Sobrevivendo pela Sorte escrita por Alexyana


Capítulo 2
Capítulo 2 – Talvez eu esteja feliz


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/471433/chapter/2

Não estou mais tão feliz por ter encontrado humanos.

— Mesmo você sendo bonita eu não vou hesitar em atirar se fizer alguma coisa, docinho. Abaixe esse machado, e jogue a mochila pra mim — ordena o garoto a minha frente, ainda apontando a arma para minha cabeça. Sério que ele me chamou de docinho? Já não gostei dele, idiota.

Por fim, mesmo contrariada, acabo obedecendo.

Percebo que ele é uns vinte centímetros mais alto que eu, cabelos loiros escuros, pele bronzeada e aparenta ter uns 16 anos. O típico garoto popular.

— Quem é você e o que esta fazendo aqui? — pergunta ele novamente, com uma pontada de raiva na voz. Não respondo, o que deixa ele claramente irritado. — Responde, garota! Eu não tenho todo tempo do mundo!

— Smith, Katherine Smith. Eu estava fugindo de uma horda — respondo.

— Certo, você está com alguém? — pergunta ele mais calmo.

— Não, estou sozinha.

— Sério? — questiona com os olhos semicerrados de desconfiança.

— Sim, a não ser que você conte como companhia aquelas coisas — respondo impaciente. Ele ta me achando com cara de quê?

— Calma, só fiz uma pergunta. — Nesse momento a porta é aberta bruscamente, e viro assustada em direção a ela. Um homem alto, com barba e cabelos pretos, e uma mulher estão parados na soleira. Ela parece ser mais nova com seus cabelos castanhos, e aparenta estar terrivelmente preocupada.

— Quem é essa? — pergunta o homem enquanto a mulher corre para abraçar o garoto, que até então estava parado atrás de mim. O homem parece ter uns trinta e cinco, mas não dá pra ter certeza com toda a sujeira cobrindo-o.

— Katherine. Encontrei ela aqui há pouco tempo, parece inofensiva — responde o garoto. Olho com raiva pra ele, inofensiva?!

— Ei, eu não sou inofensiva! — ele somente arqueia uma sobrancelha num sinal de “Sério?”, o que me deixa com mais raiva ainda, mas me controlo, três contra um não é muito justo.

— Ai meus Deus, Willi-Will, eu fiquei tão preocupada! Como você pode sair assim com uma horda perto da gente? Quer me matar do coração, menino? — fala a mulher. Confesso que tive que segurar o riso. Willi-Will? Que tipo de apelido é esse? Porém logo após uma espécie de inveja me atinge. Eu queria ter pessoas que se preocupassem comigo.

— Calma, Melanie, eu estou bem! E não me chama assim, é ridículo — diz o garoto fazendo um careta. — Achei que a gente ia precisar de um lugar pra passar a noite.

Será que eu teria chances se pegasse minhas coisas e saísse correndo pela porta? Será que têm mais pessoas lá fora? Eles não parecem maus, mas nunca se sabe.

— Seguro — informa o homem chegando à sala. Estava tão entretida nos meus pensamentos fugitivos que nem percebi que ele foi fazer uma vistoria pela casa.

— E o que vamos fazer com ela? — pergunta Melanie apontando o dedo pra mim enquanto todos os três viram seus olhares em minha direção. Sinto que estou corando.

— Bom, ela não tentou nada até agora, acho que podemos confiar nela. Se quiser ficar aqui por hoje tudo bem — fala o homem para mim.

Concordo com a cabeça. Mesmo se foi eu quem encontrei a casa primeiro não me importo. Não vejo perigo nenhum em ficar por um dia ou dois, contato humano e tal.

Enquanto eles estão se decidindo quem vai voltar ao carro e pegar comida, pego meu machado e coloco na minha cintura, sentindo-me automaticamente segura. Junto minhas coisas e levo-as pra um canto da sala; depois resolverei aonde irei dormir.

–--------------------------------------------------------------

Quando são mais ou menos umas 15 horas, eles finalmente decidem o que vão fazer: Melanie e Tonny — que descobri sendo o nome do homem e também o líder — irão buscar o tal carro, enquanto Willian vai à busca de água, e eu fico na casa vigiando. Acho que eles não confiam em mim o suficiente para me deixar ir junto com eles.

No momento estou sentada em uma cadeira desconfortável no sótão, observando pela janela o movimento dos walkers. Aqui em cima é tranquilo e fresco, o que me faz pensar no passado, algo que é ruim.

“— Cala boca! — exclama minha melhor amiga, Ashley, depois que fiquei provocando-a de como ela e o Piter ficaram trocando olhares. Sim, ela gosta do meu primo.

— Fala sério, Ash, vocês não sabem nem disfarçar, tá na cara que vocês se amam — comento rindo.

— Argh, Kath, você é muito irritante sabia? A gente não estava fazendo nada, e eu não tenho culpa que ele é tão lindo... — fala sonhadora. Eca, o amor é repugnante.

— Isso é nojento! Que piegas — digo fazendo uma careta, que é recebida com uma gargalhada de Ash.

— Você é muito mal amada garota, devia dar uma chance pro Norman, até que ele é bonitinho — ela fala cutucando minhas costelas.

— Hum, olha quem vem aí, Ash, seu namoradinho — provoco com olhar malicioso quando vejo meu primo chegando, aparentemente para falar com ela.

— Tchau, idiota, tchau, apaixonadinha, até amanha! — despeço-me deles, afinal ficar de vela não é lá grande coisa. Mas não percebi que não haveria "até amanhã" porque aquela foi a última vez que falei com minha melhor amiga.

— Aff, deixa de ser inconveniente, Kath, um dia você vai ser apaixonar e quero ver...”

Meu momento lembranças é interrompido pelo barulho da porta se abrindo, e Willian coloca sua cabeleira loira para dentro.

— Ei, já tá tarde, você não vai enxergar nada nessa escuridão. E eles já chegaram. Vem comer — fala ele, saindo sem esperar uma resposta.

Estava tão absorta em minhas lembranças que nem percebi que já estava escuro e também não percebi que estava chorando. Argh! Eu tenho tantas saudades dela, da minha Ash. Quinze dias após o inferno começar eu fui à casa dela, mas não tinha ninguém, e como as coisas dela não estavam lá, creio que ela conseguiu escapar. Bom, é isso que eu espero.

Desço as escadas devagar, sentido cheiro de carne. Tão bom... Espera, carne?

— Isso é cheiro de carne? — pergunto chegando à “mesa” de jantar, também conhecido como chão, onde eles estão sentados comendo.

— Bom, é carne de esquilo, Tonny teve sorte em consegui-los — fala Willian. — Sirva-se, madame.

Com olhos brilhando ataco meu mísero pedaço de esquilo assado, porém que é um luxo nos dias de hoje.

Estou comendo tranquilamente quando Melanie pergunta:

— Você sempre esteve sozinha?

— Hum... Bem, no começo estava com meu tio e meu primo, porém meu tio morreu, e eu me perdi do meu primo no meio de um ataque. Mas tenho certeza q ele sobreviveu, ele é inteligente — falo cabisbaixa. Ainda dói lembrar, e mais ainda falar sobre eles.

— Sinto muito — ela diz sincera.

— Tudo bem —­ respondo dando um meio-sorriso, algo tão raro quanto carne hoje em dia. — E vocês? São parentes?

— Não exatamente, eu e Tonny trabalhávamos juntos em uma empresa de contabilidade, e Willi-Will era filho da minha melhor amiga. Éramos um grupo maior, mas fomos atacados e só sobrou a gente.

— Sinto muito. — É minha vez de dizer. Parece realmente ruim perder pessoas, parece não, é.

— Tudo bem, faz tempo. Então, me fale sobre você — pede Melanie. Willian e Tonny levantam a cabeça curiosos pela minha resposta e sinto-me corar.

— Certo, eu.. Hum... Tinha uma vida normal. Depois que meus pais morreram em um acidente de carro antes dessa merda toda, eu fui morar com meus tios, que eram pessoas maravilhosas. Menos meu primo, ele era um idiota — falo dando um sorrisinho ao lembrar-me de Piter, sendo acompanhada por eles — Eu gosto de música, livros, internet, gatos... Aliás, eu tinha um muito lindo... Enfim, eu sou comum — digo dando uma colherada nas ervilhas que estavam no enlatado, deixando claro que não gosto de falar sobre isso.

Depois ficamos conversando sobre assuntos banais, de coisas que mais gostávamos antes de tudo isso. Melanie amava beber vinho enquanto assistia a sua novela; já Tonny não dispensava seu futebol, e Willian sair com os amigos sábado à noite. Simplesmente pessoas normais, que agora eram sobreviventes.

Quando todos terminaram de comer, Melanie arruma a “mesa” de jantar, e logo após, Tonny e ela subiram para os quartos. Eles pegaram os quartos das crianças para facilitar a vigia, e isso fez com que eu e Willian ficássemos com o quarto de casal, o que me irritou um pouco.

Troco de roupa, vestindo uma calça de moletom cinza, e uma camiseta branca que encontrei hoje cedo. Digamos que eu não tenho muitas opções, fazer o quê. Fico com o lado direito da cama. Willian não chegou ainda, aparentemente está conversando com Tonny ou algo assim.

Pego a foto dos meus pais na mochila e fico observando, eu não lembro muito deles. Diziam que eu sou a copia fiel da minha mãe, já meu pai era moreno, e a única coisa física que herdei dele foram os olhos.

— Você é igualzinha a ela. — Levo um susto quando ouço Willian falando ao meu lado. Como não o ouvi chegando? — E desculpa por apontar uma arma na sua direção e ser mal-educado, questão de sobrevivência.

— Tudo bem, sobreviver em primeiro lugar. E em relação a minha mãe, é o que todos dizem, mas só na aparência, diziam que eu herdei o jeito do meu pai — falo com um toque de nostalgia na voz.

— Eu não conheci o meu — fala ele como se fosse à coisa mais normal do mundo, bom, talvez fosse para ele.

— Sinto muito —­ respondo. — Você não falou quase nada sobre você, estou curiosa, Willi-Will.

— Você também? Argh — ele responde fingindo raiva, logo após sentando-se no seu lado da cama. Solto uma risadinha; estou sorrindo demais com eles, isso é estranho.

— Bom, eu nasci na Califórnia, tenho 16 anos, e me mudei pra Atlanta quando tinha 10 anos com minha mãe. Eu nunca conheci meu pai, ele nos abandonou quando descobriu que ela estava grávida. Minha mãe sempre trabalhou muito pra nos sustentar, ela era enfermeira e morreu no primeiro dia do apocalipse. Ham, eu nunca fui muito ajuizado, sempre rolava um cigarro ou uma cerveja, mas nada pesado. E eu não tinha uma namorada, digamos que eu era de todas. E você, tinha namorado? – pergunta ele me fitando com curiosidade. Percebo que seus olhos são azuis, azuis como o mar. Lindo.

Sorrio e respondo:

— Não, nunca pensei muito sobre isso, digamos que meu primo era muito protetor, ele não deixava os meninos se aproximarem de mim.

— Ele não ta aqui agora — responde dando um sorriso sacana, sinto minhas bochechas queimarem e ele começa a rir. — Brincadeira.

— Idiota. — Dou um soco no braço dele. Talvez ele não seja assim tão ruim igual ao que pensei.

— Aí! Você esconde um moleque atrás dessa aparência toda meiga e frágil — diz massageando o lugar onde o soquei. — Aliás, quantos anos você tem?

— 14.

— Nossa, parece que você tem 11 com esse tamanho e tal — diz provocativo.

— Falou o cara que chama Willi-Will — revido, rindo da careta dele.

— Baixinha — fala, sorrindo torto.

— Ei! Eu tenho uma altura normal, ok? — digo indignada.

— Certo, e eu sou feio.

— Humildade passou longe, ein? — digo, e começamos a rir.

— Boa noite, baixinha — diz ele se deitando.

— Boa noite, Willi-Will — sussurro também me deitando.

Talvez eu esteja realmente feliz em ter encontrado humanos, talvez.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Então gente, o que acharam do Willi-Wil? E da Melanie e Tonny? Opiniões? Sugestões? Reclamações? Deixem nos comentários! Ah, e se os links não funcionarem, aqui está:

Willian: http://images5.fanpop.com/image/photos/31800000/Zach-Roerig-zach-roerig-31892418-245-282.jpg

Melanie: http://t1.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcTnL4Jz5oDf_GHCccimM_kbM6Qzj6p_sFuLbMO-IAErdFB5I8-J-w

Tonny: http://t2.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQP4umYb7GwL-OZHV3b-7etZE9VIE65jz4Ahznaue3zemXEDX4n