Me dirijo a escola sozinha, até porque ter aqueles dois atrás de mim seria um grande incomodo, bom, não que eu não goste do Niel, eu sinto uma grande admiração e respeito por ele, mas FOI ELE QUE TRAÇOU ESSA LINHA ENTRE A GENTE, ok? – Minhas bochechas queimam um pouco

Chego até meu destino, muito adiantada por sinal, procuro um canto quieto, COISA QUE PARECE IMPOSSIVEL NUMA ESCOLA NÉ? MEU DEUS QUE POVO BARULHENTO AS 6:40 DA MANHÃ VIU?

Com muita luta acho um cantinho bem afastado e começo a escrever um poema

“Pois quando o amor chegar

Muito há de mudar

Gostaria de sentir o calor

Quando em meu peito houver um grande amor

Mas hoje estou tão só

Se eu fosse pó

Haveriam outros como eu”

Depois desse trecho melancólico meus olhos que estavam voltados ao papel se voltam há um lindo homem, com seus cabelos platinados e olhos com heterocromia. Meus olhos analisam cada parte sua, antes de olha-lo nos olhos.

—É raro encontrar uma moça tão imersa em literatura hoje em dia – Diz o rapaz com um sorriso no rosto –

—Literatura deixou de ser algo admirável nesses tempos, é uma pena, pois em livros encontramos novos mundos e com lápis e papel escrevemos o nosso próprio – Eu que geralmente sou tão quieta me sinto imersa com uma simples frase.

—Literatura é encantadora, mais do que essas pessoas de mentes fechadas podem entender, prazer, meu nome é Lysandre

—Prazer, meu nome é Mary Anne, mas me chame de Mary

Por um monto sinto uma “sede de sangue” vindo dos arredores, mas não consigo encontrar a origem, sinto um calafrio

—A senhorita está bem?

—Eu não devo ter me agasalhado muito bem hoje, sou um pouco sensível a frio sabe?

—Compreendo muitíssimo bem, também sou assim

Reparo em seu estilo vitoriano, um estilo que eu admiro muito e como ele mencionou suas roupas parecem grossas.

—Então, devemos ir para a cerimônia de boas-vindas, não?

—Como você sabia que eu era uma primeiranista?

—Por que? Porque um primeiranista reconhece outro – Ele sorri, me sinto encantada com aquela figura, tão meiga, uma doçura que eu jamais ousaria experimentar

Sentamos em uma poltrona no salão, ouvimos atentamente a sala que caímos, felizmente estamos juntos, mas, Niel também está. O único consolo que tenho é que Nathalia não me perturbará. Ela, que estava sentada pouco a frente me lança um olhar feroz, como uma fera que está protegendo seu território.

Saímos do salão em direção a sala, quando termino o lance de escadas alguém me puxa pelo braço, é Niel

—Vamos, não podemos chegar atrasados!

Eu não consigo ver seu rosto, mas seu tom de voz é um misto de raiva e nervosismo, não posso nem imaginar porque ele está assim, a única coisa que posso fazer é tentar acompanhar seus passos rápidos em direção a sala.

Ele puxa uma cadeira e quase me coloca sentada ali, eu obedeço, pois não quero mais problemas do que já temos.

Lysandre se senta logo atrás de mim e Nathaniel ao meu lado, claramente incomodado com algo

Logo Rosalya se aproxima, ela é minha melhor amiga, nos conhecemos no ensino fundamental, ela é muito amável e sempre me escuta. Ela senta atrás de Niel

—Olá meu cunhado e minha querida Mary

—Olá Rosa – Responde Lysandre como se tivesse tido seus pensamentos interrompidos

—Cunhado? Como assim cunhado? – Digo eu num impulso, sem saber digerir essa informação

Ela se levanta e me puxa para um canto, onde sussurra no meu ouvido:

—Lembra que eu comentei que meu namorado tinha um irmãozinho fofo que parecia combinar com você, então, é ele!!!

Minhas bochechas coram, eu solto um olhar como quem diz “meu deus, olha onde eu me meti” e volto a me sentar

O dia passa sem mais nenhuma surpresa, vou para casa pensando em Niel e Lys, caminho vagarosamente procurando inspiração nas árvores e pássaros, também invejo os amantes que andam de mãos dadas no pôr do sol

Entro no meu quarto, por um momento sinto falta de algo, minha escrivaninha está mais vazia que o de costume, mas como eu digo “se não lembro o que é, então não é importante”

Tomo um banho e desço para jantar, a Senhora Mayer preza muito pelos momentos em família, por isso, quando ela está em casa, devemos comer todos juntos, felizmente são apenas algumas vezes na semana

Quando eu desço, vejo Nathalia com meu caderno, aquele que eu “estava dando falta”, ele tem uma capa bem decorada, que eu mesma personalizei, ela me olha e vai em direção a Niel.

—IRMÃO, OLHA SÓ O QUE EU ACHEI! – Mostra ela empolgada, ela solta um sorriso. Aquela boba realmente achou que fosse meu diário, como se alguém fosse idiota a esse ponto.

Niel analisa as páginas enquanto Nathalia comemora.

—Alguém anda muito aplicada em cálculo, não é?

Nathalia tem uma súbita mudança de expressão, eu seguro o riso com a cena mais séria que tenho em mente.

—Sim, preciso me esforçar se eu quiser entrar em uma boa universidade. Agora, deixe-me guardar isso, com licença.

Subo para o meu quarto e começo a rir muito, garota boba, acha que após tantos anos de convivência esses pequenos truques vão me pegar?

Vou até a sala de jantar, aproveito minha refeição e durmo profundamente.

No outro dia, na escola, Lys me diz que quer me apresentar a um grande amigo seu e que eles têm uma banda de garagem.

—Cara, é essa a pirralha super interessante que você conheceu ontem? Dá um tempo Lysandre

—Você deveria parar de julgar o livro pela capa. Mary, este é Castiel, ignore esse jeito carrancudo, depois de um tempo ele mostra sua verdadeira face.

—Meu nome é Mary, prazer e conhece – lo – Ele acha mesmo que eu caio nesse teatro de garotinho bad boy? Pra mim ele é so um menininho assustado. – Ouvi maravilhas do Lys sobre você e como você toca muito bem.

—E o que uma pirralha como você sabe de guitarra?

—Bom, não sou uma especialista, mas me viro em tocar minhas músicas favoritas

—Sei, uma criança tocando rock? Piada.

—Bom, um dia talvez você possa ver – dou um sorriso provocativo – Bom, tenho que...

Antes que eu possa terminar a frase Niel aparece e me puxa pelo braço

—Venha, vamos nos atrasar.

—Niel, você está me machucando...

Antes que eu possa notar, Castiel está segurando Niel pelo colarinho:

—CANALHA, É ASSIM QUE VOCÊ TRATA UMA MULHER? LOGO VOCÊ QUE SE ACHA TANTO POR SER O REPRESENTANTE E SEGUIR AS REGRAS?

Castiel se prepara para dar um soco em Niel, quando ouço:

—Castiel, pare. E Nathaniel, você não tem propriedade sobre a vida dessa dama, então por favor tenha modos. – Diz Lys com uma classe que eu raramente vejo.

Castiel solta o colarinho de Niel, esse que vai embora bufando e bravejando coisas incompreensíveis

 -Obrigada meninos – Digo com um sorriso. – É melhor que eu vá, antes que aconteça outros problemas

Algum tempo se passou, Niel parece mais fechado do que nunca. Mas reecontrei meu amigo de infância Kentin, assim que ele me viu ele me deu um abraço muito caloroso, o pai dele o mandou para a escola militar, ele mudou muito, mas tem o mesmo coração.

Também fiz dois novos amigos, gêmeos Alexy, viciado em jogos e seu irmão que é homossexual, ele é especialmente um amorzinho comigo, me divirto muito ao lado de ambos, mesmo que eu seja apenas uma gamer de um jogo só, que infelizmente é LOL, eu sei, podia ser um jogo muito melhor, mas eu gosto.

Eu tive finais de semanas muito divertidos com todos os meus amigos, cada um com seu jeitinho especial, tirei muitas fotos e comecei a fazer um grande mural de dias felizes e cada dia eu me sentia mais alegre.

Uma linda manhã Lys me convidou para uma feira do livro, de imediato aceitei, eu estava radiante. Peguei minha mesada, coloquei meu melhor vestido, arrumei meu cabelo e ele adornei com uma flor, fiz uma maquiagem delicada, mas que realçasse meu olhar. Bom, não foi consciente, eu não ousaria seduzir um homem tão lindo, mas minhas mãos se mexeram por si só e aqui estou eu, uma nova criatura, pronta para um final de semana incrível

Desço as escadas, meu olhar cruza com o de Niel, ele me olha por vários segundos, parece que nunca viu uma garota maquiada. A irmã dele se maquia todos os dias e ele não fica encarando, é pra me irritar né?

Eu dou de ombros e saio pela porta, ele não vai estragar meu dia.

Encontro Lys, o ar doce dele muda completamente meu humor. Compramos livros, conversamos e tomamos sorvete. No fim do dia chega hora de ir pra casa.

—Foi um prazer ter nosso primeiro encontro juntos

—Encontro? – Coro instantaneamente

—Sim, é a primeira vez que saímos somente nós dois.

—Ah sim, é verdade, foi um ótimo dia, fizemos muitas recordações e eu irei guarda-las com carinho

Quando entro no corredor dos quartos alguém me puxa para dentro de um cômodo

—Ei... – Ele me coloca contra a parede

—Mary, por que você me evita tanto?

—Você que é sempre indiferente comigo

—Você não entende que depois que você cresceu eu tenho ciúmes de você, de como os outros garotos te olham, eu te amo, te amo com todas as minhas forças, quando te tocam é como se meu mundo desabasse

Ele se aproxima do meu rosto, quase me beijando, eu consigo reunir um pouco de forças e o empurro

—VOCÊ NÃO PODE ME TRATAR COMO SE EU FOSSE SUA POSSE, SE VOCÊ REALMENTE ME AMA ENTÃO ME TRATE DESCENTEMENTE!

Eu saio irritada, deixando pra trás Niel abatido e provavelmente com um buraco e seu peito. Eu um dia o amei, mas se ele quer me conquistar, que ele seja uma pessoa que me trate como eu devo ser tratada