Choose Your Battles escrita por Ferla, Cami


Capítulo 14
Felipe


Notas iniciais do capítulo

Oláá pessoal, como vocês estão?
Eis que aqui, eu apresento a vocês, a maior raridade desse ano.
Como vocês devem ter percebido, não costumo escrever capítulos grandes, eles nunca passam das 2000 palavras. Mas esse é pra vocês tirarem algum tempo, porque ficou realmente grande.
Bom, acho que vocês vão gostar, no próximo capítulo teremos algumas revelações. Digam nos comentários, estão gostando? A opinião de vocês é muito importante!
É isso amados, aproveitem!
Beijinhos :*
~Pequena Ferla que antes era Sakuranee, mudei HUE'



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Por mais rápido que fosse o cavalo, aquele não era minha égua Serenity. Ela tinha ficado no acampamento quando eu fora ''sequestrada''. Serenity e eu sempre cavalgávamos juntas numa perfeita sincronia, quem sabe fosse um pouco de costume por minha parte, mas eu não me sentia confortável com outro cavalo.

– Ei, Annabeth! – chamou Felipe cavalgando logo ao meu lado. Estávamos muito rápidos, demais. Ele estava gritando. – Que cara é essa?

– É só um cavalo diferente!

– Ah verdade, eu não vi Serenity! – ele gritou de volta, e então saiu em disparada na minha frente. – Vamos sua lerda!

Por mais que Felipe tivesse uma boa memória, jamais imaginaria que ele tivesse uma memória tão boa. Lembrar de Serenity era impressionante. Afinal, por mais importante que fosse pra mim, ela não passava de uma égua para os outros. O que me fez lembrar, desde pequenos Felipe se deu bem com cavalos.

Já tinham duas semanas que eu estava no castelo. Estava começando a me adaptar novamente depois de um tempo sem todos aqueles mimos. Não posso dizer que estava feliz, realmente. Eu não me sentia mais parte daquele lugar, era insuportável ter que olhar para o rei de Nôra e lembrar que ele estava mandando exércitos para matar meus irmãos e parentes. E o pior, eu teria que casar com seu filho e fazer parte daquele massacre horrível.

Nada contra Felipe, ele era uma pessoa maravilhosa apesar de eu nunca tê-lo visto como algo além de um grande amigo, jamais conseguiria o ver como um marido. Mas olhando para aquele homem robusto e belo, por que não poderia me apaixonar por ele mesmo? Tirando os fatos de família, Felipe era completamente ''apaixonável'' por assim dizer. Aquele cabelo longo, o corpo alto... Bom, entramos nos olhos e o problema chega. Exatamente.

Seus olhos eram idênticos aos de Percy, eram o mar me encarando com profundidade. Eu não podia olhar para Felipe sem me lembrar de Percy Jackson. E isso estava sendo um grave problema. Por que eu pensava tanto em Percy? O que tinha me levado a dormir pensando nele? A me encontrar em banhos demorados por pensar no que ele estaria fazendo? Aquilo era o mais perturbador. Estaria ele morto? Só de pensar eu sentia longos arrepios de tensão. Era horrível ter pesadelos e acordar num quarto escuro e sozinha. Estava tão acostumada a ser acudida por Percy depois dos sonhos ruins que sentia um desespero depois de abrir os olhos.

Eu precisava saber como ele estava. Eu precisava voltar para o acampamento. Mas como faria aquilo? Era praticamente impossível!

Maldito Percy Jackson, quando ele tinha me deixado naquele estado?

– Annabeth – disse Felipe quando eu o alcancei, já não estávamos em velocidade rápida. Os cavalos trotavam calmamente no jardim. – Vamos jantar juntos hoje?

– Mas nós jantamos juntos todas as noites – eu respondi num tom brincalhão.

– Boba, a sós, não é? – ele riu. – Eu pedi pra prepararem nossa mesa aqui no jardim, sei que você gosta de ar fresco.

– É, você acertou – eu respondi num sorriso e olhei-o nos olhos. Percy Jackson. Droga.

– O que foi Annabeth, você fez uma cara estranha – ele disse descendo do cavalo. – Se não gostou podemos fazer a refeição lá dentro, tudo bem.

– Não, não é isso – falei e sorri novamente. – Eu amei a ideia. Foi só uma pontada de dor de cabeça.

''Dor de cabeça chamada Percy Jackson.'' Pensei.

– Ah, entendi! – ele esboçou um sorriso e estendeu a mão para mim no intuito de me ajudar a descer do cavalo. Peguei sua mão aceitando a ajuda e desci devagar do animal. Pude notar que, apesar do sorriso, ele exibia certa expressão desconfortável. Não era por minha causa, seus olhos pareceram distantes durante todo o dia. – Pode deixar os cavalos comigo, eu os levo ao estábulo, você tem que cuidar dessa dor de cabeça. Bom, nos encontramos aqui no jardim às 20h, o que acha? É um bom tempo para você tirar um cochilo.

Eram 17h.

– Ei, Felipe – eu chamei. – Está tudo bem?

Ele permaneceu calado por alguns instantes enquanto acariciava os cavalos num sorriso contido, como se soubesse que eu tinha tirado sua máscara.

– Esperta como sempre, não é? – ele soltou os cavalos, os quais continuaram ali obedientemente, e se voltou para mim num suspiro. – Nada com que se preocupar. Eu estou apenas tendo alguns problemas com aqueles semideuses. Eles me provocam crises de insônia terríveis, apenas tomando algumas ervas especiais consigo ter uma boa noite de sono. Você não imagina como eles são um estorvo.

– Estorvo? – perguntei.

– Sim, parece que depois que você foi encontrada os acampamentos têm tido uma segurança maior, e estão mudando de localização com frequência.

– Entendo – eu disse, olhando- o com calma. Tinha algo me incomodando naquilo tudo: como os soldados tinham encontrado o acampamento? Não teria como eles encontrarem o acampamento por acaso com tantos guardas juntos. Eles só saem em massa quando têm um objetivo fixo envolvendo a realeza. Ou seja, eles já sabiam que eu estava lá. – Mas Felipe, como vocês acharam a minha localização?

– Ah, sobre isso. Na verdade é um segredo, eu não sei se posso contar para você...

Permaneci quieta como se tivesse ficado um tanto sentida. Coisa que não acontecera porque eu sabia como funcionava aquele esquema de privacidade. Mas uma estratégia era necessária.

– Ah Annabeth, não me olhe com esses olhos de súplica!

– É que eu fico curiosa...

– O.k, mas tudo que eu posso falar é que foi um espião.

Espião. Aquilo era óbvio. Mas eu queria saber quem, eu precisava saber. Contudo, nem deveria gastar saliva, eu sabia que ele não me contaria, seria muito arriscado.

– Eles são podres – disse Felipe, num suspiro. – Traem uns aos outros. Essa história de família é uma mentira.

''O quê? Quem ele acha que é para dizer isso?

Não tem o direito de dizer que é uma mentira! Nunca esteve entre eles!''

– Não sei, Felipe. Quem sabe realmente sejam próximos, não acha? Já que são tão fortes.

– Longe disso, é tudo um esquema de guerra. São todos falsos como seus pais. Fingem se dar bem mas logo estão tendo casos com mundanos e deixando esposas e filhos do Olimpo de lado. Eles vem para a Terra para ter alguma diversão.

O que responder?

Nada.

Apenas senti meu rosto quente como fogo. Não admitia que insultasse-os daquela forma. Estavam sempre presentes, eu sentia. Eu ouvia Percy conversando com seu pai no rio, e ele sempre recebia uma resposta em forma de ondulações. Notava pelo próprio Apolo, que sempre fora muito atencioso com seus filhos, além de uma pessoa divertida. Atena – apesar de não ser mãe – tratava suas caçadoras com amor e determinação. Minha mãe me ajudara a aprender sobre batalha, isso eu tenho certeza. Não é possível explicar em palavras tal sentimento.

Felizmente, quando eu estava prestes a ficar ainda mais vermelha ele se virou para cuidar dos cavalos.

– Não vou te encher mais – ele riu. – Vá para seu quarto cuidar da sua dor de cabeça. Não quero que piore – ele sorriu.

O pior era que Felipe falava aquele tipo de cosia sem a mínima ideia de quem eu era. Não sei se deveria culpá-lo, era comum falar mal de seus inimigos. Mas ainda assim, era impossível não me ofender. Contudo, agir naturalmente era o certo naquela ocasião.

Apesar de que o Felipe deveria descobrir numa hora ou outra.

– Tudo bem – eu respondi me virando para o castelo. – Obrigada, Felipe.

– Por o que, exatamente? – ele disse num tom risonho.

Eu me virei novamente sem deixar de andar, mesmo que de costas para o castelo.

– Por se preocupar – sorri.

Ele respondeu com uma gargalhada bem humorada e pegou os cavalos pela rédea, então acenou alegremente e por fim se virou.

Eu me direcionei novamente ao meu objetivo e entrei no palácio rapidamente.

Não poderia continuar daquele jeito. Felipe me lembrava Percy em todos os aspectos, até mesmo na voz e nos movimentos. As únicas diferenças eram o comprimento do cabelo e o temperamento de Felipe que era bem mais... Animado? Por mais que eu estivesse me divertindo com ele no castelo, era como se uma parte de mim tivesse ficado para trás. Por que aquilo acontecia? Eu tinha vontade de gritar chamando pela minha mãe. Por que ela tinha me encaminhado para o acampamento? Eu tinha certeza que aquilo era plano dela. Com certeza para o meu bem, Atena era muito atenciosa, como dissera Ártemis. Apesar de nunca termos nos comunicado, eu sentia que ela estava do meu lado dando suporte. Mas então por que eu estava sentindo tanto aperto no coração? Parecia que eu estava fazendo algo errado. Os únicos momentos em que eu relaxava eram durante o sono.

Ou quando eu via Felipe – que, ironicamente, era um clone de Percy.

Eu me sentia um pouco mal por Felipe também. Como ele se sentiria se soubesse que eu lembrava do seu pior inimigo quando estava com ele? Era como se eu estivesse o usando, mas esse nunca fora meu objetivo, eu jamais faria algo ruim para um doce de pessoa como Felipe.

A única solução? Seria fugir do acampamento. Mas aquilo era impossível, ainda mais depois dos ataques rebeldes, as forças do palácio tinham sido ampliadas. Nem mesmo no jardim as guardas se encontravam ausentes.

A única forma era óbvia, porém perigosa.

Eu deveria falar com meu pai. Um rei rigoroso que apenas não tinha se unido ao Reino de Nôra na guerra por conta dos ataques rebeldes que estavam gastando suas forças.

Mas uma coisa era fato: ele era o único naquele lugar que sabia que eu era uma semideusa.

# # #

Bati na porta de seu escritório rapidamente, porém com cautela. Eu tinha um tanto de medo de meu pai. Ele era um homem muito rígido. Eu já o vira batendo em empregadas várias vezes, e não havia algo que eu pudesse fazer sendo apenas uma garota contra o rei de um reino inteiro. Aquilo me repugnava.

– Entre – ele disse sem contornos.

Abri a porta e entrei cuidadosamente antes de fechá-la novamente. Ele não parecia executar alguma atividade importante, estava apenas sentado em sua poltrona lendo alguma literatura clássica.

Quando seus olhos me fitaram, percebi que ele não demonstrou uma face muito feliz. Deduzi que ele sabia que eu já descobrira a verdade sobre minha mãe e pensou que eu queria explicações. Mas essa parte eu já sabia. Eu só queria voltar ao lugar onde pertencia, por mais insano que soasse.

– Ah. Imaginei que você viria uma hora.

– Uma hora eu teria de vir – falei, e em seguida me dirigi à poltrona ao lado da sua para me sentar calmamente.

– Não tem o que dizer, Annabeth, simplesmente aconteceu.

– Aconteceu de você passar a noite com uma deusa? – respondi num tom mais brusco do que deveria ter usado.

Seus olhos saíram do livro, o qual ele jogou na mesinha ao lado rapidamente. Suas pupilas pareceram ter se dilatado indicando certa surpresa. Pelo jeito ele não imaginou que eu soubesse que seu caso era uma deusa. Ops.

– Como... Oh não! Você não deve abrir a boca sobre isso! Céus! Como você descobriu?! – ele exclamou num tom mais baixo, se aproximando de mim como se quisesse que ninguém ouvisse. Seu rosto estava um tanto vermelho.

– Francamente, eu estava num acampamento de semideuses, como eu não descobriria?

– Annabeth, você não falou isso para Felipe, falou? Não seja retardada de dizer!

– Claro que não! Você ao menos sabe de que deusa eu sou filha?!

– Eu sei, mas gostaria de não saber. Ela foi só um incomodo na minha vida – ele disse soltando um suspiro impaciente, e em seguida levantou com calma e se virou de costas para mim. – Não quero ouvir mais sobre essa vadia no meu castelo.

''Vadia?'' pensei.

Quem ele achava que era para chamar a deusa da sabedoria de ''vadia''? Ele não tinha senso na cabeça?

''Atena é um doce, Anne. Todos simpatizam com ela no Olimpo. É como uma mãezona para nós. Deve ter orgulho dela, e sempre defendê-la. Os mundanos têm uma impressão errada da nossa querida deusa.'' lembrei de Ártemis me contando sobre Atena com sua voz gentil.

– Não ouse chamar minha mãe disso! – exclamei enquanto me levantava da poltrona com rigidez. Que droga eu achava que estava fazendo? Desafiando o rei? Por que o sangue tinha de me subir nas piores horas?

– Está levantando a voz para mim?! – ele se virou em minha direção com rigor. – Aqueles animais fizeram lavagem cerebral em você?!

– Não ouse chamá-los de animais! Eles são meus irmãos! – gritei com inflexibilidade.

– Irmãos?! – ele riu. – Até onde eu sei é mais raro encontrar seus irmãos imundos hoje em dia. Por favor, Annabeth, esqueça isso. Sua vida está aqui, e ela é se casar com Felipe e unir os reinos. Esqueça que um dia você esteve naquele acampamento infernal.

– Cala a boca! Não... – ah sim, estavam mortos. E aquilo era culpa do rei que estava sentado em visita na sala de estar do castelo em que eu mesma morava – o rei de Nôra. Pude sentir meu rosto esquentar junto de algumas malditas lágrimas que caíram juntas. Não eram lágrimas de tristeza. Eu diria de raiva, talvez. Gostaria de dizer que eu comecei a chorar e sai correndo. Mas acontece que devido ao treinamento que eu tinha sido exposta nos últimos meses, era difícil não me defender. Ainda mais sendo esquentada do jeito que eu sempre fora. A insanidade tomou minha cabeça de vez quando ergui minha mão para ele. – Não ouse falar deles desse jeito, seu infeliz!

Ele segurou meu braço com força. Sua face que já estava irritada agora tinha assumido uma expressão temível: seus olhos se estreitaram enquanto pude ver uma das veias de seu rosto saltar rapidamente junto com algumas de seu pescoço. O pulso que ele segurara com força agora já estava dilatando de dor. O que droga eu tinha decidido fazer?

– Você levantou sua mão para o rei?! Sabe qual é a punição para esse crime?!

– Me solte...!

– Te soltar?! Sua vadiazinha! – seu rosto aparentava cada vez mais vermelho. E o pior de tudo: pude sentir um aroma de álcool sair de sua boca. Seus músculos se contraiam de irritação. – Como fui imbecil em te aceitar! Devia ter te mandado para um acampamento emporcalhado para que sua mãe desse um jeito de te criar. Você é tão depravada quanto ela!

Ele começou a balançar meu braço com força, para enfim me jogar com força no chão, onde começou a me chutar como faria com um cão. Não sabia o que pensar. Seus chutes eram muito fortes.

– Foi tudo ideia dessa rainha tola. Que tipo de mulher aceita uma criança que seu marido teve com outra mulher?! Bom coração levou a isso! Essa mestiça maldita! Eu tenho nojo até mesmo de encostar em você – ele disse num tom desprezível e então se abaixou ao meu lado e deu um tapa ardido no meu rosto. – Você está na posição perfeita. Da forma como um herdeiro desses malditos deuses deve ser. Que bom que você tenha me irritado hoje, Annabeth. Isso é muito bom. Agradeça a sua ''maravilhosa'' mãe que você tanto ama por ter te deixado comigo. Agora aquela vadia pode ver onde a sua raça para.

Parando para pensar, seria aquilo verdade? Como eu nunca tinha pensado naquilo? Meu pai nunca tivera tanto contato físico comigo. Nós nunca conversávamos senão em horas onde ele deveria me explicar obrigações do reino. Eu nunca tinha reparado. Quando criança eu pedia colo e ele dizia estar nervoso. Eu o chamava para tomar chá comigo e com mamãe e ele dizia estar ocupado. Eu sempre achara que era por ser rei, e um rei não tinha tempo para aquelas coisas. Onde fica meu cargo de filha de Atena quando sou uma cretina de não ter reparado que tudo aquilo era por ser filha bastarda?

– Pare com isso... – eu falei o fitando com agressividade.

– Calada. Você levantou a mão para o rei, deve arcar com as consequências.

– Você vai pagar por isso quando eu voltar... – senti uma pontada aguda no meu abdômen.

– Voltar para onde? Para o seu acampamento feliz? Todos eles vão morrer, você sabe disso – por fim ele parou e soltou uma risadinha. – Chega. Vá se preparar para seu jantar. Você ainda tem um casamento.

Ele me levantou pelo braço com brutalidade e me levou para a porta.

– Acho que você percebeu o quanto eu odeio falar sobre essa raça. Vamos fingir que isso nunca aconteceu e eu esqueço isso. Não é, filha?

# # #

Naquele momento eu deveria ser a semideusa forte que fora treinada por Ártemis. A filha de Atena que nascera em berço de ouro. A garota que honrara suas disputas no acampamentos, além da que aguentara um ataque.

Além da assassina que matara com uma flecha.

Porém, eu não sei se foi um ferimento psicológico um tanto grande ou se era o fato de as minhas costelas estarem latejando de dor. Talvez fosse a surpresa. Afinal, lá estava eu sentada no chão de meu quarto enquanto usava a cama de suporte para minhas costas.

Com as mãos nas costelas, eu resmungava de dor.

O quarto estava mal iluminado com uma vela no criado-mudo. Já escurecera e eu ainda estava lá.

Tudo que eu queria naquele momento era ficar sozinha. Imaginar alguém me vendo naquele estado deplorável era repugnante. Deveria permanecer por um tempo enquanto a dor passava, para enfim pudesse limpar o rosto e descer para jantar com Felipe como se nada tivesse acontecido. Era aquilo que eu queria, e assim deveria ser.

Ou, deveria ter sido.

Não notei por quanto tempo estava lá ou em que porcentagem minha dor diminuíra, a única coisa que passava por minha cabeça era a raiva que explodia em meu sangue e a dilatação que passava por minha cabeça. Se os semideuses passavam por aquela humilhação constantemente, era compreensível que estivessem numa guerra contra o Reino de Nôra.

E foi assim, que ouvi uma batida na porta no momento mais inapropriado para o meu estado psicológico sensível.

– Annabeth? – era Felipe. A voz passou abafada pela porta. – Tudo bem?

– Não entre!

– Annabeth?! Por quê?! O que houve?!

– Apenas não entre, Felipe!

O que eu estava dizendo? Deveria agir normalmente, não deveria? Mas como poderia permitir que ele me visse naquele estado?

Talvez fosse o nervosismo que provocara a pontada ainda mais aguda nas minhas costelas e provocara o resmungo alto de dor que não deveria ter saído.

Provavelmente o resmungo fora alto demais, porque logo após de soltá-lo Felipe abriu a porta na velocidade de um tiro.

– ANNABETH! – ele gritou em desespero. Quando me viu no chão, não hesitou em se ajoelhar ao meu lado para que pudesse me segurar em seus braços. – O que houve?!

– Você... Você é mais um desses... – eu disse em meio a tosses.

– Annabeth...? – ele disse num ar confuso. Eu evitava olhá-lo.

– Mais um do grupo que os critica! – eu gritei num tom mais alterado do que deveria ser.

– Do que você está falando?! – ele parecia cada vez mais preocupado. Mas não aparentava irritado. – Annabeth, você está bem?!

– Dos semideuses, Felipe. Você é igual ao meu pai! Os critica sem saber da verdade sobre eles! Isso é injusto!

– Espere Annabeth, eu não estou entendendo... Não faz sentido algum!

– Eu sou filha de Atena, o.k?! Fique sabendo que eu sou um desses ''imundos'', desses ''terríveis semideuses''!

Felipe não respondeu. A face dele era, no mínimo, indescritível. Ele me soltou de seus braços e ficou olhando para o meu rosto numa expressão pálida e surpresa. Ele observava para cada parte do meu corpo, como se estivesse me comparando a uma deusa tendo em vista a informação de que eu era filha de uma. Ele estava chocado, mas seu humor não pareceu atingir uma forma irritada ou traída. Ele apenas estava em choque. Apenas.

– Isso... Isso... É sério? – ele gaguejou.

– É – eu sequei algumas lágrimas e o encarei na espera de uma reação negativa. Se ele tirasse uma arma e me matasse, eu não o julgaria. – Vamos, pode falar o que quiser. Diga que sou uma traidora. Diga que não mereço fazer parte do Reino de Nôra. Mande decapitarem a minha cabeça. Eu não me importo.

– Não! – ele disse rapidamente depois de encarar o chão por pouquíssimos segundos. – Annabeth, jamais! Eu jamais mandaria matarem você!

– Felipe, eu sou uma semideusa. E minha opinião sobre isso não é negativa – eu falei como se começasse a me armar para uma disputa verbal. – Eu gosto da minha família. Fui feliz no acampamento, mais do que em anos nesse castelo.

Ele pareceu um tanto ofendido com a minha frase. Contudo, ainda não se irritara. Aquilo fora surpreendente.

– Não, Felipe! Você não tem algo com isso. Na verdade, se não fosse você, minha infância não teria valido. Mas... Eu não pertenço a esse lugar, desculpa. Um dia ou outro eu vou acabar conseguindo fugir.

Ele não pronunciou mais palavra alguma. Ficou quieto me encarando por um tempo. Depois se escorou na cama e deixou as mãos caírem no chão. O rosto mal iluminado pela vela parecia cada vez mais atraente.

O pior era que me lembrava Percy.

– Se esse negócio de ser semideusa for verdade... – ele disse voltando a se virar para mim. Então colocou as duas mãos sobre meus ombros num ato que me surpreendeu. – Eu deixo o reino e vou para um acampamento com você.

Eu não sabia o que pensar ou responder. Aquilo não fazia sentido. Estava óbvio que ele queria aquilo apenas para poder conseguir informações enquanto fingia ser o príncipe que renunciou ao trono.

– Ora, Felipe. É difícil de acreditar nisso. Eu sei que você quer apenas se infiltrar...

– Não! Não, Annabeth. Eu... Eu... Sei que não vai acreditar em mim. Mas eu não quero te deixar fugir sozinha.

– Felipe... Por favor, nem tent...

– Porque eu te amo, Annabeth! – ele disse ao me interromper, permanecia com a cabeça baixa e os olhos fechados. Suas mãos continuavam nos meus ombros. – Eu vou te ajudar a fugir. Nem que tenha de encarar a perseguição do meu pai ou do reino.

''Eu te amo'' ecoaram as palavras angustiadas de Felipe em minha cabeça.

A frases que eu sempre sonhara em ouvir me pegou desprevenida.

– Felipe... – eu respondi, pasma.

– Annabeth, por favor... – eis que eu vi algumas lágrimas caírem rapidamente sobre o chão, mas elas logo pararam, como se não tivessem existido. – Só não me deixe sozinho. Quando você não está, eu me sinto mais solitário do que realmente sou. Não me deixe sozinho no meio dessa guerra e de meu pai canibal.

Eu não respondi. Temia que fosse tudo uma encenação bolada por seu pai. Apesar de eu saber que Felipe nunca fora bom em contar mentiras desde que era criança.

Tudo que fiz foi colocar minha mão em seu rosto que estava virado para o chão e fazê-lo olhar para mim, assim poderia perceber a verdade apenas pela sua face.

Eu não sabia o que esperar de sua expressão, na verdade eu não queria esperar algo. Contudo, assim que os olhos de Felipe me encararam senti um arrepio assustador na espinha: na iluminação da vela, seus olhos estavam em destaque, e úmidos faziam um contraste com as cores verde e azul que se misturavam pelos olhos.

Sim, se misturavam.

O que eu vi dentro do que deveria ser apenas simples olhos não eram apenas uma magnífica cor. Era o mar. Literalmente. Eu podia ver as ondas se balançando em desespero.

Deixo minhas conclusões para serem retratadas mais tarde, pois também demorei para perceber o fato mais importante.

Mas naquele momento, a única coisa que passava pela minha cabeça era Percy Jackson.

E antes mesmo que eu pudesse argumentar ou pensar melhor a respeito, eu e Felipe já estávamos num estágio de aproximação mais elevado. Antes que logo, nossas bocas se unissem devagar e cautelosamente. Seu aroma se assemelhava a erva-doce, e sua boca me lembrava algo adocicado, como morangos.

Minhas mãos tocaram lentamente seu braço num movimento automático, logo pude sentir seus músculos bem definidos por baixo da camisa fina de algodão.

O beijo lento e cuidadoso permaneceu na ativa naturalmente, sem estranhamentos, provocando seus prazeres após a leve discussão. Passado algum tempo, a velocidade começou a aumentar junto ao clima, transferindo para algo mais voraz vindo da parte de ambos.

Depois de um longo minuto, pude sentir as mãos de Felipe levantarem meu corpo para cima da cama rapidamente. Ele me colocou cuidadosamente, e então posicionou suas mãos gentis sobre meus cabelos, meus braços e descendo para a cintura.

Antes que pudesse perceber, já estava desabotoando sua camisa branca aos poucos, antes que logo pudesse tirá-la. Eu não parei para olhar seu corpo, nós apenas deixávamos nossos olhos fechados enquanto o beijo se prolongava.

Aquilo estava mesmo acontecendo.

E então...


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Notas finais do capítulo

Quero muito saber a reação de vocês sobre isso, gostaram ou não? AHSUAHSJA



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