Doce Inverno de Eternas Lembranças escrita por ju_mysczak


Capítulo 8
Plano


Notas iniciais do capítulo

Beta nova no pedaço! *u*



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– Sebastian... – O pequeno gemia, em um mundo alternativo. O mordomo, de pé ao seu lado, não sabia como reagir à situação em que se encontrava. Ciel dormia tranquilamente em sua cama, enquanto repetia o nome do maior, inquieto. Será um pesadelo? Remexeu-se sem saber se deveria ou não acordá-lo.

– Jovem mestre! – Desistiu de observar a cena perturbadora. – Acorde, jovem mestre! – Inclinou-se sobre a cama. As cortinas já haviam sido abertas por completo e o chá esfriava sobre o carrinho.

Ciel apenas gemia e se contorcia sob os lençóis, os fios negro-azulados grudados à testa, úmidos de suor.

– Sebastian, não faça isso! – Mas o maior continuava a prensá-lo na parede do escritório. Ambos se encaravam, o conde corado de vergonha e o outro com fúria e fome no olhar.

– Está me enrolando há três anos, mestre. Cansei de jogar, quero provar do que é meu, sua alma. – Sussurrou o mordomo sem quebrar o contato. Sua mão direita começou a deslizar sensualmente do pulso pequeno pelo braço, ombro e, finalmente, o pescoço fino e infantil, o segurando com firmeza. – Tão delicado...

– Sebastian, me solte!

– Então ordene! Ordene que eu pare e deixe meu alimento de lado quando o desejo tanto e estou tão faminto! – Ciel tentou fazer como o outro disse, abrindo a boca sem conseguir formular a frase. Não podia.

Um breve suspiro, audível o suficiente, veio de trás do mais velho. Emily estava parada, olhando ambos com lágrimas escorrendo pela alva face.

– Por que, Ciel? Eu que tanto te amei! Se não posso tê-lo, então ninguém terá! – A jovem sacou uma pistola de prata, apontando diretamente para o peito do noivo. Pela primeira vez em três anos, sentia medo. Sebastian o protegeria, não? Ele tinha de lhe proteger, pois do contrário não teria sua alma. Ainda queria sua alma?

– Claro que não, mestre. Tenho apenas fome e estás por perto. – respondeu o servo, como se conseguisse ler a mente do outro. Lágrimas surgiram em seus olhos e a dor rasgou seu peito.

– Mate-me, Emily. Tire minha inútil vida, então. – Cerrou as pálpebras, esperando o tiro que demorava a vir.

– Mestre, por favor, acorde!

– Não, Sebastian. Não me deixe ir! Oh, Sebas... Oh! – O rostinho úmido se contorcia enquanto ainda dormia. Quando lentamente acordou, as mãos do maior seguravam sua face, trêmulas.

– Finalmente! Pensei que não fosse acordar, jovem mestre. – O mordomo se mostrou verdadeiramente aliviado quando o outro abriu seus olhos assustados e arregalados.

Ciel não respondeu. Seu peito subia e descia rapidamente, muito agitado. Tinha espasmos que percorriam o corpo inteiro e o aperto no coração permanecia lá. Espremeu as últimas lágrimas, as expulsando de vez. Mordeu os lábios, tentando se controlar. Ainda arfava quando mandou o mordomo sair. Preciso pensar!

– Mestre, tem certeza de que não prefere que eu prepare seu banho antes?

– Saia, Sebastian! E não venha me perturbar esta manhã! – Foi ríspido.

...

Seu mestre não saiu do quarto durante toda a manhã, recusando a companhia de qualquer um que tentasse adentrar o local. A preocupação era evidente no mordomo, que preferiu ficar sozinho que à presença de Agni e do príncipe. Lavava as mãos para preparar o almoço, sem saber se o mesmo seria ingerido ou não. Lavou os legumes e ferveu a água, cortou o frango, cozinhou o molho. Por que sonhou comigo? Pior que isso, sonhou um pesadelo comigo! Teme-me? Como pode temer-me?

Cortou as laranjas e as espremeu. Jogou o suco sobre o frango, junto do alecrim. Sentiu o perfume. Doce e salgado. Soberbo e perfeito para o jovem mestre. Sorriu um falso e irônico sorriso que, sem seu conhecimento, teimava em contradizer seu olhar triste e sombrio.

...

– Sebastian, por que me irritas tanto? – Perguntou a si mesmo.

O sonho anterior ainda o perturbava, roubando o sangue de sua face. Não havia motivos para se preocupar tanto com um sonho tão surreal. Sebastian não o deixaria morrer e Emily não tentaria mata-lo. Mas nada naquele pesadelo fazia sentido. O que mais o intrigava era não ter se sentido traído pelo mordomo desistir do contrato, mas sim frustrado e decepcionado em não ter mais a alma desejada. Gostaria de ser apenas um alimento? Era mais que isso. Porém nunca se perguntara se o maior incomodava-se em ser uma mera peça em seu tabuleiro, um peão. Desde quando me incomodo com o que ele pensa?

O conde permaneceu deitado sobre a cama suada, ao lado do café da manhã intocado. O teto nunca lhe pareceu tão irreal. Parecia chover em sua mente, com as ruas nubladas e o chão escorregadio. Tocou a pele de seu braço, pelo menos ainda sentia, então deveria estar ali mesmo. Não estava louco, não poderia estar louco.

“– E se algum dia a insanidade me profanar? – Perguntou, curioso, o conde.

– Então o abandonarei. – Respondeu simplesmente o mordomo.”

Ciel não podia se dar ao luxo de ensandecer. Porém o sonho estava certo quanto a uma coisa. Há muito tempo esperava por sua vingança, levando consigo o demônio. Por quanto mais tempo o maior aguentaria esperar pacientemente?

...

Sebastian preparava o jovem para suas obrigações, ajeitando suas roupas e fazendo o laço do pescoço. Como o mordomo que era, deixou tudo perfeitamente encaminhado na mansão para que durante o dia tudo fosse ajeitado de forma que nada os atrapalhasse quando voltassem.

– A carruagem está pronta? – O mais novo perguntou, entediado, tomando a pequena bengala com punho de caveira em ouro maciço que sempre o acompanhava ao sair. Ela provavelmente enterraria na lama típica de Londres nessa época do ano, o que faria Sebastian passar longas horas a limpando, desgrudando o barro seco e Ciel em paz.

– Sim, mestre. – Respondeu o mais alto.

– Reli a lista de suspeitos e acredito que devemos começar com a loja de departamentos Herriot. Eles estiveram envolvidos nos últimos casos estranhos como cúmplices e de alguma forma não confio neles.

– Está bem, mestre.

Silenciosamente o mordomo terminou de arrumar as coisas e acompanhou o menor até a carruagem. Passou todo o caminho até a loja calado, envolto em seus próprios pensamentos. Ao chegarem ao local, ajudou o conde a descer e caminhou logo atrás pelo curto pavilhão.

– Sr. Herriot? – Chamou Ciel.

– Conde? Mas que surpresa vê-lo aqui! – Exclamou o outro, em um sujo avental e galochas enlameadas. Limpou as mãos gorduchas em um pano e começou a enrolar os bigodes. – Perdoe-me pelo meu estado, mas alguns de meus funcionários faltaram devido ao funeral de um colega. Jones era um bom trabalhador, sua falta será sentida aqui.

– Imagino que sim. – O jovem respondeu, enojado. – Andam relatando uma movimentação estranha nas proximidades de uma loja sua. Não teria por acaso nenhuma informação útil para agregar?

– Ah! Está com a coleira hoje? Bem, parece que o Cão farejou no lugar errado, não sei de nada do caso. – Ironizou.

– Mesmo? Pois andei pesquisando e, por incrível que pareça, todos os denunciadores eram de alguma forma ligados a você. – Foi ácido, respondendo a altura. O sujo senhor tremeu por alguns instantes.

– Isso não prova nada! Não tem nada contra mim, Cão. – Estreitou os olhos cinzentos.

– Por enquanto, talvez não. Mas digamos que tenho meu plano e já entendi seu esquema. É questão de tempo até que o pano caia para você.

– Escute aqui, seu pirralho! Não ficarei esperando um fedelho feito você interferir no meu trabalho honesto! Já disse que não sei nada sobre aquelas caixas! – Vociferou, ficando rubro conforme as palavras eram cuspidas. – Trate de voltar para a casinha de bonecas, cachorrinho. A Phantom precisa de você para testar seus brinquedinhos.

– A Funtom Co está muito bem, obrigada. Quanto ao seu trabalho honesto, veremos. – Encerrou o assunto, dando meia volta e saindo, marcando as leves passadas no barro escuro.

Sebastian novamente o seguiu de volta à carruagem, sentando no banco frente ao conde. O olhar do menor estava desfocado, claramente perturbado com pensamentos indesejados. Os pequenos dedinhos batucavam incessantemente o joelho nu enquanto os lábios se franziam em um pequeno bico adorável, na opinião do maior.

– Apesar de nem um pouco esclarecedora essa conversa, acredito que consegui finalmente entender o que está acontecendo.

– Conseguiu? – Surpreendeu-se o mordomo. Ainda não tinha dado a devida atenção ao caso, mas refletindo durante alguns segundos chegou a uma conclusão. Mesmo assim, preferiu ouvir ao seu mestre. – E o que seria?

– Todos os delatores que procuraram os oficiais eram de alguma forma relacionados a Herriot, sendo funcionários ou clientes fiéis. – Explicou, paciente, encarando o outro com seriedade. – Todos eles moravam nos arredores, sempre comprando na mesma loja, evitando suspeitas. O tráfico não está sendo feito pelo pub. Talvez nem mesmo drogas sejam o produto. É apenas uma forma de distrair as autoridades e conseguir o que ele realmente quer.

– Como pretende provar isso?

– Primeiro será preciso encontrar com uma das caixas durante seu transporte. A abriremos e ela estará vazia, comprovando assim que o tráfico não é feito por meio delas. Com seu esquema furado, Herriot tentará achar outra forma de atrair atenção. Enquanto ele pensa no seu próximo passo, agiremos, o tomando de surpresa. – Sorriu malicioso.


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Notas finais do capítulo

Muitas reviravoltas ainda virão, se preparem!
Obrigada pelos comentários lindos!