A porta do quarto abriu-se e Katniss Everdeen estava a porta, arregalando os olhos ao encontrar uma Annie Cresta encolhida em sua cama aos roncos, olheiras rodeavam seus olhos indicando uma noite mal dormida, e seus cabelos ruivos espalhavam-se pelo travesseiro macio e fofo. Vestia ainda a camisola verde que usou em sua última noite com Finnick Odair, antes de ele partir.

Antes dos bestantes.

=Flashback ON=

– Katniss, ela precisa de apoio! – O tom de voz de Peeta Mellark exalava desespero, estava naquele estado desde que pela manhã, Annie tentara suicídio. – Não podemos permitir que ela faça isso denovo!

– Ela está sofrendo, Peeta! Ela sente falta dele... – Os olhos de Katniss tornaram-se vagos, e sua voz começou a falhar. – E-ele era tudo p-pra ela..

– Eu sei disso Katniss. Eu ouvia os choros dela naquela cela.. – Desta vez foi a vez de Peeta perder o foco, procurando a cadeira mais próxima e agarrando o encosto da cadeira com força.

Katniss sabia, o efeito do veneno das teleguiadas estava agindo.

– A to-tortura de Annie seria ser estup-prada. O pacificador estava se ap-proximando dela e eu fiz nada.. nada... Foi quando Johanna gritou.. – Contava Peeta, parando um pouco para apertar ainda mais a cadeira. – Ela gritou “Eu não faria isso se fosse você, ela tomava banho no mar do distrito 4, imagina quantos vermes de merda aquela água não continha!” Foi quando o pacificador desistiu, e vimos Annie chorando num canto. As palavras dela eram tão convincentes que até eu acreditei nela.

– Oh, Peeta.. – A face de Katniss assumiu um tom rosado, e uma expressão de pena começava a se formar. – Eu não sabia..

– E e-eu não fiz nada! Nada! – Lágrimas começaram a rolar pela face de Peeta, e sua face tomava a expressão de vergonha, de derrota, de impotência.

– O importante é que ela está bem! – Exclamou o tordo, contendo-se para não abraçá-lo e iniciar mais um dos ataques do garoto.

– Não Katniss, ela deixou de estar bem no momento em que ela passou aquela lâmina nos pulsos. Ou melhor, no momento em que Finnick Odair partiu. – Em uma questão de segundos os fortes braços de Peeta envolveram o corpo de Katniss em um abraço necessitado. A garota o retribuiu beijando a face de Peeta.

– Ei, calma. Ela vai ficar bem, estamos aqui. Nós estamos aqui. – Tranquilizou Katniss, enquanto as lembranças da morte de Odair lhe vinham a memória.

= Flashback OFF =

Com seus passos sempre silenciosos, Katniss caminhou na direção de Annie, em um gesto de acorda-la quando sua atenção fora captada pela escrivaninha. A luminária de mesa ainda estava acesa, iluminando algo que repousava sobre a mesa, em passos igualmente silenciosos se dirigiu até a escrivaninha e tomou em mãos o papel que a luminária iluminava, algo como uma carta.

Katniss sentou-se a cadeira e iluminou o papel-carta, uma caligrafia fina e impecável ocupava uma boa parte do papel, sobrando espaço para apenas duas ou três frases. Talvez não devesse ser tão curiosa assim, mas uma carta escrita por Annie Cresta, nas devidas circunstâncias em que se encontravam, era algo para se xeretar.

Foi quando começou a ler.

“Querido Finnick,

Sinto falta de você, cada dia sem te ver me parece uma eternidade. Me lembro de quando íamos até a praia do Quatro e assistíamos o pôr do sol, me lembro também de como foi difícil ensinar ao “Queridinho da Capital” a dar nós, me lembro até de quando eu voltei dos meus Jogos, admito que fui uma tola, não lhe dei atenção quando você passava os dias do meu lado, me falando coisas doces e traçando aquela rede de pesca que eu achei que você nunca teceria.

Sinto sua falta.

Depois da vitória dos rebeldes quase tudo começou a dar certo, Snow morreu de tanto rir ou algo do gênero, e Katniss matou a tal Coin, isso chocou a todos nós, não julgo ela por isso, a mulher era extremamente assustadora.

E por falar em Katniss Everdeen, hoje eu entendo o porque do esforço que você fez para mantê-la viva, ela não foi apenas o tordo ou o rostinho bonito da rebelião, ela foi uma verdadeira amiga, gostaria de dizer para ela que você disse que “Katniss Everdeen foi talvez, a melhor amiga que eu tive em minha vida inteira” mas não consigo, cada vez que seu nome me vem a cabeça as palavras travam e eu choro, e quando eu faço isso Katniss e Peeta me consolam, são bons amigos.

Sinto falta do seu abraço Fin, do seu beijo e dos seus elogios bobos, as vezes eu só queria te abraçar de novo, só para me sentir segura, peço desculpas por aquele dia que eu cortei meus pulsos com aquela faca, eu sei que você me odiaria por isso mas a saudade estava me sufocando, mas eu tenho um motivo a mais para lutar agora, nosso filho. É um menino e todos estão muito felizes, eu também estou, só gostaria de que ele conhecesse o pai.

Eu te amo Finnick, seus poemas que um dia me fizeram rir hoje me fazem chorar.

Eu te amo mesmo.

Annie”

As lágrimas escorriam pelos olhos de Katniss, algo raro de se acontecer, suas mãos tremiam de um jeito totalmente estranho enquanto seus pensamentos inundavam-se de imagens de Finnick: Ele na arena, ele lhe oferecendo cubos de açúcar, ele fazendo e desfazendo nós com o olhar perdido no 13, ele sendo morto pelos bestantes..

Foi quando Katniss tomou a caneta em mãos e se pôs a escrever, sem realmente pensar no que estava fazendo, queria apenas amenizar a dor daquela garota ruiva que tanto motivava Finnick a lutar.

Terminou a sua escrita e sorriu, talvez não estivesse assim tão bom, mas Annie talvez ficasse alegre com aquilo, ela levantou-se e saiu do quarto, ainda com lágrimas rolando feito cachoeiras.

E naquelas poucas linhas restantes estava o que significaria um novo começo para Annie.

“Ei Annie, eu estou aqui, não chore, quando precisar de mim me chame que eu acalmarei seu coração. Obrigado por ser tão forte, e saiba que eu sempre estarei acompanhando você e nosso menino. Espero que ele seja tão lindo como a mãe, mas não tão lindo quanto o pai.

Finnick.”