É incrível; já faz um ano e eu ainda consigo ouvir – e sentir – aquela estranha chuva. A chuva que levou sua alma. Sinto como se estivesse perdido, e sinto gotas caírem no meu rosto. E realmente caem. São minhas lágrimas. E o motivo é você.
Quando a encontrei no meio dos destroços do carro desejei não tê-lo feito. O que houve com o rosto que me fazia sorrir nas piores horas? O que houve com a minha felicidade? O que houve com você?
Logo depois fomos para o hospital, e a chuva ainda caia, querendo levar mais vítimas. Esperei por quase 10 horas ao lado de um homem que não parava de chorar e um garotinho calmo, que disse não estar preocupado com o que poderia acontecer com sua mãe. “O médico disse que ela está bem”, disse. “Ela só precisa acordar.” E então a notícia veio. Você se foi.
Quando comecei a caminhar pelo longo corredor em que você se encontrava percebi que o mundo é um grande labirinto, e eu estava encontrando uma das saídas erradas... mas esse é o meu caminho.
Minhas memórias embaçaram a imagem que eu tinha de você na cama do hospital. Culpa das lágrimas. Mas lembro de você no funeral. Gostaria que fosse eu dentro do caixão. Lembro que as pessoas fizeram fila para me falar “meus pêsames”. Acho que quem deveria ter feito algo assim sou eu. Sua perda para o mundo é algo irreparável. E você era o meu mundo.
Caminho agora no cemitério, em direção à sua morada final. E a chuva está caindo. Levo flores que provavelmente morrerão em poucos dias, e você nem poderá vê-las. Então saiba: as arranquei do fundo do meu coração, uma terra agora infértil, onde a única raiz que me mantinha firme era você. E você, onde está?