Capítulo 21 - Desentendimentos

– Dimitri?! – Eu me levantei do banco, tropeçando no processo. – O que você está fazendo aqui? – Victor estava muito bem vestido, como na última vez, e olhava de mim para o Dimitri com a testa franzida.

– Vocês se conhecem? – Victor perguntou, mas foi ignorado.

– Eu não sei por que não estou surpreso, Rose. – Dimitri me olhava sério e eu sabia que ele estava bravo, e com razão. Ontem à noite eu havia prometido não andar pela cidade sem ele, e claro que o Adrian não sabia desse detalhe.

Adrian a muito já tinha esquecido as dançarinas e tinha se concentrado em nós, ele até mesmo apagou o cigarro e o jogou em um cinzeiro. Eu percebi que ele não sabia se me defendia e a si mesmo ou se fugia dali.

– O que você está fazendo aqui? – Dimitri perguntou enquanto cruzava os braços.

– Eu perguntei primeiro. – Cruzei os meus próprios braços e ele me olhou exasperado.

– Victor me disse que uma mulher estava me procurando. – Ele deu de ombros. Eu o olhei, indignada.

– Então você decidiu se encontrar com uma mulher em um saloon mesmo depois de ontem à noite? – Era tudo bom demais para ser verdade, você foi idiota mais uma vez Rose.

– Podemos resolver nosso jantar logo Rosemarie? Eu tenho um compromisso. – Victor nos interrompeu impaciente. Eu achei que o Dimitri fosse pular no pescoço dele quando ele disse “nosso jantar”, mas ele se controlou muito bem e me olhou em busca de uma explicação. Eu acho que eu não estava melhor do que ele.

– Eu já cuido de você, afinal, você me deixou esperando por mais de uma hora. – Victor ia protestar, mas eu levantei a mão e me virei para o Dimitri, que ainda me olhava sério com seus dois metros de pura imponência. – Você ia se encontrar com uma mulher aqui? Você saiu cedo e esperava que eu ficasse te esperando? – Eu esbravejei. Não seria mais a tola na história.

– Rose, não é um encontro como você pensa. Eu nem sei o que ela quer e muito menos quem ela é. – Ele mexia nos cabelos, sinal de que já estava nervoso e impaciente.

– Você vem a um salão se encontrar com uma mulher e quer que eu acredite que era apenas para conversarem?

– Rosemarie... – Victor tentou interromper, mas Dimitri o cortou.

– Então o que você tem a dizer sobre isso, Rose? Porque você está em um saloon, esperando para marcar um encontro com esse homem. Agora a troca de que é a questão. – Ele cuspiu as palavras com raiva.

Eu dei um passo à frente, apontando o dedo no peito dele.

– Não tire conclusões precipitadas, camarada. – Ele pegou meu dedo, o apertando e o colocando de volta ao lado do meu corpo.

– Não tire você conclusões precipitadas. Eu disse que estou apaixonado por você e nunca mentiria sobre isso, Rose. Mas se você não sentia o mesmo era melhor ter me dito.

– Eu não menti para você também. Eu não sou assim, camarada. – Gritei de volta.

Victor tentava dizer alguma coisa e Adrian parecia querer apartar a briga o quanto antes.

– Então por que você marcou de se encontrar com ele? – Então ele se virou para o Adrian. – E como você permitiu isso?

– Você deveria saber melhor do que eu que quando ela quer algo vai até o fim, não importa os meios. – Adrian se recostou sobre o balcão.

– Ele não tem nada a ver com isso, eu só achei que seria mais seguro não andar desacompanhada. – Eu rebati. – E se você quer culpar alguém culpe a si mesmo, por que você foi ser tão protetor e cabeça dura? – Agora ele estava confuso.

– Eu não sou cabeça dura. E o que isso tem a ver? – Ele agora estava confuso, mas não tanto quanto eu.

– Tem a haver que eu sabia que no momento em que você descobrisse que eu estou aqui atrás do Nathan você me mandaria de volta para casa, quem mandou você ser tão protetor. – Pronto. Agora ele sabia o porquê da minha viajem, era questão de tempo até ele tentar me enviar de volta.

– Eu sabia que você estava atrás dele, para que mais você viria até aqui. Eu não sou bobo, Rose, por isso não queria você andando sozinha por ai. Mas isso não explica o porquê dessa loucura, você sabe quem é esse homem?

– Mas você... – Eu ia protestar, mas fui cortada por um Victor impaciente.

– Chega! – Ele gritou com a voz grave. - Vocês dois se resolvam depois. Eu fiz minha parte do combinado, Rosemarie, e não foi nada fácil encontra-lo, agora quero ser ressarcido.

Minha cabeça dava voltas e mais voltas, eu estava cada vez mais confusa, na verdade, eu não sabia nem onde eu estava mais. Mas Dimitri elevou as sobrancelhas, como se uma luz o iluminasse.

– Você é mais teimosa do que eu pensei, Rose. – Dimitri suspirou, enquanto eu franzia a testa. Adrian também tinha se aproximando e Max continuava seu serviço, mas mantinha um olho e ouvidos na nossa conversa.

– Alguém me explica que droga está acontecendo aqui? Onde está o Billy Black? – Agora era eu quem estava impaciente.

Dimitri riu sem humor. Todos os demais pareciam ainda mais confusos.

– Vamos apenas fugir daqui, Rose. – Adrian estava incerto sobre sua segurança, eu também estaria no lugar dele.

– Eu não sei o que está acontecendo aqui, mas eu quero minha fatia do bolo. – Victor tentou me puxar pela cintura, mas Dimitri mudou sua postura imediatamente, me puxando para seu lado e lançando um olhar mortal para cima do coronel. Adrian também ficou atento.

– Você não vai chegar perto dela. – Dimitri avisou em tom de aviso.

– Eu não quero saber de brigas dentro do saloon. – Max soou do outro lado com voz autoritária, mas não adiantou nada.

– Não se meta nos meus negócios, garoto, isso é entre ela e eu.

– Não se meta você no que é meu, Coronel. – Eu gostava quando Dimitri me defendia, mas não assim. Quem ele pensa que é para tomar frente dos meus acordos.

– Nem um dos dois vai se meter nos meus negócios. Em primeiro lugar, Dimitri, você não vai concordar com o que eu preciso fazer, portanto, é melhor voltar para a hospedaria e fingir que nunca esteve aqui. E segundo lugar, você não cumpriu com a parte do acordo ainda, Victor, então nada feito. – Victor ajeitou o chapéu de camurça enquanto mostrava um sorriso zombeteiro.

– Eu sou conhecido como Billy Black aqui em Santa Helena, Rose. – Dimitri disse, dando fim às minhas confusões.

– Você está brincando comigo? – O primeiro sentimento que me veio foi a incredulidade. Eu pisquei umas quatro vezes para poder focar no que estava à minha frente. Eu tinha saído de El Passo em busca de um homem que estava ao meu lado o tempo todo.

– Agora tudo faz sentido. – Adrian parecia tão surpreso quanto eu. – Quantas outras identidades você possui, Tiro Certeiro? – Dimitri o ignorou e se voltou para mim.

–Rose, eu disse que ia ajuda-la, se você tivesse me dito desde o início... – Para mim isso só provava que eu não conhecia o homem por quem eu estava apaixonada.

– Você não pode estar falando sério, Dimitri. Depois de todos esses dias juntos você nunca mencionou esse nome. Quem é Billy Black?

– Billy Black lutava contra o Nathan, Rose. Eu ganhei esse nome aqui há muito tempo, e não o usava mais, apenas algumas pessoas me conhecem assim. Essa é uma parte do meu passado que eu gostaria de esquecer.

– Então por que você veio até aqui quando procuraram pelo Billy Black? – Isso ainda não estava bem esclarecido.

– Saber que alguém me procurava depois de tanto tempo me intrigou. – Ele deu de ombros. – Você se lembra de quando eu te contei do Ivan e de como nós saímos pelo Texas nos sentindo heróis? – Eu concordei com a cabeça e ele continuou. – Nessa época, eu era conhecido como Billy Black. E achei que alguém que o conhecia poderia estar me procurando.

Eu ainda o olhava de forma desconfiada. Será que eu poderia voltar a confiar nele? Ou na próxima cidade eu conheceria outra face dele?

– Como eu disse, cumpri com minha parte do acordo. Não importa que se trate de um mal entendido. – Victor voltou a nos interromper. – Agora é a sua vez de cumprir com a sua parte, Rosemarie.

– Eu não... – Dimitri me interrompeu.

– Ela não vai fazer acordo nenhum com você, Victor.

– Eu não gosto de ser passado para trás. – Victor fez uma careta e me lançou um olhar amargurado. – Eu já disse para não se meter nos meus negócios, garoto.

– É apenas um jantar, Dimitri...

– Você não vai sair com esse homem. Estamos indo embora hoje à noite.

– Eu não quero saber... – Victor começou a falar, mas parou quando Dimitri me soltou apenas para dar um passo a frente e ficar cara a cara com o coronel.

– Ela não vai se encontrar com você, porque para que isso aconteça você terá que passar por cima de mim e eu acho que você não vai querer isso. – Victor se encolheu sob o olhar do Dimitri, o coronel deveria saber que ele não era alguém para ter como um inimigo. E eu também não iria contestar sua opinião, até por que eu estava agradecida de não ter que ir a esse jantar.

– Nesse caso, acho que vai ter que ficar para uma próxima, Victor. – Adrian não perdia a chance de colocar mais fogo na fogueira.

– Eu tinha outros compromissos essa noite de qualquer forma. – Victor ajeitou o chapéu, se afastando para a saída. – Mas eu esperava que você cumprisse com sua parte, Rosemarie.

– Ei, não me culpe por isso. Você quem deu azar por eu estar procurando por esse grandão aqui. – Dimitri ainda estava mal humorado.

– É uma pena. – Victor tinha um brilho no olhar. – Nos vemos de novo, qualquer dia eu apareço em El Passo. – Como Victor sabia minha identidade era novidade para mim, e algo muito perigoso. Mas eu achava que ele era um homem inofensivo e que vivia a sombra de uma boa reputação da família.

– Sim, sim. – Acenei de forma impaciente, eu estava mais ansiosa para saber se o Dimitri me ajudaria.

Victor se despediu com um aceno e sumiu pela porta vai e vem.

– Tudo saiu muito bem. – Adrian foi o primeiro a quebrar o silencio mortal. – É melhor esquecermos tudo e...

– Você não vai fugir das suas responsabilidades, Adrian. – Dimitri olhava para mim como se decidisse o que fazer.

Adrian se encolheu. Ele não tinha culpa, eu o trouxe para isso.

– Adrian não fez nada, eu o forcei a me ajudar. – Assim, talvez ele se livrasse na bronca. Ou não

– Isso não muda o fato de que ele escondeu coisas de mim e foi irresponsável. E quanto a você, Rose, eu estou decepcionado. Eu achei que você confiasse em mim. – Ele suspirou e parecia realmente triste.

Meu coração se apertou, ele poderia dizer que me odiava, mas dizer que estava decepcionado parecia ainda pior.

– Eu confio em você. – Tentei consertar.

– Não é o que parece.

– O que você queria que eu fizesse? Se eu contasse você não me ajudaria e me mandaria de volta para casa. – Eu me enfureci. Ele também não estava ajudando.

– Tem certeza, Rose? Eu disse que te ajudaria e pedi que confiasse em mim, você ao menos tentou? – Ele levantou a sobrancelha enquanto me encarava. Eu não tinha uma resposta espertinha para isso. Ele tinha razão, eu apenas julguei que ele seria um idiota que acabaria com meus planos.

– Desculpe-me. – Eu não usava muito essa palavra e ele sabia disso, porque ele não escondeu sua surpresa. Mas ele apenas bufou e percebendo que estávamos tendo muitos espectadores me chamou para ir embora.