Vida Adulta - A nova geração escrita por Júlia França


Capítulo 24
Mas eu acreditei nele!




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Casa de Rose e Scorpius

JULIE POV.

_ E então? Ficou legal? – Alvo perguntou. Ele estava pintando o quarto de Geórgia de rosa-bebê, mas, com oito meses, eu não podia ajudar.

_ Ficou. – Murmurei, acariciando a minha barriga. Estava sentada em uma das poltronas, na frente da parede que ele pintava.

_ Quer fazer um pouco?

_ Achei que você tivesse dito que eu não podia fazer esforços.

_ E disse. Mas só um pouco não vai te matar. – Ele me entregou o pincel. Quando disse que iria pintar o quarto, perguntei por que não poderia usar magia, mas ele, com o seu jeito meio trouxa de ser, disse que queria fazer tudo da maneira tradicional. Peguei a coisa da sua mão e coloquei na lata de tinta, retirando e passando na parte em que a parede ainda estava branca.

Ficamos na sala, esperando a tinta secar. Eu o convenci de usar magia para adiantar isso, porque ainda queríamos decorar o resto hoje.

_ Acha que já secou? – Perguntei, pegando um pedaço de um morango de dentro da geladeira e mordendo, sentindo o liquido vermelho molhar a minha boca. Eu tinha desejos constantes envolvendo morangos.

_ Vou lá ver. – Ele beijou a minha boca e foi até o quarto, voltando logo em seguida. – Já podemos passar para a segunda parte do plano.

Me senti animada imediatamente, enquanto andávamos sem pressa até o quarto da nossa filha. Assim que entrou, Alvo mergulhou a mão em uma lata de tinta rosa mais escura do que a que tínhamos passado e marcou na parede, como uma digital. Fiz o mesmo, rindo da sua cara, que olhava para a mão e fazia mais marcas perto da primeira.

Assim que ele me viu rindo, passou tinta no meu nariz, e eu fiz uma careta estranha. Deixamos secar enquanto fazíamos a mesma coisa na madeira branca do berço e na penteadeira, também branca.

_ Gostou? – Perguntou, enquanto olhávamos o nosso trabalho.

_ Muito. Ficou perfeito. – Meus olhos estavam brilhando, eu tinha certeza.

_ Vamos tomar um banho e depois podemos pedir comida. – Ele beijou o topo da minha cabeça, que estava preso em um coque bagunçado e encharcado de suor. Eu estava com uma jardineira que descia até o meio da coxa e uma blusa florida por baixo. Os pés descalços não tinham inchado durante a gravidez, tampouco eu tinha ganhado peso, o que era um milagre.

_ Claro. – Suspirei, notando o cansaço. Ele fez um gesto para que eu fosse primeiro, então fui até o nosso banheiro e retirei a roupa grudenta pelo suor. Esses últimos meses de gravidez tinham acabado comigo. Eu estava mais pesada e muito cansada, e Alvo tinha percebido claramente, por isso estava muito mais protetor do que de costume. Acolhi a água quente caindo sobre mim com uma satisfação muito grande. Geórgia chutou, e eu me perguntei se ela também tinha percebido a água quente. Coloquei a mão no lugar do chute e acariciei levemente, logo depois fazendo a complicada tarefa da de me ensaboar, já que não conseguia ver meus pés.

Me sequei com cuidado, e vesti uma roupa mais confortável. Eu tinha soado muito, mas era por causa do trabalho no quarto, mas o dia estava um pouco frio agora que eu podia reparar, então coloquei um short de pijama azul marinho e uma blusa de moletom cinza, tomando todo o cuidado para vestir a parte de cima.

_ Pronto. – Confirmei com a cabeça. A água quente era muito boa, mas me deixava mole do mesmo jeito. – Vem. Vou te levar para o quarto. – Concordei, sabendo que essa era a melhor opção. Quando senti o colchão macio nas minhas costas, suspirei de alívio, enquanto choques elétricos passavam pela minha coluna.

_ Pensativa? – Alvo perguntou. Só então percebi que nem tinha visto o tempo passar, e já estava deitada há quase quinze minutos. Ele estava deitado do meu lado e sorri, enquanto acariciava o meu rosto.

_ Um pouco. – Respondi, dando um selinho nele.

_ Ainda vai querer pedir comida?

_ Japonesa. – Respondi. Ele sorriu e pegou o telefone, fazendo os pedidos. Senti o chute pela quarta vez desde que tinha me deitado, e isso era uma espécie de recorde de tempo. Ela nunca tinha me chutado tanto.

_ O que foi? – Provavelmente eu estava com a sobrancelha erguida para que ele fizesse a pergunta.

Não respondi, mas ele apenas passou o dedo indicador entre as minhas sobrancelhas, me tranquilizando.

_ A comida já vai chegar amor. Quer comer aqui ou na sala?

_ Na sala. Me ajuda? – Perguntei, e ele me pegou no colo com carinho. Enrolei meus braços no seu pescoço, pensando em como ele conseguia aguentar todo aquele peso.

Fui colocada com gentileza em cima do sofá, onde me recostei nas almofadas macias, e coloquei minhas pernas no colo dele.

_ Vou atender. – Beijou a minha mão e foi até a porta. Voltou com a minha comida favorita de colocou na mesinha de centro. Peguei um pedaço de salmão e coloquei na boca, fechando os olhos e apreciando o sabor.

_ Já acabou? – Perguntou, quando esvaziei o prato. Confirmei. – Vamos dormir? Já são quase dez e meia. Estou cansado por causa da arrumação do quarto.

_ Vamos. – Subi as escadas sozinha, mas senti um cansaço imenso. Apaguei na hora em que me deitei na cama.

DUAS E MEIA DA MANHÃ

JULIE POV.

Acordei com uma dor intensa na barriga. Era mais um chute, mas dessa vez com o triplo da força normal.

Deitei de novo, tendo certeza de que era somente a minha imaginação, quer dizer, com certeza tinha havido um chute, mas não tão forte quanto pensei. Mas assim que minha cabeça encostou no travesseiro, senti um segundo chute, e tive certeza que tinha mesmo sido forte.

Percebi que eu estava apertando o pulso de Alvo com as unhas, e ele me olhava preocupado.

_ O que foi? – Perguntou, quando eu gemi de dor. Contrações.

_ Al... – Sussurrei, mas ele já tinha entendido. Pegou algumas roupas minhas e deles e enfiou em uma mochila. Depois correu até o quarto de Geórgia e pegou a malinha que já estava pronta, em cima da poltrona.

Voltou me colocou nos seus braços, correu até o carro e me sentou no bando da frente. Agarrei o tecido que revestia o assento e senti minhas unhas afundando ali.

_ Estamos chegando. – Sua testa estava molhada pelo suor, provavelmente de preocupação.

­_ A SUA DEFINIÇÃO DE CHEGANDO NÃO É A MESMA QUE A MINHA! – Gritei, quando senti de novo.

_ Só mais um pouco. – Sussurrou, mais branco do que antes. Bem lá no fundo eu sabia que estava errada em gritar com Alvo, mas no momento estava brava por ele não acelerar mais.

_ RÁPIDO ALVO! – Berrei. Logo percebi o carro parando. Fiquei escandalizada quando pensei que meu marido estava parando em algum sinaleiro, mas então vi que estávamos na porta do hospital. Alvo discava o número de Rose e Mary enquanto me colocavam em uma maca e me ligavam a um monte de aparelhos, fazendo o máximo para que Geórgia esperasse mais um pouco antes de nascer. De todo jeito tinham que esperar as duas, que eram especialistas em cesariana, um parto trouxa.

Alvo segurou a minha mão, mas não devia ter feito isso, porque minhas unhas cravavam na pele e eu sentia o sangue escorrendo. Para todos os efeitos, ele estava agitado demais para se preocupar com isso no momento.

_ Vai ficar tudo bem. – Tentou me tranquilizar, beijando meus cabelos encharcados e suor, tentando convencer a si mesmo.

_ Oi. – Rose entrou, colocando as luvas. Ela pareceu colocar ordem no lugar, porque nenhum dos plantonistas sabia o que fazer e nem mesmo os meus problemas de saúde, se assim posso dizer. Mary entrou em seguida, trazendo a tal medibruxa infectologista.

_ Liguem ela em uma aparelho de monitoramento cardíaco. – Alvo olhou assustada para a garota ruiva. – Isso é um procedimento normal. Vamos ter que sedar ela. – Ele suspirou aliviado. Olhei para ele, enquanto apagava. Alvo sorria, mas em meio aqueles olhos, eu sabia que o medo reinava.

A primeira coisa que senti quando acordei foi a agulha no meu braço, e o bip irritante que a máquina tocava. Tentei me levantar, mas a cabeça parecia de chumbo.

Aos poucos fui reparando no soro que escorria lentamente para dentro de mim, pela agulha, e meus batimentos sendo desenhados na máquina irritantemente barulhenta. Só então percebi que meus olhos estavam semicerrados, olhando diretamente para o brilho cegante da lâmpada. Pisquei diversas vezes até me acostumar com a claridade.

Agora minha cabeça já estava mais leve, mesmo que não totalmente, mas já conseguia levantar. Me sentei com cuidado, mas acabei deitando de novo pela dor aguda que senti na barriga.

A barriga. Não estava mais lá. Fiquei desesperada, procurando alguma coisa que pudesse me dar uma resposta. Vaguei todo o quarto com os olhos e vi Alvo dormido desajeitadamente em cima do sofá.

_ Al? – Minha voz saiu mais aguda do que me lembrava. Ele caiu do sofá, quando acordou assustado. Seus olhos estavam arregalados, mas um sorriso imenso apareceu no seu rosto cansado.

_ Você acordou.

_ Há quanto tempo estou apagada?

_ Algumas horas. – Respondeu, esfregando os olhos.

_ Geórgia. Onde está?

_ No berçário. É perfeita amor. Ainda não tem cabelo, mas os olhos são completamente pretos. Lindos.

_Quero vê-la. Al... ela não herdou mais nada de mim, herdou? – Perguntei preocupada.

_ Claro que sim. O nariz os dedos longos, e o formato dos olhos.

_ Não amor. Não quis dizer esse tipo de coisa. – Ele pareceu entender.

_ Não. Ela não tem AIDS. – Relaxei. – Seus pais estiveram aqui. – Ele comentou como se fosse a coisa mais casual do mundo.

_ M-meus pais?

_ Sim. Acharam Geórgia linda. – Ele estava mexendo com os dedos em uma espécie de hiperatividade inexistente.

_ Está nervoso. O que foi? Disseram alguma coisa errada?

_ Não. Quer dizer, sim. Perguntaram se eu queria que levassem a menina. Para cuidarem dela longe de você. Seu pai diz que não é bom para a saúde dela ficar em contato com uma pessoa... infectada.

_ E aí? – Meu coração doeu. Achei que ele finalmente estava me aceitando, mas agora eu percebia que não.

_ Aí eu disse que não precisavam ter vindo se só queriam dizer isso. Eles foram embora com raiva mas eu escutei mais.

_ Mais? O que mais?

_ Você precisa descansar. Depois.

_ Alvo. São meus pais. Tenho o direito de saber o que disseram.

_ Sua mãe não disse nada. Quem falou foi seu pai.

_ O que?

_ Que eles precisavam ficar perto de você mais um tempo. Você está ganhando muito escrevendo Ju. Seu pai disse que assim que sua fama diminuísse eles se afastariam.


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