Era uma vez no Oeste escrita por nina


Capítulo 4
Vaqueira


Notas iniciais do capítulo

Heeeey
Obrigada a Amanda Belikov e a Larissa Andrade que favoritaram a fic =) E às novas leitoras, sejam beeem vindas!!!
Espero que gostem e boa leitura...



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– Você percebe o absurdo que está dizendo Rose? – eu não estava convencendo muito a minha amiga.

– Não é absurdo. Tiro Certeiro e seu grupo de cowboys estão indo para Santa Helena amanhã, você mesma disse. Eu poderia segui-los.

– E se algo acontece com você Rose? Quanto mais eu penso nisso mais eu não gosto. E o que você vai dizer ao seu pai?

– Eu vou como parte do grupo, nada vai acontecer e meu pai não pode saber até que eu esteja bem longe. – Lissa engasgou.

– Como parte do grupo? Rose seja realista. Eles são cowboys e você uma mulher. Seria como servir um prato de carne para uma matilha de lobos morta de fome, e eles fazem longas paradas, como você vai sobreviver mais de uma semana assim? Sem falar que Tiro Certeiro não aceitaria isso. – eu massageava minhas têmporas tentando encontrar uma maneira.

– Já sei! – eu comemorei. – Eu vou como um homem e vou agir como um deles. – sorri triunfante.

– Realmente Rose? Você é uma mulher, caminha como uma, tem forma de uma. Quanto tempo acha que pode engana-los com isso?

– Tempo suficiente para chegar a Santa Helena. Eu não vou deixar meu pai sair por ai quando ele deveria estar de repouso Lissa e principalmente por ser conhecido pelos bandidos, ele é tudo o que me resta. – Lissa ia protestar, mas quando viu a determinação e desespero nos meus olhos acenou em concordância.

– Tudo bem. – eu joguei meus braços em volta dela.

– Obrigada Lissa. Eu posso fazer isso. Mas agora eu vou precisar da sua ajuda, preciso do que vestir.

– Eu sei onde vamos encontrar roupas masculinas.

O lugar que Lissa se referia era o armário do seu irmão. André estava visitando sua noiva nessa tarde, então tínhamos que aproveitar nossa chance depressa.

– Essas são as menores roupas dele. – ela me jogou uma calça de couro folgada, uma camisa de algodão xadrez e um colete feito de um material grosso.

– Isso vai servir.

– Sim, mas o que vamos fazer com isso? – ela disse apontando para os meus seios fartos. Eu dei de ombros, sem ideias.

No final acabou que Lissa amarrou uma faixa a minha volta. Ela apertou tanto que eu mal podia respirar, mas servia para o propósito. Depois de colocar as roupas eu me virei de frente para o espelho.

– Você ainda se parece com uma mulher usando roupas masculinas. – eu bufei. Lissa tinha razão.

– Preciso de um chapéu.

Lissa tirou um chapéu marrom do fundo de um baú.

– Mas e o cabelo? – ela já estava olhando para uma tesoura que ficava na cômoda. Minhas mãos voaram para minhas longas mechas, as puxando possessivamente.

– Eu não vou cortá-lo. – disse com determinação.

– Ele vai voltar a crescer Rose. – ela disse enquanto pegava a tesoura.

– Meu cabelo não Lissa. Podemos deixa-lo escondido debaixo do chapéu. – eu disse rápido. Ela pensou sobre isso e largou a tesoura.

– Vamos ver se funciona.

Com meu cabelo escondido e usando todos aqueles tecidos largos eu parecia outra pessoa, eu parecia um homem. Ou pelo menos um adolescente.

– Apenas mantenha a aba sempre abaixada para fazer sombra.

– Eu posso fazer isso. – tentei me convencer.

– E leve uma bolsa com suprimentos, eu nem posso imaginar o que esses cowboys comem durante a viagem.

– Obrigada Lissa. – eu a abracei.

– Eu não tive escolha não é? – ela me deu um sorriso triste. – Tenha cuidado, por favor.

– Eu vou. Bem, é melhor eu ir antes que André volte e me veja usando suas roupas.

– Se algo der errado não seja orgulhosa e peça ajuda ao Tiro Certeiro, ele vai saber o que fazer. – então ela se deu conta de algo. – Nossa! Você é tão sortuda Rose, vai ficar mais de uma semana na companhia dele e vocês podem até dividir a mesma barraca.

– Eu não chamaria isso de sorte. – Eu não tinha pensado nisso. Droga Rose, basta ignora-lo e andar com os outros cowboys.

– Eu quero os detalhes quando você voltar.

– Eu vou pensar sobre isso, tchau Lissa. – eu a abracei uma última vez.

– Tchau Rose, seja cuidadosa e não banque a heroína. – eu virei às costas e cheguei até a porta quando Lissa caiu na gargalhada.

– O que foi?

– Isso vai ser mais difícil do que eu pensei. – ela disse tentando controlar o riso.

– Por quê?

– Homens não rebolam Rose.

– Ah!

...

Na manhã seguinte eu acordei antes que qualquer outra pessoa na casa e já tinha deixado um saco pronto debaixo da minha cama. Eu tinha colocado uma garrafa com água, frutas secas e alguns pães. Além de um vestido, roupas íntimas femininas e dinheiro. Quando eu chegasse a Santa Helena não precisaria ser um homem mais.

Saindo na ponta dos pés eu deixei a casa. O sol estava apenas começando a nascer no horizonte quando eu corri para o estábulo e selei um dos cavalos.

Lissa tinha me dito que os cowboys se encontravam na entrada da cidade, onde tinham deixado a boiada. Então foi para lá que eu me dirigi. A movimentação já era intensa. Uma carroça estava sendo carregada com várias coisas, enquanto outros homens preparavam o gado para a longa viagem. Eu deixei meu cavalo amarrado em um toco e sai para procurar Tiro Certeiro, Enoma, Kaluanã ou sei lá o que. Eu andava por entre os homens recebendo risos divertidos deles, eles poderiam saber que eu era uma mulher?

Eu estava tentando andar o mais dura possível, mas estava sendo difícil com aquelas botas. Como os homens conseguiam andar com essa coisa dura e pontiaguda era além de mim.

– Posso ajudar? – uma voz me fez pular.

Eu me virei e fiquei cara a cara com Tiro Certeiro, ou mais cara e peito, no meu caso.

– Eu quero ir com vocês. – limpei a garganta e tentei dizer com uma voz grossa.

– Para isso você precisa de um cavalo. – eu sorri triunfante.

– Meu cavalo está bem ali. – apontei para a égua marrom que eu tinha pegado emprestado do meu pai. Tiro Certeiro levantou a sobrancelha para mim e me olhava desconfiado.

– Você é muito jovem para vir, sabe os perigos que essas estradas apresentam?

– Eu não sou tão jovem, tenho dezoito anos. – ai, como eu o odiava. Mas eu não ia desistir facilmente.

– Muito jovem, como eu disse. – ele disse virando as costas. Eu bufei marchando para o meu cavalo. Eu ia com ou sem a sua permissão.

Quando o grupo já estava pronto para partir eu estava tendo um pouco de dificuldade em montar com aquelas botas.

– Você realmente quer ir não é garoto? – Tiro Certeiro já estava montado no seu cavalo e parou ao meu lado.

– Nada que você diga vai me convencer do contrário. – eu disse quando finalmente consegui montar. Não pude deixar de sorrir em comemoração.

– Você quem sabe garoto, a viagem é longa e dura. Eu não posso me responsabilizar por você.

– Eu estou reclamando? – eu podia despejar minha raiva em cima dele ainda.

– Ainda não. – ele disse com um sorriso.

...

Eu nem preciso dizer que a minha viagem estava sendo um desastre. Eu não tinha noção alguma de como pastorear o gado, e como eu estava no grupo como um dos cowboys era exatamente isso o que eu tinha que fazer.

Na primeira hora eu virei o assunto do grupo, e ganhava olhares hostis a cada vez que eu deixava o gado sair do espaço reservado.

Na segunda hora os homens já começaram a gritar comigo, eram coisas como “garoto idiota, não o deixe escapar” ou “o que um garoto com mãos de moça está fazendo aqui?”, eu tinha que dar crédito para esse último que era um bom observador.

Na terceira hora eu já queria morrer. Meus músculos já estavam tão doloridos que eu mal podia manter minha bunda sobre a sela desconfortável. Sem falar na roupa que suava e grudava no meu corpo, fazendo minha pele pinicar. Meus pés estavam sufocados pela bota quente, minha garganta seca, sem falar na minha barriga que roncava a cada minuto e as faixas me apertando dificultando a minha respiração. Isso porque estou deixando de fora os insetos, o sol escaldante e a poeira intoxicante. Lissa tinha razão, ali não era lugar para uma mulher. Mas eu nunca iria desistir.

Mas principalmente eu fiz de tudo para não mostrar meu cansaço, eu não queria que Tiro Certeiro viesse me falar um “eu te avisei”.

Somente quando o sol começou a afundar na planície que Tiro Certeiro deu sinal para pararmos.

– Vamos descansar aqui essa noite homens. – ele disse com seu sotaque. O pior era que o homem não parecia nenhum pouco esgotado da viagem, suas roupas nem se quer pareciam sujas de poeira. E eu também tinha notado que todos os homens da companhia respeitam Tiro Certeiro como se ele fosse um irmão mais velho ou algo do gênero, ele definitivamente era o líder ali.

Eu desci do cavalo, grata por finalmente poder esticar as pernas. Eu cambaleie um pouco quando o meus pés fizeram contato com o chão, eu nunca tinha passado tanto tempo em um cavalo e todos os meus músculos pareciam fracos. Eu ouvi algumas risadinhas dos homens, mas ignorei o melhor que pude.

– Montem o acampamento e acendam uma fogueira para espantar os lobos. – Tiro Certeiro continuou dando ordens. Imediatamente os homens começaram a descarregar as coisas da carroça.

Ao nosso lado corria um pequeno rio que foi muito bem vindo. Eu peguei minha garrafa e fui enchê-la, assim como muitos outros homens já faziam. A margem era um pouco íngreme e eu estava tendo dificuldade em alcançar a água. Malditas pernas e braços curtos.

– Com o tempo ficará mais fácil. – Tiro Certeiro se abaixou ao meu lado, em seguida, ele tomou minha garrafa e a encheu. Seus longos braços alcançavam o fluxo de água facilmente.

– Eu estou bem. – garanti pegando a garrafa de volta. Eu me sentia um bebê perto de toda a sua experiência. Humilhada por esse mulherengo arrogante, para dizer o mínimo.

– Tem certeza? Ainda há tempo para voltar. – ele levantou a sobrancelha. Se eu não o odiasse pediria para ele me ensinar uns truques.

– Claro. Estou perfeitamente bem.

Ele subiu em suas pernas e voltou para ajudar os homens.

...

Mas tarde, quando o sol já tinha descido e as estrelas manchavam o céu escuro eu me vi sentada em uma roda de fogueira. Todos os 14 homens estavam ali, enquanto um deles, o mais velho do grupo, estava fazendo uma sopa de carne e legumes.

– Como você disse que se chamava? – O ruivo que tinha me ajudado a sair da mina perguntou. Ele era um dos mais simpáticos entre os cowboys e vinha tentando me enturmar no grupo, eu me lembrei de que o nome dele era Mason.

– Eu não disse. – enrolei, tentando pensar em um nome.

– Então?

– Ah...John é como me chamam. – eu disse o primeiro nome que me veio em mente.

– Então John, o que o traz aqui? – ele continuou.

– Eu preciso chegar a Santa Helena e precisava de um dinheiro até chegar lá, então aqui estou eu.

– O que um garoto como você quer em Santa Helena? – Tiro Certeiro estava ouvindo a conversa e questionou.

– Preciso fazer um favor a alguém. – dei de ombros.

– Não vamos chegar a Santa Helena em pelo menos dez dias. Precisamos fazer uma parada em Guadalupe, talvez seja melhor você apenas voltar.

– Estou bem com isso. – Tiro Certeiro virou as costas e se juntou com os outros homens. Ele parecia frustrado.

– Não se preocupe com ele, é assim com todo mundo. Pelo menos com os homens. – ele riu.

– O que você sabe sobre ele? – eu era apenas curiosa para saber o porquê de tanto segredo.

– Nada que ele não queira que eu saiba, ele não diz para ninguém. Mas eu suspeito de que ele perdeu alguém próximo e acho que o grupo de bandidos do Nathan está envolvido com seu passado. Mas eu posso dizer que o cara é praticamente um deus de chapéu e casaco de couro. – isso era um exagero, mas eu não comentei.

– E porque ele beija todas essas mulheres? – ele riu.

– Você também já ouviu falar sobre isso não é? Bem, ele não precisa de muito esforço da sua parte, as garotas praticamente pulam em cima dele, acho que por conta de todo o mistério que o envolve. Uma vez eu ouvi que é porque ele se sente sozinho e busca consolo nos braços das mulheres, mas nunca uma segunda vez para não iludi-las. Como você já viu isso não funciona, todas elas se apaixonam. Por isso ele tem dado uma trégua nos seus flertes ultimamente. – ele riu sozinho.

Eu olhava para o homem misterioso, ele tinha um sorriso no rosto, mas não era um sincero, agora eu podia ver uma máscara escondendo suas reais emoções, eu franzi a testa. Algo do seu passado o atormentava e ele tentava esconder isso com um sorriso arrogante e galanteador.

– Ele está sofrendo. – eu disse meus pensamentos em voz alta.

– O que? – Mason questionou.

– Nada, eu só estava pensando alto.

– Vejo que fez amizade com o novato. – O cowboy com nome Christian se sentou ao nosso lado. Era ele quem tinha olhos interessados na minha melhor amiga.

– Esse é John, ele está indo para Santa Helena. – Mason me apresentou.

– Boas pessoas não vão para Santa Helena. – ele disse me olhando de cima a baixo. Quem ele pensa que é?

– O que eu faço não interessa para você.

– uh uh, ele é áspero como um cacto. – Christian riu.

– Só o deixe em paz Christian.

– Eu só quero conversar, então novato...

– John. – eu interrompi.

– Então John, eu vi que você estava com dificuldades com a boiada. – eu estreitei meus olhos, ele estava zombando de mim. – Você é novo no ramo não é?

– O que é você, um cafetão? – ele riu.

– É só que você é estranho e me lembra de alguém. – ele tentou me olhar mais de perto. Eu abaixei o chapéu e desviei o rosto.

– Você está s se confundindo, eu não sou daqui.

– Talvez. – ele disse sem tirar os olhos de mim. O filho da mãe não podia me reconhecer, isso seria o meu fim.

A minha sorte foi que a comida foi servida e eu pude me fechar no meu canto. Eu não podia me arriscar com esse tal Christian, ele era muito esperto.

Depois que todos tinham suas barrigas cheias, inclusive eu que estava surpresa com o quão saborosa a comida estava, uma roda de música começou. Alguns dos cowboys que tinham traços mexicanos traziam consigo uma espécie de violão, ou banjo, como eles chamavam. Eu não reconhecia as canções, mas eram letras fáceis e todas sobre as aventuras dos cowboys e donzelas em perigo. Os homens batiam o pé e cantavam a melodia, Tiro Certeiro tinha se recostado em uma tora e apenas assistia em silencio e com seu chapéu abaixado.

Algo me dizia para ir e me sentar ao seu lado, ele parecia tão solitário aqui. Totalmente diferente do cowboy abusado que eu conheci, talvez Mason tenha razão, ele usa as mulheres como consolo para fugir de alguma coisa.

Por fim eu decidi deixa-lo com a sua solidão, eu não gostava da forma como ele tratava as mulheres, eu me lembrei. Eu não gostava de como ele era mandão, mulherengo e arrogante como se achasse que tinha tudo aos seus pés. Não, definitivamente eu não vou me aproximar dele, eu tinha me prometido manter distância e era isso que eu faria.


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Notas finais do capítulo

Então?? Gostaram? Odiaram?
Quantos dias vocês dão pra Rose resistir ao charme do Tiro Certeiro ou para ele descobrir sobre ela??? hahaha
Beijos e até o próximo...


SPOILER:
— Seu segredo estará seguro comigo. – ele disse por fim.
- Que segredo? – perguntei rápido demais, isso só ajuda a levantar mais suspeitas.



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