Invicta escrita por Labi


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Ok.
Eu dei por mim com uma vontade enorme de escrever sobre o Porto.
O Porto é conhecido como a cidade Invicta e daí o título.
Peço desculpa se ficou muito vago mas a intenção também não era ser muito concreto...



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Dois estranhos caminhavam à minha frente, naquela forma lenta e irritante que, juntamente com o facto do passeio ser demasiado estreito, não me permitia passar à frente e retomar ao meu passo de andamento normal.

Por esse motivo, e apenas por esse motivo, tive de ouvir a conversa que estavam a ter.

"Alguma vez te apaixonaste por uma cidade?", o homem da esquerda perguntou, encarando o outro com uma curiosidade inegável.

"Talvez." , respondeu o da esquerda, ajeitando o capucho da sua camisola, "Fiz um Inter Rail pela Europa durante o 2º ano do meu curso então acho que me apaixonei por todas."

O da direita riu e abanou com a cabeça, colocando as mãos nos bolsos.

Estava frio, imenso vento. Eu mesmo coloquei as mãos no meu bolso, notando pela primeira vez que estavam tão frias que nem as sentia.

"E que dizes da Invicta?"

"Ah...", deu de ombros, "A Invicta tem de se descobrir."

Mesmo não sendo meu assunto, eu dei-lhe razão.

A cidade Invicta era, tal como o nome dizia, invencível. Porém, era possível conquista-la.

Fazia séculos que diariamente aquelas ruas eram pisadas por centenas de pessoas.

Sempre condiziam com o céu, cinzento, carregadas de histórias e estórias.

"A Invicta não me intimida a isso. Não tenho medo do Dragão." , o homem da direita riu e eu, internamente, concordei com ele.

Esse julgamento da cidade não importava. Intimidante?

Talvez o ar sombrio da cidade afastasse os mais cobardes e menos aptos. Sempre o tinha feito... Nunca a nobreza portuguesa tivera grande interesse para aquela região.
Talvez fossem as ruas em forma de ‘v’ que assustavam. Talvez fossem as estátuas com os rostos graves e sérios. Talvez fosse a linguagem rude dos habitantes, onde os palavrões são sinal de carinho e de confiança com os seus ‘b’ e ‘v’ trocados. É… Talvez fosse culpa dos tripeiros.

Mas intimidar?

O Porto era uma cidade de granito com coração de ouro.
Ou deverei dizer Douro?

"Intimida mais o frio não é?"

"É que nem duvides, meu!"

Eu ri-me discretamente, não fossem eles dar pela minha presença, e olhei para cima.

Com alguma atenção, facilmente via as toalhas e roupas estendidas nas varandas e nos ditos prédios cinzentos quase de forma cómica. Tão coloridas como os próprios azulejos característicos.

Não havia vergonha quando não havia nada a esconder.

Os homens abrandaram ainda mais o passo e ao bom modo tradicional deram uma palmada nas costas um do outro, "Bem, eu vou para o metro do Bolhão e tu?"

"Sigo para a 31 de Janeiro, tenho de apanhar o comboio em S.Bento."

"Foi bom ver-te. Manda cumprimentos à família!"

"Tu também, pah!"

Deram outra palmada um no outro e seguiram caminhos opostos.

E eu?

Eu que me tinha deixado levar pelos meus pensamentos e pelas narrativas deles?

Limitei-me a seguir em frente pela S.Catarina, pela Batalha, descer quase até à Sé, atravessar a ponte D.Luis, encantar-me com o jardim do Morro e subir até à Serra do Pilar.

Tive tempo de me apoiar nas grandes e observar bem a Ribeira lá em baixo e o Douro.

O magnífico Douro, que eu sabia que se estendia até ao Atlântico mesmo não conseguindo ver dali. Juntava-se ao oceano perto do farol, sempre sobre a vista atenta do Homem do Leme.
Esse Douro, que mesmo não sendo um Tejo, tinha inspirado outros poetas. Garret, por exemplo. Cuja estátua fica em frente à Camara Municipal parecendo encarar com admiração a de D.Pedro IV , que mesmo tendo sido o primeiro rei do Brasil, deixou o seu coração no Porto.
Ou o Porto tivesse dado o seu coração para receber o dele. Nunca saberei.

Lembrei então aquela pergunta, que não me tinha sido dirigida.

'Alguma vez te apaixonaste por uma cidade?'

Pois se tivesse sido dirigida a mim, eu sem dúvida responderia:

Sim, pela minha.


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