“Depois de pensar muito no que fazer, e conversei com a Claire sobre os antigos hábitos do grupo. Então resolvi “reviver” um deles. Todo sábado eles faziam uma festinha na casa abandonada. Era exatamente o que precisava, vai ser ótimo para juntar todos e conseguir conversar com o Ben. Por algum motivo usarei um vestido que Himchan me emprestou. Ele é vermelho e deve ter algum valor sentimental para ele. Não vou negar que fiquei bem bonita com ele.”

Já anoitecera, Rey não sabia exatamente onde era a casa abandonada. Mas é sábado, a rua está movimentada, ela com certeza iria encontrar alguém que soubesse o caminho. Apesar de ser meio amedrontador uma garota usando um belo vestido vermelho numa cidade pequena, porém ela não ligava para o pensamento dos outros.

– Você vai se perder – Rey ouviu a voz de Kate no centro da cidade, ela também estava bem vestida, mas não estava tão elegante.

– O que? Esse não é o caminho?

– Não – disse com uma risada baixa – É por aqui, vamos juntas que te mostro. Que vergonha, mora a um mês na cidade e nem sabe andar nela.

– Não encha meu saco! Sou horrível em me localizar – disse Rey arrumando o cabelo.

– Está vendo aquele morro coberto de flores? – perguntou Kate apontando para o local. De onde estavam, mesmo de noite, dava para ver perfeitamente um morro coberto de floresta com uma rua no topo além de uma árvore enorme – Sempre íamos para lá depois do almoço descansar e conversar. Era demais.

Kate estava com um canivete descascando a parte mais dura da árvore. Azura estava sentado na grama olhando para o céu enquanto Claire apoiava-se em seu ombro quase adormecendo. Himchan estava alguns metros afrente com Benjamim deitado em seu colo girando uma das flores.

– Olha que cheiro bom – disse colocando a flor no nariz do companheiro.

– Sim, elas são cheirosas e lindas como você.

– Não me compare à uma flor. Não tenho nem metade de sua beleza – disse Benjamim cheirando a flor.

– Pra mim é sim – disse Hincham beijando o garoto calorosamente.

– Kate, eu já voltei e você não terminou com isso? – perguntou Jill carregando uma bolsa de doces e refrigerantes.

– Desculpe, mas é difícil fazer um B perfeito na madeira – disse Kate arrancando o último pedaço – prontinho. Nossas iniciais estão gravadas aqui.

– Sim porque esse é o nosso lugar – disse Azura abraçando Claire tirando-a de seu “coma”.

– O sol já está se pondo – disse Humchan olhando para a enorme estrela, os amigos se juntaram para dividir as balas e tomar os refrigerantes enquanto o sol dava seu show colorindo o céu com várias cores.

As lembranças dominaram Kate até entrarem na casa, todos estavam lá, mas de cara perceberam a ausência de uma pessoa.

– Ben ainda não chegou? – perguntou Kate.

– Não e acho que nem vai vir – completou Azura bufando.

– Ele vai vir sim, falei com ele no telefone. Acho que ele está casado de viver desse jeito – disse Himchan bebendo um gole do chocolate quente que ele mesmo fizera – Se acomodem e bebam antes que esfrie.

– A muito tempo que não vejo você colocando flores no cabelo Claire – comentou Kate sentando-se em cima de uma das almofadas – Está linda.

– Obrigada. Sempre gostei de Tulipas roxas – disse passando a mão no cabelo.

– Parece que estão revivendo tudo mesmo – disse Benjamim entrando na casa, ele também estava bem arrumado, até seu cabelo estava penteado – Agora basta saber se isso é bom ou ruim.

Eles passaram o melhor momento desde a chegada de Rey na cidade. Eles conversaram, cantaram, relembraram, riram. Ela viu pela primeira vez o lado palhaço de Ben, ele parecia ser o animador do grupo. As risadas ficaram mais altas ainda quando o vizinho mandou parar com a barulheira, eles não se importavam. A única coisa que queriam é que aquilo nunca acabasse. Ben olhou para todos, deu um sorriso meigo e de repente saiu de dentro da casa pela janela.

– Aconteceu alguma coisa? – perguntou Rey após o ato do garoto.

– Ben sempre teve dificuldades para se expressar e entender seus sentimentos – explicou Kate tomando um gole de refrigerante – os únicos que conseguiam acalmá-lo era a Jill e o Him. Mas depois que ele se afastou, ele tem tido mais “ataques” de personalidade.

– Sinto pena dele, mas ele nunca mais deixou eu me aproximar dele – disse Himchan pegando uma bala da mesa deitando no chão em seguida. Rey se levantou e pulou pela janela encontrando o garoto sentado no tronco que Kate usa para compor. Ele estava olhando para céu dominado de pensamentos.

– Quer desabafar? – arriscou Rey sentando-se ao seu lado.

– Hoje o dia foi muito bom. Há muito tempo não me divertia assim – disse Benjamim colocando a mão no peito com a dor que sentia no coração – Mas ele ainda dói sabe? Ainda estou triste.

– Por quê? O que está havendo?

– Não quero mais sofrer! Não quero mais perder ninguém. Pensei que desapagar e me afastar melhoraria tudo, mas só piora – em seus olhos começaram a surgir lágrimas.

– É por isso que terminou com o Him?

– Sim. Você sabe qual foi o assunto tão pesado que conversávamos no dia que Jill morreu? – perguntou Ben enxugando o rosto de lágrimas – O Him tem uma doença do coração, ele pode morrer a qualquer momento e não tem cura, a não ser por transplante.

– O que? Ele nunca me falou! – disse Rey surpresa com a informação.

– Ele não conta porque não gosta de perguntar. Eu descobri pela mãe dele e contei para os outros- Benjamim apertou os próprios joelhos – Depois que a Jill morreu, me machuquei tanto, não queria sentir essa dor de novo. Não queria sentir a dor de ver o amor da minha vida morrendo. Por isso eu terminei com Him, queria me desapegar, deixar de amá-lo. Mas não consigo.

– Você fez a pior escolha, você deve ficar com ele até o fim, para que ele tenha uma morte feliz e tranquila – disse Rey colocando a mão sobre as de Benjamim – Eu vou te ajudar.

– Não! Eu não quero mais sofrer! – Benjamim sai correndo para fora dos domínios da casa, Rey o seguiu, estava preocupada.

– Ai Não – disse Claire olhando pela janela – Está acontecendo de novo – ela se retirou do local para seguir a dupla que se afastara.

– A Jill morreu com um vestido igual aquele – disse Azura sentindo uma dor no coração.

– Estou com um mau pressentimento – o trio se olhou e saiu pela rua. Novamente o grupo estava correndo pela cidade. Benjamim chorava enquanto tentava fugir da Rey. Ele atravessou uma rua no sinal verde e se lembrou do dia da morte da Jill, estava acontecendo de novo. Aquela mesma cena, aquele mesmo vestido, aquele mesmo anjo. Ele se virou parando imediatamente. Na mesma hora Rey atravessava a rua. Um carro surgiu em alta velocidade e a atingiu em cheio jogando-a para cima. O sangue foi derramado novamente, a tragédia ressurgiu. Claire parou perplexa diante do corpo garota que se rebatia de dor. Azura gritou e correu até ela no mesmo momento que Benjamim. Himchan sentiu o coração acelerar, sua visão ficou embaçada, após sentir uma dor intensa no peito, ele teve uma convulsão e desmaiou.

A noite que deveria ser a melhor de todas se transformou na pior. O que deveria reunir os amigos agora o se transformou numa tragédia.