Venha comigo leitor, entremos neste antigo consultório psiquiátrico de estilo vitoriano. Acomode-se, sinta-se a vontade para escolher entre aquela confortabilíssima poltrona ali naquele canto, ou até mesmo deitar-se no divã, lugar em que deveria estar sendo ocupado por esta senhora que você aí vê andando de um lado para o outro, visivelmente aflita. Não percamos tempo descrevendo-lhe a fisionomia. Digo apenas que não é nada formosa, não, melhor; é feia em demasia. Agora tu sabes o motivo pelo qual faço questão de não descreve-la. Como? Arrogante eu? Você, leitor, acredita mesmo, piamente, que o pintor desperdiçaria tempo, tela e tinta para pintar, dar vida e significado a um amontoado de lixo, daqueles que se encontram nas esquinas dos subúrbios? Pois bem, nem eu, que também sou pintor, não de imagens, mas de letras e imaginações. Acredito que nem o mais excêntrico dos pintores se ocuparia a tal. Já que concordamos com o mesmo ponto de vista, tu não há mais de me julgar mal. Enfim, voltemos ao que realmente interessa. Perdoe-me, mas, interrompo agora mesmo a narrativa pois o Doutor já me fitou com ''aquele olhar'' por duas vezes, e eu começo a temer o que virá após o terceiro. Sendo assim, eu me retiro para não mais atrapalhar a sessão, mas você fica, caro leitor, e depois me diga o que se sucedeu após minha saída.