Hallows Eve escrita por Nyuu D


Capítulo 1
único




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– BOHAHAHA! SPIRITS ARE ALWAYS WITH YOU!

Don Kanonji recepcionava a festa de Halloween. Foi tudo ideia dele, é claro – quem mais teria a ideia maluca de chamar todo aquele monte de inimigos para confraternizar amigavelmente numa reunião como essa? Ao menos era assim que Ichigo pensava. Sua fantasia de Frankenstein foi tudo ideia de seu pai, Isshin; na verdade, o morango sequer estava pensando em comparecer a essa festa, já que o ambiente estaria completamente aterrorizante.

E não era por causa da decoração de dia das bruxas.

Rukia, ao lado do garoto, estava bastante empolgada divertindo-se com a risada “maléfica” de Don Kanonji, imitando-o deliberadamente, ainda sem entender o que aquilo significava. Sua roupa cor-de-rosa de diabinha deixava a baixinha linda demais, assim pensava o morango.

Logo atrás, vinha Renji e sua fantasia de múmia à qual ele havia achado muito prática, uma vez que era só enrolar um monte de bandagens no corpo e estava tudo certo. Pessoalmente, ele estava muito bem, mesmo tapando boa parte de seu rosto, com fios de cabelo vermelho despontando para fora. Ichigo achou que combinou bastante com ele.

Ishida estava de vampiro, e Inoue fazia par com ele na fantasia. Aliás, isso foi algo que Ichigo achou muito suspeito, quer dizer, os dois combinaram de ir com a mesma roupa e tudo mais. Era bonitinho, se assim ver. A fantasia de Gomez da família Addams também caia como uma luva em Sado.

– Vamos entrar logo, Rukia! – Exclamou o Shinigami, empurrando a baixinha porta adentro. Sem outra saída, a morena concordou e foi entrando com ele, seguida pelos outros quatro. Entrando no lugar, que ainda era dominado apenas por Shinigamis e Vizards, Ichigo podia ver fantasias que sequer tinham a ver com o clima de dia das bruxas em si.

Yoruichi, em sua roupa sexy de gata preta, criava uma brincadeirinha infame que não deixava de ser a cara dela. Urahara, ao lado da morena, usava uma roupa preta e um paninho branco no antebraço, assemelhando-se a um mordomo. De certo ele era o mordomo culpado pelos assassinatos em livros de história de suspense.

Todos os Vizards faziam um grupo de prisioneiros; devia ser algum tipo de ironia inventada pelo Hirako, era bem a cara dele. As meninas usavam saias, meias e blusas listadas, justas, e os rapazes com suas roupas largas e pretas e brancas da mesma forma. Eles tinham números estampados que iam de 1 a 8, novamente uma ironia interessante com os Espadas, embora faltasse um, que provavelmente seria o número de Ichigo. Shinji era bem espirituoso quando queria, isso se a ideia havia sido realmente dele.

– Achei bem legal, mesmo que eu ache que a presença de um bando de Espadas aqui nesse lugar não vá criar um clima de harmonia... – Rukia olhou em volta e acenou para Byakuya, que vestia uma roupa casual qualquer; ele de certo não havia concordado em usar fantasia alguma.

Havia uma música ambiente e por isso, a baixinha pensou em chamar Ichigo para dançar, mas imaginava que no lugar de um “sim” receberia algum tipo de xingamento, portanto, apenas pegou Renji pelo braço e o arrastou para a pista, onde havia algumas pessoas já dançando.

Shuuhei e Rangiku eram um dos pares; a loira vestia uma roupa de bruxa cheia de cortes vertiginosos, mostrando suas belas curvas salientes. Shuuhei e sua roupa de pirata estavam bem divertidos. Ele dançava parecendo bem confortável ao lado de Matsumoto, cada um com uma garrafa de saquê na mão, rindo e cantando junto com a música. Renji gargalhou ao vê-los.

Como havia sido praticamente abandonado, Ichigo decidiu por tomar seu rumo. Ishida e Inoue foram dançar também, embora Uryuu não parecesse muito confortável com a ideia. Sado tomou seu rumo pelo lugar, dizendo que iria dar uma olhada nas decorações. O morango caminhou entre as pessoas, que o cumprimentavam felizes em vê-lo.

Parou junto dos Vizards e foi imediatamente abordado por Hirako. – E aí, Ichigo! Achei que você não ia vir!

– Francamente, eu não ia mesmo. Mas meu pai me arrastou.

– Eu o vi por aí, com aquele Quincy.

– Pai do Ishida, é, ele mesmo. – Explicou. Shinji abriu um largo sorriso e o puxou para que sentasse com seus companheiros.

– Nós íamos te dar uma dessas roupas pra completar os nove Vizards, mas acabou que não deu certo. Uma pena, o Aizen ia achar muito divertido, hein?

– Ahhh, uh, com certeza. – Ichigo resmungou amargamente. – Aliás, será que ele vem mesmo? Por que o idiota do Kanonji resolveu convidar eles?

– Diz o cara que é uma confraternização entre todos, mas eu não engoli essa não...

– Nem eu. – O garoto dos cabelos alaranjados apoiou-se na mesa, e recebeu cumprimentos de todos os Vizards no recinto. Logo em seguida, virou-se para olhar o pessoal dançando, onde Renji e Rukia moviam seus corpos de forma ritmada e divertida, rindo juntos. Isso fez um calorão subir no corpo do Shinigami substituto e ele sequer entendeu a razão. Suspirou.

Mesmo com o sentimento ruim, ele acabou por cair na risada ao ver Hitsugaya em uma roupa bizarra de gato angorá. Só podia ser obra de Matsumoto— aliás, Ichigo se perguntou como ela havia conseguido o feito de fazê-lo usar aquela coisa. Hinamori, ao lado do baixinho, divertia-se com a irritação dele.

– Por que não está lá dançando, Ichigo-kun? – Uma voz familiar surgiu atrás do garoto; quando se virou para olhar, Ukitake lhe sorria calmamente, acompanhando por Unohana e Kyouraku. Shunsui usava uma roupa engraçada de Tony Manero, que até que combinava com ele, pensando bem. Juushirou e Unohana estavam vestidos de médicos, o que também os tornava um casal adorável.

– Não estou no clima, Ukitake-san.

– Mas que bobagem é essa? Você devia estar lá com a Rukia-chan e os outros.

– Hum... – Ichigo resmungou para Shunsui, com seus olhos ainda focando a baixinha e Renji dançando. – Acho que é melhor eu não incomodá-los...

– Que é isso! Vá lá e divirta-se! Lisa-chan, por que não vai dançar com ele? – Kyouraku incitou a Vizard a levantar-se, tocando-lhe as costas e acabou recebendo um belo dum cascudo.

– Não vou dançar com alguém que me acha uma pervertida!

– Mas você é uma pervertida! – Ichigo exclamou na direção dela, esquivando-se de um soquinho que ela ameaçou dar. Os três Shinigamis riram com a cena.

– Bem, você quem sabe. – Kyouraku deu um tapinha nas costas do Kurosaki. – Vamos lá, vocês dois. – Convidou Ukitake e Unohana, levando ambos para a pista consigo. Assim que eles chegaram lá, Rukia e Renji se afastavam, caminhando na direção de Ichigo e rindo muito alto.

– Você não sabe dançar, Renji! Parece que tem dois pés esquerdos!

O ruivo revirou os olhos, embora desse risada. As bandagens que lhe cobriam a boca e o nariz já não estavam mais ali há um bom tempo. Rukia jogou-se na cadeira ao lado de Ichigo, ainda rindo bastante, e o tatuado acomodou-se ao lado da baixinha. – Não pareceu se incomodar quando estávamos lá.

– Claro, nessas horas, tudo é válido. Até porque, acho que eu nunca ri tanto na minha vida! – Rukia abanou o rosto com a mão.

– Que bom, pelo menos pra alguma coisa serviu meus pés esquerdos. – Renji sorriu, parecendo feliz com a expressão contente da baixinha. Ichigo os observou, estreitando os olhos para a admiração toda que tinha o ruivo sobre a outra. Chegava a ser realmente irritante. Coçou o alto da cabeça e apoiou a cabeça na mão novamente, olhando para o outro lado. Preferia ficar surdo à conversa dos dois.

Repentinamente, uma força espiritual dominou todo o ambiente; era bastante conhecida, é claro. Aizen Sousuke. Ichigo imediatamente pôs-se de pé, na defensiva, observando as expressões apreensivas dos demais. Ele queria chegar já apavorando todo mundo?! Que completo idiota! O morango afastou-se dos outros dois e caminhou rapidamente por entre os Shinigamis. Hirako, Hiyori, Kensei e Mashiro acabaram por segui-lo.

Chegando próximo à entrada, Ichigo espiou para fora, observando enquanto Don Kanonji dava sua recepção calorosa ao grupo de Espadas, assim como a Aizen, Gin e Tousen. A expressão do líder era calma de costume; Gin tinha seu sorriso de escárnio estampado nos lábios e Tousen se mantinha retraído. Nenhum deles usava fantasias, na verdade, todos estavam com suas roupas de sempre.

– BOHAHAHA! – O grandão gargalhou, fazendo seus gestos excêntricos. Gin o observava com curiosidade; os Espadas pareciam irritados e, Grimmjow, repentinamente, surgiu do meio deles e ameaçou dar um murro em Kanonji.

– Pare com isso, seu retardado, é irritante!

– Não se exalte, Grimmjow. – Aizen ordenou com sua voz aveludada. – Não estamos aqui para arranjar briga.

O sexto Espada bafejou e virou o rosto, mas conseguiu o que queria; calou Don Kanonji de sua risada maluca. Quando Sousuke voltou a andar, os demais o seguiram. Ichigo empurrou a porta para vê-lo e assim que viu o morango, Aizen piscou os olhos.

– Oras, mas se não é o Ichigo? Está aqui para me recepcionar? Muito obrigado.

– Nem em um milhão de anos.

– Maa, maa, não seja tão agressivo! – Gin dedilhou o ar com as mãos, obviamente debochado. Ichigo trincou os dentes e sentiu a mão de Shinji tocar-lhe o ombro, aparentemente procurando acalmá-lo. Boa parte dos Espadas passaram pelo grupo. Ulquiorra manteve os olhos cerrados enquanto caminhava, evitando qualquer tipo de contato visual. Os Vizards tomaram seu rumo, mas mantiveram-se atentos à movimentação, assim como o restante da festa.

Aliás, boa parte dos que se divertiam antes pararam o que faziam. Obviamente a presença daquele grupo não era nada bem-vinda.

– Yo, Kurosaki! – Grimmjow tascou um tapa no braço de Ichigo, fazendo-o cambalear para o lado.

– Achei que não fossem vir.

– Fomos obrigados. – Ele fez um sinal com a mão, indicando Aizen. – Mas não ligo pra essa merda! Só vim porque ia ter a oportunidade de quebrar seus dentes. Vamos lá pra fora!

– Nem pensar, Grimmjow! – O Shinigami ergueu a mão, dando de dedo no rosto do Espada. – Isso é pra ser uma confraternização ou sei lá o que, não um ringue.

– Por isso estou falando para irmos lá pra fora, espertão. – O mais alto moveu o corpo e sua linguagem corporal exprimia o quanto achava que Ichigo era burro feito uma porta por ter falado algo daquele tipo.

– Não enche! Depois eu luto com você, agora não!

– Te pego na saída. – Ele deu um novo tapa no ombro do morango, afastando-se dele logo em seguida. Ichigo sentiu um arrepio na espinha com aquela ameaça, especialmente porque Grimmjow dava uma gargalhada maligna terrível. Coçou a testa e virou-se para observar o ambiente que ficara muito tenso com a chegada dos Espada.

Uma nova presença aproximou-se e Don Kanonji parava ao lado do Kurosaki, fazendo... O de sempre. – Ahh, meu querido discípulo, minha ideia não foi simplesmente espetacular? A interação de todos não é wonderful?

– Uh. – Debochou. – Acho que todos estão se divertindo muito! – Indicou a festa, que havia praticamente parado.

Kanonji soltou um suspiro exagerado de decepção, afastando-se repentinamente do garoto e caminhou entre as pessoas. Ichigo voltou a andar e foi abordado por Rukia, que o encarava com um ar preocupado. – Tudo bem?

– Exceto pelo fato de ter sido convidado para uma luta pelo Grimmjow, tudo certo. – Não que esse fosse seu único problema, é claro. Ichigo encarou a baixinha, que curvou os lábios num sorriso gentil.

– Também estou preocupada, mas estamos em vantagem aqui. Estamos em casa. Eles não.

O garoto concordou com Rukia; não havia dúvida disso, mas ainda assim, era uma situação muito constrangedora.

Com o tempo passando, as pessoas ficavam mais à vontade e boa parte dos Shinigamis já voltava a dançar e beber, e até alguns dos Vizards mais tranquilos enfiavam-se entre eles, mas todos não deixavam a guarda baixa. Naquele exato momento, Ichigo estava acompanhado de Rukia, e fazia uma pífia tentativa de dança que divertia a baixinha ainda mais do que ela estava rindo com Renji.

Falando nele, Ichigo apertou ainda mais as sobrancelhas já franzidas e procurou pelo Abarai no ambiente, que agora, estava acompanhando de Shuuhei e Rangiku, sentados em um dos cantos. Os dois idiotas mais do que descaradamente disputavam a atenção da loira, criando uma situação muito cômica para ela. Gin, perto dali, não parecia nada confortável com o flerte gratuito dos dois em cima de Matsumoto, e parecia estar prestes a avançar nos dois. Mas Aizen, ao seu lado, aparentemente o pressionava a ficar no lugar.

– Pelo menos você se esforça, né, Ichigo? – Rukia sorriu, parando de dançar um instante para admirar a movimentação meio travada do morango.

– Ou quase isso. – Resmungou. Uns instantes depois, a música mudava e o clima do ambiente tornava-se mais denso, juntando vários casais que se reuniam para dançar abraçados. Constrangido, Ichigo ameaçou sair dali, mas Rukia o segurou antes que ele pudesse se afastar.

– Onde pensa que vai, idiota? – Ela o aproximou de seu corpo e fez com que segurasse sua cintura. Apoiou-se nos ombros dele, sustentando o olhar. Ichigo sentiu o corpo todo esquentar imediatamente, e boa parte de seu sangue foi todo para o rosto, deixando-o vermelho como um... Morango. Ainda bem que a maquiagem da fantasia colaborava para esconder sua vergonha.

Mesmo com o salto de sua bota, Rukia ainda tinha que ficar na ponta dos pés para ficar em uma posição razoavelmente confortável na dança. Ichigo apoiava o queixo no ombro da baixinha, ainda sentindo o rosto todo ferver. Mas o contato era também caloroso. Provavelmente era um dos bons motivos para deixar o garoto totalmente aquecido tendo a baixinha em seus braços.

Claro que entender esse tipo de sentimento estava completamente fora da jurisdição do Shinigami, porém, ele conseguia sentir. E no caso de uma pessoa como Ichigo, sentir era muito mais significativo do que qualquer outra coisa. E o contato dos dois corpos era bom demais para ser apenas ignorado. A cintura fina de Rukia era facilmente abraçada pelos braços do garoto. Ela tinha um cheiro fresco de maçã.

Ichigo acabou envolvendo-se no clima gerado pelo abraço de uma dança lenta e descoordenada. Tanto fez que esqueceu o que estava ao seu redor, e toda aquela tensão que insistia em pairar no ar nem o pressionava, mais.

– Ichigo... – Murmurou a baixinha, despertando o garoto para a realidade.

– Que é? – Respondeu em seu típico tom adorável, fazendo Rukia rir baixo.

– Se eu te disser que gosto de você, seria tão aterrorizante quanto o clima de Halloween?

O garoto sentiu o corpo todo enrijecer no mesmo instante. Havia ouvido direito? Isso era algum tipo de declaração? – Ahn...

Rukia afastou-se um pouco, olhando para Ichigo com uma expressão suave, mas constrangida. Seus olhos violeta moviam-se inquietos pelo rosto do garoto, admirando-o lentamente. Ele nunca havia visto a morena agir daquela maneira. Sua típica personalidade de pavio-curto e meio mandona sobressaía àquela Rukia que ela mostrava naquele momento.

– Pelo jeito, é bem amedrontador, hein?!

– Não é isso, é que eu—

– ITSYGOOOOOO!

A voz histérica de Nell conseguiu sobressair até mesmo a música que embalava os dois. A pequena arrancar deu um salto e pulou em Ichigo e, com toda a surpresa e o embalo, acabou quase o derrubando. Ele perdeu o equilíbrio e cambaleou, enquanto Nell o sufocava pelo pescoço. – Itsygo, eu estava com saudade!

– Nell! Não faça isso, que droga! – Ele pegou-a pela cintura e a ergueu na altura do rosto. Rukia, ao lado dele, coçava os olhos com cuidado, evitando borrar a maquiagem.

– Desculpa, eu realmente senti sua falta, oras! Quase não te reconheci com essa roupa toda!

– Ah, certo... – Ele respirou fundo. Não era culpa dela. – Por que não vai até o Ishida, hein? Depois eu converso com você.

– Vamos brincar depois?

– Claro, claro. – Ichigo soltou a pequena no chão e agachou-se para dar um tapinha no alto da cabeça dela. – Agora vai lá.

Nell deu um grande sorriso e saiu dali, correndo na direção de Ishida e Inoue. O Shinigami esticou as costas, sentido-as estralarem e voltou sua atenção à Rukia novamente, olhando-a com uma expressão ligeiramente constrangida, assim como seu sorriso torto nos lábios. – Então, o que eu estava dizendo mesmo...?

Eu falei que deve ter sido amedrontador. – Ela pôs as mãos na cintura, olhando-o inquisidora. Aqueles chifrinhos na cabeça da morena a deixavam com uma aparência ainda mais peculiar, ainda mais com aquela expressão.

– Ah, é mesmo... Pois bem, eu—

– Ikorose, Shinsou – a voz de Gin não sobressaiu como a de Nell, porém, resultou numa grande confusão. Quando apontou sua zanpakutou na direção de Shuuhei e só não o acertou em cheio no peito porque Rangiku deu um empurrão no Shinigami antes que isso acontecesse.

Começou a confusão. Vários Shinigamis puseram-se em posição de defensiva mesmo com Gin tendo retraído sua Shikai para a “aparentemente” wazikashi. Aizen postou-se ao lado de Ichimaru e ergueu uma das mãos, bem na frente do peito do seu subalterno, querendo dizer claramente que era para ele recuar e parar o que estava fazendo imediatamente. Nisso, Ichigo e Rukia já haviam se aproximado para ver o que acontecia.

Matsumoto socorria Hisagi depois do tombo e Gin perdera seu sorriso diante de tudo aquilo. Renji não estava envolvido porque havia saído de perto dos dois pouco antes. Certamente o fato de Rangiku ter ficado sozinha com Shuuhei foi o estopim para que Gin perdesse completamente a compostura. Ichigo coçou a cabeça.

– Ora essa, Gin, por que fez isso? Não disse que não estamos aqui para brigar? – Como a música havia parado por causa da confusão, a voz de Aizen era bastante audível para todos os presentes.

– Perdão, Aizen-taichou, creio que perdi a linha por um instante.

– Gin, o que estava pensando?! – Matsumoto de repente postou-se diante do homem, apontando-lhe o indicador bem no peito do peito. Gin a encarou seriamente e de repente, focou seus olhos azuis quase-prateados direto no rosto dela, deixando-a claramente travada no lugar.

Aparentemente, aqueles olhos eram capazes de tirar todo o jeitão enérgico da tenente.

– Desculpe, Rangiku.

Matsumoto pestanejou os olhos na direção de Gin. Parecia que um clima romântico surgia entre os dois, mas Aizen não deixou que o momento procedesse. Enfiou-se entre os dois e ergueu o queixo na direção da loira. Com seu senso de obviedade, Rangiku sabia que não devia mais ficar perto. Pôde apenas ver a cabeça de Ichimaru tombando para o lado a fim de vê-la por cima dos ombros de Sousuke.

– Você está linda. – Completou Gin, recebendo um olhar nada amigável de Aizen logo em seguida.

Rangiku encolheu os ombros onde estava e saiu dali como um furacão. Hinamori correu para segui-la.

O desconcerto foi geral. O pessoal demorou a dispersar-se e mandaram que a música voltasse para que o clima voltasse ao mínimo aceitável. Já quase desistindo de sua vida amorosa, Ichigo foi puxado por Rukia para fora do lugar. Ela não disse coisa alguma, apenas o trouxe consigo para o jardim.

Segurou-o pelos ombros e fixou-o no lugar. Ichigo até mesmo deu um sorriso com a atitude toda. Deixou-se guiar até que Rukia o soltasse, batesse as mãos de volta à cintura e olhasse séria para o morango. – Fale agora ou cale-se para sempre!

– Eu ia dizer que... – Ele fez uma pausa, esperando alguma explosão ou coisa assim, mas nada aconteceu. – Que eu não esperava que você dissesse algo assim, só isso. – Ichigo crispou de leve os lábios e a baixinha fez uma expressão ligeiramente decepcionada. – Ah, calma, não era só isso, apressada!

– Então fala logo, seu lerdo!

– Bom... – O garoto passou a mão pelo nariz, sem nem ligar de tirar toda aquela maquiagem bizarra que lhe cobria o corpo. Mexeu os ombros de forma nervosa, gesticulando com as mãos por um instante. Seu rosto todo fervia, como de costume. – Digamos que eu também goste de você. E então?

– E então o quê?

– O que você vai fazer, diabinha?

– Não me subestime, idiota! – Rukia segurou-o pelos ombros e forçou o corpo do morango para baixo. Ichigo acabou por curvar as costas e ficar com a cabeça na altura da dela, sem que a baixinha tivesse que sequer ficar nas pontas dos pés. Encarou-o diretamente nos orbes cor-de-caramelo e estreitou os próprios.

Repentinamente, então, trouxe o garoto para um beijo. Não era algo apressado ou urgente; parecia que costumavam se beijar o tempo todo, já que Rukia agia de forma tão relaxada. Ichigo, por sua vez, segurava-a pela cintura, com os braços meio travados de início, como havia ficado quando dançaram. Passaram-se alguns instantes onde o beijo se consumava e logo o rapaz conseguia segurá-la carinhosamente, tirando-a do chão e ajudando-se com suas costas. Estava doendo, oras.

Quando partiu o beijo apenas por naturalidade, Ichigo respirou fundo e Rukia deu uma risada. – Aqui está o que devo fazer, já que você é lento demais.

– Você é insuportavelmente mandona, Rukia!

– Acho que se eu fosse tão insuportável – ela interrompeu-se para aconchegar-se no abraço, deitando a cabeça no ombro do garoto. –, você já teria me mandado para longe faz tempo!

– É, bom, não que eu não tenha tentado, mas— ai! – Reclamou do soco que Rukia deu no alto de sua cabeça. Massageou a região e revirou os olhos. – Sua escolha de data para me informar seus sentimentos não foi exatamente a melhor, mas acho que não merecia mais atrasos.

 – Acho que não, mesmo. – Suspirou. – Até mesmo a Matsumoto-fukutaichou acabou por receber sua confissão de amor tardia...

– É...

– Bem! – Rukia saltou do colo de Ichigo e apertou a mão dele. Isso atraiu o garoto para mais um beijo, que, dessa vez, foi mais intenso, derramando sentimentos um no outro. Rukia apertou-o pelo pescoço assim que os lábios se juntaram. Quando a falta de ar tomou conta de ambos, separam-se e um tocou a testa na do outro. A baixinha ainda deu-se ao luxo de perder uns minutos recuperando o fôlego.

– Bem...?

– Por mais aterrorizante que pareça... Feliz dia das Bruxas, Ichigo!

– Ei... – Ele estreitou os olhos. – Agora não é a hora que você confessa todo seu amor, não?!

– Cala a boca, idiota...

 

Epílogo ~ GinRan

 

O grupo que se reunira com Aizen à festa, agora, tomava seu rumo para longe dela. O líder acreditava que aquilo já era o bastante, e foi confusão demais. Entretanto, Gin ficou para trás, ainda um pouco. Ele caminhou sorrateiramente pelo salão, só sendo percebido porque os olhares realmente o encaravam na multidão. Se fosse em suas épocas de Soul Society, certamente ninguém lhe daria bola naquele momento.

Encontrou Rangiku sentada sozinha num canto do local. Ela estava com a cabeça deitada sobre os antebraços, os quais ela usava de travesseiro, e tinha uma expressão abatida. Olhou-a por uns instantes. Os olhos estavam perdidos e úmidos.

Gin puxou a cadeira que ficava de frente para a dela e acomodou-se. Matsumoto não se manifestou. Talvez não percebeu sua presença, ou apenas a ignorou completamente. – Rangiku. – Chamou. A loira demorou para reagir, mas enfim ergueu o rosto e apoiou o queixo nos braços, encarando-o de baixo. – Estou indo embora.

– Agora você me avisa quando vai, Gin? – Lamentou-se com uma risada sarcástica e melancólica. Ichimaru sorriu, mas não estava sendo irônico, era apenas sua forma de lidar com as coisas. Além do mais, era uma boa reação. Ele não esperava por nada menos intenso que isso.

– Decidi mudar meus hábitos por um instante, tente ser compreensiva.

– Fui compreensiva demais, por tempo demais. Só vá embora.

– Eu vou, mas vim dizer adeus.

– Adeus, então.

Diante da reação já esperada, Gin levantou-se de onde estava, deu a volta na mesa e tocou o alto da cabeça loura de Rangiku com as mãos. O toque fez a tenente cerrar os punhos, contendo seus ímpetos de voar no pescoço dele. E não seria para esgoelá-lo, como deveria. Era apenas para abraçá-lo e pedir para que não fosse, como devia ter feito quando ele partiu para o Hueco Mundo pela primeira vez.

– Você continua linda. – Ele sussurrou perto do ouvido dela. Ergueu-se e virou de costas sem aguardar que ela fizesse qualquer coisa. Quando Matsumoto levantou-se e virou o corpo, Ichimaru desmaterializava no ar, certamente usando Shunpou. Ela soltou os ombros e suspirou.

Ele sempre acabava indo embora. E Matsumoto apenas gostaria de parar de desejar seu retorno definitivo.

 


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