Sábado à tarde, estava em casa, finalmente. O telefone tocou.

- Alô?

- Senhora Carter?

- Sim?

- Aqui é o chefe de polícia Taylor Moore.

- Ah, sim. Olá, senhor Moore.

- Gostaria de lhe deixar atualizada sobre o caso de Mark Hill.

Segurei a respiração por dois segundos. É, ainda doía, mas que droga.

- Pode falar.

- Nenhum rastro. Falamos com Natalie, e ela não falou sobre Henry a ninguém, então nossa antiga e única teoria caiu por terra. Não conseguimos localizar seu amigo Henry Adams, mas o tiramos de suspeita, já que ele não sabia nem da existência de Mark. Apenas nadamos, nadamos e morremos na praia.

- Então o caso foi arquivado?

- Não exatamente.

- Mas vocês não estão procurando mais pelo assassino.

- Estamos correndo às cegas.

Suspirei. Estava com raiva.

- Nossa teoria é que ele arranjou uma briga no trânsito e a pessoa não era alguém com quem ele pudesse se meter. Checamos todas as câmeras dos prédios e lojas das ruas para ver se achávamos alguma coisa. Mas nada. Até o local foi bem escolhido.

- E a família dele?

- Eles... entenderam. Disseram que conheciam o temperamento do filho e que sabiam que ia acontecer mais cedo ou mais tarde. Estão abalados, é claro, mas não têm essa sede de justiça, explicamos à eles que não achamos nada e...

- Tudo bem então. Obrigada. Tchau.

Desliguei, com muita, mas muita raiva. Se nem a família de Mark estava preocupada, porque eu iria? Eu era só uma ex-namorada. Mas que droga! O assassino do meu ex-namorado estava solto por aí e a polícia simplesmente arquivava o caso? Só porque ele tinha um temperamento forte? Ah, faça-me o favor! Deitei-me no sofá e fiquei olhando para o nada, tentando relaxar, quando o telefone tocou de novo.

- Alô?

- Mandy?

- Oi Nath. – Tentei parecer animada.

- Vamos sair?

- Pra onde?

- Não sei...  Vem aqui e decidimos.

Definitivamente, não estava a fim. Um dos poucos sábados que eu só trabalho meio período, queria ficar deitada o dia inteiro. Mas ok, precisava cuidar da minha pouca vida social.

- Certo, já estou indo.

-x-

Natalie nem estava pronta ainda.

- Não creio.

- Ah, me arrumo rapidinho.

- Ok.

Já estava acostumada à casa de Natalie. Ela também morava sozinha. Um dia me ocorreu a idéia de morarmos juntas, mas vamos dar tempo ao tempo. Agora não. Fui até o quarto e sentei na cama enquanto ela tomava banho e conversava comigo sobre assuntos não importantes. Quando ela fechou o chuveiro, ainda no banheiro, falou:

- Tem visto Henry?

- Quase todo dia. – Por algum motivo, sorri.

Ela colocou a cabeça para fora do banheiro e me viu sorrindo.

- E esse sorriso?

- Sorriso. Nunca me viu sorrindo?

Ela saiu do banheiro de toalha, colocou as duas mãos na cintura:

- Não me diga que você está apaixonada pelo psicopata da internet?

Não me pergunte o porquê, mas aquela pergunta me deixou extremamente irritada.

- Ele não é um psicopata. E não, eu não estou. Mas e se estivesse qual o problema?

Natalie levantou as duas mãos, como em sinal de rendimento e disse:

- Desculpa.

- O que me irrita... – não, isso não pararia por ali. Era um defeito meu, sempre continuava discussões. – é que se eu o tivesse conhecido num bar e estivesse apaixonada por ele no outro dia, tudo bem! Mas só por causa das histórias do e-mail, é errado!

- Já pedi desculpas! E pra início de conversa, só o chamei assim porque você começou com isso, lembra? “Que roupa usar para um encontro com um psicopata?”

- Eu sei. Mas muita coisa aconteceu, muita coisa mudou.

- Sinto muito, não vou agir mais assim.

- Tudo bem.

Ela voltou para o banheiro e terminou de se arrumar, enquanto fiquei calada, visivelmente irritada. Quando ela estava pronta, sentou ao meu lado e me cutucou com o cotovelo, dando um sorriso que só ela podia dar, radiante, contagiante.

- Mas conta aí, vocês já se beijaram?

Não pude evitar o riso, e pronto, já estava tudo bem de novo. Saímos, fomos para o shopping, conversamos. Contei tudo sobre Henry, enquanto ela ouvia atenta, e já estava escuro quando cheguei em casa.

Depois de tomar um banho e estar toda pronta, recebi um e-mail.

Iwy.ch:

Cinema, sim ou não?

Sorri. Sim! Sim! Mil vezes sim! Só eu sei o quanto estava ansiosa para vê-lo, não tive notícias dele o dia inteiro. Mas. Eu. Estava. Tão. Cansada. Dane-se o cansaço.

Mandy-06:

Sim. Que filme, que horas?

Iwy.ch:

Tem um ótimo: 2012. A próxima sessão é às 18:00, daqui a meia hora, acha que dá tempo?

Mandy-06:

Sim. No Shopping perto da minha casa?

Iwy.ch:

Como quiser.

Alguém controle meu coração. Ele está saltitando!

-x-

O filme? Não me pergunte. Só o que passava pela minha cabeça era “Ele está segurando minha mão!”. Ah, como descrever aquela sensação? Meu coração saltitava, eu estava gelada, radiante. Às vezes olhava para ele pelo canto do olho, mas ele estava concentrado no filme. Não conversamos muito, chegamos em cima da hora para o filme começar. Mas já havia acabado e saímos do cinema, ainda de mãos dadas. Ele empurrou-me, encostando-me na parede, do lado de fora do cinema e virou-se de frente para mim e me encarou. Parecia que ia me beijar. Mas não o fez. Apenas deu-me um beijo na testa e sorriu:

- Porque está com essa cara?

Franzi a testa:

- Que cara?

- Parece... triste. – Disse isso e segurou meu queixo, fazendo carinho em minha bochecha com o dedão.

Pensei em Mark, pensei na discussão com Natalie. Pensei no trabalho. Fechei os olhos.

- Eu só... estou tão... Cansada. – Olhei para ele, com olhos suplicantes – De... tudo.

Estava tão cansada que poderia chorar naquele momento, mas não chorei. Ele me abraçou. Um abraço... protetor. Consolador. E por um momento, não quis que acabasse nunca, eu me sentia tão inacreditavelmente bem em seus braços. Afundei meu rosto em seu peito e o que eu quis dizer foi “Não vá embora.” Mas estava muito cedo. Apenas disse:

- É bom saber que tenho você aqui.

- Eu não vou embora.

Simplesmente, não agüentei. Levantei o rosto e quando ele percebeu o que eu estava prestes a fazer, adiantou-se, segurou meu rosto nas duas mãos e beijou-me. E dessa vez, foi um beijo de verdade.