– Eu... Sinto muito Coelho... - os outros guardiões me olharam – Mas isto não vai acontecer comigo.

– Jack...

Impulsionei-me com o cajado e voei pela janela.

xXx

– Jack...

Evitei olha-lo, encarando o nada.

– Você não vai ouvi-los não é?!

Sinto minha garganta se fechar e meu estomago se embrulhar, como se estivesse sendo sufocado aos poucos. As palavras dos guardiões ainda ecoavam em minha cabeça e podia ver perfeitamente a imagem de Hiccup feliz sem mim.

– Jack! Você sabe o quanto significa para mim! E eu sei o quanto eu significo para você! – ele se aproximou segurando minha mão que não estava ocupada com o cajado – Não faça isso outra vez, por favor, você sabe que eu amo você...

– Hiccup...

– Você é a melhor coisa que aconteceu comigo Jack, não há nada que possa substitui-lo. Eu...

– Você tinha Astrid.

– O que...?

Finalmente consegui encorajar-me de erguer o rosto e olhar para ele. Parecia tão apavorado, seus olhos estavam arregalados, suas sobrancelhas franzidas e seus lábios entreabertos.

– Você tinha Astrid, tinha ela antes de me conhecer e era feliz assim, pode tê-la outra vez, você vai ficar bem e até melhor sem mim.

– M-mas...

– Você viu, eu posso machucar você. Achei que talvez realmente pudéssemos tentar ficar juntos mesmo com minha imortalidade, mas não posso suportar vê-lo machucado... Eu... Não suportaria perde-lo com o tempo... Acho que guardiões e humanos não foram feitos um para o outro...

Cada palavra que pronunciei era como uma adaga se enterrando em meu peito, eu sabia o que precisava falar e fazer mas era tão difícil de executar... Tão difícil de dizer adeus a pessoa que mais amo no mundo e jamais amarei deste modo novamente...

– Não faça isso, por favor, eu...

– Sinto muito.

Segurei seu rosto por um longo minuto, tentando me convencer, tentando fazer a mim mesmo acreditar que seria a ultima vez que o veria. Acariciei o rosto de Hiccup sentindo sua pele delicada, que estava marcada por queimaduras feias por minha culpa. Observei seus lindos olhos verdes, me despedindo daquele olhar carinhoso. Então, toquei pela ultima vez aqueles lábios, seria minha despedida, um ultimo beijo. Hiccup ainda estava com os olhos fechados quando me afastei, vi que estava abrindo seus lábios para falar algo e rapidamente voei pela janela evitando ser persuadido a mudar de ideia.

Não sei se ainda vou me perdoar por tê-lo deixado sozinho naquela peça pequena...

Quando abri os olhos, Jack já não estava mais lá. Entrei em pânico no mesmo instante olhando para todos os lados.

– Jack! Jack!

Percebi a janela aberta e na mesma hora desci as escadas correndo.

– JACK! JACK!

Quando passei pela porta senti me puxarem pelo capuz.

– Filho? Onde você vai? Sabe que está descalço não é?

– Eu tenho ir atrás do Jack! Mãe me deixa ir se não ele vai voar para longe! Eu preciso falar com ele!

– Jack? Que Jack? É seu novo amigo?

– Mãe me deixa ir!

Falei desesperado tentando me soltar enquanto meu pai andava até nós bebericando uma xicara de café. Céus, Jack já deve estar longe! Não posso perdê-lo! Preciso convencê-lo do quão idiota são as coisas que esta dizendo!

– O que ele tem?

– Eu não sei, quer sair assim na neve.

– Hiccup você esta descalço, sem falar que esta pálido filho, acho melhor deitar-se.

– Não! Eu não posso!

– É verdade – ela colocou a mão sobre minha testa enquanto eu olhava para todas as janelas na expectativa de ver Jack – Filho sua testa esta queimando de febre! Só pode ter pego uma gripe neste frio terrível! Venha, vou te levar para cama e você toma um remédio...

– NÃO! – minha mãe e meu pai me olharam espantados, eu jamais respondi deste modo para eles, e nem queria o faze-lo, mas, por ter Jack ao meu lado, por ouvir sua voz outra vez, por sentir suas caricias novamente e ver seu sorriso outra vez eu faria qual quer coisa - Eu TENHO que ir, preciso encontrar Jack, sei que é difícil de entender mas ele vai ir embora por que acha que não podemos ficar juntos já que ele é guardião e aliás foi os outros guardiões que disseram isto, mas sei que nós podemos ficar juntos sim e eu só preciso que me deixem ir para falar com ele!

Nem sei como consegui falar tanta coisa em tão pouco tempo, simplesmente falei tudo que me veio a mente e esperei alguma reação do casal. Os dois olhavam-me calados, tentei alimentar alguma esperança que de que entenderiam, que pelo menos uma vez ouvissem seu filho.

– Céus... Ele esta delirando de febre...

– É, leve-o para cama e eu vou procurar alguns remédios.

– VOCÊS TEM QUE ACREDITAR EM MIM!

Falei começando a chorar desesperado, o que só fez minha mãe crer ainda mais na sua teoria sobre eu estar delirando. Ela simplesmente começou a me arrastar para o quarto falando como eu devia me agasalhar direito sem dar a menor atenção para que eu gritava sobre Jack. Ela abriu a porta do quarto e me empurrou delicadamente.

– Certo, fique aqui, seu pai vai trazer remédios.

E começou a fechar a porta, ela ia realmente me trancar aqui e garantir que eu não iria atrás de Frost.

– Mãe!

Ela fechou a porta e pude ouvir o barulho da chave girar do outro lado. Comecei a chorar compulsivamente e me atirei na cama derrotado. Todos os meus esforços foram simplesmente inúteis e agora estou sozinho. Agarrei os cobertores e me encolhi abafando o choro com o travesseiro. Sentia minha cabeça latejar e a dor das queimaduras parecia ser mais forte agora que a adrenalina diminuía. Jack... Por que tinha que me deixar, logo agora que tudo parecia estar dando tão certo para nós...? A dor parecia cada vez pior e o vento frio batia em meu rosto com a janela aberta. Sentia-me cada vez mais fraco e cada vez mais triste, mais magoado, com o coração sendo triturado em mil pedaços que eram triturados novamente em mais mil pedaços cada vez menores. Aos poucos fui perdendo os sentidos e desmaiei mergulhado em meu próprio mar de dor e tristeza.