Tudo por Nico di Angelo escrita por Mariana Pimenta


Capítulo 10
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

Dessa vez, eu fui mais rápida, né? O próximo também não deve demorar, estou escrevendo muito rápido!
Boa leitura.



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Eu realmente não fiquei as primeiras noites nos estábulos. Mas depois fui obrigada, pois Leo ficava passeando pelo navio o tempo todo, e lá era um dos únicos lugares que ele raramente ia.

Mas um dos meus maiores problemas era como eu iria falar com Hazel. Quero dizer, ela estava no meio das missões, com todas aquelas responsabilidades por causa da profecia, estava ocupada. Como eu iria contar a ela sobre Nico? Ela teria um ataque se me visse, ainda mais porque eu não deveria estar ali e ela nem sabia que eu existo.

Era bem provável que Jason, Leo e Piper não se lembrassem mais de mim. Annabeth talvez. Com tanta coisa acontecendo com ela, prefiro que ela me esqueça para não se distrair.

Quando eu tinha certeza de que todos do navio estavam no leme, no convés, na proa ou em qualquer outro lugar em que eu não estivesse e que o risco de me ver era mais reduzido, eu subia e ficava escutando a conversa deles. Precisava me manter informada do que estava acontecendo.

Foi assim que eu descobri, depois da segunda noite (uma das noites em que eu não dormi nos estábulos), que Hazel já sabia que algo havia acontecido com Nico. E pior: Nico estava preso dentro de um jarro de bronze, sufocando, em Roma. Percy falou de seu sonho com os gigantes gêmeos e as sementes de romã que mantinham Nico vivo dentro do jarro.

Na hora, eu deduzi que ele estava vivo, pois estava sendo feito de refém, como disse Annabeth. Quem seria tão idiota a ponto de manter um refém morto? Os gigantes com certeza eram burros, mas nem tanto.

E claro que os pacotes de salgadinho não iam durar até Roma, muito menos depois. Por isso, eu até saía do navio e comprava comida.

No terceiro dia, o Argo II estava em Atlanta, que fica perto de Denvan, na Geórgia. Isso foi bom para mim, já que eu já havia ido à Atlanta uma vez, mas também me deixou um pouco... como posso dizer? Não fiquei triste. Acho que a palavra certa seria... tocada.

Eu tentei andar a maior parte do tempo para perder os quilinhos a mais que eu ganhava com os biscoitos. Mas quando eu sabia que não dava, fazia uma viagem nas sombras para os estábulos, o que nem sempre dava certo, considerando que estava sempre de dia e eu não era muito boa.

Quando estávamos saindo de Atlanta, Percy disse para estabelecer o curso para Charleston. O que também foi bom e ruim. O bom era que eu também já havia passado em Charleston, mas o motivo era ruim: passei lá quando estava indo para o acampamento, o que não me trazia boas memórias.

Houve um ataque de algum monstro marinho depois de Charleston e os sete semideuses e o treinador Hedge, o sátiro, tentaram consertar o que era possível. O que não foi bom para mim, já que e tive que sair dos estábulos enquanto Jason e Piper o consertavam.

Passei um bom tempo me escondendo de todos. Mas quando eu achei que todos já haviam acabado e iam dormir – exceto o sátiro, que ficou com o turno da noite – voltei para os estábulos e relaxei.

No completo tédio e quase total escuridão, comecei a revirar minha mochila. Estava muito escuro para eu terminar os jogos dos passatempos que comprei. Ouvi a madeira rangendo, mas achei que era eu mesma. Até que ouvi alguém pigarreando.

Congelei. Droga. Pensei. Me virei bem devagar para encarar Annabeth. Assim que viu que era eu, ela ficou boquiaberta e seus olhos se arregalaram.

– Oi. – eu disse. Tentei parecer bem inocente, o que não era bem o meu caso no momento.

Mariana? – ela pareceu sufocar um grito. Ela olhou para cima e depois das portas. Não tinha ninguém. Voltou sua atenção para mim – O... o que você... Como... – gaguejou.

– Achei que já tivesse ido dormir.

– Leo pediu para eu inspecionar o navio antes. Acabamos de ser atacados. Não íamos contar com a sorte para saber se o Argo II aguenta mais. E sabemos que vai ter mais.

– Ata...

– Mas essa não é a questão. O que você está fazendo aqui?

Respirei fundo e me levantei.

– Preciso falar com Nico.

Annabeth pareceu um tanto confusa.

– Mas como você sabia que ele está em Roma?

– Eu não sabia. Só sabia que... – parei. Eu não podia falar que sabia que ele tinha caído no Tártaro porque eu estava assistindo. Não ia me ajudar muito – alguma coisa tinha acontecido com ele. E eu precisava falar com Hazel sobre isso, mas ela já sabia, e eu decidi ficar, porque eu tenho que falar com ele.

– Não seria melhor se você esperasse até nós voltarmos para os Estados Unidos para você perguntar a ele sobre a benção?

– Já perguntei. Ele não sabe nada.

Annabeth ergueu uma sobrancelha.

– Vocês se encontraram?

– Coincidentemente, sim, no dia seguinte em que eu saí do acampamento.

– Descobriram alguma coisa?

– Ele até tentou ajudar, mas... vamos dizer que tivemos alguns imprevistos e não deu muito certo.

– E como você chegou aqui?

– Simples: caminhei de Los Angeles até São Francisco, entrei no Acampamento Júpiter, o que não foi difícil, e enganei um soldado romano para ele me ajudar a subir aqui durante o bombardeio. Achei um elmo do acampamento jogado na grama e com ele todos achavam que eu era uma deles.

– Boa estratégia.

– Valeu.

Annabeth pôs as mãos na cintura e olhou para cima. Ela respirou fundo e voltou a me encarar.

– Mariana, eu não posso deixar você ficar.

– Por que não?

– Por que eu não posso. Como eu vou deixar uma semideusa intrusa, se me permite dizer, aqui dentro do navio enquanto eu e mais seis semideus e um sátiro louco estão em uma missão para salvar o mundo? Já pensou na possibilidade de o treinador Hedge te ver aqui? Ele vai surtar. Ainda mais se descobrir que fui eu que deixei. E eu duvido que você tenha os suprimentos para os próximos dias inteiros dentro dessa mochila.

– Não tem problema. Quando vocês “pousarem” – desenhei aspas no ar – ou qualquer coisa do gênero, eu desço e compro alguma coisa. Ainda tenho vinte mil dólares dentro da mochila.

– O que equivale a mais ou menos quatro mil euros. Estamos indo para a Europa. As pessoas não usam dólares lá.

– Eu dou um jeito. Você sabe disso. Você sabe que eu sei me virar.

Ela suspirou novamente.

– Está com algum problema respiratório? Está suspirando demais.

Ela ignorou meu comentário.

– Não posso deixar você ficar. Seria irresponsabilidade minha.

– Mas você não é responsável por mim. Além disso, você não vai me impedir. Vou ficar aqui com ou sem a sua permissão.

Ficamos um tempo em silêncio. Annabeth parecia tentar encontrar uma solução. Ela umedeceu os lábios e perguntou:

– O que você quer falar com Nico? Me conte que eu falo com ele e você pode voltar. Juro que não vou esquecer.

– Não. Prefiro falar pessoalmente.

– Mas pode pelo menos falar sobre o que é?

– Não. É... um assunto particular.

– Sei. – ela me encarou de lado, desconfiada – É sobre aquele negócio que você não me contou no acampamento?

– Depende. Teve várias coisas que eu não contei. À qual está se referindo?

– À coisa que você contou para Nico, fosse isso sua intenção ou não, mas não contou para mais ninguém. Um assunto que você sempre evitava quando conversávamos.

– Talvez. É possível.

Ela me olhou, com pena, talvez. Não me pergunte o porquê.

– Você sabe que pode me contar qualquer coisa. Eu vou entender. Posso tentar te ajudar.

– Annabeth, tudo o que eu te contei era para você entender o que acontecer comigo. Era relevante para você poder tirar suas conclusões se deveria confiar em mim ou não. Se estivermos falando da mesma coisa, isso não é algo que vai ser agradável contar. E não acho que você tenha uma solução, porque não parece ser uma coisa muito comum.

– São os deuses se metendo na sua vida, de forma útil ou não? Porque nos últimos anos isso se tornou bem comum.

– Não sei. Pode ser, é uma possibilidade. Não gosto de falar nisso, e não vou dar mais informações. Só contei para Nico porque ele descobriu e não é algo que se ignore fácil. Foi inevitável.

– E você não sabe nada sobre isso?

Neguei com a cabeça. Nós duas ouvimos passos vindos do corredor ou do andar de cima. Logo me escondi onde estava antes, do lado das baias de cavalos. Acho que Annabeth entendeu que alguém estava vindo. A porta se abriu.

– Annabeth? – ouvi a voz de Percy Jackson perguntar – Ah, você está aí.

– O que foi? – ela perguntou.

– Aconteceu alguma coisa?

– Não, por quê?

– Tem quinze minutos que você desceu para ver o convés inferior. Estava demorando um pouco.

– Ah é? Nem percebi. Pode ir já estou subindo.

Ele foi embora e olhei por cima da baia. Annabeth estava me encarando. Levantei-me de novo.

– Por favor, não conta para ninguém que estou aqui. Só te peço isso. – eu disse.

– Claro. – ela concordou. Cheguei a ficar até um pouco surpresa – Com uma condição: depois que você falar com Nico, você vai embora. E se alguém te ver, não vai ser responsabilidade minha. E se for necessário contar que você está aqui, pelo motivo que seja, não vou pensar duas vezes.

– Fechado.

– Não acho que o pessoal vai ter muito que fazer aqui embaixo. Então não tem muito problema você ficar aqui. Mas se eles vierem, se esconda bem. – ela fez uma pausa – Ah, antes que eu me esqueça: falei com nossos irmãos. Expliquei para eles sobre você, sem usar a palavra “benção”, é claro. Não iria ajudar muito. Se você voltar eles vão te tratar melhor. Tenho que subi. Boa sorte.

Assim, ela virou as costas e atravessou a porta.

Eu não sabia que ia demorar tanto tempo para eu vê-la de novo. E daqui a pouco explico porquê.

Os dias foram passando. Ninguém me via e eu não via ninguém. Eu só ficava olhando a paisagem pelo alçapão, enquanto os semideuses nos andares superiores e o sátiro estavam em uma missão de verdade e lutando.

Depois de quatro dias chegamos em Roma, que era onde Nico estava. Eu estava até um pouco nervosa para falar com ele, não sabia o porquê.

Tive sorte enquanto falava com Annabeth por ter conseguido inventar uma desculpa para poder ficar. Quero dizer, eu tinha ficado para falar com Nico, mas falar o que? Não tinha pensado nisso até aquele momento.

O que eu iria dizer? Que eu estava bem, ou que não havia caído no Tártaro, ou que estava viva. Iria perguntar se ele está bem, considerando tudo o que aconteceu com ele desde que nos conhecemos. O que mais?

Eu estava pensando em coisas desse tipo quando ouvi portas se abrindo e passos nos andares de cima. Eles haviam chegado.

Subi o mais silenciosamente que podia e abri levemente a porta do corredor que dava para o leme. Todos os semideuses e o sátiro estavam lá. Exceto Annabeth. Olhei mais atentamente e vi que Hazel estava falando com alguém, que estava encostado na “parede” (sinceramente, apesar de ser uma filha de Atena [e as pessoas acham que temos que saber tudo], eu não faço a menor ideia de que nome dar para aquilo. Paredes normalmente são feitas de tijolos ou algum outro material duro, e aquilo não é feito de tijolos). Hazel saiu da frente dessa pessoa e eu pude ver quem era.

Nico. Nico di Angelo.

Ele estava muito mais pálido e magro do que o normal e permanecia com sua cabeça abaixada. Hazel parecia tentar fazer com que ele comece um pouco de ambrosia.

Minha euforia era tanta que não consegui ouvir o que os outros estavam conversando. Ele está vivo. E está aqui no navio. Pensei.

Não sabia explicar o motivo, mas a minha vontade era de sair correndo e abraçar Nico. Nunca fui muito boa em explicar sentimentos.

Quero dizer, tudo bem que ele é meu amigo (sentença estranha de ser dita quando se trata de mim) e ele caiu no Tártaro e ficamos vários dias sem nos ver e ele quase morreu. Mas nem quando meu pai ficava três semanas fora a minha vontade de falar com ele era tão grande.

No momento, achei que era só animação, algo que eu não sentia a tanto tempo que pareceu estranho.

Agora que eu sei o que realmente aconteceu, vejo como eu era idiota.

Enfim, quando Nico conseguiu se manter em pé, Percy falou sobre os dois acampamentos e que poderia ter dito que o conhecia... Essas coisas. Então Nico começou a explicar que descobriu o Acampamento Júpiter no ano anterior, e que Hades o mostrou, e ele achou que era por causa de Hazel, para entender a seriedade da missão deles. E que ele foi procurar as Portas da Morte.

– E você as encontrou? – perguntou Percy.

Nico fez que sim. Mas por um segundo ele pareceu se lembrar de alguma coisa. Algo que tinha conexão com o assunto, mas os outros não precisavam saber.

– Mas foi uma armadinha. Achei que pudesse andar em qualquer lugar do Mundo Inferior. Fui um idiota por não ter percebido. Era como tentar sair de um buraco negro.

A partir daí, eu parei de ouvir. Não queria me lembrar do que acontecera naquela noite. Mas continuei ali parada, ouvindo apenas palavras soltas, como “Gaia”, “Grécia”, “portal”, “prisão” e “monstros”. Ouvi Percy falar perguntar sobre um tal de “Edifício Emmanuel”, que era onde Annabeth deveria estar. Então, voltei lá para baixo e esperei.

Depois de um tempo, o navio balançou, me interrompendo no meu jogo de palavras-cruzadas. Olhei pelo alçapão e vi que eles usaram a balista para atirar em um estacionamento. E abrir uma cratera bem ali, que levavam para uma câmara, onde eu pude ver Annabeth, uma estátua gigante e uma daquelas algemas chinesas bem maior do que eu costumo ver se contorcendo.

Isso sem falar na grande quantidade de aranhas de vários tamanhos que tinha lá dentro.

Eu dei um berro, mas seu som foi abafado pelo barulho de carro e pedaços de asfalto caindo e quebrando. Afastei-me do alçapão para não ver as aranhas.

Tudo sacudia, balançava. Os semideuses gritavam lá embaixo, mas eu não estava ouvindo.

Escutei passos apressados no andar de cima e me joguei dentro de uma das baias, me cobrindo toda com feno. Leo Valdez apareceu e começou a juntar um monte de cordas que estavam emboladas em um canto. Ele abriu o alçapão e o barulho que vinha de baixo foi quase ensurdecedor. Ele jogou as cordas lá embaixo, as prendeu com ganchos e começou a puxá-las.

Ele ia prender a estátua de doze metros de altura no navio. Droga.

– Frank! – Leo gritou – Me ajude a puxar a estátua aqui para cima!

Frank Zhang passou pela porta e ajudou Leo a puxar as cordas. O navio subia e a estátua estava sendo puxada para cima. Depois de alguns segundos de força, eles conseguiram fazer com que a estátua ficasse presa ao Argo II e não balançasse.

– Vá salvar os outros! Deixe que eu prendo isso! – disse Leo.

Frank deu as cordas para Leo e, simplesmente, se jogou do alçapão. Ninguém, tanto eu quanto Leo, ficou preocupado com isso, já que nós dois sabíamos que Frank podia muito bem se transformar em uma águia gigante.

Depois de Leo finalmente prender as cordas ao navio, ele voltou para cima. Como não havia o que eu fazer nos estábulos, subi também.

Ancoramos em uma colina. Vi que Percy e Annabeth não estavam no Argo II. Os outros semideuses do navio carregaram a estátua, a Atena Partenos, para o porão. Fiquei em uma das cabines do convés superior e esperei. Quando eles acabaram, se reuniram no tombadilho superior. E eu fui ouvir a conversa.

Foi assim que eu descobri que Percy e Annabeth haviam caído no Tártaro. E que estávamos indo para Épiro, na Grécia, onde ficava a Casa de Hades, que era as Portas da Morte no lado mortal, ou algo assim. Eu entendi a explicação, só que ela não é relevante para esta história.

O que posso dizer é que o caminho até Épiro não foi fácil, o que nós já imaginávamos. Para mim então foi horrível. Não por que eu tive que me esconder o tempo todo nem nada assim. Foi por causa do que eu descobri no meio disso tudo.


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam?
Comentem. Pode ser qualquer coisa, qualquer coisa mesmo.



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