Querida Heley escrita por Fox


Capítulo 1
Heley, Heley...


Notas iniciais do capítulo

Nada à declarar. Só pra passar o tempo essa one. Baseada em fatos reais da vida alheia de Marina. Hahaha bem feito, Mari.





Brinks, nós te amamos S2. Só uma fase (que eu graças à Deus já passei e.e)



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Querido Diário,

Você se lembra de mim? Eu, sei faz muito tempo que não nos vemos. Eu cresci e você... Bem, você foi dar uma visita aos meus antigos Diários no fundo da gaveta de calcinhas.

Eu sinto muito por isso.

Se lembra do que eu escrevia em você? “Ontem eu fui na sorveteria com meus amigos”, “Amanhã irei almoçar minha comida favorita”, “Hoje foi divertido na escola”. Isso acabou, sabe? Há muito tempo, muita gente tem estado indiferente a minha presença.

Você deveria sentir muito por isso.

Algumas pessoas pensam que é drama adolescente. Aquele que você vê em novelas e livros. Como a Margarida, aquela personagem do livro que eu te falei. Ela chorou três noites seguidas porque o pai disse que não a amava.

Isso é drama adolescente? Os ignorantes dizem que sim.

Então, eu vivo no meio de ignorantes. Ontem eu fui lavar a louça do jantar, e pedi para que meu irmão tirasse seu prato da mesa. Custaria alguma coisa? Faria muita diferença? Mudaria o rumo de algo importante? Ele me negou. Eu me senti menos querida, me senti uma empregada que não faz parte da família. Isso é drama adolescente, diário? Me ajude!

Eu não quero parecer a Margarida aos olhos dos ignorantes.

Eu talvez nem devesse mencionar o que ocorre na escola, então. Mas eu vou, porque confio em você e sei que isso ficara seguro aqui, sem nenhum ignorante para me julgar e me dizer o que eu devo para de fazer e sentir.

Eu espero, não é mesmo?

Eu sou cheia de amigos. “Amigos”. Qual o sentido de ser amigo de alguém? Não é apoiar, amar, ser um irmão (melhor do que o meu)? Eu imaginava que era. Hoje em dia as pessoas são amigas umas das outras para adicionar no Facebook, saber de alguma fofoca ou expor. “Eu sou amiga daquela garota que faz balé”. “Eu conheço menino que tem um Xbox, vamos na casa dele jogar?”. Isso é amizade, diário? Não, é hipocrisia.

Eu tenho hipócritas, e não amigos.

Eu devo dizer de meus pais? Sim, eu sei que devo. Afinal, agora eu sou uma mocinha e tenho que ajudar com tudo em casa. Só porque eu cresci eu tenho que parar de ganhar bala, parar de brincar no balanço do jardim e me desfazer do meu lugar na cabeceira da mesa? Isso é crescer? Eu não pedi pra crescer, diário! Porque eu devo passar por isso?

Meus pais são insensíveis. Só tentam me entender quando eu brigo com todo mundo.

E a forma de tratamento que eu recebo nas ruas? Nem se compara com antigamente. Parece que as pessoas tem medo de me elogiar quando eu apareço bonita, medo de falar que minha sobrancelha está desarrumada e reparar que meu perfume é novo. Eu sou uma moça ou um animal selvagem, afinal? Não posso mandar um olhar feio que o comentário de que estou de TPM é geral.

Eu não posso mais olhar feio as pessoas? O que há com elas?

Sim, Diário. As coisas estão bem diferentes. Eu só não sei quando voltaram ao normal. Ou se voltarão ao normal. Ou qual será o normal delas daqui pra frente.

Se eu pinto as unhas de rosa, sou patricinha. Se eu pinto de preto, sou gótica. Se eu pinto de azul, sou perua. Se não pinto, sou desleixada. Eu simplesmente não posso andar como eu quero? Sou o que sou, e não o que acham que sou!

Não posso mar chamar a professora de Tia, nem de Prof, nem de nada! Tem que ser sempre “Professora”, “Professora Tal”? Isso não é normal, diário. Eu me sinto uma ovelha negra.

Quando coloco um vestido, as minhas “amigas” dizem que eu quero chamar atenção. Chamar atenção como? Com os palitos que são minhas coxas? Será que elas não me enxergam como eu me enxergo?

Eu acho que não, diário.

As pessoas querem mandar em mim o tempo todo, me repreender sem motivo. Dizem que estão me “criando”. Por acaso eu sou boi para alguém fazer criação? Não sou uma cabeça de gado! Eu sou um ser humano que merece ter seus direitos.

Minhas ideias em qualquer projeto familiar são descartados. Eu sou muita nova e imatura. Mas também sou muito grande pra tomar banho na bacia. Qual o meu tamanho? Eu sou grande e pequena? Sou um exemplo que segue o exemplo de outras pessoas? O que é isso, diário?

Acho que você pode imaginar como estão as coisas. Agora, me responda: ISSO É DRAMA ADOLESCENTE? Me diz, diário? Eu sou como a Margarida? Sou? Sou uma mimada chatinha que não tem o que fazer? Uma ingrata? Uma adolescente dramática? Sou?

Essa resposta eu não sei, diário. Não vou sair perguntando. Não, não mesmo.

É errado querer a bolsa da Louise? É. É certo lavar a louça para minha mãe? É. É errado grudar chiclete por diversão na cadeira do professor? É. É certo agradecer ao porteiro do prédio? É. É errado chutar o gato? É. É certo dar o meu brinquedo do Mc Donald’s para os meus irmãos? É. É certo não brigar com as pessoas que brigam comigo? É. É certo ser boazinha, não responder? É. É certo brincar de Lego com o filho da vizinha quando ela vai às compras? É.

Agora, quero que você saiba que nenhuma vez, NENHUMA, eu fui prestigiada pelas coisas boas que faço. Mas todos os dias eu recebo uma bronca, um puxão de orelha, um olhar reprovador.

Querido Diário, obrigada por me ouvir. Sabe o que eu acho? Sim, eu sou igualzinha a Margarida. Mas isso é ruim? É bom? É muito ruim? É péssimo? É maravilhoso? Não respondo essas perguntas.

Agora eu tenho que ir. Preciso lavar a louça do café da tarde.

-Heley.


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Notas finais do capítulo

^^



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