Sydney, Austrália

Passaram-se muitos anos depois que eu vi amenina que roubava livros pela última vez. Sei que provavelmente, você está pensando: se você a verá de novo, agora é o momento definitivo, certo? Você a verá por que precisa ou por que quer?

Tenho o prazer de dizer que não sei. Ao longo de todos esses anos, estive curiosa em relação a vida de Liesel Meminger. É claro que, os anos vão passando, pessoas morrem, o trabalho aumenta.

Eu nunca pensei que o ser humano pudesse ficar mais idiota a cada ano que se passa. Para ter uma ideia, eu nunca mais consegui parar e prestar atenção na vida de uma pessoa. Lembra da história do rodo? É, estou precisando dele.

Voltando ao foco.

Eu já estava em Sydney, e resolvi dar uma olhadinha na vida dela. Na vida deles, na verdade.

* Uma nota sobre o mundo *

Ele mudou muito desde Hitler.

A vida de Liesel se juntou a muitas outras. Algumas estão aqui, vivas para apreciar sua história. Outras. podemos dizer que estão na Rua Himmel.

Com o passar dos anos, o amor por livros de Liesel só aumentava. E ela passara isso para seus filhos, e provavelmente para seus netos. Conseguira passar até para Rudy, embora ele ainda preferisse a comida.

Rudy e Liesel, que se casaram aos 20.

Um judeu no porão, que viveu todos os seus anos como amigo da família Steiner.

Viveu. Não vive mais.

Estive com a alma dele recentemente em meus braços.

Acho que as pessoas estão ainda menos humanas agora.

Liesel, gteve seu lido publicado e lido por milhares de pessoas.

A última vez que roubara um livro, fora quando saíam de Munique. Foi inevitável.

* Uma nota sobre Liesel *

Estava com saudade de roubar

Agora tinha uma biblioteca a sua disposição, em seu apartamento.

Onde leu para seus filhos, e começou a ler para seus netos.

Já Rudy, ensinou os filhos e seus netos a jogar futebol, e obviamente, a correr igual ao Jesse Owens.

Também ensinou a furtar coisas da cozinha de Liesel (que não era muito fã disso) mas isso não vem ao caso.

O que importa, é que na última vez que os vi, estavam todos lendo, a família toda, na biblioteca.

Pela primeira vez sinto medo do porquê que estou aqui.

É claro, durante anos venho me preparando para a morte deles, mas será uma coisa difícil. Eu os vi passar por tanta coisa.

É possível a Morte sentir pena?

Estamos vendo que sim.

Ao passar por aquele apartamento, silencioso, meus medos vão se confirmando. Filhos e netos, sentados no sofá, com expressões tensas.

Ninguém falava uma palavra.

No quarto, vejo duas figuras deitadas na cama, uma ao lado da outra. Então reconheço como Liesel e Rudy.

Aparentavam estar saudáveis, mas a quantidade de anos vividos por aquele casal não os dava muita garantia.

Eram muitos.

Talvez agora eu tenha certeza do que estava fazendo aqui.

Liesel e Rudy se dão as mãos, talvez agora percebendo o que vai acontecer.

Eu acho uma coisa irônica, o fato dos dois morrerem juntos. Tanta gente já se separou da vida deles, tanta gente já foi embora, e agora eles ficam lado a lado.

Uma justiça no meio de tantas injustiças.

Mas quem sou eu para falar algo sobre injustiças?

– Eu te amo, Saukerl. - disse Liesel. Há certas coisas que nunca vão mudar.

– Eu te amo, Saumensch.

E então, juntos, fecham os olhos.

Por fim eu posso ter a alma de Liesel Meminger e Rudy Steiner em meus braços.

Saumensch e Saukerl.

A menina que roubava livros e Jesse Owens.

Posso me dar ao luxo de dizer que não foi uma morte triste. Foi uma morte feliz, até. Os dois estavam felizes.

É claro que a família ficaria triste, os dois eram muitos queridos. Mas eles morreram juntos, e os parentes entendiam isso, de uma forma ou de outra.

Talvez ainda exista esperança para os seres humanos, e no futuro eu talvez trabalhe um pouco menos.

Mas eu ainda não posso negar que...

Os seres humanos me assombram.