Era só o que me faltava. Será que ela tinha visto alguma coisa? Eu já disse que odeio a Sofie?

– Ahn... Oi, Sofie.

– Olá Lisandra. Nadou muito hoje?

– Ahh... Sim. Nadei sim.

– Mas você não sabe que este lado do rio é proibido?

– Sim. É que eu ouvi barulhos estranhos aqui, vim ver se eram humanos.

– E eram?

– Não. Apenas engano.

– Então é assim que chama aquele rapaz? "Engano"?

– Que rapaz?

– Não se faça de desentendida. Eu vi tudo, você acha mesmo que eu nunca ia desconfiar?

– E agora? Vai me dedurar pra Minity?

– Dedurar? Nããão. Seu segredinho está a salvo comigo. Agora vamos voltar antes que Minity perceba algo.

Aquela atitude me fez ficar ainda mais preocupada. Sofie não gosta de mim, isso é fato. Ela sempre quis ser a predileta de Minity e sempre recebia menos atenção. Você já deve ter percebido que ela quer sempre ser a melhor. E de repente ela resolve ser legal e guardar o meu segredo. É melhor eu tomar muito cuidado com ela.

Os dias seguintes foram bem "normais". O tempo começou a ficar ensolarado, o que significa que tive que... bom você sabe vai. Sofie sempre me olhava com um largo sorriso que dizia claramente: Você esta em minhas mãos queridinha.

Ja fazia uma semana que não o via. Estava começando a sonhar com ele. Que nadávamos juntos pelos jardins de corais, que ele me beijava e dizia que me amava (não me pergunte que voz ele tinha em meu sonho, pois não me lembro, aliás, nunca ouvi sua voz). Mas sabia que tudo isso era impossível ele era um humano e eu uma sereia e não vivo em um conto de fadas. Você já gostou tanto de alguém ao ponto de achar que faria qualquer coisa por ele? Pois era assim que eu me sentia. Sentia que era capaz de enfrentar Minity e quem mais entrasse em meu caminho por ele. Mas junto com esse sentimento que me dominava estava a dúvida: será que ele sente algo por mim? Seria esse um relacionamento possível?

Já ouvi histórias de sereias que se apaixonaram por humanos, mas nenhuma delas acabou bem. Eu me perguntava a cada segundo se ele estava lá me esperando, quem sabe estava triste por eu não ter mais ido vê-lo.

Numa manhã ensolarada Minity nos acordou mais cedo do que o normal e disse que na ultima semana, por conta do Sol, o rio estava cheio de humanos.

– Por esse motivo decidi que vamos voltar a nos separar. - disse ela em seu tom sempre sério.

Uhuul. Ia me livrar da senhorita Sou-Muito-Mais-Que-Perfeita. Estava feliz. Fui até o ponto que me foi determinado e fiquei esperando. Estava tudo bem até eu ouvir vozes. O som de risadas. Era uma pequena canoa se aproximando nela se encontravam 2 pessoas: Um cara de uns 30 anos e um garoto que devia ter uns 7 anos. Provavelmente pai e filho e o mais velho estava ensinando o filho a pescar. Sentia-me mal por fazer aquilo, mas precisava fazer. Pelos meus pais e por dever isso a Minity que me acolheu quando ainda era muito nova.

Comecei a cantar e a canoa foi se aproximando. Encanto nos olhos dos dois. Quando a embarcação chegou a cerca de dois metros de mim, mergulhei. Os dois pularam na água me seguindo até o fundo até que já não respiravam mais. Seus corpos boiaram e foram em direção a margem. Tarefa concluída. Depois de conhecer aquele homem misterioso, fazer isso se tornou ainda mais difícil. Sem pensar comecei a nadar para o mesmo lugar que o vira da última vez. O lado proibido do rio.

Quando cheguei lá não havia ninguém, mas estava disposta a esperar.

Depois de um tempo lá estava ele, se aproximando em seu pequeno barco a motor.

– Você veio aqui todos os dias? Mesmo quando eu não vinha? - perguntei confusa.

– Vêm cá, vocês sereias não conhecem a palavra "oi"?