- Pai! Por favor!

Tentei falar desesperadamente enquanto Stoico me empurrava pelo corredor. Meu pai nunca fora delicado, considerando sua vivencia viking. Mas às vezes acho que esquecia que lidava com seu filho e não com um cavalo xucro ou algo do gênero.

- Não Hiccup! Já não lhe disse milhões de vezes para não se aproximar daquele garoto?!

- E eu já lhe disse milhões de vezes o quão bom ele é! Pai, se você tentasse conversar com ele por um minuto eu tenho certeza que...

Stoico jogou-me para dentro de meu quarto, desequilibrei-me caindo ao chão enquanto meu pai segurava a porta com o peito estufado e o rosto vermelho de raiva.

- CALE-SE! JÁ LHE DISSE O QUANTO ENVERGONHA NOSSA FAMILIA HICCUP!

Me encolhi estremecendo, detestava quando ele gritava... Senti minha visão começar ficar embasada por lágrimas. Vamos, não chore Hiccup! Não consegue parecer forte? Ah, por que ele não podia entender? Por que não se esforçava para compreender o quão sou apaixonado?

- P-pai, e-ele não envergonha nossa família, Jack, sabe, ele trabalha muito, ele...

- É um camponês qualquer! E não ouse encontra-lo de novo Hiccup! Ou eu mesmo darei um jeito nele!

- P-pai!

Tentei falar tarde demais enquanto Stoico batia a porta na minha cara, levantei desesperado tentando abrir a porta. Por que sempre quer dar um ponto final na conversa?! Não, não, ele não pode machucar Jack!

Ouvi a chave girar na fechadura do lado de fora. Olhei para a porta sem acreditar, ia me trancar aqui mesmo?!

- Pai! Abre a porta! – bati na porta assustado, sem receber uma resposta – Stoico!

- VAI FICAR AI ATÉ O AMANHECER SEM JANTAR!

- Pai!

Gritei novamente sem resposta, já podia ouvir seus passos se distanciando. Bati com força minha mão contra porta encostando minha testa na mesma. Apertei os olhos tentando parar de chorar, meu peito se apertava tanto...

Sempre vivi sozinho na vila, mesmo sendo filho do grande líder viking (ou talvez por isto mesmo) nunca consegui me enturmar. Mal conversava com os outros garotos, e minha maior interação com as meninas era quando caia na neve e elas riam de mim.

Então conheci Jack, um garoto sorridente, de cabelos castanhos e olhos brilhantes. Morava longe de nosso vilarejo, mas quando podia, ele me visitava, e sempre me fazia sorrir. Sentia-me sozinho após a morte de minha mãe, mas quando estava ao lado de Jack, parecia que tudo estava completo, bem outra vez. Ele me fazia feliz, quando me abraçava e me beijava... Até que Stoico arrancou-me de seus braços.

Corri até a cama passando minhas mãos por meus olhos molhados. Atirei-me na mesma chorando baixo enterrando meu rosto no travesseiro. Ah... É nessas horas que sinto falta de minha mãe, tenho certeza que ela me entenderia, ou ao menos se esforçaria para...

Plac!

Ergui o olhar olhando em volta, o que diabos...

Plac!

Olhei para a janela. Corri até a mesma olhando através do vidro.

Não pude deixar de sorrir ao ver Jack, parado em meio a neve se preparando para jogar outra pedra que pararia em minha janela. Ele sorriu para mim também, e acabei esquecendo o quão bravo estava. O sorriso de Jack é tão contagiante e bonito... Me fazia sorrir também. Abri a janela rapidamente.

- Jack! O que faz aqui?!

- Vim te buscar!

Revirei os olhos, às vezes Jack parece ser tão burro.

- Jack, meu pai...

- Ele já foi embora!

- Mesmo assim... Eu estou trancado aqui.

- Vamos Rapunzel, não me faça ir ai buscar você. Desça pela janela oras!

Não sei o que me incomodava mais, a falta de noção de Jack em relação à altura considerando que meu quarto é no segundo andar, ou a referencia a Rapunzel.

- Jack, serio...? – resmunguei massageando minhas têmporas – É alto demais.

Jack deu de ombros.

- Pule, eu seguro você.

Falou com muita simplicidade erguendo seus braços.

- Jack, não.

- Vamos Hic, você confia em mim, não confia?

- Eu... Eu confio em você.

- Ótimo, então pule.

Ponderei um pouco, então comecei a me arrastar para a janela. Serio Jack Frost, se eu morrer, você que vai pagar meu enterro. Segurei a janela olhando para o chão, agora parece mais alto...

- Jack! V-você vai me segurar, n-né?

- Vou! Eu prometo Hic!

Falou sorrindo outra vez, por que mesmo eu concordei com isto? Apertei os olhos e pulei.

Como eu esperava, nós dois caímos na neve.