Vida Adulta - A nova geração escrita por Júlia França


Capítulo 17
St. Mungus




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SCORPIUS POV.

No momento em que percebi o que tinha acontecido senti uma vontade alucinante de fazer com que aquela mulher louca na minha frente sentisse o que a minha Rose sentia, mas me contentaria em levar minha esposa para o hospital primeiro, porque eu via a poça de sangue crescendo no chão. Ela tinha desmaiado de dor assim que a faca foi tirada do seu corpo quente.

_ Rose. – Solucei, pegando ela no colo. Parkinson queria me seguir, mas James a segurou com uma gravata, enquanto alvo apontava a varinha para o seu pescoço. Ashley estava ligando para Mary, pedindo que ela preparasse a sala e emergência. Não me surpreendi. Rose estava tão pálida que até os seus cabelos pareciam sem vida. Só tinha certeza de que ela não tinha morrido porque conseguia sentir suas mãos delicadas apertando as minhas numa tentativa desesperada de conseguir conter os gritos agonizantes, mas ela não estava conseguindo fazer com que sua aparência melhorasse com isso. Podia ver seus dentes trincados, contendo os gemidos de dor altos.

Corri para a lareira, pensando em aparecer no hospital com Pó de Flu, mas ela estava debilitada demais para aguentar, e aparatar estava fora de questão, porque ela com certeza estruncharia.

_ Carro. – Ouvi Ashley dizendo, com o telefone na mão e levando Patrick nos braços. Seus olhos estavam amedrontados, com medo de perder a amiga, mas se ela já estava desesperada, não conseguia imaginar a minha dor.

_ Ela está tendo hemorragia, como pode esperar que Rose resista até o St. Mungus de carro?

_ É a única saída. – Ashley nem ficou brava. E eu sabia que ela tinha razão. Mudei a direção, Com a minha ruiva nos meus braços, correndo o mais rápido que podia até o carro. Me sentei com ela atrás e Ashley na frente, deixando Patrick na cadeirinha, do meu lado. Ela não colocou o cinto na criança de tanto desespero, já correndo para a frente. Apertei o elástico em torno do bebê que olhava para Rose completamente confuso. Quase consegui perceber uma pontada de cumplicidade nos olhinhos dele, como se percebesse que alguma coisa estava completamente errada, mas antes que pudesse completar o pensamento, senti o carro dando um solavanco para frente, e logo depois atingindo uma velocidade não permitida.

_ Algum feitiço. Rose é medibruxa, ela não comentou nenhum feitiço de cura com você? – Ashley perguntou transtornada, fechando um carro e passando em dois sinais vermelhos.

_ Não. E mesmo que tenha falado, é preciso muito mais que uma varinha para fazer um feitiço desses.

_ Qualquer coisa Scorpius. Algum feitiço para parar a hemorragia. Você é auror! Tem que saber métodos de primeiros socorros!

_ Sectumsempra! Tem algum feitiço que reverte. Snape usou no meu pai uma vez.

_ Qual?

_ Não tenho certeza. – Murmurei sem nem saber direito o que estava fazendo, mas falei as palavras com a varinha na mão apontando para uma Rose inconsciente agora. Deu certo. O ferimento não parecia menos sério, mas o sangue voltou para dentro do corpo dela. O suficiente para que aguentasse até o hospital. – MAIS RÁPIDO! – Gritei, quando percebi que a hemorragia estava começando de novo.

_ ESTOU INDO O MAIS RÁPIDO QUE EU POSSO! – Gritou, e eu podia perceber as lágrimas escorrendo dos seus olhos. Ela as secou com a manga da blusa de rio rapidamente, fazendo uma curva fechada e perigosa na esquina mais próxima. Se o caso não fosse tão sério, eu poderia até fazer piadas como o fato de ela parecer uma participante de corrida de carro.

_ Tudo bem. – Murmurei, tentando pensar em outra coisa que não fosse a minha esposa, que sangrava nos meus braços. Fiz o feitiço de novo, mas não arriscaria novamente, porque eu não sabia o que ele podia fazer no organismo dela.

_ Vamos amor. – Sussurrei no ouvido dela, esperando fielmente ser escutado. – Você lembra no Rio que me disse que nunca mais iria me deixar? Que nunca mais iria me fazer sentir dor, como quando você morreu? Cumpra a promessa. – Sussurrei passando a mão na sua bochecha, e consequentemente a sujando também de sangue. Senti ela se mexendo, como se quisesse responder, mas pensei que talvez fosse só a minha imaginação ou o carro passando em um buraco. Olhei para a sua blusa de seda. A cor, antes amarela, agora estava tingida de um vermelho nauseante, e os seus cabelos pareciam ter sido molhados em uma substancia praticamente da mesma cor, só que mais escura. Patrick continuava olhando atento para a ruiva nos meus braços. Suas mãozinhas gordinhas tentavam se livrar do cindo. Retirei uma delas e deixei que ele encostasse no cabelo suado de Rose, que tinham ficado assim pelo simples motivo de ela estar tentando suportar a dor. – Ela vai ficar bem logo, pequeno. Você vai ver.

_ Chegamos. – Ashley falou apressada. Mary estava parada na porta do St. Mungus, esperando com uma equipe de paramédicos, mas pela sua expressão, eu via que não estava entendo muita coisa, mas tinha cumprido o que Ashley pediu.

_ O que... – Mary parou de falar, mandando que um dos funcionários chegasse com uma maca e um aparelho estranho, que pelo que Rose tinha me dito uma vez, servia para entubar pacientes em casos graves. – O que aconteceu? – Perguntou, conectando alguns fios no corpo dela, no estacionamento mesmo.

_ Parkinson. Faca. – Eu tentei pronunciar, mas só então percebi que estava completamente encharcado de sangue e chorando.

_ Já entendi. – Eu duvidava que tinha realmente entendido mas não disse mais nada. – Levem ele para um quarto e deem uma poção para acalmar. – Mary gritou, enquanto empurrava a maca. Eu queria dizer que iria seguir minha esposa para onde quer que ela fosse, mas não encontrei forças para isso. Vê-la sendo levada daquele jeito, inconsciente, mas deixou transtornado a beira da insanidade.

MARY POV.

Scorpius estava quase enlouquecendo. Me disse alguma coisa sobre facas, e então eu percebi que Rose tinha sido esfaqueada. Mandei que a levassem até a sala de cirurgia, principalmente porque quando a vi tive certeza que encontraria hemorragias internas. Peguei a roupa apropriada e entrei dentro do lugar esterilizado.

A ferida estava muito feia. Consegui fazer o máximo que podia, mas ela com certeza ficaria apagada por um tempo, e se acordasse antes poderia ter complicações.

_ Coma induzido? – Um dos enfermeiros perguntou assim que levaram ela para o quarto.

_ Sim. – Concordei relutante. Eu sabia que isso era o melhor para ela, mas ainda doía. Não sabia como contar isso para Scorpius. Eles acabaram de voltar de lua-de-mel! – Cheque a pressão arterial, faça exames completos, e eu também quero uma tomografia cerebral na minha mesa em duas horas para saber se ela corre algum risco se entrar em como induzido. Conecte soro na veia e de acordo com os exames eu vejo se vai precisar de transfusão, mas já deixe o sangue de algum doador com A negativo preparado.

_ Sim senhora. – Analisei a prancheta para ver se precisava de mais alguma coisa.

_ Frank. – Chamei de novo. – Troque os curativos no fim do dia ok?

_ Sim. – Confirmou, conectando as máquinas de monitoramento completo no seu braço. – Entrego o laudo em uma hora.

_ Ótimo. Vou dar a notícia. – De repente me senti muito mal. Abri a porta e saí. Ashley estava esperando do lado de fora do hospital, porque Patrick não podia entrar. Resolvi falar primeiro com ela. Principalmente porque acho que Scorpius ainda está sobre o efeito dos calmantes. James e Alvo tinham ficado para arrastar a Parkinson para o ministério (Ashley me disse, enquanto os outros preparavam a Rose para a cirurgia).

_ E aí? – Perguntou, enquanto Patrick mamava.

_ Fiz o melhor que eu podia, mas ela está em coma induzido.

_ Em coma? – Perguntou preocupada.

_ Só por um tempo. Talvez uma semana, para que o corpo dela tenha um descanso, além de que ela precisa se recuperar.

_ Foi muito sério?

_ Hemorragia interna, mas isso era meio óbvio, porque a faca perfurou o estômago, mas por sorte não aconteceu nada mais que isso. Se Scorpius não tivesse feito aquele feitiço no carro, provavelmente ela estaria com infecção generalizada agora.

_ Ela corre algum risco?

_ Diminuíram muito depois que induzimos ela ao coma, mas eu não vou mentir, o risco sempre existe nesses casos. Preciso falar com Scorpius.

_ Diz que eu fui dar uma passada lá em casa para ver com estão as coisas, mas volto sem o Patrick.

_ Digo. – Pisquei meio tristonha, entrando no hospital de novo, e indo até Scorpius, sentado no sofá da sala de espera. Assim que ele me viu, seus olhos tomaram um brilho diferente, quase que implorando que eu desse uma notícia boa. – Ela está viva. – Falei forçando um sorriso. De fato essa era uma notícia que se sobressaía em todas as outras, mas mesmo assim eu não estava totalmente feliz.

_ Viva? – Perguntou, como se fosse louco, esfregando o rosto com as mãos. Ele parecia mais feliz do que jamais esteve. – Isso é bom. Posso vê-la agora?

_ Não. Rose está viva, mas não está consciente.

_ O que quer dizer com isso? – Seu brilho dos olhos ficou menos intenso.

_ Ela está mal Scorpius. Precisamos induzi-la ao coma, para que possa se recuperar melhor.

_ Ela está presa na própria cabeça? – Perguntou me olhando.

_ É outro jeito de dizer. Mas como o coma é induzido, está previsto para que façamos sua consciência voltar até o fim da semana.

_ Posso vê-la?

_ Claro. – Mostrei o caminho.

ROSE POV.

Eu parecia estar em algum lugar conhecido e desconhecido ao mesmo tempo. Presa.

Depois que a dor passou, eu me senti presa dentro de mim mesma, sem conseguir sair. Podia ouvir os sons à minha volta, e até a sombra da luz passando pelas minhas pálpebras, mas não conseguia obter respostas quando me movimentava, continuava parada.

Me lembrei de quando coloquei um dos pacientes em coma. Jurei naquele momento não fazer isso com nenhum outro. A morte é muito mais fácil, muito menos dolorosa. Eu sentia a tensão. E sempre que a porta se abria sabia que alguém me via, mas não sabia quem era.

E agora eu estou ouvindo um choro do meu lado, sem saber quem está chorando. Mãos masculinas seguraram as minhas e as puxaram com cuidado, mas não deixei de sentir a dor dos fios e das agulhas se movimentando junto. Minha mão esquerda se pousou no rosto do visitante desconhecido, que agora eu já sabia ser homem. A barba por fazer era áspera, mas conhecida, e eu não me lembrava de onde. Isso também tinha acontecido: turbilhões de lembranças vagando sem rumo pelo meu cérebro, sem serem entendidas.

Ele chegou mais perto. Senti o cheiro do perfume. Deduzi que antes teria sido muito mais forte, mas agora era quase inexistente, somente uma lembrança. E isso fez com que eu me sentisse terrivelmente mal por não ter reconhecido o homem antes. Scorpius.

Meu marido chegou perto, me fazendo sentir sua respiração. Meu primeiro impulso seria beijá-lo, mas não consegui me mover. O selinho foi rápido, com medo de que não conseguisse me deixar respirar. Eu teria sorrido. Sempre tão cuidadoso!

Senti seus lábios na minha testa, e ao mesmo tempo que transmitiam alegria e saudade, também tinham medo.

_ Vou estar aqui. Sentado no sofá. Se quiser é só chamar. – Suas mãos soltaram as minhas cuidadosamente ao lado do meu corpo, e as cobriram com o edredom, que estavam até a metade do meu corpo.

Senti ele se afastando, e tudo o que eu queria naquele momento era chamar a sua atenção.


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