Máscaras escrita por Yokichan


Capítulo 1
Oneshot Especial Halloween


Notas iniciais do capítulo

Menines, espero que gostem da minha primeira oneshot ShikaTema *3*
Bom, isso inicialmente está terminado, mas se der alok eu continuo a fic um dia. .-.

Apreciem e deixem reviews ;*



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31 de outubro, a doce noite dos mortos. Oh, como eu amava aquela data. Não havia no mundo ocasião mais adequada que o Halloween para que eu saboreasse o macio gosto da escuridão. O momento em que todos saíam de suas casas com grandes abóboras iluminadas, era o mesmo em que eu iniciava minha caça. Minha busca fantasiosa pela perfeição, eterna perfeição. Podia eu chamar de arte, a qual meus apurados olhos esmeralda meticulosamente tanto procuraram através de rostos pálidos, sorrisos falsos, olhares superficiais. E mais uma vez, o vazio. A sombria solidão que me fazia companhia todas as noites, todos os calvários que me eram impostos e que cretinamente os humanos ao meu redor insistiam em chamar de vida. Não que por um pesadelo ou sonho eu não fosse humana, afinal nenhum outro ser seria capaz de interpretar tão complexamente os sentimentos da alma. O que eu era, afinal? Uma irrelevante pergunta que já não me cabia, que fora jogada de lado assim como a montanha de lixo que eu aprendera a descartar. O que eu procurava? E obviamente, este seria o conteúdo tão precioso que eu guardava nos empórios de meu coração, esperando pela chave que se encaixaria perfeita e suavemente na penumbra da fechadura. Oh, tão estimada chave. Desde que eu decidira procurá-la pelas entranhas daquela criatura chamada Mundo, jamais havia imaginado o quão seria árdua a tarefa de encontrá-la, de pousar minhas mãos sobre ela, de poder apreciá-la de tão perto.

         Quantas vezes perdi-me na contagem desesperada pela chegada da noite fantasmagórica, entre planos e decepções. Enfim, havia chegado. Eu poderia então com o auxílio daqueles que já não estavam mais entre mim, encontrar o fascínio cujo meus olhos almejavam. Nada de rostos vazios, de vozes mudas, como das outras vezes. Com minhas unhas escarlate, eu não deixaria que meu devaneio me abandonasse, meramente em vão.

         A máscara negra de audazes traços abraçou lascivamente meu rosto de porcelana. Apenas meus lábios rubros, e unicamente eles, permaneceram descobertos pela maquiagem do elegante e mais falso plástico. Minha isca letal, da qual nenhum coração fora capaz de sair ileso. Ninguém mais do que eu, nem por via dos fatos nem por via dos documentos, entendia o temperamento masculino. Homens cretinos, imundos, corrompidos pela indolência de suas próprias vontades, movidos unicamente por pernas e braços na direção daquilo que lhes é conveniente e agradável. Com corações que apenas servem para viver, com mentes que apenas servem para distinguir o preto do branco, sendo incapazes de identificar o cinza. Eu realmente estava farta daqueles pedaços de carne, daqueles filés mal cortados, daquelas cores desbotadas. O tipo de rosto vazio que eu não fazia questão de notar, era o que aqueles homens eram. Nem mesmo meu longo e perigoso vestido escarlate lhes faria enxergar o meu verdadeiro objetivo, e era estúpido pensar que depois de tantas décadas, eles ainda não sabiam que mulheres que vestem vermelho apenas usam deste para evidenciar sua voracidade. Uma lasciva voracidade da qual eu, Temari, era mestra.

 

Meia-Noite.

 

 

         O relógio badalou, absoluto. Havia chegado o ápice da noite, o momento em que os mortos se manifestam no dia de suas honras. Não havia nenhum espírito pelo qual eu me importasse, mas eu ainda esperava que algo acontecesse. Não estava suficiente para mim, não estava satisfatório daquela maneira. A perfeição, a arte, a chave, elas ainda chegariam. Nada estava acabado, e os uivos recém haviam começado – pateticamente copiosos, é claro - na festa assombrosamente iluminada daquele salão. A dança das máscaras, docemente ritmada. Aquele era o meu momento, finalmente.

         Com a negra máscara sobre o rosto, brandindo um par de lábios sensualmente vermelhos, eu mergulhei na multidão dançante, camuflando-me como a original sombra da noite. Meus olhos e quadris esgueiravam-se simetricamente pelos corpos que para mim não passavam de tolos obstáculos, formando uma passagem para que meus pés avançassem sobre saltos impecáveis. Rostos vazios, era tudo o que havia ali. Rostos opacos, sem nenhum traço vital. Uma dança de esqueletos seria uma denominação mais adequada para o que se desenvolvia entre as vastas paredes. Luzes piscavam sobre minha cabeça, frenéticas como se estivessem sob efeito de algum alucinógeno mortal. Os orbes esmeraldinos não descansavam por baixo de minha máscara, varrendo atenciosamente aquela planície de cadáveres que teimavam em não retornar para suas sepulturas chamadas Casas. E inutilmente, ainda havia esperança em minha alma, relutando para não ser combatida pela realidade. Esperança que apenas os tolos tem, mas afinal eu precisava ter algo humano em minha mente.

         A música dançou em meus ouvidos, rodeou-me com suas notas, fez-me alegre por um momento com sua energia. A música dançou, dançou sem parar, até que no fim daquele labirinto humano que eu mesma havia traçado pelo meio dos corpos amontoados na pista iluminada, eu encontrei o que avidamente procurava. Ele. A imagem da perfeição, em todos os seus sentidos. Foi como se eu perdesse a compostura, a figura felina da mulher que não desistiria. Nos sequentes e breves instantes em que as luzes se apagavam, para depois iluminar a dispensável platéia que nos rodeava, ele misturava-se completamente na escuridão. As sombras e ele, as sombras e seu rosto. Ambos eram o mesmo, eram unânimes. Tão tênue foi o momento em que senti-me fraquejar, e quando percebi, minha máscara estava no chão. Tornara-se apenas uma máscara abandonada, sem rosto algum, livre para que pés alheios a esmagassem. Foi então que ele, num gesto elegante e simétrico, descobriu seu rosto da máscara que lhe escondia. Seus olhos negros me encararam, com tal sensualidade e dominância que meu corpo se resumiu à uma vareta que teimava em permanecer de pé diante de monstruosa ventania. Vacilei, permitindo-lhe enxergar meu verdadeiro - e único - semblante. Seus lábios esticaram-se, lascivos e sombrios, num sorriso de canto que terminou por abalar minha estrutura. Eu não precisava de prova alguma. Era ele, e apenas eu sabia que era ele.

         Aquele homem de roupas negras aproximou-se, parecendo não notar que ao seu redor haviam tantos corpos a serem desviados. Seus passos foram como um vôo raso até mim, tão elegantes e confiantes que incrivelmente eu me senti acabada. Seus cabelos negros aguardavam perfeitamente presos, extremamente distintos dos meus impecavelmente louros. Seria aquele o nosso mais evidente contraste? Logicamente, não. O olhar de meu doce desconhecido invadia-me profundamente, tanto como se pudesse saber o que eu estava sentindo nas calamidades de meu coração.

 

- Sua máscara caiu. - disse ele com uma voz que penetrou suavemente em meus ouvidos, permanecendo ali para todo o sempre que eu viesse a sobreviver. Elegantemente, o desconhecido abaixou-se à minha frente, rente ao meu corpo. Tremi. Tremi de desejo, de amor. Então, com a mesma suavidade, ele ergueu-se e em sua mão jazia minha máscara.

 

- Obrigada. - agradeci com o fôlego que meus pulmões ainda resguardavam, sentindo o quão agradável era seu olhar no meu. Era doce, ao mesmo tempo em que era intenso. Peguei a máscara, controlando-me ao máximo para não tremer no momento em que meus dedos tocassem o mesmo objeto que os seus seguravam. - Mas você também tirou a sua. - comentei, abrindo um lascivo sorriso ao lançar meu olhar na direção da máscara branca em sua mão. Feliz fora o momento em que ela fora tirada.

 

- Isso quer dizer que acabamos com a brincadeira, não é? - disse ele, aproximando-se dominantemente de mim. Seu sorriso me enlouquecera, de modo que precisei de alguns instantes para decidir que palavras sairiam de meus lábios. Daquela vez, não tremi.

 

- Supostamente, sim. - driblei, espichando meu sorriso escarlate para o canto de minha boca, sensualmente. O agradável desconhecido estava tão perto que momentaneamente eu podia sentir a maciez de sua respiração sobre meu rosto, afagando-me.

 

- Que problemático. - murmurou ele com seu sorriso vitorioso, obviamente sabendo que já havia me ganho. Meu corpo sofreu o impacto de um espasmo delicioso quando sua mão elegantemente grande tocou as costas de minha cintura, sobre o tecido vermelho do vestido que me moldava. - Como se chama? - ele sussurrou ao meu ouvido, tocando seu lábio inferior no lóbulo de minha orelha, tão delicadamente que meu corpo inteiro sentiu aquele arrepio.

 

- Temari. - sibilei, totalmente entregue àquele homem. Não tomei controle quando meus braços esgueiraram-se lentamente para o alto dos ombros rígidos de meu afável desconhecido, abraçando-o sutilmente. A pele pálida de seu pescoço era tão quente quanto uma chama furiosa. - E você? - perguntei, desta vez invadindo-o com meu olhar penetrante.

 

- Shikamaru. - respondeu ele, enfim silenciando-nos da melhor maneira.

 

         Oh, como ele sabia o que fazia. Sabia tão perfeitamente, como se ao contrário de todos aqueles tolos humanos, ele tivesse nascido sabendo. Foi doce e atordoante o momento em que seus lábios tocaram os meus num beijo que eu não seria capaz de definir. O que era aquele homem? Em segundos, ele fizera com minha estrutura o que nenhum outro homem fizera em anos: abalou-me, fascinou-me. Suas mãos em minha cintura tinham o contorno perfeito, e Shikamaru parecia incrivelmente saber o modo como eu gostava de ser tocada. Deslizando feito plumas sobre a nobre seda, aquelas mãos subiram para minhas costas, conhecendo por via de dedos habilidosos os sutis traços de meu frágil dorso. Oh, Deus! Como era agradável estar entre aqueles braços, sendo envolvida pelo calor intenso que emanava daquele corpo. A partir daquele momento, eu soube que ele seria meu. Nenhuma outra mulher desfrutaria daquele abraço, nenhuma outra boca tingida de carmim conheceria aquele beijo.

 

 

"Você era como a escuridão, e por essa sua elegante sobriedade foi que eu te amei, desde o primeiro olhar".

 

 

         Ofegantes, nossos lábios se afastaram. Por quê? Os dele vermelhos, manchados pelo pecado de meus sentimentos. Os meus vívidos, suplicantes por mais daquele beijo. Agora eu já não podia referir-me a ele como meu doce desconhecido. Shikamaru fitou-me no mais profundo de meus olhos verdejantes, e por mais que os meus também estivessem fixos nos dele, minha visão teimava em notar a maneira maliciosa como seus lábios estavam retorcidos. Graciosamente retorcidos no sorriso pelo qual eu começara a delirar. Custei a perceber que estávamos ainda no meio da multidão vibrante, naquele baile de máscaras enfeitado pela maior quantidade de abóboras iluminadas que eu já vira em toda a minha vida. E por que aquilo me importaria? Eu tinha Shikamaru no alcance de meus braços, e aquela proximidade era o bastante para fazer meu coração desmaiar a cada dois milésimos de segundos.

 

- Vamos. - anunciou ele com sua voz de caro veludo em meu ouvido. Se eu pudesse ter visto seu rosto naquele momento, constataria que ele sorria sombriamente, mas devido à circunstância de meu rosto estar na curva alta de seu ombro, aquilo não foi possível. Todas as células de meu corpo se agitaram frenéticas quando Shikamaru envolveu minha fina silhueta com seu braço escultural.

 

- Para onde? - perguntei, deixando que meu corpo se movesse pela influência do braço de meu então acompanhante. E do que importava para onde íamos? Senti-me tola, se era evidente que eu aceitaria o convite, seja qual fosse. Ele sorriu, discreto e gracioso.

 

- Para onde se possa apreciar o halloween. - disse-me ele, tão persuasivo que eu senti-me sob o efeito de um encanto, e então conduziu-me com seu braço curvilíneo rente a minha cintura para longe daqueles esqueletos dançantes, daquela bagunça barulhenta.

 

 

"Você foi o único que conseguiu ver meu rosto além de uma máscara, e por isso eu seria eternamente sua".

 

 

         Me pergunto se, enquanto estava nos contornos dos braços dele, aquele rosto que me fitava era realmente o seu único. Assim como eu, ele também tinha uma máscara. Ele também escondia sua verdadeira identidade, seu verdadeiro olhar. Quando se está apaixonado, o coração entende que precisamos nos sentir de outra maneira, e nossos olhos acompanham esse raciocínio totalmente desvirtuado. Era de tal forma que meus olhos passaram a enxergar, marejados por um intenso sentimento que me adocicava os lábios e fazia borrar a camada de batom que eu trazia sobre os mesmos. A máscara de Shikamaru poderia estar ainda a cobrir docemente sua face pálida, mas eu realmente não me importava.

         Estranha fora a sensação, irônica e bem quista, que dominara minha alma naquela noite. A noite dos mortos, dos fantasmas, dos espíritos assombrados, cuja qual as más línguas profetizavam apenas o medo. Danem-se elas, pois fora na noite do halloween que nascera em meu coração o mais vivo dos sentimentos.


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Notas finais do capítulo

Bom Halloween 0//



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