Coração de Chicago escrita por Charlie


Capítulo 3
Capítulo 3 — Faço Uma Nova Amizade




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AQUELE RESTANTE DE SEMANA FOI bem interessante. Ter Griffin e Ben em casa foi bastante divertido por dois motivos; um: eu gostava de bancar o responsável com eles, era completamente reconfortante para mim e sem contar que eles eram companhias legais; dois: era engraçado ver Matt bancando o “pai de aluguel”. Ele tinha sido como um pai para mim, mas comigo era totalmente diferente. Eu era seu irmão, não filho. Griffin e Ben eram duas crianças que não tinham mais pai e Matt, tentando ser um “pai de aluguel” deles, se atrapalhava demais. Ele sempre se esquecia do café da manhã, almoço e jantar deles dois, e acabava que eu era quem fazia as refeições para os meninos. E a cara de perdido dele era totalmente engraçada de se ver.

O lado negativo disso era que, de tanta amizade que eu tinha feito com eles dois, eu tinha que sair com eles, direto, para mantê-los ocupados e isso tomava quase todo o meu tempo e eu ficava quase sem tempo para poder estudar ou até mesmo ver meus amigos direito fora da escola. Isso quando Gabriela Dawson não os pegava para sair. O.K., eu quase sempre via meus amigos, mas Ryan tinha treino, assim como Jessica, e Griffin e Ben ficava com Christie, quando Matt estava de plantão, mas, quando eles não ficavam com minha irmã, era comigo com quem eles ficavam. Bem, o que eu quero dizer é que tomar conta deles exigia muita responsabilidade e muito tempo.

Como eu não tinha tempo direito, eu tinha que me virar para poder aprender a matéria e brincar com Ben quase todas as tardes não estava ajudando nada, nada. Eu só estava conseguindo tempo às madrugadas e não era nada legal de se estudar nesse horário e principalmente quando se dormia na sala — Griffin e Ben ficaram com o quarto em que eu dormia. E eu também não tinha muito tempo para poder pensar em treinamento da corrida da escola — meu querido professor, o sr. Walter disse que teria uma competição de corrida entre as turmas da escola e eu fui escalado para correr pela minha. Mas eu estava sem tempo para treinar, então, todas as vezes que eu saia da escola, eu ia correndo para casa para poder ter algum tipo de treinamento. Mas era totalmente errado, eu sei. Eu tinha peso em minhas costas e não tinha me aquecido. Em um caso, eu quase tinha desmaiado quando chegava perto de casa por conta da crise de asma, mas, por sorte, eu tinha conseguido pegar minha bombinha a tempo.

De qualquer forma, as coisas também não iam nada bem ao Batalhão 51. Matt tinha me dito que a tal Gail McLeod estava sendo mais rigorosa com eles do que nunca e que eles, os bombeiros e as paramédicas, tinham uma espécie de dedo-duro no Batalhão e alguns suspeitavam do tal Jeff Clarke — o que não era totalmente difícil de desconfiar, pois o cara tinha uma cara totalmente suspeita; eu também suspeitava e não confiava nele. A outra coisa que estava incomodando, tanto meu irmão, quanto o Tenente Severide, era um misterioso incendiário. Parecia que esse incendiário estava pondo o número dos distintivos de meu irmão e do Kelly quando incendiava alguma casa ou coisa do tipo. Mas, por sorte, meu irmão e Severide não se acidentaram com esses incêndios. Menos mal. Mas Matt disse para eu não dizer nada disso para ninguém, porque era sigilo, então eu não abri a minha boca.

Uma das outras coisas ruins que aconteceram assim que a semana seguinte começou, foi Griffin, de uma fora estranha, ter adquirido um perfil agressivo, onde ele tinha quebrado o nariz de um de seus colegas de classe. Eu não o julgava, pois eu teria feito o mesmo com alguém se eu pudesse quando fiquei completamente revoltado com minha mãe no ano anterior. Talvez fosse a forma de Griffin não aceitar a situação em que sua mãe se encontrava, pois ele tinha descoberto que a mãe estava presa. Na verdade, foi uma barra ver a reação, não só a de Griffin, mas a de Ben também. Bem, eu sentia pelos dois.

Enquanto eu estava na escola para poder estudar, logo assim que Dawson pegou os meninos e os levou para o parque — agradeço a ela —, eu recebi o telefonema da mesma dizendo que Griffin tinha caído de um brinquedo em que ele se pendurava. Quando eu me ofereci para ajudá-la, ela disse que Matt já estava a caminho do hospital em que ela estava e que era para eu continuar meus estudos, mas é claro que eu não consegui. Bem, eu não ia consegui estudar pensando no bem-estar de Griffin. Era estranho me ver preocupado daquela maneira. Eu sabia que Griffin e Ben não tinha vínculo sanguíneo nenhum comigo, eles eram apenas os filhos do falecido melhor amigo do meu irmão; não tinham nada comigo. Mas, de alguma forma, com aquele tempo que eu já tinha com eles, me senti como se eles fossem meus irmãos mais novos. Eu gostava de cuidar deles.

Ainda naquele mesmo dia do acidente de Griffin, Matt tinha me dito que eles tinham descoberto quem era o tal incendiário. Era o Kevin Hadley. Eu o via muito no ano passado. Ele também era colega de trabalho de meu irmão, mas estava sob o comando do Tenente Severide, o que significava que ele fazia do Esquadrão 3. Hadley era um cara muito bonito. Era ruivo, sorriso branco e perfeito e parecia ter o mesmo tipo físico do Severide. Ele não fazia mais parte do Batalhão 51 porque ele tinha armado uma brincadeira feia com Peter Mills e a consequência tinha sido ser expulso do Batalhão. Por isso eu não o via mais, mas, apesar de tudo, ele era uma pessoa gente boa. Eu não me senti muito bem ao saber da morte dele, ainda mais sabendo que ele tinha morrido queimado pelo próprio incêndio que tinha causado. Era realmente uma pena.

Naquele mesmo dia do acidente de Griffin e a morte de Kevin Hadley, Matt me disse que eles tinham descoberto quem era o dedo-duro do Batalhão 51. Eu tinha torcido muito para que tivesse sido aquele tal de Jeff Clarke, mas eu estava completamente enganado. O dedo-duro era o Tenente Spellman. O que muito me surpreendeu, porque o Tenente Spellman era o total oposto do que eu imaginava. Ele não fazia o perfil malvado e completamente suspeito. Muito pelo contrário. Ele era um cara que parecia ser de bem com a vida e com todos, mas, é claro, eu estava completamente enganado.

O de bom, também, que aconteceu foi ver Griffin se ajeitando com meu irmão — eles não tinham um relacionamento dos bons, para ser sincero. Mas, de alguma forma, eles estavam aprendendo a se dar bem e conseguiram isso no fim daquela semana. Ben, bem... não tinha do que reclamar daquele molequinho, não é mesmo? Cabelos castanhos, olhos castanhos, pele branca, baixinho e tinha a carinha mais fofa que eu já tinha visto na vida. Era a cópia mais nova de Griffin, porém baixa. E ele era um amor de criança.

No decorrer da outra semana, Matt tinha planejado um fim de semana com eles. Pesca em uma água cristalina e tranquilidade em uma cabana no lago Carroll. Eu não fui convocado porque eu não queria e também não queria atrapalhar esse vínculo novo que meu irmão estava compartilhando com Griffin. E isso significava que eu teria tempo para mim. Ficar em casa sozinho e ver meus amigos seria uma oportunidade muito boa. Mas tudo isso mudou quando todos nós fomos surpreendidos com um telefonema da Heather direto da prisão dizendo que ela iria ser libertada. Bem, Matt teve que desfazer esse fim de semana na cabana no lago Carroll. Neste mesmo dia, eles foram embora, onde parte de minha felicidade tinha ido com eles.

Toda a responsabilidade, carinho e amor que eu tinha desenvolvido por aquelas crianças foram tão grande que eu não aguentei e chorei na despedida deles. Pode achar bobeira, mas aquilo era uma fora de demonstrar para Matt o que ele tinha feito por mim ao longo de todos aqueles anos. E, com a partida deles, eu não podia fazer mais nada. Eu sentiria muita saudade de Griffin e Ben.

Quando chegou quarta-feira da outra semana na escola, eu consegui encontrar Jessica na entrada da escola. Ruiva e bela, totalmente reconhecível. Ela estava com as amigas líderes de torcida, fofocando sobre um garoto alto e de cabelos pretos que tinha passado por perto delas. Meninas, pensei.

— Oi — disse eu assim que cheguei perto dela.

Ela se despediu das amigas e veio até a mim, e sorriu.

— Oi, Cam — disse ela, mas mantinha os olhos por onde o garoto tinha entrado.

Semicerrei os olhos para ela.

— É só um garoto, Jessica — disse eu revirando os olhos para ela.

— Porém lindo — disse ela ainda olhando para onde o garoto tinha passado.

Revirei os olhos novamente.

— Você viu o Ryan? — perguntei assim que adentramos na escola.

Por sorte, o armário dela era a minha direita e o de Ryan era a minha esquerda. Aquilo facilitava a nossa conversa na hora da entrada, do recreio, nas mudanças de aulas que tínhamos que fazer e na hora da saída.

— Ele chegou e foi direto para o campo — informou-me ela. — O treinador tinha que falar com o time... ai, meu Deus!

Ela estava fitando algo ou alguém atrás de mim. Virei-me para olhar e era um garoto. O garoto mais bonito que eu já tinha visto até aquele momento.

Ele parecia ter a mesma estrutura que Ryan, só era um pouquinho menos forte que o meu melhor amigo e aparentava ter uns dezessete anos. Agora que ele estava mais perto de mim, dava para perceber que seus cabelos não eram pretos, mas de um castanho bem escuro e olhos num tom verdes claros. Sobrancelhas grossas e nariz bem reto, com sobrancelhas negras e grossas, e algo em seu rosto me dizia que ele fazia o perfil de menininho malvado, o que combinava com ele. Ele era realmente bonito.

Bem, meus amigos e meus irmãos sabiam de minha opção sexual. Eu não escondi isso deles, eles sabiam que eu era gay e nenhum deles me criticava por conta disso. Eu não contei para minha mãe por que... bem, ela não tinha importância em minha vida. Não queria saber de mim e nem morava mais comigo ou mandava notícias, então ela não precisava saber disso. Então eu realmente podia dizer que aquele garoto era bem bonito.

De qualquer forma, eu tinha disfarçado ao o olhar, eu não queria dar a impressão de que eu realmente estava o olhando. Mas nem assim escapei. Quando eu tinha decidido dar uma última olhada nele, ele tinha me olhado e sorrido de lado — um sorriso metidinho e bonito. Completamente sem graça, voltei-me para Jessica e ela não parava de encarar o menino. Segurei na mão de Jessica e, arrastando-a, fomos para a primeira aula do dia. Mas saí dali com certo sorriso no rosto.

Jessica tinha ido para a sua aula de geografia e eu tinha ido para a minha de história. Não tinha sido nada bacana assistir a aula de história, mas pensar naquele menino que tinha aparecido misteriosamente na escola. Ele não estudava aqui, disso eu tinha certeza. Eu nunca o tinha visto aqui antes.

Mas, mesmo que ele não estudasse aqui, o que ele estava fazendo aqui? Por que uma pessoa que não era dessa escola estava nessa escola? Não tinha cabimentos, não? Ao menos, se fosse eu, eu não estaria aqui. Eu não era uma pessoa totalmente viciada em estudos. Certa hora, estudos cansam e eu não queria ir para outra escola sem mais e sem menos. Até mesmo eu que sempre estudava precisava de um descanso. Enfim, seja como for, eu não prestei atenção na aula de história direito.

A segunda e terceira aula foi de geografia e foi totalmente um saco. Completamente um saco. Não queria mais escutar sobre Golfo do México e tampouco sobre o PIB da Cuba e nem do Vaticano. Eu não sabia como esses dois territórios poderiam se conectar, mas é claro que eu não fiz objeção nenhuma.

No recreio, eu consegui encontrar Ryan e Jessica reunidos no pátio da escola. Ryan vestia o casaco do time, é claro, com calças jeans e Jessica estava vestida de líder de torcida, vestida de seu uniforme. Eles pareciam estar tendo uma conversa engraçada, pois ambos riam. Eles pareciam um casal, para falar a verdade. E para eu ser bem honesto, eles realmente fariam um belo casal.

O pátio era enorme a esse ponto. Sempre repleto de árvores, mesas, cadeira, a cantina ficava do outro lado do pátio à minha esquerda. Ele realmente era imenso. Eles estavam sentados a uma mesa retangular que tinha ali. Alguns estudantes estavam conversando, alguns casais namorando e outros estavam simplesmente comendo ou estudando. Tinha muita gente ali, para falar a verdade.

Ambos eram populares, começa por aí. Ryan sempre conseguia fazer Jessica se sentir totalmente envergonhada e sempre a tratava muito bem, como um perfeito cavalheiro. Jessica (não conte a ela), mas, bem... eu já a vi olhando para Ryan com outros olhares. O que eu quero dizer é: por que não tentar? Eles faziam um belo casal e toda a escola os via dessa maneira; disso eu também tinha certeza. Mas a decisão era deles e não minha.

— Oi, gente — disse eu ao chegar perto deles.

Eles me olharam sorrindo.

— Ei, rapaz — disse Ryan, me cumprimentando com um soquinho de punho.

— Oi, Cam — disse Jessica.

Sentei-me ao lado deles.

— Cara, tive uma aula chatíssima de geografia — reclamei.

Jessica concordou com a cabeça.

— Eu também — falou ela. — Estava tão irritante que saí para ir ao banheiro e aproveitei para andar um pouco pela a escola, atrás daquele garoto — e ela deu um risinho estranho para mim.

Olhei, de primeira, para Ryan e ele não pareceu gostar do comentário que Jessica tinha feito sobre o garoto, pois ele tinha franzido a testa e fitado o chão do pátio. Eu sabia!, pensei. Ele gostava dela! Deixando esse pensamento de lado, virei-me para Jessica e franzi a testa para ela.

— Por que o risinho esquisito? — perguntei.

Ela bufou.

— Você acha que eu não vi como você tinha olhado para ele e ele para você? — rebateu ela. — Além do mais, eu vi o sorrisinho de lado que ele tinha te dado e vi o quanto você ficou sem graça com aquilo, e também vi seu sorriso.

Arregalei os olhos para ela completamente chocado.

— Ficou louca? — perguntei semicerrando os olhos para ela.

Ryan se ajeitou no seu lugar, agora, prestando atenção em mim e Jessica, e olhou de Jessica para mim, e de mim para Jessica, e de Jessica para mim novamente. Ele pareceu pensar.

— Eu entendi direito? — perguntou ele a Jessica.

Ela assentiu sem olhar para ele e sorrindo para mim.

— Cam está afim do garoto — disse ela.

Bufei para ela.

— Não seja ridícula — disse eu. — Como posso estar afim dele se nem ao menos sei seu nome e nem nunca falei com ele?

— Não precisa conhecer a pessoa para se sentir atraído por ela — disse ele olhando para Jessica, mas Jessica não o viu, pois não tirava os olhos de mim.

Eu sabia!, pensei. Ele realmente estava afim dela!

— Ah, até você, Ryan? Argh! — reclamei e, pegando minhas coisas, voltei para dentro da escola, completamente irritado.


Quando chegou a quarta aula, eu me surpreendi com uma boa aula de espanhol. Bem, eu não era tão bom em espanhol assim, mas segunda a sra. Rodriguez, meu espanhol estava melhorando. Então isso queria dizer alguma coisa, não?

De qualquer forma, quando o sinal tocou dando o início da quarta aula, fui para a quadra, pois as duas últimas aulas, de educação física, seriam lá. O sr. Walter fez com que fizéssemos duplas e eu tive que ir com Ryan e Jessica ficou com uma amiga líder de torcida — ele e Jessica eram da mesma aula de educação física que a minha. Com duplas formadas, o sr. Walter fez com que fossemos para o campo de futebol americano e corrêssemos em volta no campo. Não foi uma coisa desagradável de se fazer, porque eu gostava de correr, mas foi chato porque eu não queria falar com Ryan no momento. Até ele tinha dito que eu estava afim daquele garoto. Como ele podia dizer algo assim para mim se nem ele tinha dito o que sentia por Jessica? Francamente! Eu não aceitava isso.

Mas, seja como for, eu não podia ficar completamente com raiva dele. Eu sabia que ele só tinha dito aquilo para ver se Jessica demonstrasse alguma coisa, mas ela não tinha dito nada, então... bem, coitado do Ryan. Mas ele não podia perder as esperanças, não é mesmo? Outro dia eu o ajudaria, pensei comigo mesmo quando terminamos as dez voltas que o professor tinha dito para nós fazermos.

O sr. Walter aproveitou para dizer e tirar dúvidas de como seria a disputa na corrida contra as turmas. Ele disse que era daqui ha uma semana e que éramos para fazer quinteto, pois uma parte da prova seria de revezamento. Iriam correr Ryan, Jessica, Oliva, Elliot e eu — não precisamente nessa ordem, mas iríamos. E que era para escolhermos o melhor corredor entre nós para disputar a última prova, que seria um corredor para cada turma. Eu fui selecionado por eles no segundo seguinte em que o professor tinha dito aquilo e eu não pude fazer qualquer objeção, pois o sr. Walter decidiu, também, que seria eu antes mesmo que eu pudesse dizer alguma coisa.

Quando terminou as duas últimas aulas, Ryan, os meninos e eu fomos para o vestiário masculino e as meninas para o feminino, e, depois de um banho bem tomado e trocado de roupa, voltei para os corredores da escola com Ryan.

— Você já pensou em contar para ela? — perguntei para ele assim que chegamos a nossos respectivos armários.

Ele deixou alguns cadernos em seu armário, bateu a porta e me olhou, franzindo a testa.

— Do que você está falando? — perguntou ele.

Fechei a porta do meu armário e bufei para ele.

— Sério, Ryan? — disse eu.

Ele continuou com a testa franzida e começamos a andar para fora da escola.

Quando chegamos à entrada da escola, Ryan e eu vimos Jessica rindo e conversando com suas amigas líderes de torcida. Ela era realmente linda. Não era difícil ver Ryan ficar caidinho por ela. Ela realmente era uma boa menina, linda e gente boa. Tudo que um garoto poderia procurar em uma menina. Sem contar que Jessica era conhecida nossa, então era bem melhor estar com alguém conhecido do que com alguém totalmente desconhecido, não? Bem, não sei, porque certos casais não se conheciam antes de começar a namorar e casar... enfim! Seria bom se Ryan começasse algo com Jessica; ao menos é o meu ponto de vista.

Ryan parou e ele pôs o braço em meu peito, impedindo de eu andar e me fazendo parar também. Olhei para ele sem entender e ele tirou os olhos de Jessica para me olhar, e ele tinha uma carinha um tanto tristonha.

— Não conte para ela, está bem? — pediu ele. — E-eu... eu queria contar a ela. Mas não sei como.

Ele pôs as mãos em meus ombros completamente frustrado. Ri de lado.

— Ei, eu te ajudo — disse eu.

Ele sorriu de lado.

— Obrigado — disse ele.

Assenti para ele.

— Posso perguntar a ela se ela está solteira ou coisa do tipo. Ver se ela tem algum interesse a você, quem sabe? — sorri de lado para ele.

Ele pareceu se animar. Tirou as mãos de meus ombros e se recompôs. Ele me deu um sorriso radiante e voltou a olhar para Jessica. Jessica olhou para nós e acenou com a mão. Eu acenei timidamente — era o meu jeito —, mas Ryan foi totalmente espalhafatoso. Mas quando ele viu que tinha se comportado como um idiota, se recompôs, voltou ao normal e acenou para ela como se fosse um de seus amigos do time, ou seja, levantando o polegar e uma piscadela com um sorriso de lado. Mas Jessica assentiu para aquele comportamento anormal de Ryan e voltou a conversar com as amigas.

— Obrigado, Cameron — disse ele. — De verdade.

Voltei-me para ele e ele me eu uma piscadela.

— De nada, Ryan — disse eu.

E Ryan e eu fomos para fora da escola.


Ryan e eu fomos para o Batalhão 51. Jessica tinha me oferecido carona, mas Ryan, sem mesmo deixar que eu dissesse alguma coisa, disse que me levaria para o Batalhão 51 e eu não fiz objeção nenhuma.

Já estávamos andando por um momento e se não fosse nossa conversa, com certeza o caminho seria ainda maior. Ryan não parava de perguntar se eu ficaria bem se ele namorasse Jessica e eu, como uma pessoa, muito gente boa, e que não gostava de garotas, disse que estaria tudo bem comigo. Lógico, pois, além de não gostar de garotas como ele gostava, eles eram meus amigos.

Eu sabia que Jessica sentia atração por Ryan e, depois daquele dia, saber que Ryan gostava dela... bem, seria uma boa oportunidade para eles ficarem juntos, não? Daria certo, pois Ryan fazia o tipo de Jessica e Jessica fazia o tipo de Ryan. Então, pensando assim, porque não ficarem juntos, não é? Eu torcia e queria que eles ficassem juntos; faria bem um para o outro, tê-los juntos. Eu sabia que Jessica ficaria feliz e que Ryan ia se sentir o cara mais sortudo do mundo.

Ryan, também, ficava falando sobre como trataria Jessica muito bem. Ele só se queixava por não ter tantas condições como Jessica, mas quando eu disse que, se ela realmente ligasse para isso, não andaria comigo ou com ele, ele se tocou de que tinha soado como um repleto idiota.

— Eu tenho quase certeza que ela sente algo por você — disse eu ao pararmos em frente ao Batalhão 51.

Ryan parou ao meu lado, com a mochila pendurada em um ombro, e sorriu radiante.

— Sério? — perguntou ele.

Assenti para ele.

Ele começou a olhar para o nada atrás de mim. Provavelmente imaginando como seria ele e Jessica daqui para frente, o que me fez rir.

— Sim — disse eu. — Ei, eu fico por aqui.

Ele voltou para o presente.

— Obrigado de novo, Cam — disse ele. — Sério mesmo.

Bufei para ele.

— Não precisa agradecer — falei.

Ele levantou o punho fechado para mim e bati em seu punho logo em seguida.

— Até amanhã — disse ele

— Até amanhã — disse eu e ele se distanciou de onde estávamos para ir embora.

Ele acenou para mim e fiz a mesma coisa antes de entrar no Batalhão 51.

Lá dentro, parecia um restaurante. O cheiro da comida era delicioso e parecia lasanha — eu sabia identificar o cheiro, pois era minha comida favorita. Mas tinha algo a mais... não cheirava a lasanha normal. Tinha um cheiro especial.

Assim que pus meus olhos nos bombeiros amigos de meu irmão, eles estavam fazendo uma fila perto do balcão de onde se preparava a comida e tinha uma bela moça servindo-os da lasanha. A menina que servia era do meu tamanho, branca como eu, tinha cabelos castanhos e parecia ser mais velha do que eu. Os amigos de meu irmão na fila era o, primeiro, Herrmann, seguido de Otis, Mills, o tal Jeff Clarke e, por último, o careca do Capp (ele era do Esquadrão 3, ou seja, era comandado do Severide). A minha esquerda, Severide e Mouch estavam sentados à mesa.

— Agora, a lasanha é vegetariana — disse a menina ao servindo Herrmann. — Algum problema?

Herrmann produziu um som como se tivesse entrado em uma encrenca.

— E se nenhum de nós for vegetariano? — perguntou ele e olhou para os amigos, e depois voltou a olhar para a menina.

Um silêncio se propagou entre todos eles e a menina que estava servindo a lasanha parecia completamente desentendida. Não sabia se perguntava ou se continuava a encarar Herrmann como se tivesse feito algo ruim.

— Ah, estou apenas zoando com você — disse ele e riu. Os companheiros da fila e a menina riram. Herrmann fungou a comida no prato e disse: — O cheiro está maravilhoso — e foi se sentar à mesa, defronte à Mouch.

Segurei o riso. Mas, por uma fração de segundo, antes de eu sair, aquele tal Jeff Clarke olhou bem para mim e sorriu de lado, mas no segundo seguinte eu saí dali.

O que aquele Jeff Clarke queria? Ele era totalmente esquisito com sua cara séria, era totalmente suspeito de algo. Era bonito, tinha que admitir, mas... não. Ele era completamente sério e tinha cara de quem tinha armado alguma coisa. Ela deveria sair do Batalhão 51.

Saindo pela porta de onde eu tinha entrado, dei a volta no Batalhão 51 e entrei pela entrada lateral dela. Eu não queria ficar muito perto daquele Jeff Clarke. Ele podia não ser o dedo-duro do Batalhão 51 como todos (eu) suspeitavam, mas ele não deixava de ser um cara que aparentava ter tudo suspeito a ele. Eu tinha certeza que se eu ficasse por perto dele, iria acabar falando besteira; eu sempre fazia coisas assim.

Certa vez, eu não tinha conseguido segurar o que estava entalado em minha garganta para a minha própria irmã no dia do julgamento de minha mãe — mesmo não tendo valido nada ter dito aquelas coisas horrendas para Christie, mas me senti bem melhor. Matt e eu quase brigamos feio no mesmo dia, mas isso é outra história que não precisa ser contada. Eu acho que tinha um pequeno quadro de TDAH, não sei. Mas quem se importava se eu realmente tivesse?

De qualquer forma, segui para a sala do meu irmão e avistei Cruz saindo da sala de Matt. Cheguei perto da sala e bati na porta três vezes, e girei a maçaneta.

— Posso entrar? — perguntei pondo a cabeça para dentro da sala.

Meu irmão, com a testa franzida, virou-se para mim e me viu. Assim que ele pôs os olhos em mim, sua testa ficou normal e ele sorriu.

— Ei, Cam — disse ele. — Entre — ele fez um gesto com a mão para que eu entrasse.

Sorri de lado, adentrei na sala, fechei a porta e me sentei na cama que ele tinha ali para poder descansar.

— Como você está? — perguntou ele.

Suspirei um pouco de tanto cansaço, pois andar da escola até o Batalhão 51 era um grande caminho. Seria mais fácil se Ryan e eu pegássemos um ônibus, mas ele insistiu em querer ir andando, então eu não reclamei, porque eu sabia qual era o motivo para aquela longa caminhada: Jessica.

— Cansado — confessei. — Ryan e eu viemos da escola para cá andando, então foi cansativo.

Matt franziu a testa para mim.

— Por que vieram a pé? — perguntou ele. — Você sabe que não pode andar muito. Sabe que se andar por muito tempo você cansa muito fácil.

— Eu sei, eu sei — disse eu. — Mas Ryan queria conversar, então... — dei de ombros.

— Conversar sobre o quê?

— Garotas.

— Hmmm — foi só o que ele disse.

Matt sabia que eu era homossexual e não conversava comigo sobre garotas. Na verdade, eu nunca conversei com ele sobre garotas. Nós tentamos uma vez no ano passado, mas eu tinha confessado que não gostava de garotas. De início, ele arregalou os olhos para mim e eu não sabia se corria da sala ou se chorava, porém ele não disse nada, apenas voltou a ver tevê e eu tinha ido para a escola — Matt não estava de plantão no dia —, e quando voltei da escola, ele em abraçou e disse que me aceitava. Bem, foi exatamente assim.

— E você? — perguntou ele me fazendo voltar para o presente.

Chacoalhei a cabeça e olhei para aquela figura grande e loura.

— O que tem eu? — perguntei franzindo a testa.

— Você não quer falar sobre garotos? — perguntou ele tranquilamente.

O olhei ainda com a testa franzida e ele levantou as sobrancelhas, como se aquela pergunta fosse meio óbvia para ter.

Neguei com a cabeça e bufei.

— Não, obrigado — disse eu com certa raiva.

Não é que eu não queria ter essa conversa com ele, é só que eu não achava necessário ter essa conversa com ele, sendo que eu não tinha me interessado por ninguém. Quero dizer, aquele estranho garoto na escola era interessante, mas eu não queria ter nada com ninguém. Ao menos não agora. Afinal, quem iria se interessar por alguém que tinha asma tão forte quanto a minha e feio como eu? Eu sei a resposta.

— Nenhum garoto te interessa...

— Matt! — disse eu uma oitava, mais alto, interrompendo-o. — Eu não vou ter essa conversa com você. Entendeu? — o olhei nos olhos profundamente.

Ele me olhou no fundo dos olhos seriamente, mas riu e eu tive que rir com ele.

— O.K. — disse ele. — Mas assim que tiver alguém...

— Cala a boca, Matt — disse eu revirando os olhos e ele gargalhou.

Mas eu não demorei muito ali. Deixando Matt em sua sala, eu fui até a sala em que todos os bombeiros estavam e avistei aquela menina que tinha servido a lasanha mexendo na pia e no fogão.

Cheguei mais perto e consegui ver que ela era extremamente bonita. Tinha os olhos quase idênticos aos do Severide, cabelo pretos e parecia ser uma pessoa totalmente tranquila e bastante simpática.

Adentrei mais na sala.

— Oi, gente — disse eu assim que entrei na sala.

Todos me olharam (Herrmann, Otis, Severide, Mouch e a menina — inclusive o indesejável Jeff Clarke) e sorriram. Mills não estava lá, o que me fez querer saber por onde ele estava; ele era uma pessoa gente boa, mas quando se é um Cadete, precisava fazer, digamos, algumas tarefas domésticas, como faxina, limpar e essas coisas.

— Ei, Cam — disse Severide à minha direita, sentado em uma cadeira.

— Ei, garoto — disse Mouch ao lado de Severide, me olhando e voltando a ler um jornal, à mesa.

— Olá, criança — disse Herrmann sentado à frente de Mouch à mesa.

— Oi, Cam — disse Otis ao lado de Mouch.

Olhei de lado para o Jeff Clarke ficou olhando para mim com aqueles olhos que pareciam que me estudavam. Desviei o olhar dele logo em seguida e olhei para a menina que eu não conhecia. A menina ficou me olhando e eu olhei para ela, depois ela olhou para o Kelly Severide e eu não entendi nada. Franzi a testa.

— Ah, esqueci — disse Kelly se levantando da cadeira. — Katie, este é Cameron, irmão do Tenente Casey. Cameron, esta é Katie, minha irmã.

Eu olhei um tanto incrédulo para ele, mas depois voltei a olhar para Katie. Ela pareceu um tanto sem graça, mas fui até ela e apertei sua mão e sorri gentilmente.

— Prazer em conhecê-la, Katie — disse eu.

Ela se sentiu melhor e sorriu radiante; e seu sorriso me fez querer esconder o meu pelo resto de minha vida.

— Igualmente — disse ela.

E soltamos as mãos. Kelly voltou a se sentar na cadeira e mexer em seu celular, e o restante do pessoal voltou a fazer suas coisas.

Katie voltou para a cozinha e eu a segui. A comida que ela tinha feito estava realmente cheirosa e eu provaria se eu não já tivesse almoçado na escola. Ela me viu me aproximando e sorriu para mim, e sorri para ela logo em seguida.

— Desculpa perguntar — disse eu —, mas você pode me dar à receita dessa maravilhosa lasanha? Ela parece deliciosa — sorri de lado ao contemplar a lasanha quase toda devorada pelos bombeiros presentes na sala.

Ela sorriu radiante.

— Quer um pouco? — ela começou a por uma espátula na lasanha...

— Não, não, não... — a interrompi no meio do caminho. — Eu já almocei.

Ela assentiu.

— Ah, O.K., então... eu... — ela ajeitou algumas panelas. — Eu anoto a receita para você então.

— Sério? — perguntei sorridente.

Bem, era mais alguma coisa para fazer para Matt e eu comermos além de pizza, arroz, bife e frango.

— Sim, sério — disse ela.

Sorri e ela sorriu para mim.

Katie e eu ficamos conversando sobre várias e várias coisas; receitas culinárias. Algumas delas e algumas minhas. Bolos, doces, salgados e ela até me disse que estava se formando em gastronomia, o que eu achava bem bacana. E eu poderia me formar, porque eu sabia que não teria um emprego que tirasse todo o meu fôlego por conta de meus pulmões... mas isso é outra história. Katie e eu fizemos uma boa amizade e eu podia, já, dizer que éramos bons e grandes amigos.

De qualquer forma, Katie teve que ir embora assim que Otis tentou conversar mais com ela, mas Kelly fez vista grossa e Otis tinha desistido. Segurei o riso para não rir e, me despedindo de Katie, voltei para a sala de meu irmão, porém não o tinha encontrado lá. A sala estava completamente vazia.

Eu fiquei lá por um tempo e, quando ele apareceu, uma chamada convocou todos os bombeiros e eu tive que esperar Matt voltar da chamada para poder me despedir, porque eu estava cansado e queria ir para casa. Aproveitei esse tempo para fazer algumas lições anteriores da escola — o que não tomou muito de meu tempo.

Uma hora depois, Matt havia chegado com o restante dos bombeiros e as duas paramédicas, Shay e Dawson. Era bom ver todos ali de volta, mas principalmente meu irmão. Lógico, eu não era louco de dizer que era totalmente feliz por ele ir se arriscar em um incêndio. Sim, eu era feliz porque aquele emprego o deixava feliz, mas eu preferia mil vezes tê-lo como construtor civil. Era menos arriscado, concorda?

De uma maneira ou de outra, eu fiquei em sua sala, deitado na cama e, assim que ele chegou, ele tinha me dito que era um chamado pequeno e um tanto besta, comparando, é claro, com os outros que ele já teve que fazer. Menos mal, não? Mas Matt não ficou muito tempo ali, porque ele tinha ido comer algo, já que não tinha almoçado e me deixou deitado na cama que ele tinha para descansar. Porém, ele demorou demais.

Levantando da cama saí da sala do meu irmão completamente desconfiado e com a mochila nas costas, indo em direção à sala. Porém, ele também não estava lá. Mills e outro cara que eu não conhecia estavam à mesa. Esse novo cara parecia ter quase cinquenta, cabelos começando a ficar grisalhos, completamente magrelo e pescoçudo, e ele era feio. Ele não tinha nenhum uniforme de bombeiro, então imaginei que ele estivesse substituindo Shay ou Gabriela. Estranho. Mouch, Otis com uma espécie de tambor e Severide estavam perto da tevê.

— Ei, vocês viram Matt? — perguntei a qualquer um deles.

Eles me olharam, pensaram pó um instante e Mills disse:

— Ele saiu em direção ao banheiro.

Eu ia começar a agradecer, mas aquele ser pescoçudo começou a falar:

— Ah, sim, ele foi lá. Provavelmente dar uma passadinha rápida, não é? Quem sabe ele encontre alguém totalmente inesperado lá? Ou até mesmo...

— Mcauley, já chega! — interrompeu Mills, olhou para mim e revirou os olhos.

Ri dele e, olhando para o tal Mcauley revirei os olhos em seguida.

— Ele está substituindo quem? — perguntei a Mills.

— Shay está doente, parece ou coisa do tipo — disse Mcauley antes mesmo que alguma palavra saísse da boca de Peter Mills. — Acho que é uma virose das brabas. Espero que ela tenha sorte, ouvi dizer que já tem índice de morte por conta dessa virose...

— Mcauley, pare com isso! — interrompeu Mills novamente e mais sério.

Mcauley calou a boca.

Segurei o riso, olhei para Mills e ele sorriu para mim revirando os olhos. Prendi a gargalhada que tinha se formado em minha garganta e, olhando pela última vez para Mcauley, revirei os olhos, sorri para Mills e segui para o banheiro.

O banheiro ficava no fim do corredor da sala do meu irmão. Ele era imenso. Assim que se entrava, dava para ver as pias e o espelho longo que tinha preso à parede. Ao lado da porta, à esquerda do banheiro, tinha os sanitários com suas divisórias e tudo parecia estar incrivelmente limpo. Obra de Peter Mills, eu suponho. Eu sentia pena dele, porque, com Cadete, ele tinha que limpar tudo o que o mandassem limpar.

Indo mais para à esquerda e curvando à direita, tinha os chuveiros e um caminho para ir para o vestiário. Era bem amplo ali também e também muito limpo. Mas o que me intrigou, não foi isso. Foi quando eu vi uma camisa cinza e um casaco que parecia igual à de meu irmão e uma que parecia idêntica a de Gabriela jogada no chão.

Completamente intrigado, fui até a camisa cinza que parecia a de meu irmão, segurei com dois dedos e franzi a testa para ela, soltando-a logo em seguida para que ela caísse de volta para o chão. Olhei para a roupa que parecia a de Gabriela e realmente era a dela, pois só os paramédicos tinham uma camisa como aquela.

Mas uns sons começaram a me intrigar vindo da minha frente. Quando olhei a cortina que servia de porta do chuveiro estava fechada, então eu não conseguia enxergar.

Segurei a cortina e quando puxei para ver...

— AI, MEU DEUS! — falei um pouco alto ao ver Matt e Gabriela aos beijos.

Eu arregalei os olhos.

Matt estava completamente sem camisa, com a calça desabotoada e Gabriela somente de calça e sutiã.

Eles dois pararam de se beijar e me olharam. Assim que eles focaram os olhos em mim e viram quem era, eles arregalaram os olhos, assim como eu estava. Gabriela, com sua pele morena, começou a ficar vermelha e Matt parecia mais como um tomate. Eu não sabia exatamente o que fazer naquela situação. Eu ainda segurava a cortina do chuveiro.

— Cam, eu... — disse Matt.

Mas eu fechei a cortina do chuveiro e saí do banheiro completamente chocado com a cena que tinha visto.

Cheguei à sala onde a maioria dos bombeiros estavam, mas não fiquei lá por muito tempo. Despedi-me deles e segui meu rumo para casa. Passando pela garagem do Batalhão 51, avistei aquele Jeff Clarke sentado em uma cadeira em frente ao Esquadrão 3, mas eu não dei importância para ele. Olhei para trás, ao menos para ver se ele me olhava e ele realmente não tirava os olhos de mim e tinha aquele seu sorriso provocador no rosto. Virei-me para frente e continuei a seguir o caminho para ir até o ponto de ônibus mais próximo.

Matt e Gabriela... bem, eu sabia que eles formariam um casal de uma maneira ou de outra. Eu via Matt olhando para Gabriela de maneira diferente e eu via Gabriela olhando para Matt de maneira diferente. Desde a morte de Hallie, Matt nunca mais foi o mesmo. Ele sempre estava sozinho e eu sabia o quanto isso o matava. Mas ter Gabriela seria bom para ele e eu sempre gostei dela, para ser mais honesto. Eu apoiava os dois.

Quando o ônibus finalmente me deixou em casa, eu tentei esquecer aquilo que eu tinha visto no Batalhão 51, mais precisamente no banheiro. Bem, uma parte era boa, porque eu vi que meu irmão estava com alguém, mas a parte ruim foi ver meu irmão com alguém, entende? Não era uma coisa que eu queria ver nem quando eu estivesse prestes a morrer, mas, por sorte, eu tinha algumas anotações para fazer para as aulas do dia seguinte.

Mas tudo isso foi interrompido com a chegada de Ryan com mochila com alguns cadernos e algumas roupas — Ryan tinha resolvido dormir em minha casa. Eu não intervim, pois eu não queria ficar naquela casa totalmente sozinho; não era legal. Mas, assim que eu terminei de fazer uma nebulização — pois eu comecei a sentir falta de ar e a bombinha de ar não me ajudou muito —, Ryan e eu começamos a conversa, não sobre dever de casa, não sobre o que eu tinha visto no Batalhão 51 (eu nem mencionei nada disso para ele) e nem sobre o garoto que eu tinha achado que era bem bonito na escola, pois eu também sabia que ele não precisava ouvir essas coisas de mim, ainda mais sendo que eu não sabia nada daquele garoto.

Ryan e eu começamos a falar de Jessica até ele não querer mais.


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