viu alguém entrar pela porta da sala ainda pouco preenchida pelo restante e dos alunos. - Ou não. – Anita disfarçou os suspiros nervosos, quando se perdeu em prender o olhar em Ben que entrava, os cumprimentando de longe, e sentando na fileira de cadeiras ao fundo no meio da sala logo atrás de Serguei, que procurou dispersar o assunto falando de coisas amenas ao perceber o desconforto da amiga e o clima pesado que se instaurava entre Anita e Ben, cujo ele e Julia não sabiam como resolver, por mais que não aguentassem mais verem os dois sempre assim.

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– Anita, oh Anita que bom que eu te encontrei. – Raissa fica alegre quando tromba com a garota no corredor.

– E porque Raissa, aconteceu alguma. – Anita indaga séria, já sem cabeça e animo para resolver mais problemas ou ouvir mais sermões além do que havia vivido ultimamente. Puniu-se por não ter ido embora imediatamente após o fim das aulas, além de sem sorte estava ficando lenta também, já que se refugiar em casa teria sido mais acertado do que ficar vagando pelos corredores entre pensamentos desconexos, enquanto pensava em ir até a biblioteca.

– Não, não nenhum. – a mulher sorriu simpática e entusiasmada. – Nós podemos conversar um minuto, você pode vir até minha sala. – a orientadora propôs com um olhar amigável.

– Não aconteceu nada, mas eu tenho que ir até tua sala. – Anita suspirou devagar não muito convencida. – Olha Raissa vai direto ao assunto, sem rodeios, melhor. – ela respondeu temerosa.

– Eu te garanto que não é nada, só vamos conversar. – garante Raissa sorrindo, Anita foi obrigada a se render.

– Ontem eu cruzei com tua mãe. – em sua sala dizia Raissa.

– Jura, o que ela disse. – Anita perguntou, mesmo sabendo que nem gostaria de saber. – Obrigada. – ela agradeceu pelo café que a mulher lhe alcançava.

– Nada de mais, só me disse que vocês não andavam em um clima muito bom. – revelou ela cordial.

– Hum sei, e aposto que ela só disse que culpada sou eu. – sem pensar Anita retrucou com revolta.

– Na verdade, ela não me disse nada assim, tua mãe comentou comigo que você e o Benjamim terminaram, você e o Ben pareciam tão felizes e unidos de novo, porque acabou assim. – Raissa acabou questionando, mesmo sabendo que nem poderia intrometer-se na vida pessoal da garota.

– As coisas acabam né Raissa, simples. – Anita responde com um nó na garganta e jamais sabendo o que dizer.

– Mais normalmente tem um motivo Anita. – Raissa é insistente. – E sendo sincera com você, eu te conheço desde menina ih... – ela ainda hesita. – Mais parece que eu estou vendo a mesma menina desacredita e cheia de revolta na minha frente agora, a mesma que um dia esteve sentada nessa mesma cadeira aí a alguns meses atrás me dizendo que tanto fazia, que a vida não tinha mais importância. – Raissa cobra deixando Anita muda a olhar para ela com um olhar totalmente arisco.

– Incrível né, melhor ou pior, eu descobri que aquele vídeo nem é a pior coisa que podia me acontecer. – confidenciou Anita por um segundo, já nem sabendo mais as voltas que sua vida davam. – Você tá certa, eu levei outra rasteira, talvez até mais pesada do que aquela, só que dessa vez perder o Ben pra sempre nem é o pior desfecho que eu possa ter. – ela desabafou com angustia.

– Como assim, fala pra mim, o que houve Anita. – suplica Raissa em plena preocupação.

– Não posso, seria te puxar pra isso também sabe, eu não posso. – negou-se Anita aos suspiros.

– Mais o que você vai fazer então Anita, você não está bem. – Raissa se pune, com toda negação da menina em não aceitar ajuda.

– Eu vou viver Raissa, eu não tenho tanta coisa pra perder, já perdi eu acho, mais ao mesmo tempo por mais louco, eu posso perder toda a felicidade futura, presente que de algum jeito ainda era minha, mesmo depois de tudo de ruim que aconteceu em um ano, que eu só planejei coisas boas, pra mim e pros outros, ele foi diferente, que eu já nem sei. – Anita finalizou sem mais delongas erguendo-se para ir embora.

– Mais Anita. – Raissa tentou ponderar.

– Tá tudo bem, obrigada pela preocupação, mais não esquenta com isso não. – Anita deu um meio sorriso antes de sair.

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– Eu tava preocupado com você, você sumiu esses dias, não atendeu telefone, tava achando que aquele doido tinha feito alguma coisa com você, até que o Ben me disse que... – Rafael pedia explicações a Anita.

– O Antônio não seria tão ágil assim, sumir com um corpo deve dar trabalho. – Anita retrucou rancorosa e exausta.

– Você deveria ouvir teu namorado, esse cara não presta Anita. – o garoto argumenta.

– O Ben, não é mais meu namorado, e ele não devia de te procurar só pra falar disso. – Anita se irrita.

– Ok, ok, a vida é tua não é, mas mesmo assim acho que ele está mais que certo, o que eu vi do Antônio lá na instituição, já foi o suficiente pra mim ter plena certeza que ele é desiquilibrado. – ele diz se calando.

– Pois é, melhor você não se meter mesmo, comprar briga dos outros não vale a pena. – Anita ainda o olha torto. – E depois quem me garante também, que não foi ele que te mandou aqui pra me espionar, você apareceu assim do nada, me oferecendo ajuda, será que o Antônio não te comprou também, como fez com a maioria dos garotos que estavam naquele lugar. – Anita o encara desafiadora.

– Que isso Anita, eu posso ter feito muita besteira na minha vida, mais esse papel eu não faria, e depois foi tudo uma coincidência, eu pensei que só estaria te avisando de um perigo, nunca imaginei que fosse ser o que é, que você já corria um perigo enorme. – Rafael se defende ofendido com o que a garota lhe dizia.

– Desculpa, me desculpa, eu não sei o que eu to fazendo mesmo. – Anita suspira aflita. – Eu ando desconfiando, até da minha sombra ultimamente Rafa, o Antônio me mostrou um lado da vida que eu não sei se eu queria conhecer não. – ela fala. – Já to pirando com isso tudo, mais obrigada, muito obrigada, por você ter ido lá na delegacia falar como era o comportamento dele na instituição, eu sei que você se arriscou, não tinha nada que ter se medito nisso, eu não vou ter como te pagar nunca. – Anita afirma agradecida.

– Nem precisa, eu nunca gostei de injustiça, mais é melhor você começar a tomar mais cuidado, mesmo ouviu. – o rapaz a alerta. – Agora eu tenho que ir, minha hora de almoço acabou, tchau se cuida. – ele se despediu.

– Tchau. – Anita o cumprimentou, o vendo sumir para fora do pátio do colégio, quando muda de direção tem uma visão pra lá de desagradável. Antônio e Palhares de longe, Antônio vem caminhando em sua direção com um olhar dissimulado.

– Quem era aquele cara. – Antônio chega perguntando com a voz altiva.

– Que cara. – Anita é cínica fingindo não entender.

– Aquele que tava aqui, não banca a burra não Anita. – o garoto se impõe para perto dela com ira no olhar.

– Aluno, eu não sei se você sabe mais num colégio, numa sala tem mais gente, as pessoas tem que conviver Antônio, e ainda bem que nem todo mundo é igual a você né. – Anita o enfrenta com ódio.

– Você anda muito revoltadinha pro meu gosto sabia, melhor baixar a bola Anita, ou tá esquecendo as regras. – ele disse, por um segundo Anita pensou em dizer que nunca as cumpriu, gritar tudo que segurava dentro de si já com enorme dificuldade e tristeza.

– Por quê? – ela o olhou com um sorriso de deboche e raiva. – A Anita ingênua e triste era mais fácil de manipular não, não é, cansei, vou embora pra minha casa. – Anita o confrontou fazendo gesto de ir embora.

– Vai sim, mais só vai porque eu to permitindo, não to com paciência pra chilique de menininha idiota, mais se eu quisesse você ficava. – Antônio a impôs fazendo gesto de segurar o braço de Anita, que se debateu sem deixar que ele encostasse.

– Já disse pra você se livrar dessa menina. – Palhares argumentou, quando observou Anita indo embora e Antônio voltando para perto de si.

– E eu já disse, que isso eu decido, você não se mete com ela. – Antônio disse com olhar de raiva pela sugestão não aceita. – Estranho parece que eu conheço aquele moleque que tava falando com a Anita, ele foi embora antes não vi de perto, mais conheço. – Antônio afirmou intrigado.

– Deve ser do bairro, ele não estuda aí no colégio. – impaciente o homem respondeu.

– Não sei, não é bem isso, algo mais significativo pai, mais eu vou lembrar. – ele garantiu sem estar convencido.

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