O sol começava a se esconder quando Kuroko Tetsuya fechou a porta do Maji Burger com o milk-shake de baunilha em uma das mãos. Passara por ali depois do treino para comprar sua bebida favorita enquanto caminhava para casa. Um dia extremamente normal, com aulas normais, treinos normais, e mesma rotina no final do dia. Mas não era um dia normal, pelo menos não para Kuroko. Hoje seria o dia que o garoto de cabelos azuis comemorava seu nascimento, seu aniversário.

É claro que não se passava na mente dos outros que era seu aniversário. Nem mesmo o de seus amigos. Lembra-se de ter comentado algumas vezes quando perguntavam sobre a data, mas, como sempre, não era uma época memorável. Nunca fora. E não criava mais expectativas, costumava ter até sua existência completamente esquecida, era de se esperar que ocorresse o mesmo com seu aniversário.

Até mesmo na Teiko nunca era lembrado na data certa. Normalmente apenas recebia um comentário alguns dias depois, algo como “Não foi seu aniversário há alguns dias atrás?”. E ele balançava a cabeça afirmativamente recebendo os parabéns da Geração dos Milagres e alguns pedidos de desculpa por terem se esquecido.

Apesar de atrasado, ficava feliz quando seus antigos companheiros de equipe se lembravam. Agora duvidava que algo assim voltasse a acontecer. Que ótimo dia para sentir saudades da Teiko.

– Kurokocchi! – uma voz estridente soou atrás dele, tirando-o se seus pensamentos. Ia virar-se, mas Kise foi mais rápido e deu a volta pelo garoto, parando na sua frente.

– Konbanwa, Kise-kun – cumprimentou Kuroko, tirando o canudo dos lábios por um momento. – O que faz por aqui?

– Ah~ resolvi passar por aqui e acabei por te encontrar, Kurokocchi. Quer andar um pouco?

– Na verdade já estava indo para casa.

– M-Mas você não pode, vamos passar um tempo juntos! Já faz tanto tempo e

Kise olhou ao redor ao perceber que seu interlocutor já não estava mais presente. Kuroko já se encontrava um pouco à frente do loiro. Ouviu um protesto de como ele era maldoso por usar suas habilidades com um antigo amigo. Mas Kuroko não pode evitar, sentia que aquela conversa se estenderia infinitamente, conhecendo Kise, e o que ele mais queria no momento era chegar em casa e esperar as últimas horas de seu aniversário passarem.

Ao chegar àentrada de sua casa, jogou o copo vazio de milk-shake no lixo e entrou. Anunciou para seus pais que estava que casa, mas inicialmente foi recebido por outra pessoa. Um par de surpresos olhos escarlates estavam fixos nele.

– K-Kuroko, o que faz aqui?

– Eu que deveria te perguntar isso, Kagami-kun, essa é minha casa.

Kagami passou a mão pelos cabelos da mesma cor que os olhos com um certo embaraçamento.

– Eu sei, mas pensei que fosse chegar mais tarde.

– Não sei por que deveri–

– Não importa, quero que espere no seu quarto um pouco! – cortou-o o mais alto, segurando-o pelos ombros e o empurrando por sua casa na direção de seu quarto.

Os pais de Kuroko acenaram quando o viram passar. Pareciam totalmente cientes de que Kagami estava ali por uma razão. Apenas o mais novo não sabia de nada?

– Agora espere aqui como um bom garoto até eu voltar pra te buscar – disse Kagami, empurrando o outro gentilmente para seu quarto e fechando a porta antes de qualquer pergunta.

Alguma coisa estava acontecendo, mas não era como se Kuroko estivesse muito curioso sobre isso. Sentou-se em sua cama com as pernas cruzadas, sendo logo recebido por Nigou que pulou em seu colo, e abriu um livro que estava na cabeceira.

Não se deu conta de quanto tempo havia passado, a leitura o capturara completamente e Nigou começara a dormir. Surpreendeu-se quando a porta se abriu, apenas uma fresta que deixava visível o rosto de Kagami.

– Muito bem, venha aqui.

Mexendo-se levemente, colocou o pequeno husky na cama, tentando não o acordar, e andou até Kagami.

– Não se importaria de fechar os olhos? É mesmo importante – pediu Kagami.

O nível de estranho daquela situação já estava bem alto, então Kuroko achou melhor não perguntar e apenas fazer o que lhe era pedido. Fechou os olhos e novamente sentiu o maior guiar-lhe pelos ombros por sua casa. Preocupava-se que seu desajeitado guia fosse fazê-lo esbarrar em alguma parede, mas viu-se surpreso quando pararam sem nenhum incidente.

– Ok, pode abrir agora.

O menor começou a abrir os olhos relutantemente, mas a visão que teve não era nada do esperado. Muitos rostos conhecidos estavam reunidos ali, em sua própria casa. A Geração dos Milagres e a Seirin, todos em sua sala de estar ao redor de uma enorme mesa coberta de doces e com um belo bolo no centro. As paredes estavam decoradas com alguns balões e uma grande faixa dedicada à ele.

Logo que se deu conta disso, o coro de "feliz aniversário" encheu seus ouvidos. Já não sabia como reagir, então apenas ficou ali olhando perplexo.

– Eu não sabia bem o que fazer pelo seu aniversário, então decidi só fazer uma surpresa com o pessoal da Seirin e da Geração dos Milagres – disse Kagami depois que o coro se calou. – Seus pais conseguiram a comida e saíram à pouco falando que voltariam mais tarde para te deixar aproveitar a desta. Kise e Aomine vieram facilmente por ser você, Midorima disse que passava por perto e foi arrastado por eles, Murasakibara iria a qualquer lugar que tivesse doces. Não consegui o Akashi, aquele garoto é um pouco complicado.

Conseguir trazer o antigo capitão do seu time da Teiko estava acima de qualquer milagre de aniversário. Kuroko quase riu, se ainda não tivesse se livrado do choque com certeza teria rido.

– Kagamicchi me disse para te atrasar um pouco a chegar em casa para que ele pudesse arrumar a festa – disse Kise, aproximando-se de Kuroko para apertar-lhe a mão.

– Sim, mas nem disso esse inútil é capaz – grunhiu Kagami.

– Aaah, cruel! Não foi minha culpa Kurokocchi ter usado suas habilidades de desaparecer – choramingou o loiro.

Kagami ainda estava surpreso por Kuroko não ter tido nenhuma reação. Bagunçou o cabelo do menor com a mão antes de falar-lhe.

– Ei, você está muito quieto.

A resposta não veio com palavras, Kuroko lançou-se sobre o maior e o envolveu com os braços em um abraço apertado. Surpreso, o ruivo demorou alguns instantes para corresponder. Depois de alguns momentos abraçados, Kagami sentiu um penso empurrá-lo para baixo, provavelmente o corpo de Kuroko, o que o fez cair para trás. Não costumava ser tão fraco a ponto de cair com o peso do corpo leve de sua sombra, mas estava com a guarda baixa naquela situação.

Felizmente, havia um sofá atrás de si, percebeu quando suas costas se chocaram contra algo macio. Kuroko agora estava sobre o seu colo, com o rosto ainda afundado em seu peito e o abraçando forte. De certo nem percebera que levara um empurrão.

"Kise..." Kagami lançou-lhe um olhar por cima da cabeça de cabelos azuis. Kise os olhava com um rosto divertido e uma expressão que parecia dizer "me agradeçam depois".

A festa agora seguia, a Geração dos Milagres parecia se dar razoavelmente bem com a Seirin, comentando seus jogos passados e às vezes provocando uns aos outros. Os doces logo iam desaparecendo da mesa, a maioria acabando consumidos por Murasakibara.

Mas ninguém prestava muita atenção emKagami e Kuroko. E assim era melhor, o ruivo já sentia vontade de morrer por estar de uma forma tão embaraçosa.

– Kagami-kun, obrigado – a voz de Kuroko chegou até seus ouvidos mesmo abafada por sua camisa. O maior podia sentir que era um agradecimento completamente verdadeiro. Sinceramente, quando foi que esse garoto teve sua última festa de aniversário?

– Você merecia isso. Por ser minha sombra e me ajudar tanto no basquete – murmurou Kagami, sentindo a face esquentar um pouco.

O menor levantou o rosto, um sorriso um pouco maior do que estava acostumado a ver formado em seus lábios. Os batimentos de Kagami aceleraram, ele realmente não sabia a razão. Só por ter visto um sorriso? É claro que se tratava de Kuroko que raramente sorria. E precisava admitir que aquele sorriso o deixava fofo. Mas que diabos...

Quando deu por si, seus lábios estavam colados com os daquele garoto de cabelos azuis. Estava surpreso por ter sido capaz de fazer aquilo, quase afastou-se de imediato com medo de que fosse receber um soco ou algo assim. Apenas não o fez por ter percebido que o beijo era correspondido. Ele beijara Kuroko num momento de descuido e agora Kuroko o estava beijando de volta! E Kagami simplesmente pensava demais, amaldiçoou-se antes de clarear seus pensamentos para aproveitar o beijo.

Afastaram-se algum tempo depois com a falta de ar, o ruivo com o rosto quase tão vermelho quanto seu cabelo. O cômodo estava totalmente cheio de pessoas e de suas vozes, mas naquele momento não parecia. Naquele momento era como se estivessem em um momento à sós num local de silêncio. Ao perceber que Kuroko o fitava com seu olhar de sempre, Kagami sentiu-se ainda mais embaraçado.

– Considere isso seu presente de aniversário pois não tive tempo de comprar nada – não era a melhor desculpa, mas realmente era melhor do que dizer que de repente sentira vontade de beijá-lo e não controlara seus instintos.

Kuroko apenas balançou a cabeça, concordando.

– Agora vamos cortar o bolo, não temos todo o tempo para isso.

O menor concordou de novo e se levantou.

A festa durara até tarde. Kuroko podia-se dizer muito feliz do que acabara de ocorrer, há tempos não passava por uma festa assim, ainda mais dedicada à ele. Recebera os parabéns de cada um de seus companheiros e ex-companheiros separadamente, conseguindo conversar com alguns.

Seus pais não haviam voltado ainda, mas Kagami ofereceu-se para ajudar na faxina já que a festa fora sua ideia. O trabalho não favoreceu muito a conversa dos dois, mas o ruivo preferia desse jeito. Tinha medo que Kuroko comentasse algo sobre o beijo. O esforço do menor para impedir o contato visual também favorecia aquela distância.

Apenas depois de limpar sua parte Kagami se voltou para o local que Kuroko estava. Surpreendentemente, o menor estava com um prato com sobras do bolo de aniversário, mastigando o último pedaço que colocara na boca. Seus olhares ficaram conectados por um tempo enquanto o maior observava sua sombra.

Antes de perceber, estavaparado à pouco centímetros do menor, olhando-o do alto.

– O que foi?– aquela voz conhecida chamou-o, fazendo sair de seu transe.

– Ahn...– nem mesmo Kagami sabia o que estava fazendo, então por que estava ali?! Maldição...

Movimentou os olhos rapidamente buscando uma desculpa, até que sua visão sefixou nabochecha de Kuroko que pareciacarregar uma certa sobra do bolo.

– Tem chantilly no seu rosto–murmurou, levando o dedo indicador até o local e retirando a pequena quantidade.– Você ainda parece uma criança...

Kuroko fitava-o com os olhos sem expressão e apenas depois de um tempo o ruivo percebeu seu ato inconsciente e corou. Estava prestes a se afastar, maspermaneceu no lugar ao ouvir o garoto de cabelos azuis falar

– Kagami-kun, eu vou receber apenas um beijo de aniversário?

Kagami se atrapalhou na resposta e, quando finalmente conseguiu, sua facede avermelhara mais do que parecia possível no momento.

– P-por que estava lembrando de coisas embaraçosas, idiota?! – ele praticamente gritou.

– Mas foi o Kagami-kun que me deu um beijo de aniversário– talvez a voz do menor não transparecesse mágoa, mas Kagami podia sentir algo diferente na entonação.

– Mas você não precisava lembrar disso! Ah, droga.

Ele não queria soar tão grosso, quase parecia que não havia gostado do beijo. Cerrou os dentes quando viu o olhar de Kuroko fixo nele.

– Não me venha com esse olhar – resmungou.

Mas o menor não se desfez dele. Pelo contrário, colocou-se na ponta dos pés para seus olhares ficaremna mesma altura.Aquele pequeno podia ser bem mimado quando queria.

– Tudo bem, você ganhou – grunhiu Kagami. Podia ser sua imaginação, mas parecia que o rosto de Kuroko havia se iluminado um pouco mais. Mas realmente ele pensava demais, foi o que cutucou sua mente alguns momentos antes de ele diminuir a distânciaentre seus lábios e os de sua sombra.

Afinal, era seu aniversário e ele merecia isso. Não que Kagami se importasse de beijá-lo em outra época, claro. Mas levaria algum tempo para admitir isso.