Dura realidade escrita por Carol Bandeira


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/470765/chapter/4

16/01/2006

–Sara, ele é o bebê mais bonito de todo o andar- babava Laura, olhando para o pequeno que dormia tranquilamente nos braços da mãe.

–Ele é, não é?- disse a nova mamãe, cansada e orgulhosa- Ele é a sua cara, Griss.

Gil estava sentado ao lado de Sara, acariciando a cabeça de seu filho.

–Se ele tem alguma beleza, vem de você.

Gil chegara uma semana mais cedo para o nascimento de Gabriel. Durante a gravidez Sara o pusera a parte de todos os fatos. Eles estavam finalmente falando um com o outro com o respeito de antigamente. Gil aproveitara a semana toda e não saíra do lado de Sara, acariciando a barriga e falando com o bebê, fazendo mil promessas para quando ele nascesse.

–Obrigado, Sara... por me dar o melhor presente do mundo.

********************************************************************

16/02/2006

–Eu já perdi tempo demais sem ele...semana que vem minha folga acaba, e o quê? Eu volto para Vegas e espero mais quanto tempo até que possa ver meu filho novamente?

–Eu não sei, Gil... o que você quer que eu faça?

–Eu quero que você pare com essa palhaçada e volte comigo para Vegas!

–Não, Gil. Eu já disse...isso não é palhaçada, é a minha vida. Eles me aceitaram no Doutorado em Berkeley, depois disso é só um tempo até que eu consiga uma vaga permanente lá.

–Você pode estudar em Vegas...- ele falou condescentemente, como se tentasse explicar um simples fato a uma criança teimosa-Eu não vou deixar você me separar do meu filho.

–E o que vai fazer? Uma batalha de custódia? É isso? Por que eu não vou sair daqui para voltar para aquele inferno de cidade! Lá não é lugar para se criar uma criança! E eu não vou dar o meu filho de mão beijada para você!

–Warrick nasceu e foi criado lá...ele é um bom homem.

–Jogatina... isso te lembra alguma coisa, Gilbert?

–Não tem nada a ver Sara... você sabe as condições em que ele foi criado... e não se preocupe...eu não faria isso com você, te arrastar para os tribunais... eu não quero brigar Sara, só quero que meu filho saiba quem é o pai...só quero cuidar dele... quero cuidar de você...Isso é pedir muito?

–Desculpe Griss... você perdeu sua chance- Apesar da fala, o semblante de Sara mostrava que ela ficara afetada com o que Gil disse. Naquela altura, Sara pensava que nunca deixaria de amá-lo.

–Não há nada que eu possa fazer para que mude de ideia?- ele disse e foi chegando mais perto dela- Querida, nós podemos ter tudo que você sempre quis... uma família completa. Eu ,você e Gabe- Gil já enlaçava Sara pela cintura e a puxava para mais perto, sua boca quase roçando na dela- Eu te amo, Sara...por favor... eu sei que aqui dentro você ainda sente o mesmo...

Sara não aguentou e beijou aquele homem infuriante. Um beijo cheio de desejo, movido pelas palavras de Gil, palavras que ela sempre sonhou em ouvir. Mas elas vieram um pouquinho tarde demais.

–Gil... eu te amo...mas...as vezes o amor não é suficiente. No nosso caso, nada será... eu queria tanto ouvir isso de você, mas você só me disse isso por causa do Biel...e eu não te quero assim...não mais... você quer uma família instantânea... e eu quero construir uma... eu quero alguém que escolha me amar, e não alguém que ... que... que fez o que você fez...

Sara empurrou Grissom para longe dela e saiu chorando para se trancar no quarto. Gil desabou no chão, as lágrimas escorrendo como um rio por seu rosto. Era tarde demais.

********************************************************************

16/01/2012

–Mamãe, mamãe! Eles chegaram! Eles chegaram!

Gabriel gritava , pendurado da janela de seu quarto.

–Gabriel Grissom, o que eu já te disse sobre se pendurar na janela?!- ralhou Sara, que acabara de sair do banheiro.

Gabriel pulou da janela de volta ao chão, batendo a mão em suas calças para tirar a poeira que grudara em sua bermuda cargo novinha.

–Desculpa mamãe, mas é que eu to ansio- ah ... ansioso pro papai chegar. E a vovó também!

Sara sorriu e se abaixou para ajeitar as roupas do seu menino. Gabriel vestia uma calça cargo bege, uma blusa de botões , listrada de azul por cima de uma regata azul escura. A cor realçava seus incríveis olhos azuis, e Sara sempre que podia dava um jeito para ele usar uma peça da cor.

–Gabriel! Seu pai está aqui!- sua avó Laura o chamou lá de baixo, e antes que Sara pudesse falar alguma coisa seu filhote já corria escada abaixo para pular no colo de Grissom. Sara seguiu logo atrás, e a cena que viu aqueceu seu coração.

Gabriel já estava no colo de Gil, que apertava e beijava as bochechas de seu filho. Era impressionante como o tempo fora bom para com Grissom. Seus cabelos já estavam totalmente brancos, assim como a barba bem aparada. Seu rosto, apesar da cor dos cabelos não mostrava muito os sinais da idade. O corpo de Gil ainda causava arrepios na morena. Desde que descobriu que seria pai, Gil começara a cuidar mais de sua saúde. Ele queria ainda ter muito tempo com Gabriel. O resultado é que perdera uns bons quilos, convertidos em massa muscular. Gil trajava uma calça jeans clara e uma blusa polo preta... ele estava divinamente lindo. E o melhor é que seu filho era igualzinho a ele sem tirar nem por...uma lembrança de Grissom que Sara carregaria para sua vida toda.

Ao lado de Grissom estava Betty, sua mãe. Ela nunca aprovara a situação que Sara pusera seu filho. Para ela, era a obrigação de Sara ficar em Vegas com Grissom e cuidar dos filhos juntos. Não importava que qualquer feriado Gabriel ia visitar o pai, e que ele tinha carta branca para vir ver o filho a hora que bem entendesse. Ou que ela falava toda semana com o neto via Skype. Nada disso importava. Betty era irredutível e sempre fazia questão de mostrar seu desagrado quando se encontrava com Sara.

A morena viu seu filho falar animadamente com a avó por meio de linguagens de sinais. Suspirou fundo e foi em direção a eles.

–Gil, Betty. Que surpresa, vocês chegaram cedo!

Os olhos de Grissom procuraram pela voz de Sara, e quando a achou brilharam com o que viam. Não era segredo para ninguém que Gil nunca deixou de amar sua morena. Sara sempre trabalhava muito para ignorar o fato, pois ainda sentia o mesmo, mas acreditava que os sentimentos de Gil nunca foram verdadeiros, e agora vinham do fato dele só querer o que não podia ter.

–Eu não podia esperar para passar mais tempo com o Gabe- respondeu Grissom, que logo voltou sua atenção para o filho.

Gil pôs o filho no chão e, de mãos dadas foram buscar as coisas de Grissom, que haviam ficado no carro que o homem mais velho alugara. Laura sorriu para Beth e , com uma linguagem de sinais meio enferrujadas, disse que guardaria as malas dela, deixando Sara sozinha com a senhora Grissom na sala. As duas ficaram ali se encarando, sem saber por onde começar. Pois que sempre que tentavam ter alguma conversa, de alguma forma acabavam brigando. A morena não conseguia acreditar na cara de pau daquela mulher, pois Gil havia contado tudo para sua mãe, sobre como era culpa dele aquela família ser quebrada. Mas ainda assim ela insistia em culpar Sara pela vida do filho dela ser do jeito que era.

–O menino está alto que nem uma vara. Igualzinho a Gil quando tinha a idade dele- Betty começou, deixando a morena por um instante aliviada.

–É, o pediatra disse que ele deve passar o pai quando fizer seus 18 anos.

–Esta fase da vida é de muitas mudanças... toda vez que nós viemos aqui é como se fosse um novo menino que ainda não conheço... te faz pensar se....

Sara endureceu, pensando que travaria mais uma batalha com a sogra, mas por sorte Biel entrou correndo na sala, gritando para a mãe.

–Mamãe, mamãe! Vem ver o meu presente que o papai me deu! VEM!- Como um anjo o garoto intercedeu por sua mãe.

Betty sorriu ao ver a satisfação estampada no rosto do neto, e com movimentos rápidos das mãos pediu ao garoto que a levasse também. A animação toda se deu por conta de uma bicicleta do Homem-Aranha, herói preferido do garoto.

–Papai, você me ensina a andar sem rodinhas?

–Claro campeão!

–Biel, mais tarde, se não você vai se sujar antes da sua festa- ordenou a mãe.

–Poxa, mae...só um pouquinho...fala com ela papai!- Gil sabiamente não interferiu nas ordens da mãe.

–Filho, sua mãe tem razão. Seus amiguinhos vão chegar daqui a pouco. Além do mais, eu vou estar aqui depois, teremos todo o tempo do mundo.

Gabriel pensou um pouco, mas resolveu aquiescer. Não havia, afinal, uma promessa que seu pai fizera que não cumprira. Betty , para não contrariar o garoto logo no aniversário, falou para o garoto testar a bike no caminho para a garagem, para guardá-la. Ao aceno de Sara avó e neto saíram juntos enquanto os pais regressavam a casa.

********************************************************************

A festa de Gabriel foi um sucesso. O rapazinho estava acabado, assim como seus pais. Gil colocou o filho na cama e deu um beijo de boa noite. Ao regressar a sala, viu que as avós também já haviam se recolhido. Eles arrumaram o que puderam, mas decidiram fazer o resto no dia seguinte, quando já não estariam mais tão cansados.

Sara estava sentada no sofá, e na mesa de cabeceira havia duas taças de vinho. Gil se recontou no sofá e suspirou quando Sara o entregou uma das taças. Gil brindou com a mãe de seu filho e disse

–A mais um ano de nosso pequeno-já não tão pequeno assim.

–E a mais anos de alegria para ele, e para nós.

O casal tomou o vinho silenciosamente, cada um perdido em seu pensamento. Era quase que uma tradição , essa hora que eles se davam juntos após as festinhas de Gabe. Tradição que geralmente acabava na cama. Essa era a única vez que Sara se permitia baixar a guarda e dar a eles o que o corpo queria. Mas dessa vez os dois tinham coisas na mente que não os deixavam curtir como deveriam aquela paz.

–Sara, aproveitando que estamos sozinhos, será que poderíamos conversar?

–Ok- a morena sentou-se no sofá e se fez confortável. Pelo visto, Gil andaria em círculos antes de dizer o que tinha em mente.

–É só uma ideia, e quero que saiba que você pode rejeitá-la, eu vou entender. Mas me deixe expô-la primeiro.

Sara aceitou os termos de Grissom e falou para ele seguir em frente.

–Estou para me aposentar do laboratório, pois sinto que já dei tudo que tinha a contribuir para eles. Também tem o fato que recebi uma proposta, digamos tentadora, de um amigo. Ele quer abrir um curso de Ciências Forenses em Berkley, e gostaria que eu montasse e coordenasse a graduação. Isso já vem desde um tempo, mas agora esse amigo está mais incisivo que nunca, pois tem os fundos necessários para fazê-lo. E bem... acho que você entende o porquê de ser tentadora para mim. A possibilidade de morar na mesma cidade de meu filho me agrada muito- a possibilidade de morar perto de Sara o tirava o ar, mas ele não falaria isso nunca para ela.

Gil parou de falar quando viu que Sara parecia desconfortável com aquela estória. A morena mordia os lábios e girava o líquido do copo rapidamente.

–E... vamos Grissom, termine de falar.

O homem suspirou e continuou.

–E eu disse a ele que iria pensar no assunto. Não que haja muita coisa para eu pensar. Afinal, era tudo que eu preciso a essa altura do campeonato. Estar com meu filho... Mas sei também que não estaria somente mais próximo a ele. Eu sei, Sara, que você escolheu pôr a maior distância possível entre a gente por minha culpa. E sei que aceitando este trabalho eu te traria de volta no lugar em que começamos... e eu não quero fazer isso sem o seu consentimento.

–Você quer dizer que se eu disser não então você não aceita a proposta desse seu amigo?

–Mais ou menos. Preciso saber como você se sente com relação a voltarmos a trabalhar no mesmo local. Eu realmente quero morar aqui, Sara, pelo Gabe. Muitos casais fazem isso sabe, guarda compartilhada na mesma cidade. Eu juro que não vou ficar sempre aqui. O Gabe pode ficar na minha casa nos fins de semana... ou quando ele quiser. Você não vai nem se lembrar que estou aqui. Mas quanto ao trabalho, a decisão é sua.

–Ah... Gil... eu não sei... é muita coisa para assimilar...

–Não precisa responder agora, Sara- Gil drenou a taça de vinho e se levantou- Vamos dormir e, você pode me dar a sua resposta por esses dias, não tenho pressa.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Dura realidade" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.