Enquanto corro, olho para cima, meu contador de vida está quase se esgotando, olho para trás e um javali selvagem está me perseguindo ele possui um level muito alto para eu poder reagir ao ataque.

–Droga! Eu cheguei tão lon...

Quando percebo já fui atingido e minha visão mergulha na escuridão, odeio a sensação de morrer nesse jogo mas já estou me acostumando, retiro o game link, o console que envia minha mente para esse universo incrível chamado The Last Chance.

Me chamo Mkairon, pelo menos é assim que sou denominado nos jogos, tenho 17 anos e possuo uma doença rara que ainda não possui tratamento em nenhum lugar do mundo, mesmo em 2015 onde a medicina já está muito avançada. Olho ao redor e estou em meu quarto, ele é todo pintado de branco, ou seja um típico quarto de hospital, sim eu vivo em um hospital pois não consigo sobreviver sem a ajuda de equipamentos e por esse mesmo motivo as pessoas geralmente não gostam de falar comigo, só tenho uma amiga que posso confiar e o nome dela é Katlyn uma jogadora de The Last Chance que eu conheci a dois anos. O celular a minha direita toca.

–Alô, Katlyn? –Digo ao atender

–Olá Mkairon como vai?

–Morrendo conectado a equipamentos como sempre, e você?

–Além da minha morte no jogo junto com você estou bem, as vezes odeio o fato desse jogo não ter respawn –Diz Katlyn nervosa

–Pois é, precisaremos criar novos personagens e voltar a evoluir tudo novamente –Suspiro desanimado

–Estou indo criar minha nova personagem, precisa fazer exames agora?

–Não agora, estou indo me conectar. –Logo após dizer desligo o celular

Pego meu game link, o coloco e aperto o botão de ligar, vários dados passam na frente de meus olhos enquanto o console carrega e logo após uma tela com “press start” aparece.

–Game Link online.

No mesmo instante aparece uma tela de login na minha frente, como login já salvo “Mkairon” portanto digito minha senha e a tela de criação de personagens aparece. Eu sempre jogo com classes parecidas por ter uma certa afetividade por elas então eu crio um assassino, aparece a tela de loading por alguns instantes e então eu apareço em uma cidade simples, com casas feitas de madeira, eu adoro o cheiro dessa cidade uma mistura de grama molhada com flores ela é a cidade de onde todos os jogadores level 1 saem e sempre está cheia pelo jogo não ter respawn então consequentemente jogadores criam novos personagens a todo momento. Ando pela cidade para passar o tempo enquanto espero Katlyn aparecer, sento em um bar e começo a beber.

–Mk, aqui! –Diz uma voz feminina

Olho para trás e vejo Katlyn, com a mesma aparência de sempre.

–Você não se cansa de jogar usando guerreiro não? -Eu digo olhando para a armadura de iniciante que ela está usando

–Eu? Cansar de cortar monstros com uma espada? Parece até que você não está me reconhecendo. –Diz ela colocando o dedo em minha testa

Dou uma risada meio forçada e olho para o lado onde fica o npc responsável pelo teleporte para outras áreas do jogo.

–E você, não se cansa de usar essas adagas afeminadas? –Diz ela

Com um movimento rápido tiro uma de minhas adagas da bainha e encosto em seu pescoço.

–Você acha que eu me canso de ser mais rápido do que pessoas como você? –Digo ainda com a adaga em seu pescoço

–Interessante, mas você sabia que aqui inaugurou uma loja com adagas especiais?

–Sério? Onde? –Digo empolgado

No momento de distração Katlyn acerta a bainha de sua espada no meu queixo, recuo com o impacto e sem nem poder reagir tomo uma joelhada no meu estomago me derrubando no chão, ao olhar para cima percebo que ela está com sua espada apontada para meu rosto.

–Sabia que isso me lembra o dia em que nos conhecemos? –Olho para ela e solto uma risada

–Aquele dia ficará marcado para sempre. –Ela me ajuda a levantar e sentamos no banco que está ao nosso lado.

A uns dois anos quando eu comecei a jogar The Last Chance eu estava com meu assassino evoluindo e coletando itens em uma floresta amaldiçoada, eu derrotei um Ente e ele dropou um item raro que poderia ser vendido por uma quantia muito alta, do meio das arvores surgiu um cavaleiro e pegou meu item.

–Você está pedindo para morrer né cara? –Eu disse olhando para ele com raiva

–E quem vai me matar, você? Não me faça rir garoto. –Disse o cavaleiro apontando sua espada para mim

No momento que ele disse isso usei uma habilidade que eu havia acabado de aprender na qual eu me misturava nas sombras enganando a visão inimigo e podendo o atacar de qualquer direção sem que ele consiga sequer se defender.

–Sai da escuridão seu covarde! –Disse o cavaleiro apontando sua espada para o alto

Com um movimento rápido ataquei ele com minha adaga mirando em sua têmpora para acabar com aquilo de uma vez mas o cavaleiro foi rápido e conseguiu brandir seu escudo e se defender de meu ataque me jogando para trás e consequentemente me tirando das sombras, sem nem mesmo recuar o cavaleiro deu uma estocada na direção do meu rosto mas consegui me esquivar a ponto de não ser executado e recebendo só um dano superficial. Dei um salto para trás arremessando uma de minhas adagas no braço do cavaleiro o prendendo em uma arvore e o fazendo derrubar sua espada.

–Pelo jeito o poderoso cavaleiro está em uma situação no mínimo complicada não é mesmo? –Eu disse passando minha adaga pelo seu elmo

–Você acha mesmo que pode me derrotar só com isso? –Disse o cavaleiro com desprezo

No momento não percebi, mas meu contador de vida já estava baixo e precisava me curar, ou seja precisava acabar com aquilo agora e voltar para a cidade, em uma fração de segundos o cavaleiro acertou seu escudo em minha cabeça quase zerando minha vida e me derrubado.

–Pelo jeito você morrerá aqui. –Disse o cavaleiro se libertando da arvore e pegando sua espada

–Mas não vou sozinho. –Eu disse enquanto tirava minha segunda adaga da bainha sem ele perceber

–Você não está em condições de matar ninguém. –Ele riu com desprezo

Tirei minha segunda adaga da bainha e a arremessei em seu elmo também quase zerando sua vida e o derrubando, seu elmo caiu no chão e seu cabelo caiu sobre os ombros, seu rosto foi iluminado pelos poucos feixes de luz que conseguiam atravessar as arvores.

–Você é uma garota? –Olhei assustado

–O que foi, nunca viu uma antes? –Riu ela observando minha reação

–Não, não é isso, é que você luta muito bem.

–Você também, mas isso não muda o fato que morreremos aqui e teremos que começar do início.

–Não me importo de começar novamente mas será que nós podemos ser amigos?

–Caso você dívida seus itens comigo eu aceito. –Riu ela olhando para nossas armas no chão

Nós ouvimos um barulho vindo da cidade e um jogador aparece do meio das arvores, ele possuía uma armadura vermelha reluzente e duas adagas em formato de chamas em sua cintura, ele olhou com desprezo para nós e pegou todos os nossos itens, logo depois nos executou.

E é assim que começa uma nossa amizade dentro do jogo. Agora, com nossos novos personagens precisamos ficar fortes e trabalhar juntos para não sermos mortos tão fácil.

–Em qual chefe paramos da última vez? –Pergunto a Katlyn

–Mk ainda não conseguimos derrotar nenhum chefe desse jogo, não conhecemos nenhum deles. –Retruca Katlyn

–Verdade, nós fizemos uma promessa de não procurar como derrotar os chefes na internet. –Digo decepcionado

Em The Last Chance você precisa ter um level alto e uma equipe forte para começar a derrotar chefes pois eles são muito poderosos, eu e Katlyn trabalhamos sozinhos desde então e só conseguimos chegar até o level 40 e fomos mortos por termos entrado na floresta errada.

–Nós guardamos algum item no banco na última vez que morremos? –Pergunto a ela

–Só sua adaga especial e minha espada encantada. –Ela diz enquanto abre o banco em seu menu

Eu e Katlyn temos itens que nunca podemos perder, como minha adaga especial, eu a encontrei quando estava procurando uma quest para ir sozinho pois a katlyn estava off-line. Na lista de quests achei um pedido na qual deveria explorar uma caverna que ainda não tinha sido visitada, após ficar várias horas explorando-a sem encontrar nada vi um jogador morrendo no final dela, ele tinha entrado e derrotado o boss mas não tinha forças para sair e preferia ver sua adaga especial com um desconhecido do que com um ladino que provavelmente a usaria para roubar pessoas.

–Então nós iremos começar por onde dessa vez? –Diz Katlyn

–Que tal dessa vez irmos em uma quest diferente? –Retruco

–Claro, pode ser interessante.

Eu abro o menu de quests e procuro nas menos feitas, quando um ponto de interrogação pisca em minha tela avisando que existe uma quest de emergência e eu a abro, para ler o que a pessoal que requisitou a quest está pendido “Minha vila está sendo atacada por orcs preciso de ajuda imediatamente”.

–Que tal essa Katlyn parece interessante. –Digo empolgado

–Parece interessante, ela também nos ajudará a evoluir e conseguir itens bons por agora. –Ela sorri olhando para o menu de quests

Orcs são monstros fracos, só que quando se reúnem em tropas ficam extremamente chatos e uma vila com jogadores pacíficos não consegue dar conta deles. Eu e Katlyn já temos muito tempo de jogo e provavelmente conseguiremos cuidar deles tranquilamente.

–E ai vamos? –Digo enquanto me aproximo do npc responsável pelos teleportes

–Sim, e é melhor nos apressarmos antes que essa vila seja totalmente destruída

Eu e Katlyn entramos no teleporte a caminho para o norte onde iremos enfrentar uma tropa de orcs que provavelmente estará muito nervosa por não ter recursos bons o suficiente na vila invadida.